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Estudando a série André Luiz
Ano 2 - N° 70 - 24 de Agosto de 2008

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)  

No Mundo Maior

André Luiz

(8a Parte)

 
Damos prosseguimento ao estudo da obra
No Mundo Maior, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, publicada em 1947 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. Que danos pode produzir uma mente desvairada?.

R.: Segundo o instrutor Calderaro, uma mente desvairada emite forças destrutivas que podem atingir os outros, mas alcançam, em primeiro lugar, o cosmo orgânico do emissor. Julieta, ao decidir por um gênero de vida que lhe provocava violentos e contínuos conflitos na mente, passou a despedir energias fatais para ela mesma. Dotada de educação distinta, haurida ao contacto materno que lhe enobreceu os sentimentos, a jovem incompatibilizou-se com uma existência de nível mais baixo na Crosta. Daí se originavam os conflitos. Ao ceder às tentações de que foi alvo, sentia-se intimamente precipitada escada abaixo. (No Mundo Maior, cap. 6, pp. 87 e 88.)  

B. Justiça divina e compaixão coexistem ou são valores antagônicos?

R.: A justiça divina não desconhece a compaixão. A Eterna Sabedoria examina o móvel de nossas ações e, sempre que possível, nos reergue. Somente quando nos mergulhamos no total eclipse do amor e da razão, deliberadamente fugindo aos processos do socorro divino, mantendo-nos nas trevas completas do ódio e da negação, defrontamos com absoluta dificuldade de receber influências salvadoras. Nesse caso, então, devemos esperar os atritos cruéis do tempo, aliados às forças das leis universais. (Obra citada, cap. 6, pp. 88 e 89.)

C. Em que a condição de enfermo pode auxiliar o indivíduo?

R.: A resposta a esta pergunta podemos extrair do caso Julieta, a quem Calderaro, percebendo a gravidade de seu estado, prestou auxílio magnético retirando-lhe certa quantidade de material escuro, segregado pela própria mente e acumulado ao longo do cérebro. O instrutor, contudo, deixou um pouco da referida substância na câmara cerebral da jovem, visto que, segundo explicou, era preciso que Julieta se mantivesse enferma do corpo, de modo a ausentar-se das noitadas que costumava praticar. A trégua produzida pelo estado de enfermidade tornara-se importante porque, poucas horas depois, a jovem seria atendida por Cipriana. (Obra citada, cap. 6, pp. 89 e 90.) 

Texto para leitura

42. Cândida, a enferma - Noite fechada, em santuário humilde, encon­trava-se no leito uma senhora, prematuramente envelhecida, aguardando a morte. Cândida prendia-se ainda ao corpo através de fios muito frá­geis. A doce luz que nimbava sua fronte indicava a grandeza d'alma, o sereno heroísmo. Ao lado da cama, uma jovem muito pálida e corpo al­quebrado acariciava-lhe os cabelos grisalhos; era a filha a despedir-se. Cândida falava-lhe, comovida: "Julieta, minha filha, tenha cuidado consigo. Você sabe que, provavelmente, não mais me levantarei. Receio deixá-la entregue aos embates do mundo, sem mãos amigas..." A mãe, re­freando a custo a comoção, lembrou que seus filhos as abandonaram à própria sorte. Elas estavam sozinhas e precisavam pensar. Sua impres­são é que o dinheiro não estava dando para as despesas. "Diariamente rogo ao Senhor não nos desampare. Temo que seu destino se desvie do caminho reto por minha causa...", disse-lhe a enferma. Realmente, as despesas do tratamento de Cândida e das intervenções cirúrgicas foram muito altas para as possibilidades da filha e isso preocupava demais a veneranda mulher. Julieta, para confortá-la, disse à mãe não se afli­gisse, porque ela estava trabalhando e não faltavam os recursos. (Cap. 6, pp. 81 e 82) 

