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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 100 – 29 de Março de 2009

WILSON CZERSKI
wilsonczerski@brturbo.com.br
Curitiba, Paraná (Brasil)  


 A educação e os
pré-adolescentes


A revista Veja, edição de 26 de fevereiro de 2003, fez uma análise de comportamento da chamada geração tween, termo originado da abreviatura de between que significa “entre” com o trocadilho de teens (adolescentes), ou seja, são os chamados pré-adolescentes, crianças entre 8 e 13 anos e que vêm provocando importantes transformações, principalmente nas áreas da família e do consumo. 

As características apontadas como mais ou menos gerais são as seguintes: decididos, independentes, bem informados, exigentes, rebelados, vaidosos, consumistas. Possuem admirável desenvoltura com computadores e internet, dispõem do conforto da classe média e obtenção de dinheiro, cheques e cartões de crédito. O amadurecimento precoce faculta-lhes grande poder no grupo familiar e liberação sexual através do famoso “ficar”, como o de dois deles com 11 e 10 anos que namoraram durante cinco meses. O celular é considerado extensão do próprio corpo, viajam ao exterior, compram muitas roupas e calçados, quase sempre de grife, CDs, cosméticos, perfumes caros, frequentam cinemas e as meninas os salões de beleza semanalmente. 

O que se questiona neste quadro feito aparentemente só de vantagens, que surpreende pedagogos e sociólogos, desafia a indústria e os profissionais de marketing e orgulha muitos pais, é que há alguns riscos por trás de toda esta mudança. Segundo um psiquiatra, os pré-adolescentes, se não devidamente orientados, podem se transformar em “pequenos tiranos”, por terem recebido poder antes da hora. E isto se tem verificado muitas vezes ao se constatar que são eles que ditam os hábitos da casa, o que, como, quanto e quando comprar, naturalmente em primeiro lugar para satisfazer todos seus caprichos.      

Ao todo, segundo o IBGE, são 13,5 milhões de crianças – forma que abominam ser chamados – entre nove e doze anos e, claro, sabe-se que a maior parte de suas famílias não tem poder aquisitivo para atendê-los. Ainda assim, perguntamos: que tipo de geração estamos formando em nosso país? De um lado, a miséria, a falta de instrução, a marginalidade econômica e social e o aumento assustador dos índices de criminalidade, especialmente o narcotráfico e operações associadas; de outro, verdadeiros cabeças-de-vento, completamente iludidos quanto aos verdadeiros valores da vida, elegendo com exclusividade o ter com desprezo ao ser

A Doutrina Espírita, se bem compreendida – e praticada – pode contribuir decisivamente para um deslocamento desta postura equivocada. Sem tirar os méritos deste amadurecimento precoce, não há razão em se combatê-lo. Crianças e jovens bem informados e capazes de tomar decisões, de experimentar desafios e estabelecer objetivos são evidências de progresso espiritual também. Significa que estão aptos a assumir maiores responsabilidades individuais e sociais, a ser mais úteis, e promover, pela autodeterminação, as mudanças importantes para melhor. Mas para tanto precisam de orientação segura, a começar pelos pais que, como se vê, estão um tanto quanto aturdidos, sem saber como tratar o problema, o que consentir e dar e o que proibir e negar. 

Se agora, com oito, dez anos, um ser destes já consegue subverter a ordem familiar, impondo suas vontades em prejuízo dos demais, o que fará quando adulto? Qual seu futuro profissional? De concorrência predatória? Como agirá em relação à sua própria vida familiar? A expressividade afetiva mascarada pela sexualidade sem freios onde se deterá? Se hoje a instituição do casamento parece condenada ao desuso, com troca constante de parceiros motivada por supostas necessidades de satisfação física, experiência, novidades e outras tantas, a geração que hoje está “ficando” com 10 anos acabará como?

Extraordinário comentário de Allan Kardec encontramos após a questão 917, de O Livro dos Espíritos. Indica o Codificador mais uma vez que o grande vilão da maior parte da carga de sofrimentos humanos é o egoísmo, a que chama de “verme devorador”. Afirma que devemos combatê-lo como a uma epidemia, remontando às causas, às influências evidentes ou ocultas que excitam, entretêm e o desenvolvem. Segue dizendo que o tratamento será longo, mas se deve fazê-lo pela raiz, e eis a palavra mágica: EDUCAÇÃO! “Não essa educação... que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem... Quando se conhecer a arte de manejar caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-las... como plantas novas”. Cita a necessidade de observação do filho do rico e do pobre, as influências perniciosas a que estão expostos e suas consequências, e responsabiliza aqueles que os dirigem pela “fraqueza, incúria e ignorância” com que geralmente atuam. “Que se faça pela moral – diz, categórico – tanto quanto se faz pela inteligência”

Pais e educadores devem agir com equilíbrio, sem perder de vista acima de tudo o aspecto espiritual do ser humano. Por trás de cada criança, pré-adolescente ou jovem, há um Espírito reencarnado construindo seu progresso, sua paz e felicidade, ou gerando infortúnios proporcionais aos desvios que sua conduta oferecer em relação às leis divinas. A vida na Terra não é um passeio, mas a frequência a um instituto escolar cuja experiência é imprescindível para se atingir estágios superiores de evolução. É justa a busca de conforto, de facilidades tecnológicas, de recursos da medicina preventiva, da ilustração intelectual, da formação de cidadãos aptos a enfrentar desafios cada vez mais crescentes em todos os sentidos, mas tudo com uso sem abuso e visando sempre a finalidade maior e verdadeira: a ascensão espiritual e a aproximação com o Criador.

Pais que atenderem todos os caprichos dos filhos estarão causando-lhes mal e não o bem. Se todo este conforto, cultura, escolas particulares, cursos no exterior, facilidades materiais para adquirir computador, celular, automóvel, roupas importadas não estiver permeado pela transmissão de conceitos morais claros, estabelecendo limites que não devem ser transpostos, de nada adiantará. 

Será que nestes lares – quantos, aliás, sequer merecem esta denominação, não passando de meras edificações materiais chamadas “casas” – há espaço para Jesus, para a oração, para a reflexão sobre conceitos como amor, caridade, fé? Será que os tweens alguma vez já ouviram falar as palavras do Cristo sobre o que constitui o verdadeiro tesouro, não só dos cristãos, mas de todo homem de bem e preocupado com o seu futuro imortal? 

A ruptura de valores está ocorrendo de forma cada vez mais acelerada em nossos tempos. Talvez seja momento de se dar meia-volta e, parodiando aquele comercial de automóvel, lembrar a estes pais que está na hora de mudar seus conceitos. Dois mil anos depois. 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita