JORGE
HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília,
Distrito
Federal
(Brasil)
Epilepsia
e Espiritismo,
breves
comentários
A epilepsia é tão antiga
como o homem. Sabe-se de
legislações a respeito
de pacientes epilépticos
no código de Hammurabi
e, na antiga Grécia, se
lhe chamava "a doença
sagrada", pois devido à
característica súbita e
inesperada do fenômeno
se acreditava que os
deuses ou demônios
possuíam o corpo do
enfermo.
"Do grego deriva o termo
epilepsia que significa
‘ser tomado desde
acima’. Hipócrates, pai
da Medicina escreveu ‘A
respeito da doença
sagrada’, e quatro
séculos antes de nossa
era disse que não era
mais sagrada do que
qualquer outra e que
tinha seu assento no
cérebro. Em Roma se lhe
chamou a ‘doença
comicial’, pois o fato
de que algum dos
assistentes apresentasse
uma convulsão era um
sinal de suspender as
eleições."
Portadores de epilepsia
sofrem com o estigma, o
preconceito, a vergonha
e o medo do
desconhecido. A
epilepsia é uma doença
cerebral caracterizada
por convulsões, que vão
desde as quase
imperceptíveis até
aquelas graves e
freqüentes. A
Organização Mundial da
Saúde estima que cerca
de 50 milhões de pessoas
no mundo são portadoras
de epilepsia, sendo que,
destas, 40 milhões estão
em países
subdesenvolvidos. Apesar
desse cenário alarmante,
a organização afirma que
70% dos novos casos
diagnosticados podem ser
tratados com sucesso,
desde que a medicação
seja usada de forma
correta. (1)
O tratamento
preferencial para a
epilepsia é o
medicamentoso. O uso das
drogas anticonvulsivas é
eficaz em 70% a 80% dos
casos. Para os pacientes
com epilepsia refratária
às drogas
anticonvulsivas (20% a
30% dos casos), o
tratamento indicado é o
cirúrgico. Dependendo do
tipo de epilepsia, a
cirurgia pode ser bem
sucedida em até 80%
desses pacientes. A
cirurgia se desenvolveu,
principalmente, a partir
dos anos 80 com o avanço
da tecnologia nos exames
de imagens. A
ressonância magnética
estrutural e a funcional
(SPECT), além do
monitoramento em vídeo,
permitem fazer um
diagnóstico exato do
foco epiléptico. Porém,
apesar da tecnologia
médica atual, "É como
atirar no escuro e
esperar que o alvo seja
acertado". É assim que o
neurologista Ley Sander,
professor do
Departamento de
Epilepsia Clínica e
Experimental do
University College
London, define o
tratamento da epilepsia.
"Em todos os países, a
epilepsia representa um
problema importante de
saúde pública, não
somente por sua elevada
incidência, mas também
pela repercussão da
enfermidade, a
recorrência de suas
crises, além do
sofrimento dos próprios
pacientes devido às
restrições sociais que,
na grande maioria das
vezes, são
injustificadas", afirma
o neurologista Jesus
Gomez-Placencia, MD, PhD,
Professor titular, Dep.
de Neurosciências da
Universidade de
Guadalajara, no México.
(2)
Foi Hipócrates (em torno
de 460-375 aC) - talvez
influenciado por Atreya,
pai da medicina hindu (e
que viveu 500 anos
antes) - quem passou a
afirmar que a epilepsia
não tinha uma origem
divina, sagrada ou
demoníaca, mas que o
cérebro era responsável
por essa doença. E,
apenas muitos anos
depois, Galeno (129 - em
torno de 200 dC) fez a
primeira classificação
de diferentes formas da
doença. (3) Apesar das
afirmações de Hipócrates
e Galeno, as crenças em
torno da epilepsia como
possessão, maldição ou
castigo, perpetuaram por
muito tempo.
