LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Salva-te
a ti mesmo
“Eis agora o tempo
sobremodo oportuno, eis
agora o dia da salvação.”
(1)
Se formos buscar no
dicionário o significado
real da palavra salvar,
não iremos encontrar,
certamente, o termo
tornar-se divino ou
santo que, de
alguma maneira, pudesse
nos transformar em
pessoas sublimes ou que
nos fornecesse, no dizer
de Emmanuel, “um
passaporte para a
intimidade com Deus”.
Entretanto, com isso em
mente, muitos buscam os
templos de fé
preocupados com a
prática dos ritos
exteriores, com presença
assídua, imaginando que
apenas isso lhes dará a
condição de se salvarem.
Sua intimidade com Deus
está quase sempre no
número de vezes em que
praticam as obrigações
rituais.
O que pensarmos, então,
de um homem que nos atos
públicos religiosos
mantém-se contrito,
passando aparência de
retidão e no santuário
doméstico permanece
mergulhado em palavra de
baixo calão? Ou ainda
daquele outro que se
declara temente a Deus
diante de multidões,
preocupado em
exteriorizar sua fé, mas
que a preguiça toma
conta no trabalho? E
temos, ainda, outros
companheiros que dizem
confiar na Misericórdia
e Justiça Divinas, mas
que diante da dor
mostram-se desesperados.
São fiéis no que lhes
facilitam a vida e
blasfemam quando não
conseguem o que desejam.
No conceito dessas
criaturas, certamente,
estarão a salvo ao
deixarem o corpo físico,
porque cumpriram com
todas as obrigações do
seu credo religioso.
Como cada um de nós
encontra-se em momentos
diferentes de evolução e
entendimento das coisas
divinas, é natural que
muitos de nós ainda
assim ajam. Por essa
razão, o Evangelho nos
lembra, continuamente, a
preocupação de Jesus em
conscientizar as pessoas
para a necessidade de
cuidarem menos dos
rituais exteriores e
mais das coisas do
coração. Era da tradição
naquela época – e toda
tradição estava contida
na lei – lavar as mãos
antes de se comer o pão.
Em determinada ocasião,
Jesus foi censurado por
não fazer tal gesto e a
explicação que ele deu a
seus opositores,
escandalizando-os, foi a
de que “o que entra pela
boca, desce ao ventre e
se lança em lugares
escusos; mas as coisas
que saem pela boca vêem
do coração e são essas
coisas que tornam o
homem imundo. É do
coração que saem os maus
pensamentos, a
blasfêmia, a mentira, o
adultério”.
Entretanto, do pouco que
já conhecemos dos
ensinamentos
evangélicos, parece-nos
que Jesus continua
querendo um pouco mais
de cada um de nós, e não
somente as obrigações
ritualísticas. Vamos
entender isso: voltemos,
então, ao nosso
dicionário e lá vamos
encontrar o sinônimo de
salvar como sendo
livrar de ruína ou de
perigo, conservar
ou ainda abrigar.
Nenhum desses
significados exime o
homem da
responsabilidade de
melhorar-se. E quando
Cristo nos fala em
salvação, Ele nos
conclama a renovação e
ao aprimoramento
individual em qualquer
circunstância, e isso,
certamente, inclui o
lar, o local de
trabalho, a via pública,
pois é no contato com os
semelhantes que temos as
maiores e melhores
oportunidades de
crescimento.
Pretender que bastariam
as atividades do culto
exterior para salvar-se,
acreditando que é essa a
concepção evangélica de
salvação, é imaginar que
quando um doente é salvo
da morte , ele não
necessita mais continuar
nas tarefas da sua
existência, ou seja,
lutando para vencer
obstáculos e tentações;
ou então, esperar que um
navio, salvo de perigo
iminente, não precisasse
mais continuar sua
viagem até seu destino,
conforme nos esclarece
Emmanuel. Temos aí a
idéia errônea de que
salvar-se será livrar-se
de todos os riscos, na
conquista de uma suprema
tranqüilidade. E quantos
de nós já tivemos essa
idéia, não é verdade?
