Alma gêmea
Assistimos no ano
passado a uma novela
televisiva na qual foi
retratado um caso de
reencarnação
instantânea, fato que
ocorre quando um
Espírito, imediatamente
após deixar um corpo,
une-se a outro. Esse
tipo de reencarnação não
é habitual, mas pode
ocorrer, conquanto não
da forma como
apresentada na novela.
As imagens que foram
levadas ao ar
transmitiram a idéia de
ter havido um transporte
imediato do Espírito
desencarnante para o
corpo de um bebê no
momento em que este veio
à luz. É óbvio que a
novela fez apenas uma
representação figurada
da realidade, sem a
preocupação com a
realidade. Todavia, é
importante para nós,
espíritas, relembrarmos
alguns conceitos da
doutrina, até para
podermos dialogar com
nossos conviventes,
mostrando a nossa visão
sobre o tema que foi
apresentado na novela.
Em um dos seus primeiros
comentários sobre a
Doutrina Espírita, Allan
Kardec chama a atenção
para a necessidade de
restringir a acepção da
palavra alma a
uma de suas várias
significações. E opta
por tomá-la na sua
concepção mais comum,
chamando alma ao ser
imaterial e individual
que existe em nós e
sobrevive ao corpo.
Pouco adiante, Kardec
recebe dos Espíritos a
instrução de que a alma
nada mais é que um
Espírito encarnado.
Antes de ligar-se ao
corpo, a alma é um dos
seres inteligentes que
povoam o mundo que nos é
invisível.
A união da alma com o
corpo tem início na
concepção do bebê e não
no instante do seu
nascimento, preconiza a
Doutrina. Nessa hora,
ela apenas se completa.
Além disso, não pode o
mesmo Espírito animar
simultaneamente duas
criaturas diferentes.
Assim, não fosse numa
ficção, como é o caso da
novela, não poderia o
Espírito da mulher que
desencarnou ser o mesmo
do bebê que já estava
para nascer.
A novela sugeriu ainda a
idéia de ser tal
Espírito reencarnante
uma “alma gêmea” de
outro personagem. Kardec
alerta-nos para não
tomarmos essa expressão
ao pé da letra. Não
existe união particular
entre duas almas. Nem
mesmo há a chamada “cara
metade”. Se um Espírito
fosse a metade de outro,
não seria um Espírito
inteiro, e
Espírito-metade não
existe. Se um devesse
completar o outro,
perderia a sua
individualidade. O que
há é a união pela
afinidade de ideais. A
simpatia que atrai um
Espírito para outro é o
resultado da perfeita
concordância de suas
tendências, de seus
instintos. Quanto mais
elevados os Espíritos,
mais unidos entre si se
encontram eles. Na
questão 386, de O
Livro dos Espíritos,
Kardec propõe: “Dois
seres que se conheceram
e se amaram, podem
encontrar-se noutra
existência corpórea e se
reconhecerem?” Os
Espíritos respondem:
“Reconhecerem-se, não,
mas serem atraídos um
pelo outro, sim; e
freqüentemente as
ligações íntimas,
fundadas numa afeição
sincera, não provêm de
outra causa”.