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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 58 - 1° de Junho de 2008

ADAMS AUNI

adamsauni@ecolub.com.br

Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

Memórias de um suicida

 
Calma! É apenas o título do pensamento que será desenvolvido. Nada de pânico, a coisa está feia, mas nada que justifique esse ato louco e insano. 

Minha esposa tem me dito que ando muito crítico. Na verdade, ela diz que ando muito chato, às raias da esclerose, que reclamo de tudo e de todos e que venho me tornando de difícil convívio, muito exigente, sem tolerância, que não relaxo nunca, muito repetitivo. E não me relaciono mais com as pessoas, sendo muito anti-social. 

Lembro que muito tempo atrás me chamava de urtigão, eremita, fechado, metido e outros adjetivos dessa natureza. 

O que quero dizer é que concordo, pois era assim mesmo. Hoje acredito na evolução das espécies, me vendo como exemplo disso, e olha que, se reclama de mim hoje, imaginem antes. 

É verdade. Tenho olhado tudo com muito cinza. Não consigo mais ver as coisas coloridas e vibrantes. Tudo muito preto e branco e cinza, um horror.  

Considero-me um otimista, mas tenho me tornado um otimista azedo e cruel. 

Não há açúcar que baste para adoçar as situações.  

Isso já está preocupante. 

Há um tempo caí na besteira de fazer um desenho desafiando uma amiga que é psicóloga e disse que poderia me analisar apenas por um desenho e pela assinatura.  

Desdenhei e desafiei. 

Quebrei a cara. Não é que meteu um monte de dedos nas feridas?  

Caramba, fiquei impactado! 

Fiquei olhando para o desenho, de cabeça para baixo, no verso, de longe, de perto e nada me disse, foi incrível! 

Ela queria me tratar, mas não tive coragem, disse-lhe que a graça dos loucos é a sua loucura, se tratar fica tudo certinho demais. 

Suicídio! 

Calma! Não está chegando a hora não! 

Explicando o título: Memória de um suicida, quero dizer sobre o que fazemos com nós mesmos a toda hora, dia a dia.  

O que não fazemos por nós mesmos todos os dias.  

Quantas vezes pedimos socorro e não ouvimos, quantos nos dão toques e não sentimos e não queremos sentir, vamos nos matando um pouquinho de cada vez.  

Não cantamos mais. Não brincamos mais. Não vibramos mais.  

O sexo é feito mecânico e se torna enfadonho e chato. Já imaginaram? Sexo chato, é pedir pra morrer! 

Lembrei da música dos Titãs: EPITÁFIO! 

Você se mata e não percebe e vai ficando velho no agir e no pensar e piorando até não poder mais, nem você agüenta você mesmo e aí é suicídio na certa e não precisa ter mais de 60 para isso ocorrer.

Por isso que vemos um monte de idosos malas e rabugentos, que não se cuidam e esperam a morte para acabar com a graça da vida e também não precisam ter mais de 60 para isso acontecer. 

Sua e dos outros! 

Eu, hem! Tô fora! Xô de mim! 

Que suicídio que nada! Tá difícil, isso já sabemos, mas é no difícil que é bom, é gostoso.  

Cadê aquele desafio do difícil? Do negócio desafiador? Daquela garota ou aquele garoto que não dava bola pra gente e era o sonho de consumo? Das disputas pessoais? Das pequenas conquistas? Das provas escolares? Da vaga na faculdade, no emprego, na mesa e no altar? 

O que deve fazer?  

Se já morreu, babau, só na próxima!  

Mas se acredita que ainda tem um suspiro, vá à luta e procure algo que o motive. Comece com pequenas coisas, desafios menores e vá crescendo para os mais difíceis. 

Se já está enrugado, sai da água morna e agite-se! 

Malhação moral é do que precisa! Trabalho voluntário é ânimo para você e para os outros!  

Grite diante do espelho tudo que precisa ouvir, tanto faz de bom ou de ruim!  

Ponha pra fora sem medo de não estar em forma. Que importa se tá caído, levanta e segue! 

RESSUSCITE-SE! Boa essa, não? Um cara há muito tempo fez e deu certo, tá valendo até hoje! 

Tá na hora da virada, diga pra você mesmo: Ajude-me a encontrar o colorido nesse mundo cinza que estou criando. 

Um amigo meu é competidor de triatlon ( corrida, natação e bicicleta), anda mais a pé do que eu de carro, só um detalhe: ele é bi-amputado! Isso mesmo, sofreu acidente e perdeu as duas pernas abaixo do joelho. Claro! Ficou arrasado, desanimou pra vida e tudo. Mas, veio um outro amputado e disse que ele podia correr. Louco, além de não ter uma perna, era louco! Que nada, apenas acreditava um pouco mais que o meu amigo. Hoje, esse meu amigo é convidado todos os anos, com tudo pago para a maratona de Nova Iorque. 

Que suicídio que nada! Que cinza que nada! Que reclamar da vida que nada! 

Tô fora! Isso é coisa pra quem já morreu e não sabe!


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita