WILSON CZERSKI
wilsonczerski@brturbo.com.br
Curitiba, Paraná
(Brasil)
A
educação e os
pré-adolescentes
A revista Veja,
edição de 26 de
fevereiro de 2003, fez
uma análise de
comportamento da chamada
geração tween,
termo originado da
abreviatura de
between que
significa “entre” com o
trocadilho de teens
(adolescentes), ou seja,
são os chamados
pré-adolescentes,
crianças entre 8 e 13
anos e que vêm
provocando importantes
transformações,
principalmente nas áreas
da família e do
consumo.
As características
apontadas como mais ou
menos gerais são as
seguintes: decididos,
independentes, bem
informados, exigentes,
rebelados, vaidosos,
consumistas. Possuem
admirável desenvoltura
com computadores e
internet, dispõem do
conforto da classe média
e obtenção de dinheiro,
cheques e cartões de
crédito. O
amadurecimento precoce
faculta-lhes grande
poder no grupo familiar
e liberação sexual
através do famoso
“ficar”, como o de dois
deles com 11 e 10 anos
que namoraram durante
cinco meses. O celular é
considerado extensão do
próprio corpo, viajam ao
exterior, compram muitas
roupas e calçados, quase
sempre de grife, CDs,
cosméticos, perfumes
caros, frequentam
cinemas e as meninas os
salões de beleza
semanalmente.
O que se questiona neste
quadro feito
aparentemente só de
vantagens, que
surpreende pedagogos e
sociólogos, desafia a
indústria e os
profissionais de
marketing e orgulha
muitos pais, é que há
alguns riscos por trás
de toda esta mudança.
Segundo um psiquiatra,
os pré-adolescentes,
se não devidamente
orientados, podem se
transformar em
“pequenos tiranos”,
por terem recebido poder
antes da hora. E isto se
tem verificado muitas
vezes ao se constatar
que são eles que ditam
os hábitos da casa, o
que, como, quanto e
quando comprar,
naturalmente em primeiro
lugar para satisfazer
todos seus
caprichos.
Ao todo, segundo o IBGE,
são 13,5 milhões de
crianças – forma que
abominam ser chamados –
entre nove e doze anos
e, claro, sabe-se que a
maior parte de suas
famílias não tem poder
aquisitivo para
atendê-los. Ainda assim,
perguntamos: que tipo de
geração estamos formando
em nosso país? De um
lado, a miséria, a
falta de instrução, a
marginalidade econômica
e social e o aumento
assustador dos índices
de criminalidade,
especialmente o
narcotráfico e operações
associadas; de outro,
verdadeiros
cabeças-de-vento,
completamente iludidos
quanto aos verdadeiros
valores da vida,
elegendo com
exclusividade o ter
com desprezo ao ser.
A Doutrina Espírita, se
bem compreendida – e
praticada – pode
contribuir decisivamente
para um deslocamento
desta postura
equivocada. Sem tirar os
méritos deste
amadurecimento precoce,
não há razão em se
combatê-lo. Crianças e
jovens bem informados e
capazes de tomar
decisões, de
experimentar desafios e
estabelecer objetivos
são evidências de
progresso espiritual
também. Significa que
estão aptos a assumir
maiores
responsabilidades
individuais e sociais, a
ser mais úteis, e
promover, pela
autodeterminação, as
mudanças importantes
para melhor. Mas para
tanto precisam de
orientação segura, a
começar pelos pais que,
como se vê, estão um
tanto quanto aturdidos,
sem saber como tratar o
problema, o que
consentir e dar e o que
proibir e negar.
Se agora, com oito, dez
anos, um ser destes já
consegue subverter a
ordem familiar, impondo
suas vontades em
prejuízo dos demais,
o que fará quando
adulto? Qual seu
futuro profissional? De
concorrência predatória?
Como agirá em relação à
sua própria vida
familiar? A
expressividade afetiva
mascarada pela
sexualidade sem freios
onde se deterá? Se hoje
a instituição do
casamento parece
condenada ao desuso, com
troca constante de
parceiros motivada por
supostas necessidades de
satisfação física,
experiência, novidades e
outras tantas, a
geração que hoje está
“ficando” com 10 anos
acabará como?
Extraordinário
comentário de Allan
Kardec encontramos após
a questão 917, de O
Livro dos Espíritos.
Indica o Codificador
mais uma vez que o
grande vilão da
maior parte da carga de
sofrimentos humanos é
o egoísmo, a
que chama de “verme
devorador”. Afirma que
devemos combatê-lo como
a uma epidemia,
remontando às causas, às
influências evidentes ou
ocultas que excitam,
entretêm e o
desenvolvem. Segue
dizendo que o tratamento
será longo, mas se deve
fazê-lo pela raiz, e eis
a palavra mágica:
EDUCAÇÃO! “Não essa
educação... que
tende a fazer homens
instruídos, mas a que
tende a fazer
homens de bem...
Quando se conhecer a
arte de manejar
caracteres como se
conhece a de manejar as
inteligências,
poder-se-á
endireitá-las... como
plantas novas”. Cita
a necessidade de
observação do filho do
rico e do pobre, as
influências perniciosas
a que estão expostos e
suas consequências, e
responsabiliza aqueles
que os dirigem pela
“fraqueza, incúria e
ignorância” com que
geralmente atuam. “Que
se faça pela moral –
diz, categórico –
tanto quanto se faz pela
inteligência”.
Pais e educadores devem
agir com equilíbrio, sem
perder de vista acima de
tudo o aspecto
espiritual do ser
humano. Por trás de
cada criança,
pré-adolescente ou
jovem, há um
Espírito reencarnado
construindo seu
progresso, sua paz e
felicidade, ou gerando
infortúnios
proporcionais aos
desvios que sua conduta
oferecer em relação às
leis divinas. A vida na
Terra não é um passeio,
mas a frequência a um
instituto escolar cuja
experiência é
imprescindível para se
atingir estágios
superiores de evolução.
É justa a busca de
conforto, de facilidades
tecnológicas, de
recursos da medicina
preventiva, da
ilustração intelectual,
da formação de cidadãos
aptos a enfrentar
desafios cada vez mais
crescentes em todos os
sentidos, mas tudo com
uso sem abuso e visando
sempre a finalidade
maior e verdadeira: a
ascensão espiritual e a
aproximação com o
Criador.
Pais que atenderem todos
os caprichos dos filhos
estarão causando-lhes
mal e não o bem. Se todo
este conforto, cultura,
escolas particulares,
cursos no exterior,
facilidades materiais
para adquirir
computador, celular,
automóvel, roupas
importadas não estiver
permeado pela
transmissão de conceitos
morais claros,
estabelecendo limites
que não devem ser
transpostos, de nada
adiantará.
Será que nestes lares
– quantos, aliás, sequer
merecem esta
denominação, não
passando de meras
edificações materiais
chamadas “casas” – há
espaço para Jesus, para
a oração,
para a reflexão sobre
conceitos como amor,
caridade, fé? Será
que os tweens
alguma vez já
ouviram falar as
palavras do Cristo
sobre o que
constitui o
verdadeiro
tesouro, não só dos
cristãos, mas de todo
homem de bem e
preocupado com o seu
futuro imortal?
A ruptura de valores
está ocorrendo de forma
cada vez mais acelerada
em nossos tempos. Talvez
seja momento de se dar
meia-volta e, parodiando
aquele comercial de
automóvel, lembrar a
estes pais que está na
hora de mudar seus
conceitos. Dois mil anos
depois.