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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 67 - 3 de Agosto de 2008

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 


Da dignidade do amor 

 
Ah, a dignidade do amor que se manifesta de diversas maneiras no curso da existência...

Para muitos, homens e mulheres, a experiência do amor se manifesta na beleza do encontro – tem-se, então, a prova silenciosa de conhecer alguém desde sempre. Vidas anteriores ou interiores, pouco importa. A dignidade tomada pelo viver em profundidade o encontro entre duas pessoas.

Não conheço nada mais necessário que um casal, quando é feliz. E “façam o que fizerem os libertinos, façam o que fizerem os misantropos, a humanidade só é completa a dois”, como explica Comte-Sponville.

Embora nada seja mais relativo do que as narrativas de amor, amar apenas a si seria extrair-se da humanidade e fechar-se no próprio domínio, condenando-se à “perda da capacidade de amar”, como diria Freud.

O amor, quando há amor, é luminosidade e esperança. Para aqueles que vêm – os filhos – à mercê desse amor, o da mãe, o do pai, responsável pelas primeiras instruções, bases da direção existencial, pois se “a criança só sabe pegar”, tal como dizia Svâmi Prajnânpad, “é o adulto que dá” e isso, certamente, revela o caminho.

A vida e o amor não estão separados.

Penso em São Francisco falando da Lua como sua irmã, do Sol como seu irmão, relacionando-se com a intimidade que nos liga, naturalmente, ao ambiente, às forças da Terra. Nessa experiência, há entrega e confiança, espontâneas a quem ama, segundo a dignidade do amor que acende, em nós, as esperanças da vida, peregrina.

Há também a vivência do amor-philía. Quando o mistério da amizade nos ajuda a dignidade da escuta. Poder tudo escutar, poder contar aquilo que queremos, no presente, sabido o futuro ainda ausente. Dividir, segundo uma trilha de aceitação, de integração, sem reservas ou receios.

E se há várias formas de amor: eros, tingido pela falta, philía, conduzido pela tom da partilha, agápe, caridade que dá e perdoa...

Entre paixão e amizade, entre interesses (sempre diversos) e desinteresse (nenhum) – motor da caridade, pouco importam as categorias, as palavras, as notas explicativas. Não se pode viver sem amor, sem amor há somente o peso da sombra, o desgosto de um viver sem alegria, a pulsão que move o niilista, as sementes de tantas patologias, a ferida que agoniza. A saída? O poder de amar. A dignidade do amor, pois é só “o amor que faz viver, pois só ele torna a vida amável” (Comte-Sponville).
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita