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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 76 - 5 de Outubro de 2008

MARCELO HENRIQUE PEREIRA
cellosc@floripa.com.br
Florianópolis, Santa Catarina (Brasil)

Vamos ou não influenciar
o progresso?

 
Perspicaz foi Allan Kardec, ao indagar aos Espíritos se o Espiritismo, Doutrina que acabava de cunhar e introduzir na vida da Humanidade, seria forte o suficiente para influenciar o progresso individual e coletivo. Num primeiro aspecto, o da evolução individual, vale salientar que a noção de crença (colocada logo de início no item 798 de O livro dos Espíritos) decorreria da reflexão pessoal acerca das diversas situações da vida – buscando, é claro, uma interpretação racional, distante da chamada fé religiosa – e considerando, essencialmente, a bagagem espiritual do conjunto das existências sucessivas. Deste modo, poderíamos (e podemos) ter inúmeras pessoas – mais ou menos numerosas, hoje – que, conhecendo a proposta filosófica espiritista, se deram conta de uma proposta mais verossímil e oportuna, dela fazendo uso em sua existência (física e espiritual). Mesmo assim, há que se considerar que muitos, embora “intelectualmente” atraídos pelo conteúdo espírita, ainda não têm forças pessoais suficientes para aplicar seus ensinos no dia-a-dia e, deste modo, quando o fazem, logram avanços significativos; de outro modo, mesmo percebendo que as idéias doutrinárias são válidas, ainda patinam em suas próprias imperfeições, adiando seu avanço evolutivo.

No âmbito coletivo, todavia, a questão ainda é mais complexa. Primeiro, devemos considerar que os “despertos” têm que se organizar em grupos e instituições, somando forças e disseminando as idéias sem alçar mão do chamado proselitismo ou convencimento. Não há pregação no roteiro de influenciação social da Doutrina, em nosso plano, tampouco devem ser utilizados argumentos ou instrumentos de cooptação ou obrigatoriedade – mesmo “velados” em mensagens do tipo salvacionista ou purificador. Segundo, há que se difundir a idéia da efetiva participação individual nos diversificados contextos em que o ser se acha inserido, ou seja, uma “exposição” de si mesmo, como espírita – assumindo-se como tal e procurando policiar suas atitudes, na direção de um padrão de comportamento ético aceitável e valoroso.

Não podemos ficar, então, esperando que as condições exteriores sejam “favoráveis” à disseminação das boas idéias (homem de bem, verdadeiro espírita, ética espírita etc.). É imperioso arregaçar as mangas e “pegar na charrua”, obrando o que seja possível e que esteja ao alcance de cada um.

Lá na frente, sem ufanismo ou determinismo, o conteúdo da resposta à questão 798 será realidade como decorrência do esforço e do trabalho de muitos Espíritos (sobretudo os encarnados, mesmo que assessorados ou influenciados pelos luminares do Invisível). Parece-nos que o movimento espírita em geral espera justamente o oposto, inclusive com mensagem do tipo “messiânico”, atestando que os novos Espíritos que estão encarnando já vêm com um padrão evolutivo superior ao homem médio deste orbe, substituindo, paulatinamente, aqueles que não tiveram condições de alcançar dado grau de evolutividade. Não existe uma coisa sem a outra, isto é, a vinda de Espíritos mais adiantados, que poderão reencarnar, se somará àqueles que, despertos, hajam empreendido esforços para “preparar-lhes o terreno”. Sem isso, não há nenhuma viabilidade “técnica”, ou seja, aquelas previsões mais pessimistas de muitos analistas sociais que enquadram guerras, destruição dos ecossistemas e outras misérias como doenças e catástrofes são uma conseqüência plausível das ações de centenas de milhares de homens que continuarem a fazer do egoísmo, do orgulho, da prepotência e da opressão, suas armas e suas ideologias.

