F. ALTAMIR DA
CUNHA
altamir.cunha@bol.com.br
Natal, Rio
Grande do Norte
(Brasil)
Apego,
morte e juízo
Por que o desejo
insaciável de ter, se
para satisfazer às reais
necessidades não
precisamos de tanto?
Certamente por não
compreendermos que as
nossas necessidades
imaginárias geram
sofrimento e decepção.
Alguns pares de sapatos
atenderiam às
necessidades de conforto
e proteção aos nossos
pés, mas muitas pessoas
não se contentam e
guardam dezenas de pares
que nunca usam.
No intuito de atendermos
à nossa ganância, usamos
inúmeros artifícios para
monopolizar, quando um
pouco nos bastaria.
Como se a vida na
matéria durasse uma
eternidade, mantemos o
desejo incontrolável de
acumular os bens
perecíveis, até que, um
dia, acordamos para um
acontecimento inevitável
– a morte.
Olhamos para a
retaguarda e observamos
tristes tudo que
acumulamos e não pudemos
transportar conosco.
Apesar de termos sido
ricos na Terra, na
maioria das vezes somos
indigentes no mundo
espiritual.
Há algum tempo, nós
lemos em uma revista
espírita a história de
um jornalista, que
acreditamos ser muito
oportuna para uma
reflexão sobre o
assunto.
Dizia ele que sempre
teve a preocupação de
acumular bens, pensando
no bem-estar da
família.
Fazia horas extras,
vendia férias e os bons
resultados se faziam
gradativamente, pois
sempre que declarava o
imposto de renda
sentia-se satisfeito com
um apartamento a mais,
um carro a mais; afinal,
era o pé-de-meia para a
família.
Desta forma viveu por um
tempo, envolvido no
trabalho e não muito
presente na família;
embora com boa intenção
de dar a ela o
conforto.
Um dia ele acordou para
uma triste realidade; ao
fazer a declaração de
imposto de renda, na
folha de declaração de
dependentes, faltavam
dois – sua filha, que
antes de completar 15
anos saíra de casa e da
qual ele não tinha mais
notícias; e o filho, que
se envolveu com drogas e
morreu antes de
completar 18 anos. No
entanto, na declaração
de bens, ali permanecia
registrado tudo que
havia conseguido, mas
que nem um valor
representava ante a
imensa perda que
sofrera.
Em verdade não há mal
algum acumularmos bens
pensando no futuro ou no
nosso conforto, contanto
que não exageremos nessa
ação, esquecendo de
outros valores que são
mais importantes. As
orientações recebidas
através da literatura
espírita nos fazem
compreender que,
enquanto existir o apego
e o desejo exagerado de
posse, existirão sempre
a frustração e o
sofrimento.
O homem, sem
planejamento e
disciplina com relação à
posse e uso dos bens
materiais, algumas
vezes, comporta-se como
um sedento em alto-mar;
rodeado de água, mas
essa água não consegue
matar a sua sede.
É oportuno lembrarmos a
lição valiosa que o
Mestre Jesus transmitiu
à Samaritana junto ao
poço de Jacó: “Qualquer
que beber desta água
tornará a ter sede; mas
aquele que beber da água
que eu lhe der nunca
terá sede, porque a água
que eu lhe der se fará
nele uma fonte de água
que salte para a vida
eterna” (João 4:
13,14).
Pura ilusão instituir
como objetivo principal
a conquista do que não
se pode reter.
A vida no corpo físico é
apenas um estágio, após
o qual retornaremos à
pátria de origem.
Apegar-se aos bens
materiais e alimentar a
ganância de acumulá-los
é investir os bens
valiosos do presente,
para resgatar um futuro
de angústia e
arrependimento.
No Evangelho encontramos
uma parábola de Jesus
que ilustra muito bem o
assunto: “O
campo de um homem rico
produzira com
abundância; e ele
arrazoava consigo,
dizendo: Que farei? pois
não tenho onde recolher
os meus frutos. Disse
então: Farei isto:
derribarei os meus
celeiros e edificarei
outros maiores, e ali
recolherei todos os meus
cereais e os meus bens;
e direi à minha alma:
Alma, tens em depósito
muitos bens para muitos
anos; descansa, come,
bebe, regala-te. Mas
Deus lhe disse:
Insensato, esta noite te
pedirão a tua alma; e o
que tens preparado, para
quem será?".
(Lucas, 12.15-29)
Afirmou o benfeitor
Emmanuel, pela
psicografia de F.
Cândido Xavier: “Retire-se
cada um dos excessos na
satisfação egoística,
fuja ao relaxamento do
dever, alije as
inquietações mesquinhas
– e estará preparado à
sublime transformação.
Em verdade, a Terra não
viverá indefinidamente,
sem contas; contudo,
cada aprendiz do
Evangelho deve
compreender que o
instante da morte do
corpo físico é dia de
juízo no mundo de cada
homem”.
Do que aqui foi exposto,
finalizado por
ensinamentos tão
lúcidos, como estes de
Jesus e Emmanuel,
concluímos a respeito
dos efeitos nocivos do
apego e acúmulo
desnecessário dos bens
perecíveis.
O retorno ao plano
espiritual, através do
fenômeno da morte, será
sempre oportunidade de
ajuizarmos a respeito do
bom ou mau emprego dos
talentos que a vida nos
ofereceu, gerando o céu
ou o inferno dentro de
nós, conforme a paz de
consciência ou as tramas
do remorso.