O materialismo
nasceu com Tales na
Grécia antiga
1. Materialismo é a
doutrina filosófica
segundo a qual não
existe
essencialmente no
Universo coisa
alguma além da
matéria, quer como
causa, quer como
efeito. Implica um
sistema de mundos em
que o fundamento
único é a matéria,
incriada e eterna,
isto é, existente
por si mesma,
necessária e
suficiente, sem
interferência alguma
de Deus. Essa
concepção é muito
antiga e vem desde
os primeiros
filósofos gregos.
2. Eis, a seguir, um
esboço das idéias
materialistas ao
longo da história
humana.
3. O materialismo,
como doutrina,
ensino ou escola,
nasceu com Tales de
Mileto, na Grécia
antiga, por volta do
século VI a.C. O
materialismo dos
filósofos jônicos
arrola algumas teses
que se tornariam
características das
doutrinas
materialistas
posteriores:
I - A filosofia deve
explicar os
fenômenos não por
meio de mitos
religiosos, mas pela
observação da
própria realidade.
II - A matéria,
incriada e
indestrutível, é a
substância de que
todas as coisas se
compõem e à qual
todas se reduzem.
III - A geração e a
corrupção das coisas
obedecem a uma
necessidade não
sobrenatural, mas
natural, não ao
destino, mas às leis
físicas.
IV - A matéria não é
estática, mas se
acha em constante
movimento, em
permanente
metamorfose.
V - A experiência
sensível é a origem
do conhecimento.
VI - A alma faz
parte da natureza e
obedece às mesmas
leis que regem o seu
movimento.
4. Para Tales de
Mileto, a substância
primordial era a
água; para
Anaximandro, a
matéria
indeterminada. Os
fenômenos da
natureza
consistiriam em
transformações do
mesmo princípio
material,
independentemente de
qualquer
interferência
divina.
5. Anaxágoras
entendia que a
natureza se
constituía de
homeomerias,
unidades que contêm
os elementos de
todas as coisas em
proporções
infinitesimais.
Demócrito sustentava
que o princípio de
todas as coisas eram
os átomos. Tudo o
que existe seria
material, e a
matéria que
constitui os átomos
é qualitativamente
idêntica,
determinando os
diferentes fenômenos
da natureza em
função da
diversidade
quantitativa dos
átomos. A alma
humana, feita também
de átomos, estaria
sujeita à
decomposição e à
morte. A natureza –
dizia Demócrito – se
explica por si
mesma, e os
acontecimentos que
hoje se produzem não
têm causa primeira,
pois preexistem de
toda a eternidade no
tempo infinito,
contendo, sem
exceção, tudo o que
foi, é e será.
A escola platônica
se opôs desde cedo
ao materialismo
6. Essas foram, em
tese, as idéias
materialistas
reinantes até o
século XIII, havendo
em contraposição as
escolas
espiritualistas –
sobretudo a
platônica e a
neoplatônica – e
aquelas que tentavam
conciliar o
materialismo com a
teologia, como a
escola aristotélica.
7. No longo período
que constituiu a
Idade Média, o
materialismo foi
sofrendo algumas
alterações, sempre,
porém, rejeitando a
idéia de um Criador
supremo. Para
Francis Bacon
(1561-1626), as
ciências físicas e
naturais constituíam
“a verdadeira
ciência”.
8. Hobbes
(1588-1679) concebeu
por essa mesma
ocasião um sistema
materialista
perfeitamente
coerente. Imaginando
o mundo à maneira de
Descartes, a
geometria como
paradigma do
pensamento lógico e
a mecânica de
Galileu como ideal
da ciência da
natureza, ele
considerou o mundo
um conjunto de
corpos materiais,
definidos
geometricamente, por
sua forma e
extensão. O homem
seria um corpo, como
os demais; a alma
não existiria e os
organismos não
passariam de
engrenagens do
mecanismo universal.
9. John Locke
(1632-1704) negava
as idéias inatas e
afirmava que todas
as idéias humanas
têm origem na
experiência. No
século XVIII, Julien
Offroy de la Mettrie
(1709-1751) afirmou
que o prazer e o
amor-próprio são os
únicos critérios da
vida moral e os
fenômenos psíquicos
resultam de
alterações orgânicas
no cérebro e no
sistema nervoso. Na
mesma época, Cloude
Adrien Helvétius
(1715-1771), que é
considerado o
precursor ideológico
da Revolução
Francesa, defendeu a
tese de que todas as
idéias são sensações
provocadas pelos
objetos materiais e
a personalidade é
produto do meio e da
educação.
10. Encerrando o
século XVIII, Paul
Henri Dietrich
(1723-1789)
insistiria na
negação das idéias
inatas, da
existência da alma e
de Deus, além de
considerar o
Cristianismo
contrário à razão e
à natureza. Para
Dietrich, o
comportamento
religioso não
passava de
despotismo político.
Não é só o
materialismo que
nega a existência de
Deus
11. Com Karl Marx
(1818-1883) e Engels
(1820-1895) surge,
no século XIX, o
chamado materialismo
histórico e
dialético. Segundo o
marxismo, as
organizações
políticas e
jurídicas, os
costumes e a
religião são
estritamente
determinados pelas
condições
econômicas, pelo
estado da indústria
e do comércio, da
produção e das
vendas.
12. Como se vê, os
materialistas só
crêem na matéria.
Contudo, não podem
deixar de ver a
ordem existente no
Universo, uma ordem
inteligente que
reconhecem, mas que,
para eles, não
necessita de uma
causa inteligente
que a preceda,
conceba e presida.
13. Mas não é só o
materialismo que
nega Deus e a
existência dos
Espíritos. O
panteísmo também os
nega. Para os que
professam essa
doutrina - entre os
quais avulta a
mentalidade vigorosa
de Spinoza -, Deus,
embora sendo o Ser
Supremo, não é um
Ser distinto, pois o
consideram
resultante da
reunião de todas as
forças, todas as
inteligências do
Universo. Ora,
observa Kardec, essa
doutrina é tão
inconsistente que,
se verdadeira,
derrogaria os
atributos de Deus
mais importantes.
14. Com efeito, com
o panteísmo, Deus
seria em ponto
grande o que somos
em ponto pequeno.
Como a matéria se
transforma sem
cessar, nenhuma
estabilidade Ele
teria. Achar-se-ia
sujeito a todas as
vicissitudes e mesmo
a todas as
necessidades
humanas. E lhe
faltaria um dos
atributos essenciais
da Divindade, que é
a imutabilidade.
15. A
inteligência de Deus
se revela em suas
obras como a de um
pintor no seu
quadro, mas as obras
de Deus não são o
próprio Deus, assim
como o quadro não é
o pintor que o
concebeu.
16. Materialismo e
panteísmo se
confundem, pois, na
mesma negação de
Deus como um Ser
distinto, que é, no
ensino dos Espíritos
Superiores, a
Inteligência Suprema
do Universo e a
Causa primária de
todas as coisas.
Respostas às
questões propostas
1. Em que consiste o
materialismo?
R.: Materialismo é a
doutrina filosófica
segundo a qual não
existe
essencialmente no
Universo coisa
alguma além da
matéria, quer como
causa, quer como
efeito. Seu
fundamento único é a
matéria, incriada e
eterna, isto é,
existente por si
mesma, necessária e
suficiente, sem
interferência alguma
de Deus.
2. Quais foram as
principais teses
defendidas, ao longo
dos tempos, pelo
materialismo?
R.: Desde Tales de
Mileto, na Grécia
antiga, por volta do
século VI a.C.,
quando nasceu, o
materialismo defende
teses que ainda hoje
têm defensores. Eis
algumas delas:
-
A matéria,
incriada e
indestrutível, é
a substância de
que todas as
coisas se
compõem e à qual
todas se
reduzem.
-
A geração e a
corrupção das
coisas obedecem
a uma
necessidade não
sobrenatural,
mas natural.
-
A matéria não é
estática, mas se
acha em
constante
movimento, em
permanente
metamorfose.
-
A alma faz parte
da natureza e
obedece às
mesmas leis que
regem o seu
movimento.
3. Que escolas desde
cedo se opuseram às
doutrinas
materialistas?
R.: As escolas
espiritualistas –
sobretudo a
platônica e a
neoplatônica – e
aquelas que tentavam
conciliar o
materialismo com a
teologia, como a
escola aristotélica.
4. Em que se resume
o panteísmo?
R.: Para os que
professam o
panteísmo, Deus não
é um Ser distinto,
mas o resultante da
reunião de todas as
forças, todas as
inteligências do
Universo. De acordo
com o panteísmo,
Deus seria em ponto
grande o que somos
em ponto pequeno.
Como a matéria se
transforma sem
cessar, nenhuma
estabilidade Ele
teria e se acharia,
pois, sujeito a
todas as
vicissitudes e mesmo
a todas as
necessidades
humanas.
5. Que diz o
Espiritismo a
respeito de
materialismo e
panteísmo?
R.: O Espiritismo
combate tanto um
como o outro, porque
ambos se confundem
na mesma negação de
Deus como um Ser
distinto, como a
inteligência suprema
do Universo e a
causa primária de
todas as coisas.
Bibliografia:
O
Livro dos Espíritos,
de
Allan Kardec, item
16.
Enciclopédia Mirador
Internacional.
Verbete:
Materialismo, itens
3 a 15.
Deus
na Natureza,
de Camille
Flammarion, 4a.
edição, FEB, pp. 402
a 407.
Vocabulário de
Filosofia,
de Régis Jolivet,
tradução de Geraldo
Dantas Barreto,
Agir, pp. 139 a 165.