43. O caso Cândida - Cândida enviuvara muito moça, ficando só com três filhos: dois rapazes, que depois a abandonaram, e Julieta, a quem ini­ciou nos trabalhos de agulha, ofício em que a jovem se revelou exce­lente profissional. Depois de alguns anos de provações mais rudes, a nobre genitora caiu, extenuada, havendo sofrido diversas inter­venções cirúrgicas, sem resultados apreciáveis. Sua situação tornou-se tão aflitiva, que seu internamento na casa de saúde já se alongava por dez arrastados meses. Era natural, pois, sua preocupação com a carência de recursos... Por isso, após as explicações da filha, a valorosa senhora prosseguiu com os seus conselhos: "Se eu morrer, milha filha, não se deixe arrastar pelas tentações. Procure recursos no trabalho digno, não se impressione com as promessas de vida fácil. Você sabe que a minha viuvez nos deparou dificuldades angustiosas; seu pai, contudo, nos deixou uma pobreza honesta e cheia de bênçãos. Em verdade, seus irmãos, fascinados pelo ganho material, relegaram-nos ao abandono, ao esquecimento, mas nunca me arrependi da humildade e do trabalho..." A enferma lembrou-lhe então que, embora tenha perdido cedo a saúde, a paz constituía a coroa de sua alma, pois reconhecia não existir for­tuna maior que a consciência tranqüila... "Sabe o Senhor os motivos de nossos sofrimentos e privações, e só nos cabem razões para louvá-lo...", acrescentou a valorosa mulher, que rogou à filha não fosse dó­cil e boa apenas com ela, mas obedecesse igualmente a Deus, consa­grando-lhe amor e confiança. "Ele é nosso Pai de Infinita Bondade e de nós pede apenas um coração singelo e uma vida pura. Conforme-se, fi­lhinha, com os desígnios divinos, no turbilhão das provas humanas, e não descoroçoe!", acrescentou a enferma. Filha e mãe beijaram-se então comovidamente, e Julieta, após carinhoso adeus, afastou-se. (Cap. 6, pp. 83 a 85) 

44. O caso Julieta - A princípio, Julieta conseguira satisfazer as exi­gências financeiras. Com o passar do tempo, porém, a jovem viveu tremendo duelo entre a necessidade e o esgotamento. Parentes a quem ela recorreu se esquivaram. Amigos se mostraram indiferentes e as despesas de tratamento cresciam sempre, implacáveis. Louca de angústia, batera a todas as portas e todas as portas permaneceram fechadas. Foi então que a jovem cedeu a insidioso convite: passou a trabalhar na noite, numa casa de diversões, com o intuito de, através da dança e do canto, agenciar mais dinheiro. Daí ao envolvimento com um homem, foi um passo. Julieta acabou concordando com as propostas de Paulino, abandonou a máquina de costura e fixou-se no centro de diversões noturnas, sendo vista sempre acompanhada por ele, interessado em tirar proveito de sua mocidade e beleza, qual cavalheiro vaidoso a ostentar uma jóia. Diante da mãe, a jovem vestia-se com a simplicidade de sempre. Ela não reunia forças para relatar à mãe a verdade. Ocorre que os prazeres fáceis e o dinheiro abundante não logravam atenuar seu desalento. Recordando os exemplos maternos, experimentava atrozes perturbações conscienciais, parecendo perder a paz de si mesma. O remorso lhe constituía, sem dúvida, um tormento constante. (Cap. 6, pp. 85 e 86) 

45. Os conflitos da jovem - Meditando nas palavras ouvidas de Cândida, a jovem caiu em pranto convulsivo. Pensamentos torturantes se lhe en­trechocavam no cérebro doente. Vibrações pesadas, caracterizando-se pela cor muito escura, desciam de sua fronte e fixavam-se no aparelho respiratório. Represando-se na pleura, invadiam os alvéolos e daí pas­savam ao coração, influenciando as trocas sangüíneas, momento em que a substância fluídica das emissões mentais se esvanecia, absorvida pelas artérias. André percebeu, então, que esse material oriundo da mente perturbada, imprimindo-se no mecanismo fisiológico, era assimilado pela sangue, que, a seu turno, o restituía ao cérebro físico, acumu­lando-se em todas as zonas deste, mais próximas da substância cin­zenta. A jovem não apresentava, pois, somente os olhos rubros e incha­dos de chorar, mas também os pródromos dos mais sérios distúrbios or­gânicos. Seria aquilo a misteriosa origem da encefalite letárgica? Calderaro disse que era muito mais do que isso: a mente desvairada emite forças destrutivas que, se podem atingir os outros, alcançam, em primeiro lu­gar, o cosmo orgânico do emissor. Julieta, ao decidir por um gênero de vida que lhe provocava violentos e contínuos conflitos na mente, pas­sou a despedir energias fatais para ela mesma. Dotada de educação dis­tinta, haurida ao contacto materno que lhe enobreceu os sentimentos, a jovem incompatibilizou-se com uma existência de nível mais baixo na Crosta. Daí se originavam os conflitos. O casamento digno seria o campo ideal para o seu caso de mulher nobilitada pelo conhecimento e pela virtude. Ao ceder, porém, às tentações de que foi alvo, sentia-se intimamente precipitada escada abaixo. (Cap. 6, pp. 87 e 88) 