A epilepsia, sob a ótica
do Espiritismo, é uma
doença neurológica, como
qualquer outra doença
que pode alterar o
organismo humano, por
isso mesmo deve ser
tratada com os
especialistas da
medicina terrena. A
propósito, alguns
estudantes do Instituto
Politécnico do México (IPN)
criaram um dispositivo
que diminui os ataques
de epilepsia, consoante
informa o instituto da
Cidade do México. "Com o
objetivo de contribuir
para melhorar a
qualidade de vida das
pessoas que sofrem de
epilepsia, estudantes
criaram o Saceryd, que
reduz a freqüência e a
intensidade das crises
por meio de estímulos
elétricos"(4). Nos
Estados Unidos, já
existe aparelho
semelhante.
Não há dúvida que a
terapêutica espírita
poderá ajudar na
recuperação do
equilíbrio físico do
enfermo, se for
ministrada
adequadamente, sem nunca
dispensar a assistência
médica. Porém, muitas
pessoas confundem as
crises epilépticas com
sintomas obsessivos ou
mediunidade a ser
desenvolvida, o que é um
grave erro. Ainda hoje,
em pleno Século XXI – a
despeito de todas as
proezas da medicina –,
muitos centros espíritas
e igrejas de outros
vários credos, sobretudo
no Brasil, lidam com a
epilepsia – como se esta
fosse originada de
"incorporações de
Espíritos de mortos", de
"possessões pelo
demônio" etc. Até bem
pouco tempo atrás, em
todo o mundo, os ataques
epilépticos, as
convulsões cerebrais, o
histerismo, as doenças
em geral eram tratados
quase que exclusivamente
com "passes magnéticos"
ou "exorcismos", muitas
vezes violentíssimos e
desumanos.
A epilepsia não é
obsessão, muito embora
esta possa, às vezes, se
apresentar com os
sintomas da epilepsia, e
o epiléptico pode ser
portador de um processo
obsessivo. Daí a
confusão que muitas
vezes é feita entre uma
coisa e outra. O
conceito que existe no
meio espírita de que os
epilépticos são médiuns
que deveriam desenvolver
suas mediunidades é
completamente
equivocada.
Essa patologia mui
raramente ocorre por
meras alterações no
encéfalo (5), como sejam
as que procedem de
pancadas na cabeça,
geralmente, é
enfermidade da alma,
independente do corpo
físico, que apenas
registra, nesse caso, as
ações reflexas. Pois a
epilepsia tem ligação
com problemas
espirituais. A
recordação dessa ou
daquela falta grave, que
ficam enraizadas no
Espírito sem que tenha
tido oportunidade de
desabafo ou corrigenda,
cria na mente um estado
patológico que se
classifica de zona de
remorso, provocando
distonias diversas de
uma encarnação para
outra.
O corpo procede do
corpo, porém há
influência enorme da
consciência do
reencarnante, modelando
seu próprio corpo,
influenciando os genes
da hereditariedade com o
distúrbio ligado à causa
pregressa no
aproveitamento da Lei de
Deus, para que o
Espírito não escape ao
seu destino doloroso,
mas intransferível e
necessário. No livro
Missionários da Luz,
cap. 12, André Luiz
narra-nos inúmeras
experiências em que o
Espírito reencarnante
pede que sejam alteradas
certas condições físicas
para que possa vencer as
suas provas redentoras.
A epilepsia é uma doença
neurológica e possui
matrizes cerebrais para
que ela ocorra. No
entanto, muitos fatores
podem provocar essas
alterações cerebrais e,
dentre eles, há a causa
espiritual. A grande
contribuição do
Espiritismo nessa área é
apontar causas
espirituais diretas e
indiretas. No livro A
Gênese, no capítulo XIV,
Allan Kardec ensina que
uma obsessão intensa
(forte interdependência
entre o obsessor e o
obsidiado) e prolongada
pode gerar lesões
orgânicas através dos
fluidos espirituais
"viciados": "Tais
fluidos agem sobre o
perispírito, e este, por
sua vez, reage sobre o
organismo material com o
qual está em contato
molecular. (...) Se os
fluidos maus forem
permanentes e enérgicos,
poderão determinar
desordens físicas:
certas moléstias não têm
outra causa senão esta
(6). O Mestre de Lyon
reconhece em O Livro dos
Espíritos, questões
481-483, que uma
influência espiritual
obsessiva pode causar
uma neurolesão
epiléptica e propõe que
o método desobsessivo
pode levar à cura do
paciente”. (7)
A epilepsia possui
muitas relações com
mecanismos naturais das
provas e expiações, no
contexto das causas
atuais e anteriores das
nossas aflições. Assim,
apesar da epilepsia ter
uma causa orgânica, a
influência espiritual
para que ela aconteça
não pode ser ignorada.
Narra André Luiz um caso
no qual, durante uma
convulsão epiléptica, o
obsessor, ligando-se a
Pedro, produziu uma
convulsão generalizada
tônico-clônica. O mentor
Áulus afirmou que ali se
verificou um caso de
possessão completa ou
epilepsia essencial e
analisa que, no setor
físico, Pedro estava
inconsciente e não teria
lembrança do ocorrido,
mas estaria atento como
Espírito e, nessa
condição, arquivaria a
ocorrência,
enriquecendo-se. (8)
Na seqüência do fato,
após a prece e o passe,
ocorre o desligamento do
desencarnado, termina a
convulsão e Pedro entra
em sono profundo. "Com a
terapia desobsessiva
exitosa, será possível
terminar com os ataques
de "possessão", mas
Pedro sofrerá os
reflexos do
desequilíbrio em que se
envolveu, a se
expressarem nos
fenômenos mais leves da
epilepsia secundária que
emergirão por algum
tempo, ante recordações
mais fortes da luta
atual até o reajuste
integral do perispírito
(reflexo
condicionado)"(9). Esse
caso demonstra que,
apesar de tratar-se de
obsessão, não ocorreu a
manifestação do obsessor
após a convulsão,
certamente devido ao
passe aplicado durante a
convulsão, que produziu
o desligamento do
Espírito desencarnado.
Infere-se pois, ante a
presente exposição, que
os quadros de epilepsia
podem ser provocados por
obsessão também, tanto
quanto existem casos sem
ação de desencarnados e
casos mistos.
Independentemente do
caso, com ou sem
envolvimento obsessivo,
há necessidade de uso de
medicação da medicina
acadêmica,
considerando-se óbvio
que a terapia
desobsessiva é altamente
eficaz, devendo ser
usada como preconiza a
obra kardequiana.
Fontes:
(1) Disponível em
Acessado em 10/10/2005;
(2) Disponível em
www.cerebromente.org.br/n04/doenca/epilepsy/epilepsy.htm
Acessado em 26/10/2005;
(3) Disponível em
Acessado em 10/102005;
(4) Publicado no Jornal
O ESTADO DE S. PAULO,
VIDA &, segunda-feira,
17/10/2005, A13;
(5) O encéfalo ou
cérebro, terminação
principal aumentada do
sistema nervoso central,
ocupa o crânio ou caixa
encefálica. O termo
latino cerebrum tem sido
usado de várias formas.
De um modo geral
significa encéfalo;
também tem sido
utilizado para indicar,
especificamente, o
prosencéfalo e o
mesencéfalo. O adjetivo
cerebral é dele
derivado. Encéfalo, por
sua vez, é de origem
grega (enkép- halos).
Termos como encefalite –
que significa inflamação
do encéfalo – são dele
provenientes.
(6) Kardec, Allan. A
Gênese, Rio de Janeiro:
Ed. FEB, 2004, Cap.XIV.
(7) Kardec, Allan. O
Livro dos Espíritos, Rio
de Janeiro: Ed. FEB,
2000, Questões 481-483.
(8) Xavier, Francisco
Cândido. Nos Domínios da
Mediunidade, Rio de
Janeiro: Ed. FEB, 1997,
Cap. 9.
(9) Idem, ibidem.