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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 60 - 15 de Junho de 2008

JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)

Deus, causa primordial
do Universo

Deus é uma coisa palpável, não por Ele mesmo, mas através de Sua criação, do mesmo modo que átomos não são "coisas" em sua forma atômica, mas um grande número deles, colocados juntos repentinamente, se torna visível e objeto reconhecível. No século XIX Kardec indagou dos Espíritos, "Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?". A resposta chega de forma simples e objetiva, com a profundidade característica dos Espíritos superiores: "Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá”. (1) Portanto, o conhecimento dos pensadores não pode encontrar outra conclusão, senão a de que Deus existe e é a inteligência suprema do Universo. 

A Doutrina Espírita rejeita a fé cega, defendendo, com argumentos, a fé raciocinada, conduzindo as pessoas a não acreditarem, simplesmente por acreditar, mas a saber por que acreditam em algo. E a principal delas é defender a prova da existência de Deus. 

Tanto foi o cuidado de não personificá-lo que a primeira pergunta que Kardec endereçou aos Espíritos foi com a expressão "Que é Deus?" Em substituição à clássica e antropomórfica indagação: "Quem é Deus?" 

Ante a majestática obra do Criador, o Espírito Emmanuel explica que o homem "observa as dimensões diminutas do Lar Cósmico [Terra] em que se desenvolve. Descobre que o Sol tem um volume de 1.300.000 vezes maior; a Lua dista mais de 380.000 quilômetros; Marte, distante de nós cerca de 56.000.000 de quilômetros na época de sua maior aproximação, Capela é 5.800 vezes maior, Canópus tem um brilho oitenta vezes superior ao Sol" (2). O Sistema Solar possui apenas 9 planetas com 57 satélites no total de 68 corpos celestes. E para que tenhamos noção de sua insignificância diante do restante do Universo, nosso Sistema Solar compõe um minúsculo espaço da pequena Via Láctea" (3) ou seja, um aglomerado de cerca de 100 bilhões de estrelas, com pelo menos cem milhões de planetas e, segundo Carl Seagan, no mínimo cem mil deles com vida inteligente e mil com civilizações mais evoluídas que a nossa. (4) 

Além do Big Bang – Cosmologia Quântica e Deus é o livro publicado pelo cientista Willem B. Drees, Doutor em Física Teórica e Matemática pela Universidade Utrecht e em Teologia pela Universidade de Gröningen (Holanda), que procura demonstrar sobre a existência de um interesse crescente pela investigação científica baseada na certeza da existência de Deus. A teoria mais moderna do início do Universo nos remete não apenas para o Big Bang (a grande explosão), princípio de tudo, mas para a idéia de vários big bangs, com Universos cíclicos, através de quatrilhões de anos. Diante destes números, pensaríamos haver chegado à idéia do que é o Universo; ledo engano, pois estas áreas, ou melhor, volumes, representariam apenas 3% do que seria a totalidade de tudo dentro do tridimensional e espaço/tempo como conhecemos. Os espaços interplanetários, interestrelares e intergalácticos, obviamente, formariam a maior parte daquilo que chamamos de Universo." (5) 

O grande desafio da astrofísica, atualmente, é a chamada energia escura, e as lentes do telescópio espacial Hubble flagraram o comportamento dessa energia, um dos maiores enigmas cósmicos. "Ao observar supernovas, que são explosões de estrelas, o telescópio registrou o efeito da aceleração da luz. A descoberta deve ajudar a explicar o que é a energia escura que cobre quase todo o cosmos, uma força que pode ser responsável pela contínua e acelerada expansão do Universo, também chamada de partícula Deus.” (6) 

A nossa compreensão de Deus muda na mesma proporção em que a nossa percepção sobre a vida se amplia. É uma tarefa difícil, quando o limitado tenta alcançar o Ilimitado, ou o finito entender o Infinito. Assim somos nós diante de Deus. As opiniões científicas ainda estão divididas quanto à origem do universo, mas há unanimidade num ponto, existe ordem no universo. 

Todos fomos criados por Deus para a glória celeste, caminhando pelos proscênios terrestres, onde desenvolvemos potencialidades interiores que nos são heranças divinas esculpidas. "A dedução que se pode tirar da certeza inata que todos os homens trazem em si, da existência de Deus, é a de que Ele existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base?" (7) E, "sendo Deus a essência divina por excelência, unicamente os Espíritos que atingiram o mais alto grau de desmaterialização o podem perceber”. (8) 

Assinalamos aqui uma pequena digressão: é interessante notar que, geralmente, nós imaginamos Deus como alguma coisa absolutamente externa. Pensamos em Deus como um ser ou algo separado de nós, advindo muitos conflitos. Ora! Se o Todo-Poderoso também está dentro de nós, podemos mudar por nossa própria vontade. Mas se acreditamos que o Pai celestial está exclusivamente do lado externo, então, supomos que só Ele pode nos mudar e não nos transformamos pela nossa própria vontade. Achamo-nos, então, constantemente, em presença da Divindade; nenhumas das nossas ações lhe podem subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contato ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. 

Albert Einstein, físico alemão de origem judaica, que dispensa apresentações, "quando, em 1921, perguntado pelo rabino H. Goldstein de New York se acreditava em Deus, respondeu: "Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens" (9). Nesta mesma ocasião, muitos líderes religiosos diziam que a teoria da relatividade "encobre com um manto o horrível fantasma do ateísmo, e obscurece especulações, produzindo uma dúvida universal sobre Deus e sua criação”. (10) Tese que discordamos integralmente, pois Einstein confessou a um assistente que, no fundo, seu único interesse era descobrir se no instante da criação Deus teve escolha de fazer um universo diferente e, caso tenha tido opção, por que é que decidiu criar esse universo singular que conhecemos e não outro qualquer? Dizia ainda: "Minha religião consiste em humilde admiração do Espírito superior e ilimitado que se revela nos menores detalhes que podemos perceber em nossos Espíritos frágeis e incertos. Essa convicção, profundamente emocional na presença de um poder racionalmente superior, que se revela no incompreensível universo, é a idéia que faço de Deus”. (11) 

Da megaestrutura dos astros à infra-estrutura subatômica, tudo está mergulhado na substância viva da mente de Deus. O físico americano Paul Davies, no seu livro intitulado Deus e a Nova Física, afirma categoricamente que o universo foi desenhado por uma consciência cósmica. (12) O Universo, portanto, constituído por esses milhões de sóis, regido por leis universais, imutáveis, completas, às quais acham-se sujeitas todas as criaturas, é a exteriorização do Pensamento Divino. 
 

FONTES:

1- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio [de Janeiro]: FEB, 1994, Questão 4.

2- XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro. Ditada pelo Espírito Emmanuel. Rio [de Janeiro]: FEB, 1994, Cap. 1.

3- As últimas observações do telescópio Hubble (em órbita) mostram o número de galáxias conhecidas de 50 milhões.

4- Em 1991, em Greenwich, na Inglaterra, o observatório localizou um quasar (possível ninho de galáxias) com a luminosidade correspondente a um quatrilhão de sóis.

5- Que é Deus? Paulo Roberto Martins: Artigo publicado no Jornal Espírita de Pernambuco, Julho/2000.

6- Revista ISTOÉ/1775, 8 de Outubro de 2003, página 100.

7- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2004, item 5.

8- Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, Cap. II - A Providência, item 34.

9- Citado em Golgher, I. O Universo Físico e humano e Albert Einstein, B.H: Oficina de Livros, 1991, p. 304.

10- Citado em Idem, ibidem, pp. 304-305.

11- Einstein, Albert. Extraído do livro "As mais belas orações de todos os tempos".

12- Davies, Paul. Deus e a Nova Física, Lisboa: Edições 70, 1986, p. 157.


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