46. Não existe justiça sem compaixão - Calderaro esclareceu que, nesse atrito incessante, agravado pelas péssimas emissões fluídicas do am­biente em que vivia, a mente de Julieta desceu à região dos impulsos instintivos, experimentando extrema dificuldade em subir ao castelo das noções superiores, de onde a luz da consciência lhe dirigia vigo­rosos apelos para que retornasse à simplicidade e à harmonia. Tal si­tuação impedia-lhe a prece fervorosa e regeneradora, e daí o caos em que a pobre estava. Dominada por permanente angústia, fazia demasiada pressão sobre a matéria cinzenta, dando causa a lamentáveis desequilí­brios orgânicos. A jovem, segundo Calderaro, avizinhava-se da loucura, com estádios por distúrbios vários, provocados pela disfunção celular, e estava ainda sujeita a outras enfermidades, como a pleurisia e de­pois a tuberculose. A justiça divina, porém, não desconhece a compai­xão. A Eterna Sabedoria examina o móvel de nossas ações e, sempre que possível, nos reergue. "Somente quando nos mergulhamos no total eclipse do amor e da razão, deliberadamente fugindo aos processos do socorro divino, mantendo-nos nas trevas completas do ódio e da nega­ção, defrontamos com absoluta dificuldade de receber influências sal­vadoras", asseverou o Instrutor. Nesse caso, então, deveremos esperar os atritos cruéis do tempo, aliados às forças das leis universais. Se a jovem não podia elevar-se a plano superior, a mãe doente permanecia em poderosas orações transformadoras. "Caiu a filha para socorrer-lhe o corpo, mas Cândida alcandorou-se mais por salvar-lhe a alma", acres­centou Calderaro. (Cap. 6, pp. 88 e 89) 

47. Cipriana atende a Paulino e Julieta - Calderaro prestou o auxílio magnético a Julieta, retirando-lhe certa quantidade de material escuro, segregado pela própria mente e acumulado ao longo do cérebro. Todavia, o Instrutor deixou um pouco da referida substância na câmara cerebral da jovem. Por que ele assim procedeu? A explicação não tardou: era preciso que Julieta se mantivesse enferma do corpo, de modo a ausentar-se das noitadas que costumava praticar. A razão estava ligada ao atendimento que Cipriana daria a ela e a Paulino, breves ho­ras depois, no mesmo aposento em que Cândida se encontrava internada. Foi o que aconteceu. Por volta das duas horas da madrugada, Calderaro e André regressaram ao modesto quarto de Cândida, que, desprendida do invólucro material, repousava nos braços de Cipriana. A doente gozava extrema lucidez e estava rodeada de outros amigos, que a reconfortavam para o transe definitivo. Pouco tempo depois, Julieta e Paulino, em mo­mento de desprendimento durante o sono, chegaram conduzidos por dois Espíritos. Ao verem Cipriana, ambos ajoelharam-se instintivamente, cho­rando comovidos. Ajudados pelos bons Espíritos, eles podiam contemplar a todos os que ali estavam, mas se sentiam humilhados e aflitos. Foi quando Cipriana dirigiu-se ao moço e começou, assim, o atendimento que mudaria por completo o rumo dos acontecimentos naquela família. (Cap. 6, pp. 89 e 90) (Continua no próximo número.)
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita