Chegando em casa
após as aulas,
Denis procurou
não fazer ruído.
Entrou
pé-ante-pé, com
receio de
enfrentar a mãe.
Todavia, não
escapou da
pergunta
costumeira:
— Onde esteve,
meu filho?
— Ora, mamãe! No
colégio, é
lógico!
— Denis, suas
aulas terminaram
às 5 e já passam
das 7 horas da
noite. O que fez
nesse tempo
todo?
A senhora se
preparou para
ouvir as
explicações do
filho, que nos
últimos dias
aconteciam com
freqüência.
Denis fez cara
de inocente e
retrucou:
— Poxa, mamãe!
Tenho que dar
conta de todos
os meus passos?
Estava com
amigos, ora!
— Que amigos?
— Uma turma
legal que
conheci há algum
tempo.
Como o pai não
tardaria a
chegar e ela
estivesse
atrasada com a
refeição, a
senhora deu por
terminada a
conversa,
dizendo:
— Falaremos
sobre isso
depois, meu
filho. Agora,
tome o seu banho
e não demore.
Hoje é dia de
nosso Evangelho
no Lar,
lembra-se?
O garoto
concordou, feliz
por ter se
livrado da
bronca.
Após o jantar,
sentaram-se para
fazer o
Evangelho. O pai
Eugênio, a mãe
Clara, Luciana
de 6 anos e
Denis.
A lição da
noite, aberto o
livro ao acaso,
foi:
“A árvore que
produz maus
frutos não é boa
e a árvore que
produz bons
frutos não é má;
portanto cada
árvore se
conhece pelo seu
próprio fruto.
Não se colhem
frutos nos
espinheiros, nem
cachos de uvas
nas sarças. O
homem de bem
tira as coisas
boas do bom
tesouro do seu
coração e o
homem mau tira
as más do mau
tesouro do seu
coração;
porquanto a boca
fala do que está
cheio o
coração”.
(Lucas, 6:43 a
45.)
Após a leitura,
fizeram
comentários
sobre a lição.
Clara explicou:
— Jesus quis
dizer com essas
palavras que
nosso
comportamento
dirá aos outros
como nós somos.
Daí a
importância do
nosso exemplo em
qualquer lugar:
na escola, no
trabalho, na
rua, no lar. Se
agirmos mal,
seja através de
palavras ou de
atos, estaremos
demonstrando a
todos que viemos
de uma árvore
má. E isso
denota o que
trazemos por
dentro, como são
baixos os nossos
pensamentos, que
se traduzem em
atitudes
negativas da
nossa parte. |
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Luciana, que
ouvira a
conversa da mãe
com o irmão,
lembrou-se de
comentar:
— Mamãe, ontem
vi Denis com uma
turma tão
esquisita! Os
meninos eram
grandes, usavam
cabelos pintados
de cores fortes
e tinham brincos
nas orelhas.
Denis, que ouvia
calado,
respondeu
irritado:
— Você não tem
nada com isso,
sua fofoqueira!
Eles são legais
e meus
verdadeiros
amigos.
O pai
interferiu,
prontamente:
— Calma, meus
filhos! Não é
hora para
discutirmos esse
problema. Nossa
reunião semanal
não é um
tribunal em que
analisamos as
atitudes das
pessoas. Além
disso, Luciana,
não podemos
julgar ninguém
pela aparência
externa. O
importante é o
que a pessoa é
por dentro. Os
amigos de Denis
podem ser
excelentes
garotos. A
verdade é que
não os
conhecemos.
Denis olhou para
o pai,
agradecido pela
força que lhe
dera, enquanto
Luciana fazia
uma careta para
o irmão. A mãe,
para concluir,
disse-lhe com
carinho:
— Os pais sempre
querem o melhor
para seus
filhos. Se
muitas vezes
parecemos
severos, é que
desejamos dar a
vocês a melhor
educação
possível, para
que ninguém
venha a dizer
que vocês são
frutos de uma
árvore má.
Especialmente
você, Denis, que
já está com doze
anos, deve ter
muito cuidado
com as amizades
que escolhe,
porque existem
por aí muito
desequilíbrio,
vícios e toda
espécie de mal.
Mas, confiamos
em vocês, que
receberam a boa
semente do
Evangelho de
Jesus e temos
certeza de que
sempre agirão o
melhor possível
de acordo com
suas
consciências.
Clara fez uma
prece e deu por
terminada a
reunião.
No dia seguinte,
a turma de Denis
combinou de sair
à noite. O
rapazinho
prometeu que ia
falar com os
pais.
Assim, acabando
as aulas, foi
direto para
casa. A mãe
ficou
satisfeita,
achando que era
resultado da
conversa do dia
anterior.
Encontrando um
momento
propício, Denis
pediu:
— Papai, mamãe,
gostaria de sair
hoje à noite com
a turma. Afinal,
já tenho doze
anos.
O casal trocou
um olhar
preocupado.
Eugênio
perguntou:
— Aonde
pretendem ir?
— Apenas comer
um sanduíche,
papai. Abriu uma
lanchonete nova
e queremos
conhecer.
Prometo que
volto logo.
Deixa, pai!
— Está bem, meu
filho. Mas não
demore! —
concordou o pai,
dando-lhe algum
dinheiro.
Todo satisfeito,
Denis arrumou-se
e saiu para
encontrar com os
amigos.
— Aonde vamos? —
perguntou a
Vitão, o líder
da turma.
— Dar um “rolé”
por aí. Aguarde
e verá. Não vai
se arrepender.
Denis não
entendeu, mas
ficou calado. A
turma era de
quatro rapazes
mais velhos,
experientes, e
ele sentia-se
orgulhoso de ter
sido aceito por
eles.
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Logo passaram
por um carro
estacionado e o
líder deu uma
risadinha:
— Esse carro é
do professor de
Ciências, aquela
careta.
Caprichem nele.
Os rapazes
rodearam o carro
e esvaziaram
completamente os
pneus, para
espanto de
Denis.
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Mais adiante,
local de menos
movimento, Vitão
tirou do bolso
interno da
jaqueta um
spray de
tinta preta e
puseram-se a
pichar um muro
pintado de novo.
Horrorizado,
Denis via tudo
isso sem poder
fazer nada. Não
estava
reconhecendo os
amigos.
Depois, passando
por um orelhão,
quebraram todo o
aparelho
telefônico.
Naquele
instante, vendo
o vandalismo dos
amigos, Denis
lembrou-se da
lição do dia
anterior.
Certamente
aqueles frutos
não viriam de
árvores boas.
Apesar do medo
que sentia do
líder, garoto
forte e
agressivo,
resolveu dar um
basta:
— Estou fora —
disse.
— Como assim? —
perguntou Vitão,
espantado.
— Você entendeu.
Se é esse tipo
de coisa que
vocês costumam
fazer, não são
meus amigos, nem
amigos de
ninguém. Estou
fora. Adeus.
Fez meia volta,
sem se preocupar
com a reação do
bando, e
retornou para
casa. Estava
triste e
decepcionado,
mas, ao mesmo
tempo, orgulhoso
por ter tido
coragem de tomar
uma atitude.
Ao entrar, sua
mãe estranhou:
— Ué! De volta
tão cedo?!...
— É, mamãe.
Descobri que o
melhor sanduíche
ainda é o seu.
— E a turma? —
indagou o pai,
surpreso.
— Ficaram lá.
Percebi que não
me servem. Não
são frutos bons.
Satisfeito,
comeu com
apetite o
sanduíche que
sua mãe preparou
com imenso
carinho.
Tia Célia
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