Lembra-nos, Emmanuel,
mais uma vez, que
colocar alguém a salvo
não é “situá-lo na
redoma da preguiça,
distante do suor da
marcha evolutiva”, e o
Evangelho não deixa
dúvidas a respeito do
erro nessa concepção,
sendo muitos os exemplos
que nos dá.
Após a morte de Jesus, o
receio tomou conta de
muitos dos apóstolos.
Tinham consciência das
suas tarefas, mas os
homens eram hostis e as
circunstâncias em que
deveriam trabalhar
bastante desanimadoras.
Muitos deles, salvos de
seus medos e
inseguranças,
prosseguiram seu
trabalho, apesar de
todas as dificuldades,
levando os ensinos de
Jesus onde fosse
possível. O próprio
Pedro, a quem Jesus
chamou de pedra de
sustentação na
propagação do
Cristianismo, salvo de
sua indecisão, trabalhou
até idade avançada.
Muitos daqueles que
foram chegando para o
serviço da Igreja que
nascia, conheceram
aflição, martírio,
lapidação e morte.
Paulo, o grande apóstolo
de Jesus, que salvo da
crueldade com que
perseguia os novos
cristãos, foi impelido a
trabalhar na própria
renovação, levando, com
enormes sacrifícios
pessoais, os
ensinamentos do Mestre
aos mais longínquos
lugares, implantando o
Cristianismo no seio de
povos pagãos.
Assim, conforme o
ensinamento de Jesus,
salvar é, sobretudo,
regenerar, instruir,
educar e aperfeiçoar
para a Vida Eterna.
Quando o Evangelho
afirma que Ele veio
salvar os pecadores, é
imprescindível que
entendamos que Ele não
veio e não virá, como
acreditam muitos,
arrebatar os filhos de
Deus da lama da Terra
para que imediatamente
brilhem entre os anjos
do Céu. É necessário que
compreendamos que, desde
a época do Cristo -
pelas suas palavras e,
sobretudo, pelos seus
exemplos – o homem vem
acordando para a
verdadeira fraternidade
e redenção e, com isso,
modificando a moral do
planeta. A salvação do
homem não está na sua
subida aos Céus por
favoritismo religioso,
mas, sim, no seu
trabalho incessante no
Bem, para que se elimine
o mal do mundo. Jesus
nos salvou, sim, porque
nos ensinou como nos
erguer das trevas para a
luz.
E é essa luz que estamos
buscando. Já podemos
dizer que fomos tocados
pelas verdades
evangélicas e que,
certamente, a salvação
já terá chegado até nós.
Isto não significa,
entretanto, que podemos
dizer que estamos
investidos de títulos
angelicais, quando ainda
somos criaturas humanas
com necessidade de
aprender, evoluir,
acertar as nossas
escolhas e, sobretudo,
de nos modificar. A
salvação da qual falamos
é em seu sentido real,
ou seja, aquela que vem
do Alto para que, nos
conscientizando das
nossas obrigações, nos
coloquemos diante da Lei
do Progresso com
disposição para
abraçá-la e cumpri-la.
“O tempo que perdemos
nos lamentando sobre o
tempo perdido, faz com
que percamos mais tempo
ainda.” (2)
Paulo de Tarso, o
Apóstolo, diz-nos: “eis
agora o tempo de
salvação” para a
corrigenda de nossos
erros e o aproveitamento
da nossa vida. Para
todos nós, esse tempo,
esse dia da salvação é
AGORA.
Bibliografia:
(1)
PAULO, II Coríntios
(6:22).
(2)
EMMANUEL (Espírito) –
Palavras de Vida Eterna,
[psicografado por] F. C.
Xavier. Edição CEC,
Uberaba/MG – 20 ed.,
Lição 153, 1995.