MARCELO HENRIQUE
PEREIRA
cellosc@floripa.com.br
Florianópolis,
Santa Catarina
(Brasil)
Amar e mudar as
coisas me
interessa mais
Das batalhas de
que é feita a
vida, com todos
os seus
contornos e
condicionantes,
o homem faz
escolhas –
justificadas ou
não – de acordo
com o seu juízo
de valor,
interesse e
desejos. Para
alguns,
determinados
assuntos são
próximos e
relevantes. Os
mesmos temas,
para outros,
nada significam.
Vejo pessoas
defendendo
apaixonadamente
(e, até,
cegamente,
porque a paixão,
por vezes,
oblitera a
razão),
impedindo
qualquer
perspectiva de
diálogo e
entendimento.
Desde cedo, a
escola nos molda
o caráter para
sermos
vencedores e a
vitória, em
regra, não
permite acordos
ou conchavos,
pois o recuo
para a
negociação, em
si,
representaria
alguma derrota.
Vejo o movimento
espírita,
atualmente, no
mesmo roteiro:
uns e outros,
aqui e alhures,
“pensam” estar
com a verdade.
Mesmo
inconscientemente,
travam uma
batalha
(invisível ou
palpável) para
“vencer” seus
“opositores”,
ainda que
demonstrem e
digam o
contrário. Não
cooptam adeptos,
não buscam
desesperadamente
seguidores, não
querem ser os
“únicos”... Será
mesmo? Vejo
textos e
discursos,
entrevistas e
palestras, uns
apontando os
equívocos dos
outros e, até, o
“singelo”
convite (que
mais parece uma
ordem) para que
os “diferentes”
constituam outro
movimento, outra
filosofia,
adotem outro
nome e
identidade, mais
pertinente às
suas “buscas” e
ideologia.
Confesso que,
vez por outra,
até mesmo eu me
vejo envolvido
nesta roda-viva,
combatendo os
que me combatem
– ainda que
seja, neste
propósito, o
“bom combate” de
Paulo. Lendo
retóricas
inflamadas,
textos coléricos
ou ensaios
contraditórios e
desprovidos, por
vezes, de bom
senso e
fraternidade,
sou movido à
resposta, ao
rebate, à
réplica. Tenho
dito que a
liberdade de
pensar é a mais
relevante
aptidão do ser,
quando adquire a
consciência de
si mesmo e se
põe a caminho,
como cidadão do
Universo e
exercê-la, em
todo e qualquer
setor da
existência
espiritual, é um
direito.
Nesse exercício,
a busca pela
plenitude se faz
mais evidente,
sobretudo pela
possibilidade de
comparação entre
as minhas
verdades
pessoais e as
dos outros,
permitindo-nos
ver os outros
lados de cada
situação. Há
quem se sinta,
em verdade,
desconfortável
em ter que
“descer” da
tranqüilidade
dos seus
conceitos
íntimos para
cogitar de
outras idéias,
as quais, não
raro, impõem-nos
mudanças,
sobretudo quando
percebemos a
existência de
“atalhos” no
caminho. Quando
um recente
presidente do
Brasil declarou,
em alto e bom
tom, após
assumir a
cadeira
principal do
poder político
nacional, para
que esquecessem
o que ele havia
(dito e)
escrito,
sobretudo em
relação aos seus
estudos
teórico-acadêmicos,
ele foi logo
rechaçado pela
crítica
especializada e
pela imprensa,
imaginando que o
personagem
estivesse
aplicando, na
prática, o
conhecido jargão
do “faz o que eu
digo, mas não o
que eu faço”.
Ledo engano. O
que ocorreu com
ele pode ser
visualizado
cotidianamente
em relação a nós
outros,
sobretudo quando
a nossa
“experiência de
vida” ainda não
cotejou dadas
ocorrências e
situações, ou o
nosso espectro
de análise e
visualização
sequer havia
contemplado
outras hipóteses
diferentes das
que conhecíamos,
até então.
Por isso, a cada
passo da
trajetória,
considerando que
nunca devemos
estar parados,
inertes,
estacionados,
somos sujeitos
ao despertar, à
revisão de
conceitos e
práticas, à
mudança... A
maturidade (que
nem sempre está
associada ao
tempo de vida ou
à quantidade de
anos envolvidos
com dada
atividade, mas
que pode,
também, decorrer
de um, de outro
ou de ambos)
permite que o
indivíduo
“reveja seus
conceitos” e
passe a
assimilar,
entender,
raciocinar,
falar, escrever
e/ou viver de
outros modos – e
que estes sejam,
preferencialmente,
melhores, mais
despertos e
felizes.
Independentemente
da minha e da
sua convicção –
aquilo que cada
um crê ser “a”
verdade – tenho
tentado perceber
e vivenciar
“quais” são as
diferenças,
“porque” elas
existem, “em
que” conceitos e
parâmetros elas
se baseiam. E,
mesmo que haja o
embate – que
decorre da
defesa
(incondicional,
veemente ou
intransigente)
daquilo que cada
um acredita –,
importante é o
momento em si da
dicotomia, da
pluralidade das
percepções e dos
significados.
Algumas vezes, a
“obstrução”, a
oposição do
outro às nossas
argumentações
não são, em si,
tão prejudiciais
(a princípio)
como possamos
pensar. Elas
servem para
fortalecer nossa
própria
convicção íntima
e para
aperfeiçoar
nossa capacidade
de nos expressar
perante os
outros.