MARCELO HENRIQUE
PEREIRA
cellosc@floripa.com.br
Florianópolis,
Santa Catarina
(Brasil)
Vamos ou não
influenciar
o
progresso?
Perspicaz foi
Allan Kardec, ao
indagar aos
Espíritos se o
Espiritismo,
Doutrina que
acabava de
cunhar e
introduzir na
vida da
Humanidade,
seria forte o
suficiente para
influenciar o
progresso
individual e
coletivo. Num
primeiro
aspecto, o da
evolução
individual, vale
salientar que a
noção de crença
(colocada logo
de início no
item 798 de O
livro dos
Espíritos)
decorreria da
reflexão pessoal
acerca das
diversas
situações da
vida – buscando,
é claro, uma
interpretação
racional,
distante da
chamada fé
religiosa – e
considerando,
essencialmente,
a bagagem
espiritual do
conjunto das
existências
sucessivas.
Deste modo,
poderíamos (e
podemos) ter
inúmeras pessoas
– mais ou menos
numerosas, hoje
– que,
conhecendo a
proposta
filosófica
espiritista, se
deram conta de
uma proposta
mais verossímil
e oportuna, dela
fazendo uso em
sua existência
(física e
espiritual).
Mesmo assim, há
que se
considerar que
muitos, embora
“intelectualmente”
atraídos pelo
conteúdo
espírita, ainda
não têm forças
pessoais
suficientes para
aplicar seus
ensinos no
dia-a-dia e,
deste modo,
quando o fazem,
logram avanços
significativos;
de outro modo,
mesmo percebendo
que as idéias
doutrinárias são
válidas, ainda
patinam em suas
próprias
imperfeições,
adiando seu
avanço
evolutivo.
No âmbito
coletivo,
todavia, a
questão ainda é
mais complexa.
Primeiro,
devemos
considerar que
os “despertos”
têm que se
organizar em
grupos e
instituições,
somando forças e
disseminando as
idéias sem alçar
mão do chamado
proselitismo ou
convencimento.
Não há pregação
no roteiro de
influenciação
social da
Doutrina, em
nosso plano,
tampouco devem
ser utilizados
argumentos ou
instrumentos de
cooptação ou
obrigatoriedade
– mesmo
“velados” em
mensagens do
tipo
salvacionista ou
purificador.
Segundo, há que
se difundir a
idéia da efetiva
participação
individual nos
diversificados
contextos em que
o ser se acha
inserido, ou
seja, uma
“exposição” de
si mesmo, como
espírita –
assumindo-se
como tal e
procurando
policiar suas
atitudes, na
direção de um
padrão de
comportamento
ético aceitável
e valoroso.
Não podemos
ficar, então,
esperando que as
condições
exteriores sejam
“favoráveis” à
disseminação das
boas idéias
(homem de bem,
verdadeiro
espírita, ética
espírita etc.).
É imperioso
arregaçar as
mangas e “pegar
na charrua”,
obrando o que
seja possível e
que esteja ao
alcance de cada
um.
Lá na frente,
sem ufanismo ou
determinismo, o
conteúdo da
resposta à
questão 798 será
realidade como
decorrência do
esforço e do
trabalho de
muitos Espíritos
(sobretudo os
encarnados,
mesmo que
assessorados ou
influenciados
pelos luminares
do Invisível).
Parece-nos que o
movimento
espírita em
geral espera
justamente o
oposto,
inclusive com
mensagem do tipo
“messiânico”,
atestando que os
novos Espíritos
que estão
encarnando já
vêm com um
padrão evolutivo
superior ao
homem médio
deste orbe,
substituindo,
paulatinamente,
aqueles que não
tiveram
condições de
alcançar dado
grau de
evolutividade.
Não existe uma
coisa sem a
outra, isto é, a
vinda de
Espíritos mais
adiantados, que
poderão
reencarnar, se
somará àqueles
que, despertos,
hajam
empreendido
esforços para
“preparar-lhes o
terreno”. Sem
isso, não há
nenhuma
viabilidade
“técnica”, ou
seja, aquelas
previsões mais
pessimistas de
muitos analistas
sociais que
enquadram
guerras,
destruição dos
ecossistemas e
outras misérias
como doenças e
catástrofes são
uma conseqüência
plausível das
ações de
centenas de
milhares de
homens que
continuarem a
fazer do
egoísmo, do
orgulho, da
prepotência e da
opressão, suas
armas e suas
ideologias.
Quando, então, o
Espiritismo
“[...] se
tornará crença
geral e marcará
nova era na
história da
humanidade”?
Temporalmente,
impossível
prever e, mesmo
considerando que
a proposta tem
um notório
interesse dos
Espíritos
Superiores em
promover
influência na
vida social
planetária, há
que se
considerar, como
comenta Kardec,
a disseminação
das idéias em
várias partes do
mundo e o poder
de convencimento
(racional) dos
princípios que,
apoiados em
bases
lógico-científicas,
endereçam os
seres à mudança
(real e
qualitativa) de
seus
comportamentos.
Ainda hoje, a
idéia
materialista
produz grandes
(e graves)
efeitos na
atmosfera
coletiva, senão
como ideologia
oposta ao
Espiritualismo,
como em grande
parte dos
séculos XIX e
XX, mas como
preocupação
essencial dos
homens que,
embora com
noções e
práticas de
caráter
espiritual,
apegam-se aos
reflexos e
efeitos dos bens
e valores
materiais,
dando-lhes uma
essencial e
majoritária
importância. É
este o
materialismo que
a Doutrina se
propõe a
extinguir,
implementando
noções de
verdadeira
justiça,
fraternidade e
solidariedade
humanas a partir
da supressão
(completa e
quando possível)
dos mais
diversificados
preconceitos e
das diferenças
que se
estabelecem
entre os homens
de nosso tempo.
Léon Denis,
certa feita,
cunhou uma
expressão que se
tornou
praticamente uma
divisa para o
movimento
espírita: “O
Espiritismo
avançará com,
sem ou apesar
dos homens”.
Na interpretação
usual, diz-se
que a
responsabilidade
dos espíritas é
muito grande,
mas o “destino”
está traçado: o
Espiritismo será
crença usual em
tempos à frente,
porque a
Espiritualidade
cuidará de
influenciar
suficientemente
os homens para o
alcance deste
desiderato.
Então, “ai dos
espíritas”,
revivendo, quem
sabe, os
próprios “ais”
contidos na
leitura
tradicional do
Evangelho de
Jesus de Nazaré
(inclusive a
questão dos
“escândalos
necessários”).
Todavia, o que
quis dizer o
notável pensador
francês,
discípulo de
Rivail, não foi
isso, ou, pelo
menos, não com
este “contexto”
ou “alcance”.
Denis quis, sim,
apelar para a
conscientização
de todos aqueles
que se
“empolgam” com o
conteúdo (e a
proposta)
espiritista,
dele fazendo uma
espécie de tábua
de salvação da
Humanidade, mas
que logo
arrefecem,
transformando-o
e
condicionando-o
a (mais) uma
idéia
religiosista,
uma proposta “de
futuro”. Não
importa, assim,
a adjetivação,
mas, de outro
modo, é
imperioso que os
que acreditam
nas idéias
doutrinárias
deixem de lado
seus interesses
pessoais e,
conforme seja
possível diante
de sua própria
condição
evolutiva,
apresentem-se
como signatários
das idéias (não
apenas no verbo
e na pregação,
mas na prática e
no entusiasmo).
Os velhos
hábitos, como
expresso no item
800 da obra
pioneira, ainda
são fortes em
muitos de nós,
até o instante
em que,
voluntária e
criteriosamente,
vamos
substituindo-os
por outros,
melhores, e, a
cada passo, os
seguintes
tornam-se mais
fáceis, deles
conseqüentes.
O Bem, enquanto
proposta
ideológica,
albergando as
verdades
espirituais
necessárias à
Humanidade, dela
sempre esteve
muito próximo.
Desde tempos
imemoriais, por
meio da ação de
missionários,
encarnados
especificamente
para contribuir
com a iluminação
e o
despertamento
individual e
coletivo,
ensinaram, como
diz a questão
801, mas não
foram
compreendidos,
muito mais
porque a noção
de entendimento
não permitia o
descortinar de
tais idéias.
Mesmo assim, não
desistiram,
nunca
sucumbiram,
semeando –
poeticamente –
as verdades que
hoje produzem
frutos, já que
nada é novo e
dissociado, e os
passos de hoje
são trilhados em
estradas abertas
por nossos
antecessores.
Para influenciar
o contexto
social, duas,
então, são as
premissas: 1)
entronizar os
conceitos, na
forma direta da
qual a ideologia
se manifeste em
todos os atos do
ser; e, 2)
inserir-se nos
contextos
sociais humanos,
na vida
política, nas
instituições e
em contato com
todos os
ambientes, por
todos os meios
possíveis. Não
há outro
caminho, nem
outra
possibilidade.
Já raiou, para
aqueles que
assim o
entendem, a Era
Espírita!