Quando, então, o Espiritismo “[...] se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade”? Temporalmente, impossível prever e, mesmo considerando que a proposta tem um notório interesse dos Espíritos Superiores em promover influência na vida social planetária, há que se considerar, como comenta Kardec, a disseminação das idéias em várias partes do mundo e o poder de convencimento (racional) dos princípios que, apoiados em bases lógico-científicas, endereçam os seres à mudança (real e qualitativa) de seus comportamentos.

Ainda hoje, a idéia materialista produz grandes (e graves) efeitos na atmosfera coletiva, senão como ideologia oposta ao Espiritualismo, como em grande parte dos séculos XIX e XX, mas como preocupação essencial dos homens que, embora com noções e práticas de caráter espiritual, apegam-se aos reflexos e efeitos dos bens e valores materiais, dando-lhes uma essencial e majoritária importância. É este o materialismo que a Doutrina se propõe a extinguir, implementando noções de verdadeira justiça, fraternidade e solidariedade humanas a partir da supressão (completa e quando possível) dos mais diversificados preconceitos e das diferenças que se estabelecem entre os homens de nosso tempo.

Léon Denis, certa feita, cunhou uma expressão que se tornou praticamente uma divisa para o movimento espírita: “O Espiritismo avançará com, sem ou apesar dos homens”. Na interpretação usual, diz-se que a responsabilidade dos espíritas é muito grande, mas o “destino” está traçado: o Espiritismo será crença usual em tempos à frente, porque a Espiritualidade cuidará de influenciar suficientemente os homens para o alcance deste desiderato. Então, “ai dos espíritas”, revivendo, quem sabe, os próprios “ais” contidos na leitura tradicional do Evangelho de Jesus de Nazaré (inclusive a questão dos “escândalos necessários”). Todavia, o que quis dizer o notável pensador francês, discípulo de Rivail, não foi isso, ou, pelo menos, não com este “contexto” ou “alcance”. Denis quis, sim, apelar para a conscientização de todos aqueles que se “empolgam” com o conteúdo (e a proposta) espiritista, dele fazendo uma espécie de tábua de salvação da Humanidade, mas que logo arrefecem, transformando-o e condicionando-o a (mais) uma idéia religiosista, uma proposta “de futuro”. Não importa, assim, a adjetivação, mas, de outro modo, é imperioso que os que acreditam nas idéias doutrinárias deixem de lado seus interesses pessoais e, conforme seja possível diante de sua própria condição evolutiva, apresentem-se como signatários das idéias (não apenas no verbo e na pregação, mas na prática e no entusiasmo).

Os velhos hábitos, como expresso no item 800 da obra pioneira, ainda são fortes em muitos de nós, até o instante em que, voluntária e criteriosamente, vamos substituindo-os por outros, melhores, e, a cada passo, os seguintes tornam-se mais fáceis, deles conseqüentes.

O Bem, enquanto proposta ideológica, albergando as verdades espirituais necessárias à Humanidade, dela sempre esteve muito próximo. Desde tempos imemoriais, por meio da ação de missionários, encarnados especificamente para contribuir com a iluminação e o despertamento individual e coletivo, ensinaram, como diz a questão 801, mas não foram compreendidos, muito mais porque a noção de entendimento não permitia o descortinar de tais idéias. Mesmo assim, não desistiram, nunca sucumbiram, semeando – poeticamente – as verdades que hoje produzem frutos, já que nada é novo e dissociado, e os passos de hoje são trilhados em estradas abertas por nossos antecessores.

Para influenciar o contexto social, duas, então, são as premissas: 1) entronizar os conceitos, na forma direta da qual a ideologia se manifeste em todos os atos do ser; e, 2) inserir-se nos contextos sociais humanos, na vida política, nas instituições e em contato com todos os ambientes, por todos os meios possíveis. Não há outro caminho, nem outra possibilidade. Já raiou, para aqueles que assim o entendem, a Era Espírita!
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita