EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Da dignidade do
amor
Ah, a dignidade
do amor que se
manifesta de
diversas
maneiras no
curso da
existência...
Para muitos,
homens e
mulheres, a
experiência do
amor se
manifesta na
beleza do
encontro –
tem-se, então, a
prova silenciosa
de conhecer
alguém desde
sempre. Vidas
anteriores ou
interiores,
pouco importa. A
dignidade tomada
pelo viver em
profundidade o
encontro entre
duas pessoas.
Não conheço nada
mais necessário
que um casal,
quando é feliz.
E “façam o que
fizerem os
libertinos,
façam o que
fizerem os
misantropos, a
humanidade só é
completa a
dois”, como
explica
Comte-Sponville.
Embora nada seja
mais relativo do
que as
narrativas de
amor, amar
apenas a si
seria extrair-se
da humanidade e
fechar-se no
próprio domínio,
condenando-se à
“perda da
capacidade de
amar”, como
diria Freud.
O amor, quando
há amor, é
luminosidade e
esperança. Para
aqueles que vêm
– os filhos – à
mercê desse
amor, o da mãe,
o do pai,
responsável
pelas primeiras
instruções,
bases da direção
existencial,
pois se “a
criança só sabe
pegar”, tal como
dizia Svâmi
Prajnânpad, “é o
adulto que dá” e
isso,
certamente,
revela o
caminho.
A vida e o amor
não estão
separados.
Penso em São
Francisco
falando da Lua
como sua irmã,
do Sol como seu
irmão,
relacionando-se
com a intimidade
que nos liga,
naturalmente, ao
ambiente, às
forças da Terra.
Nessa
experiência, há
entrega e
confiança,
espontâneas a
quem ama,
segundo a
dignidade do
amor que acende,
em nós, as
esperanças da
vida, peregrina.
Há também a
vivência do
amor-philía.
Quando o
mistério da
amizade nos
ajuda a
dignidade da
escuta. Poder
tudo escutar,
poder contar
aquilo que
queremos, no
presente, sabido
o futuro ainda
ausente.
Dividir, segundo
uma trilha de
aceitação, de
integração, sem
reservas ou
receios.
E se há várias
formas de amor:
eros,
tingido pela
falta, philía,
conduzido pela
tom da partilha,
agápe,
caridade que dá
e perdoa...
Entre paixão e
amizade, entre
interesses
(sempre
diversos) e
desinteresse
(nenhum) – motor
da caridade,
pouco importam
as categorias,
as palavras, as
notas
explicativas.
Não se pode
viver sem amor,
sem amor há
somente o peso
da sombra, o
desgosto de um
viver sem
alegria, a
pulsão que move
o niilista, as
sementes de
tantas
patologias, a
ferida que
agoniza. A
saída? O poder
de amar. A
dignidade do
amor, pois é só
“o amor que faz
viver, pois só
ele torna a vida
amável” (Comte-Sponville).