MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo Maior
André Luiz
(8a
Parte)
Damos prosseguimento ao
estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que danos pode
produzir uma mente
desvairada?.
R.: Segundo o instrutor
Calderaro, uma mente
desvairada emite forças
destrutivas que podem
atingir os outros, mas
alcançam, em primeiro
lugar, o cosmo orgânico
do emissor. Julieta, ao
decidir por um gênero de
vida que lhe provocava
violentos e contínuos
conflitos na mente,
passou a despedir
energias fatais para ela
mesma. Dotada de
educação distinta,
haurida ao contacto
materno que lhe
enobreceu os
sentimentos, a jovem
incompatibilizou-se com
uma existência de nível
mais baixo na Crosta.
Daí se originavam os
conflitos. Ao ceder às
tentações de que foi
alvo, sentia-se
intimamente precipitada
escada abaixo. (No
Mundo Maior, cap. 6, pp.
87 e 88.)
B. Justiça divina e
compaixão coexistem ou
são valores antagônicos?
R.: A justiça divina não
desconhece a compaixão.
A Eterna Sabedoria
examina o móvel de
nossas ações e, sempre
que possível, nos
reergue. Somente quando
nos mergulhamos no total
eclipse do amor e da
razão, deliberadamente
fugindo aos processos do
socorro divino,
mantendo-nos nas trevas
completas do ódio e da
negação, defrontamos com
absoluta dificuldade de
receber influências
salvadoras. Nesse caso,
então, devemos esperar
os atritos cruéis do
tempo, aliados às forças
das leis universais.
(Obra citada, cap. 6,
pp. 88 e 89.)
C. Em que a condição de
enfermo pode auxiliar o
indivíduo?
R.: A resposta a esta
pergunta podemos extrair
do caso Julieta, a quem
Calderaro, percebendo a
gravidade de seu estado,
prestou auxílio
magnético retirando-lhe
certa quantidade de
material escuro,
segregado pela própria
mente e acumulado ao
longo do cérebro. O
instrutor, contudo,
deixou um pouco da
referida substância na
câmara cerebral da
jovem, visto que,
segundo explicou, era
preciso que Julieta se
mantivesse enferma do
corpo, de modo a
ausentar-se das noitadas
que costumava praticar.
A trégua produzida pelo
estado de enfermidade
tornara-se importante
porque, poucas horas
depois, a jovem seria
atendida por Cipriana.
(Obra citada, cap. 6,
pp. 89 e 90.)
Texto
para leitura
42. Cândida, a
enferma - Noite
fechada, em santuário
humilde, encontrava-se
no leito uma senhora,
prematuramente
envelhecida, aguardando
a morte. Cândida
prendia-se ainda ao
corpo através de fios
muito frágeis. A doce
luz que nimbava sua
fronte indicava a
grandeza d'alma, o
sereno heroísmo. Ao lado
da cama, uma jovem muito
pálida e corpo
alquebrado
acariciava-lhe os
cabelos grisalhos; era a
filha a despedir-se.
Cândida falava-lhe,
comovida: "Julieta,
minha filha, tenha
cuidado consigo. Você
sabe que, provavelmente,
não mais me levantarei.
Receio deixá-la entregue
aos embates do mundo,
sem mãos amigas..." A
mãe, refreando a custo
a comoção, lembrou que
seus filhos as
abandonaram à própria
sorte. Elas estavam
sozinhas e precisavam
pensar. Sua impressão é
que o dinheiro não
estava dando para as
despesas. "Diariamente
rogo ao Senhor não nos
desampare. Temo que seu
destino se desvie do
caminho reto por minha
causa...", disse-lhe a
enferma. Realmente, as
despesas do tratamento
de Cândida e das
intervenções cirúrgicas
foram muito altas para
as possibilidades da
filha e isso preocupava
demais a veneranda
mulher. Julieta, para
confortá-la, disse à mãe
não se afligisse,
porque ela estava
trabalhando e não
faltavam os recursos.
(Cap. 6, pp. 81 e 82)
43. O caso Cândida
- Cândida enviuvara
muito moça, ficando só
com três filhos: dois
rapazes, que depois a
abandonaram, e Julieta,
a quem iniciou nos
trabalhos de agulha,
ofício em que a jovem se
revelou excelente
profissional. Depois de
alguns anos de provações
mais rudes, a nobre
genitora caiu,
extenuada, havendo
sofrido diversas
intervenções
cirúrgicas, sem
resultados apreciáveis.
Sua situação tornou-se
tão aflitiva, que seu
internamento na casa de
saúde já se alongava por
dez arrastados meses.
Era natural, pois, sua
preocupação com a
carência de recursos...
Por isso, após as
explicações da filha, a
valorosa senhora
prosseguiu com os seus
conselhos: "Se eu
morrer, milha filha, não
se deixe arrastar pelas
tentações. Procure
recursos no trabalho
digno, não se
impressione com as
promessas de vida fácil.
Você sabe que a minha
viuvez nos deparou
dificuldades
angustiosas; seu pai,
contudo, nos deixou uma
pobreza honesta e cheia
de bênçãos. Em verdade,
seus irmãos, fascinados
pelo ganho material,
relegaram-nos ao
abandono, ao
esquecimento, mas nunca
me arrependi da
humildade e do
trabalho..." A enferma
lembrou-lhe então que,
embora tenha perdido
cedo a saúde, a paz
constituía a coroa de
sua alma, pois
reconhecia não existir
fortuna maior que a
consciência tranqüila...
"Sabe o Senhor os
motivos de nossos
sofrimentos e privações,
e só nos cabem razões
para louvá-lo...",
acrescentou a valorosa
mulher, que rogou à
filha não fosse dócil e
boa apenas com ela, mas
obedecesse igualmente a
Deus, consagrando-lhe
amor e confiança. "Ele é
nosso Pai de Infinita
Bondade e de nós pede
apenas um coração
singelo e uma vida pura.
Conforme-se, filhinha,
com os desígnios
divinos, no turbilhão
das provas humanas, e
não descoroçoe!",
acrescentou a enferma.
Filha e mãe beijaram-se
então comovidamente, e
Julieta, após carinhoso
adeus, afastou-se. (Cap.
6, pp. 83 a 85)
44. O caso Julieta
- A princípio, Julieta
conseguira satisfazer as
exigências financeiras.
Com o passar do tempo,
porém, a jovem viveu
tremendo duelo entre a
necessidade e o
esgotamento. Parentes a
quem ela recorreu se
esquivaram. Amigos se
mostraram indiferentes e
as despesas de
tratamento cresciam
sempre, implacáveis.
Louca de angústia,
batera a todas as portas
e todas as portas
permaneceram fechadas.
Foi então que a jovem
cedeu a insidioso
convite: passou a
trabalhar na noite, numa
casa de diversões, com o
intuito de, através da
dança e do canto,
agenciar mais dinheiro.
Daí ao envolvimento com
um homem, foi um passo.
Julieta acabou
concordando com as
propostas de Paulino,
abandonou a máquina de
costura e fixou-se no
centro de diversões
noturnas, sendo vista
sempre acompanhada por
ele, interessado em
tirar proveito de sua
mocidade e beleza, qual
cavalheiro vaidoso a
ostentar uma jóia.
Diante da mãe, a jovem
vestia-se com a
simplicidade de sempre.
Ela não reunia forças
para relatar à mãe a
verdade. Ocorre que os
prazeres fáceis e o
dinheiro abundante não
logravam atenuar seu
desalento. Recordando os
exemplos maternos,
experimentava atrozes
perturbações
conscienciais, parecendo
perder a paz de si
mesma. O remorso lhe
constituía, sem dúvida,
um tormento constante.
(Cap. 6, pp. 85 e 86)
45. Os conflitos da
jovem - Meditando
nas palavras ouvidas de
Cândida, a jovem caiu em
pranto convulsivo.
Pensamentos torturantes
se lhe entrechocavam no
cérebro doente.
Vibrações pesadas,
caracterizando-se pela
cor muito escura,
desciam de sua fronte e
fixavam-se no aparelho
respiratório.
Represando-se na pleura,
invadiam os alvéolos e
daí passavam ao
coração, influenciando
as trocas sangüíneas,
momento em que a
substância fluídica das
emissões mentais se
esvanecia, absorvida
pelas artérias. André
percebeu, então, que
esse material oriundo da
mente perturbada,
imprimindo-se no
mecanismo fisiológico,
era assimilado pela
sangue, que, a seu
turno, o restituía ao
cérebro físico,
acumulando-se em todas
as zonas deste, mais
próximas da substância
cinzenta. A jovem não
apresentava, pois,
somente os olhos rubros
e inchados de chorar,
mas também os pródromos
dos mais sérios
distúrbios orgânicos.
Seria aquilo a
misteriosa origem da
encefalite letárgica?
Calderaro disse que era
muito mais do que isso:
a mente desvairada emite
forças destrutivas que,
se podem atingir os
outros, alcançam, em
primeiro lugar, o cosmo
orgânico do emissor.
Julieta, ao decidir por
um gênero de vida que
lhe provocava violentos
e contínuos conflitos na
mente, passou a
despedir energias fatais
para ela mesma. Dotada
de educação distinta,
haurida ao contacto
materno que lhe
enobreceu os
sentimentos, a jovem
incompatibilizou-se com
uma existência de nível
mais baixo na Crosta.
Daí se originavam os
conflitos. O casamento
digno seria o campo
ideal para o seu caso de
mulher nobilitada pelo
conhecimento e pela
virtude. Ao ceder,
porém, às tentações de
que foi alvo, sentia-se
intimamente precipitada
escada abaixo. (Cap. 6,
pp. 87 e 88)
46. Não existe
justiça sem compaixão
- Calderaro esclareceu
que, nesse atrito
incessante, agravado
pelas péssimas emissões
fluídicas do ambiente
em que vivia, a mente de
Julieta desceu à região
dos impulsos
instintivos,
experimentando extrema
dificuldade em subir ao
castelo das noções
superiores, de onde a
luz da consciência lhe
dirigia vigorosos
apelos para que
retornasse à
simplicidade e à
harmonia. Tal situação
impedia-lhe a prece
fervorosa e
regeneradora, e daí o
caos em que a pobre
estava. Dominada por
permanente angústia,
fazia demasiada pressão
sobre a matéria
cinzenta, dando causa a
lamentáveis
desequilíbrios
orgânicos. A jovem,
segundo Calderaro,
avizinhava-se da
loucura, com estádios
por distúrbios vários,
provocados pela
disfunção celular, e
estava ainda sujeita a
outras enfermidades,
como a pleurisia e
depois a tuberculose. A
justiça divina, porém,
não desconhece a
compaixão. A Eterna
Sabedoria examina o
móvel de nossas ações e,
sempre que possível, nos
reergue. "Somente quando
nos mergulhamos no total
eclipse do amor e da
razão, deliberadamente
fugindo aos processos do
socorro divino,
mantendo-nos nas trevas
completas do ódio e da
negação, defrontamos
com absoluta dificuldade
de receber influências
salvadoras", asseverou
o Instrutor. Nesse caso,
então, deveremos esperar
os atritos cruéis do
tempo, aliados às forças
das leis universais. Se
a jovem não podia
elevar-se a plano
superior, a mãe doente
permanecia em poderosas
orações transformadoras.
"Caiu a filha para
socorrer-lhe o corpo,
mas Cândida
alcandorou-se mais por
salvar-lhe a alma",
acrescentou Calderaro.
(Cap. 6, pp. 88 e 89)
47. Cipriana atende a
Paulino e Julieta -
Calderaro prestou o
auxílio magnético a
Julieta, retirando-lhe
certa quantidade de
material escuro,
segregado pela própria
mente e acumulado ao
longo do cérebro.
Todavia, o Instrutor
deixou um pouco da
referida substância na
câmara cerebral da
jovem. Por que ele assim
procedeu? A explicação
não tardou: era preciso
que Julieta se
mantivesse enferma do
corpo, de modo a
ausentar-se das noitadas
que costumava praticar.
A razão estava ligada ao
atendimento que Cipriana
daria a ela e a Paulino,
breves horas depois, no
mesmo aposento em que
Cândida se encontrava
internada. Foi o que
aconteceu. Por volta das
duas horas da madrugada,
Calderaro e André
regressaram ao modesto
quarto de Cândida, que,
desprendida do invólucro
material, repousava nos
braços de Cipriana. A
doente gozava extrema
lucidez e estava rodeada
de outros amigos, que a
reconfortavam para o
transe definitivo. Pouco
tempo depois, Julieta e
Paulino, em momento de
desprendimento durante o
sono, chegaram
conduzidos por dois
Espíritos. Ao verem
Cipriana, ambos
ajoelharam-se
instintivamente,
chorando comovidos.
Ajudados pelos bons
Espíritos, eles podiam
contemplar a todos os
que ali estavam, mas se
sentiam humilhados e
aflitos. Foi quando
Cipriana dirigiu-se ao
moço e começou, assim, o
atendimento que mudaria
por completo o rumo dos
acontecimentos naquela
família. (Cap. 6, pp. 89
e 90)
(Continua no próximo
número.)