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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 52 - 20 de Abril de 2008

EDUARDO BATISTA DE OLIVEIRA
ebatistadeoliveira@ig.com.br

Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)
 

Alma gêmea


Assistimos no ano passado a uma novela televisiva na qual foi retratado um caso de reencarnação instantânea, fato que ocorre quando um Espírito, imediatamente após deixar um corpo, une-se a outro. Esse tipo de reencarnação não é habitual, mas pode ocorrer, conquanto não da forma como apresentada na novela.

As imagens que foram levadas ao ar transmitiram a idéia de ter havido um transporte imediato do Espírito desencarnante para o corpo de um bebê no momento em que este veio à luz. É óbvio que a novela fez apenas uma representação figurada da realidade, sem a preocupação com a realidade. Todavia, é importante para nós, espíritas, relembrarmos alguns conceitos da doutrina, até para podermos dialogar com nossos conviventes, mostrando a nossa visão sobre o tema que foi apresentado na novela.

Em um dos seus primeiros comentários sobre a Doutrina Espírita, Allan Kardec chama a atenção para a necessidade de restringir a acepção da palavra alma a uma de suas várias significações. E opta por tomá-la na sua concepção mais comum, chamando alma ao ser imaterial e individual que existe em nós e sobrevive ao corpo. Pouco adiante, Kardec recebe dos Espíritos a instrução de que a alma nada mais é que um Espírito encarnado. Antes de ligar-se ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo que nos é invisível.

A união da alma com o corpo tem início na concepção do bebê e não no instante do seu nascimento, preconiza a Doutrina. Nessa hora, ela apenas se completa. Além disso, não pode o mesmo Espírito animar simultaneamente duas criaturas diferentes. Assim, não fosse numa ficção, como é o caso da novela, não poderia o Espírito da mulher que desencarnou ser o mesmo do bebê que já estava para nascer.

A novela sugeriu ainda a idéia de ser tal Espírito reencarnante uma “alma gêmea” de outro personagem. Kardec alerta-nos para não tomarmos essa expressão ao pé da letra. Não existe união particular entre duas almas. Nem mesmo há a chamada “cara metade”. Se um Espírito fosse a metade de outro, não seria um Espírito inteiro, e Espírito-metade não existe. Se um devesse completar o outro, perderia a sua individualidade. O que há é a união pela afinidade de ideais. A simpatia que atrai um Espírito para outro é o resultado da perfeita concordância de suas tendências, de seus instintos. Quanto mais elevados os Espíritos, mais unidos entre si se encontram eles. Na questão 386, de O Livro dos Espíritos, Kardec propõe: “Dois seres que se conheceram e se amaram, podem encontrar-se noutra existência corpórea e se reconhecerem?” Os Espíritos respondem: “Reconhecerem-se, não, mas serem atraídos um pelo outro, sim; e freqüentemente as ligações íntimas, fundadas numa afeição sincera, não provêm de outra causa”.


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita