DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)
Acerca da justiça e
fraternidade
Assim como não se pode
construir uma casa sem
alicerçá-la, tampouco se
poderá construir a
justiça sem uma base
fraternal, fundamentada
no ato de se desejar ao
próximo o que desejamos
para nós, isto é, a
caridade no mais alto
grau segundo o nosso
amado Mestre Jesus
1. O mais legítimo
dos sacrifícios, o
verdadeiro trabalho, o
maior louvor a Deus
consiste no esforço para
se ser justo; portanto,
a maior de todas as
glórias, de todas as
graduações deste mundo é
a virtude da justiça!
Há quem ache a caridade
mais importante que a
justiça... Sim...
Porém... convenhamos! A
caridade é o templo do
qual só a justiça pode
ser a base. O sociólogo
John Ruskin (1819/1900)
2 disse com
força e serenidade que é
preciso se edificar
sobre a justiça pelo
fato de, geralmente, não
se possuir, no começo, a
idéia da caridade
necessária à construção.
"Esta é a última
recompensa do bom
trabalho", afirmou.
Completou Ruskin,
recomendando: "Sede
justos para com vossos
irmãos (podeis ser
justos, ameis a eles ou
não) e concluireis por
amá-los; sede injustos
para com eles, porque
não os ameis, e
acabareis por
odiá-los".
Em princípio, justiça
significa a virtude de
se dar a cada um o que é
seu, o meio pelo qual
podemos agir conforme o
direito, mas, também,
sobretudo, conforme a
fraternidade, resultante
do amor ao próximo.
Somente justiça e
fraternidade serão
capazes de levar a cabo
a tão sonhada paz
social, ambas um dever
que não permite sentido
diverso ou análogo, o
que tanto interessa a
homens e mulheres de bem
de todo o planeta.
Esse duplo dever figura
um preceito para conosco
mesmo e para com os
outros. Tal encargo
consiste no que há de
mais básico e seguro, o
que diz respeito à união
e convivência dos seres
humanos como membros de
uma imensa família,
resumo do ato de julgar
segundo o direito e
melhor consciência em
defesa e
responsabilidade.
Em geral, às paixões se
mistura o julgamento,
alterando o sentido de
justiça 3.
Justiça, exatamente
falando, é feita com
concórdia, reiteramos, e
ninguém, nenhum chefe de
qualquer nação
conseguirá garantir
ausência de guerras, de
toda sorte de distúrbio
social, de atentados
contra pessoas,
instituições, a pretexto
de "liberdade" sob
justificativas
arbitrárias e
unilaterais.
A idéia de justiça que
nos determina a dar a
cada um o que lhe
pertence deveria
predominar acima de
quaisquer controvérsias.
A justiça constitui-se
em um desses axiomas que
transcendem. Pois bem.
Não há como estabelecer
ordem sem a
exemplificação do reparo
e honradez, não existe
estrutura organizada
capaz de garantir as esferas
específicas da vida
social como as
instituições básicas,
suas atividades e
correspondências que
vigoram entre si.
O julgamento da maneira
mais íntegra possível
seria o determinante de
todas as ações humanas.
Tudo, em nossa
sociedade, teria que
começar pela justiça
como um sagrado dever
recíproco de todo
indivíduo, porque
direitos e deveres
possuem correlação entre
si — ao se cumprir estes
últimos, possivelmente
os primeiros hão de ser
cumpridos.
Reinará, sim, a
fraternidade na Terra,
não a fraternidade de
momento que, por ora,
vige, geralmente,
visando algum tipo de
interesse, mas a que
conduz ao vínculo
sincero 4.
Presumir que isso é
impossível é duvidar da
sabedoria e benevolência
de Deus, ainda que nEle
se acredite. Há,
portanto, perfeita
correlação entre justiça
e fraternidade, esta
outra tarefa do homem
para com seus
semelhantes, que jamais
será um direito formal,
uma obrigação
prescrita.
A verdadeira justiça
fundamenta-se no
critério de se querer
para os outros aquilo
que se quer para si
mesmo. E não há como se
ser justo sem um
sentimento fraterno.
Justiça e Fraternidade:
muitas vezes, uma lei
rígida, mas "suave".
Remetendo-nos à
esplêndida menção de
nosso Mestre ao nos
oferecer o Seu "jugo"
5, essa lei
tão-somente nos
recomenda a observância
do amor ao próximo
por amor a Deus. E
ponto final.
Bibliografia:
1.
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. 58.
ed., São Paulo: Lake —
Livraria Allan Kardec
Editora, cap. 15, item 4
a 6.
2.
Também crítico e
ensaísta, o mencionado
sociólogo inglês, cujo
amor pela natureza e o
profundo sentimento
religioso caracterizaram
o seu pensamento em um
estilo vigoroso e
elegante, autor de
Pintores Modernos,
As Sete Lâmpadas da
Arquitetura, As
Pedras de Veneza,
etc.
3.
KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos.
62. ed., São Paulo: Lake
— Livraria Allan Kardec
Editora, cap. 11, q.
874.
4.
IDEM. Obras Póstumas.
11 ed., São Paulo:
Lake — Livraria Allan
Kardec Editora, parte
1ª, pág. 168, do
terceiro parágrafo
em diante.
5.
IDEM. O Evangelho
segundo o Espiritismo.
58. ed., São Paulo: Lake
— Livraria Allan Kardec
Editora, cap. 6.o,
it. 1 e 2.
O autor é jornalista,
presidente-fundador da
Fraternidade Espírita
Aurora da Paz (Feap),
site
www.feap.udesp.org.br,
São Paulo, Capital.