WELLINGTON BALBO
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Bauru, São Paulo (Brasil)
Kardec, a
competição
e a
cooperação
Os
hikikomoris
são os japoneses
que não agüentam
a pressão para
serem
bem-sucedidos na
vida, preferem
retirar-se da
comunidade a
competir com os
outros, ficam
meses ou até
mesmo anos a fio
enclausurados
dentro do quarto
sem o menor
contato com a
sociedade; são
pessoas em sua
maioria com
idade de 16 a 30
anos e somam
cerca de 1
milhão de
japoneses.
Este fato me faz
lembrar a
história de uma
família que
conheci.
O casal Paulo e
Maria tiveram
dois filhos com
diferença de
idade de 2 anos,
Rafael o mais
velho e Jorge o
mais moço.
Rafael é
inteligente e
perspicaz,
garoto com
muitas
habilidades se
destaca perante
o irmão Jorge
que é um tanto
tímido e tem
menos facilidade
para aprender.
Os pais
constantemente
fazem
comparações do
tipo:
– Jorge, você
tem que ser
igual a seu
irmão.
– Jorge, veja as
notas que seu
irmão tirou na
escola, seja
aplicado como
ele.
– Jorge, você e
seu irmão
recebem a mesma
educação e só
ele é elogiado
pelas pessoas.
Sem perceber, os
pais criavam um
hostil clima de
rivalidade entre
os irmãos,
alimentavam uma
inútil
competição.
Rafael seguia o
exemplo dos pais
e fazia questão
de deixar claro
ao irmão que era
melhor que ele
em tudo, que os
pais se
orgulhavam de
suas virtudes,
de sua
eloqüência, de
suas
habilidades.
Jorge, por sua
vez, tornava-se
cada vez mais
retraído,
sentia-se
inferior,
cresceu com
enorme
dificuldade de
se relacionar,
sepultou seus
talentos por
julgar não
possuí-los e,
como os
hikikomoris,
se escondeu do
mundo.
O contato social
deve nos
facultar
aprendizado,
troca de
experiências e
não medo da
sociedade e
sentimento de
rejeição.
Analisando a
questão sob o
prisma das
sucessivas
existências fica
mais fácil
deixarmos de
estabelecer
comparações
infrutíferas.
Em O Livro
dos Espíritos,
na questão de nº
804, Kardec
aborda os sábios
da
espiritualidade:
804 – P – Por
que Deus não deu
as mesmas
aptidões a todos
os homens?
R – Deus
criou todos os
Espíritos
iguais; mas,
como cada um
viveu mais ou
menos,
conseqüentemente,
adquiriu maior
ou menor
experiência; a
diferença está
na experiência e
na vontade, que
é o
livre-arbítrio.
Daí uns se
aperfeiçoarem
mais rapidamente
do que outros, o
que lhes dá
aptidões
diversas. A
variedade dessas
aptidões é
necessária, para
que cada um
possa concorrer
com os desígnios
da Providência
no limite do
desenvolvimento
de suas forças
físicas e
intelectuais. O
que um não pode
ou não sabe
fazer o outro
faz; é assim que
cada um tem o
seu papel útil.
Depois, todos os
mundos sendo
solidários uns
com os outros, é
natural que
habitantes de
mundos
superiores, na
sua maioria
criados antes do
vosso, venham
aqui habitar
para dar o
exemplo.
(Veja a questão
361.)
A resposta é
esclarecedora.
Fomos criados
por Deus a
partir de um
momento na
eternidade, cada
qual a seu
tempo, portanto,
temos idades
diferentes,
vocações
diferentes,
habilidades que
não são as
mesmas.
Espíritos em
trânsito pela
Terra, damos
testemunho
apenas do que já
angariamos ao
nosso cabedal
espiritual.
Não precisamos
nos envergonhar
do que não
sabemos, não
necessitamos de
nos menosprezar
por ainda não
termos
determinados
dotes de
cultura, de
virtudes morais,
ou mesmo,
patrimônios
materiais.
Devemos, sim,
procurar nosso
adiantamento
como Espíritos
imortais.
Como estabelecer
um clima de
comparações se
somos tão
desiguais?
É uma pena que
muitos ainda
queiram
instituir uma
atmosfera de
competição com o
próximo.
É uma pena que
muitos se
aproveitem das
habilidades
conquistadas
para constranger
o semelhante,
para
desqualificá-lo.
Competição
salutar é aquela
que empreendemos
com nós mesmos,
lutando por
vencer nossas
limitações,
buscando o
conhecimento que
nos livra das
trevas da
ignorância,
correndo para
adquirir valores
morais
imperecíveis,
esforçando-nos
para sermos
melhor hoje do
que fomos ontem
e amanhã do que
somos hoje.
De que me
adianta ser
bem-sucedido se
não utilizo meus
recursos para
impulsionar meus
companheiros de
caminhada a
buscar a
evolução?
Quem sabe mais
está aqui para
ensinar quem
sabe menos a
trilhar um
caminho seguro,
deve ser o
companheiro que
ilumina e não o
adversário que
constrange e
humilha.
É de suma
importância que
alimentemos na
família, no
ambiente
profissional, no
recinto
religioso, na
comunidade onde
vivemos a chama
da cooperação
que anima sempre
uma convivência
fraterna.
Melhor do que
competir é
cooperar e
aproveitar as
benesses do
contato com
nossos irmãos de
caminhada!