MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo Maior
André Luiz
(Parte
14)
Damos prosseguimento ao
estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Quando, no processo
reencarnatório, a
gestante se rebela, há
dificuldades para a
consecução do programa
traçado?
R.: Sim. Há muitas
dificuldades. Quando tal
fato se dá, é difícil,
senão impossível,
executar o programa
traçado. (No Mundo
Maior, cap. 10, pp. 141
a 143.)
B. Uma educação mal
orientada por parte da
mãe pode prejudicar o
futuro de um filho?
R.: Pode, sem dúvida. E
tal era o caso de
Cecília, cuja mãe nunca
lhe permitira o
trabalho, satisfizera
todos os seus desejos,
favorecera-lhe o ócio e
fizera com que a filha
acreditasse que
desfrutava de uma
posição mais elevada que
a das outras criaturas,
concorrendo assim, ainda
que indiretamente, para
que Cecília não se
preparasse devidamente
para a vida. (Obra
citada, cap. 10, pp. 147
e 148.)
C. O bem e o mal que
praticamos assumem um
vulto diferente depois
da
desencarnação?
R.: Sim. "Depois do
sepulcro – afirmou a mãe
de Cecília –, o dia do
bem é mais luminoso, e a
noite do mal é,
sobremaneira, mais densa
e tormentosa.” Com essa
nova visão,
proporcionada pela
desencarnação, a
humilhação é vista como
uma bênção, e a dor como
preciosa oportunidade.
(Obra citada, cap.
10, pp. 147 a 149.)
Texto
para leitura
75. O caso Cecília
- Atendendo ao pedido de
uma mãe aflita, já
desencarnada, Calderaro
foi visitar Cecília,
que, segundo a mãe,
encontrava-se à beira
de extremo desastre.
Criada com mimos
excessivos, a jovem
desenvolveu-se na
ignorância do trabalho e
da responsabilidade, não
obstante pertencer a
nobilíssimo quadro
social. Filha única,
entregue desde cedo ao
capricho pernicioso, tão
logo se achou sem a
presença maternal no
plano carnal (a mãe
desencarnara oito anos
antes), precipitou-se,
aos vinte anos, nos
desvarios da vida
mundana. Desprotegida,
assim, pelas
circunstâncias, não se
havia preparado
convenientemente para
enfrentar os problemas
do resgate próprio. Sem
a proteção espiritual
peculiar à pobreza, sem
os abençoados estímulos
dos obstáculos
materiais, e tendo,
contra as suas
necessidades íntimas,
uma profunda beleza
transitória do rosto, a
jovem renascera, seguida
de perto por um cúmplice
de faltas graves, desde
muito desencarnado, ao
qual se vinculara por
tremendos laços de ódio,
em passado próximo. Foi
assim que, abusando da
liberdade, em ociosidade
reprovável, adquiriu
deveres da maternidade
sem a custódia do
casamento. Solteira,
rica e prestigiada pelo
nome da família,
encontrava-se nessa
situação, aos vinte e
cinco anos, deplorando o
compromisso assumido e
lutando, com desespero,
por desfazer-se do
filhinho imaturo, o
mesmo comparsa do
passado que, por
"acréscimo de
misericórdia divina",
buscava dessa maneira
aproveitar o erro da
ex-companheira para a
realização de algum
serviço redentor, com a
supervisão dos
Benfeitores Espirituais.
(Cap. 10, pp. 140 e
141)
76. Aborto iminente
- Cecília recolhera da
sua própria leviandade o
extremo recurso capaz
de retificar-lhe a vida;
no entanto, a
infortunada criatura
reagia ferozmente ao
socorro divino com uma
conduta lastimável e
perversa. Os laços entre
ela e o filho presuntivo
eram de amargura e de
ódio, consubstanciando
energias
desequilibrantes. Ora, o
espírito feminino há
que recolher-se ao
santuário da renúncia e
da esperança, se
pretende vitória. Mas,
quando a mulher se
rebela, insensível às
sublimes inspirações da
vontade divina, é
difícil, senão
impossível, executar o
programa traçado.
Médicos negaram-lhe a
ajuda para o aborto.
Valera-se, então, de
drogas venenosas, das
quais vinha abusando
intensivamente. A
situação mental dela
era, pois, de lastimável
desvario. André e
Calderaro a encontraram
estirada no leito,
debatendo-se em
convulsões atrozes. A
seu lado, achavam-se a
mãe desencarnada e uma
enfermeira terrestre. A
mãe, ao vê-los, rogou
por auxílio. O quadro
fisiológico da jovem era
comovente: o feto estava
prestes a ser expulso.
Todos os centros
endócrinos da gestante
estavam em desordem e
os órgãos autônomos
trabalhavam
aceleradamente; o
coração acusava
estranha arritmia;
debalde as glândulas
sudoríparas se
esforçavam por expulsar
as toxinas em verdadeira
torrente invasora. Nos
lobos frontais, a
sombra era completa; no
córtex motor, a
perturbação era
manifesta; somente nos
gânglios basais havia
suprema concentração de
energias mentais,
mostrando que a infeliz
se recolhera ao campo
mais baixo do ser,
dominada por impulsos
desintegradores dos
próprios sentimentos,
transviados e incultos.
Dos gânglios basais
desciam estiletes
escuros, que assaltavam
as trompas e os ovários,
penetrando a câmara
uterina, como finas
lanças de treva a
incidir sobre o feto,
então com quatro meses.
A gestante emitia
pensamentos de ódio pelo
filho, que ela dizia não
haver pedido à vida. Por
isso, expulsá-lo-ia...
(Cap. 10, pp. 141 a
143)
77. A
mãe dá conselhos a
Cecília
- A mente do filhinho,
percebendo os
pensamentos da jovem,
suplicava, chorosa:
"Poupa-me! poupa-me!
quero acordar no
trabalho! quero viver e
reajustar o destino...
ajuda-me! resgatarei
minha dívida!...
pagar-te-ei com amor...,
não me expulses! tem
caridade!..." Cecília,
em resposta, dizia
mentalmente: "Nunca!
nunca! amaldiçoado
sejas! prefiro morrer a
receber-te nos braços!
Envenenas-me a vida,
perturbas-me a estrada!
detesto-te!
morrerás!..." E, à
medida que assim
pensava, os raios
trevosos continuavam
descendo, a jacto
contínuo. Pouco depois,
Cecília dirigiu-se com
decisão à enfermeira,
exigindo o aborto
naquela noite. A
enfermeira, considerando
o estado da enferma,
ponderou que deixassem a
intervenção para outra
ocasião; a gestante,
contudo, insistiu na
exigência, lembrando
ainda que seu pai não
poderia saber de nada.
Calderaro aproximou-se e
impôs sua destra sobre a
fronte da enfermeira, e
momentos depois Cecília
sorveu o cálice de
sedativo que a
companheira lhe
ofereceu, atendendo à
influência indireta do
Assistente. Adormecida
pela ação do remédio, a
gestante desligou-se
parcialmente do corpo
denso e passou a ver os
Espíritos ali presentes,
com a ajuda de
Calderaro, que lhe
aplicou fluidos
magnéticos sobre o disco
foto-sensível do
aparelho visual. Ela
deteve-se admirada na
contemplação de sua mãe,
que chorava
copiosamente. A
genitora abraçou-se a
ela e falou-lhe com
carinho, pedindo-lhe,
antes de mais nada, que
Cecília abandonasse a
sinistra aventura
programada para a noite.
Que ela não se
precipitasse nas trevas,
quando as mãos divinas
lhe abriam as portas da
luz. Era preciso ter
coragem, fé,
desassombro. As
convenções sociais são
importantes, a
sociedade tem seus
princípios justos, mas
há momentos na vida em
que devemos permanecer
com Deus, e mais
ninguém. "A maternidade
iluminada pelo amor e
pelo sacrifício",
acentuou a genitora, "é
feliz em qualquer
parte, ainda mesmo
quando o mundo,
ignorando a causa de
nossas quedas, nos nega
recursos à
reabilitação". (Cap. 10,
pp. 144 e 145)
78. "Brasas na
consciência" - A
palavra materna insistia
em que era preciso ter
coragem, fé e
sacrifício, para vencer
as dificuldades. Se ela
cedera aos golpes
infrenes da paixão,
abandonando os ideais
aos primeiros impulsos
do desejo, era agora
imprescindível evitar o
despenhadeiro fatal,
contornar a voragem
traiçoeira, agarrar-se
ao salva-vidas do
supremo dever. Era
preciso aceitar o
ministério da
maternidade dolorosa
com o sacrifício de
encantadoras aspirações.
Era provável que seu
pai a abandonasse e que
os entes mais queridos a
desprezassem, mas que
martírio não enobrece o
espírito disposto ao
resgate de seus débitos,
com dedicação ao bem e
serenidade na dor? "Não
será melhor a coroa de
espinhos na fronte do
que o monte de brasas na
consciência?", ponderou
a respeitável senhora.
Se o mal pode
perder-nos, o bem
retifica sempre.
Indispensável, pois,
renunciar e enfrentar as
vicissitudes, para
vencer... Cecília
escutava essas palavras,
quase indiferente,
disposta a não ceder,
mas a genitora insistia,
energicamente, para que
ela não se detivesse
naquela atitude
impassível,
advertindo-a para a
transitoriedade da forma
física e para a
necessidade da evolução
do próprio espírito. "No
teu madeiro de
sofrimento íntimo,
ouvirás enternecedoras
vozes de um filho
abençoado...",
lembrou-lhe a mãe,
aludindo ao filho que se
preparava para
reencarnar. Se o mundo a
ferisse, ele seria,
junto dela, o suave
representante da
Divindade... Que falta
lhe faria o manto das
fantasias, se dois
pequeninos braços a
cingissem, carinhosos e
fiéis, conduzindo-a à
renovação para a vida
superior? (Cap. 10, pp.
146 e 147)
79. A
mãe reconhece os
próprios erros
- Nesse momento,
Cecília, infundindo
assombro por sua
agressividade, objetou
em pensamento: "Como não
me disseste isso antes?"
E lembrou-lhe que ela,
na Terra, nunca lhe
permitira o trabalho,
satisfazendo todos os
seus desejos,
favorecendo-lhe o ócio,
fazendo-a crer em
posição mais elevada que
a das outras
criaturas... Enfim, a
mãe não a preparara para
a vida e ela, agora,
debatia-se com um
problema atribulativo,
sem coragem de
humilhar-se. "Esmolar
serviço remunerado não é
o ideal que me deste, e
enfrentar a vergonha e a
miséria será para mim
pior que morrer",
replicou-lhe a filha.
Era-lhe, pois,
impossível retroceder...
A venerável matrona
chorou com mais
amargura, agarrou-se à
filha com mais veemência
e suplicou: "Perdoa-me
pelo mal que te fiz,
querendo-te em
demasia... O' filha
querida, nem sempre o
amor humano avança
vigilante! Por vezes a
cegueira nos compele a
erros clamorosos, que só
o golpe da morte em
geral expunge". Ela
reconhecia, sim, sua
participação indireta em
seu infortúnio, mas,
entendendo agora a
extensão e a delicadeza
dos deveres maternos,
não desejava que a filha
viesse colher espinhos
no mesmo lugar onde ela,
a mãe, sofria agora os
resultados amargos de
sua imprevidência.
"Depois do sepulcro –
afirmou a genitora –, o
dia do bem é mais
luminoso, e a noite do
mal é, sobremaneira,
mais densa e tormentosa.
Aceita a humilhação como
bênção, a dor como
preciosa oportunidade.
Todas as lutas terrenas
chegam e passam; ainda
que perdurem, não se
eternizam". A mãe de
Cecília falou-lhe então
de seus próprios
fracassos, quando
esquecera a necessidade
do esforço pessoal na
prática do bem. Ela
ainda não chorara
suficientemente para
redimir-se de tão
lastimável erro, mas não
queria que sucedesse o
mesmo à filha, na áspera
trilha da regeneração.
"Bem-aventurados os que
chegam à morte crivados
de cicatrizes que
denunciam a dura
batalha", asseverou a
amorável senhora,
insistindo em que ainda
era tempo para a jovem
retornar ao caminho da
retidão. (Cap. 10, pp.
147 a 149)
(Continua no próximo
número.)