WILSON CZERSKI
wilsonczerski@brturbo.com.br
Curitiba, Paraná
(Brasil)
A visão
espírita
da violência
A onda de violência que
assola o país tem
merecido debates e
análises diversas. O
grau de insegurança
aumenta com a exploração
da mídia que, se de um
lado desempenha o seu
papel jornalístico, de
denúncia e alerta ao
cidadão comum, por
outro, incrementa o
pânico ao buscar o
aumento de audiência à
custa de tragédias
pessoais, especialmente
quando envolvem pessoas
públicas e famosas. Foi
assim com o seqüestro da
filha do apresentador
Sílvio Santos e depois
com o próprio, tornado
refém em sua própria
casa. Foi assim com o
assassinato do prefeito
de Santo André e depois
com a liberação do
publicitário Washington
Olivetto. Outros casos
que causaram comoção
foram os do menino João
Hélio, arrastado até a
morte pelo automóvel dos
seqüestradores, e da
menina Isabella, jogada
da janela do
apartamento,
supostamente pelo pai e
a madrasta.
A prova de que os
Espíritos estavam certos
ao dizer que é preciso o
excesso do mal para se
buscar o bem se faz
presente mais uma vez. A
primeira reação contra o
nível de insegurança
ocorreu quando uma
organização criminosa
orquestrou a maior
rebelião penitenciária
do país, atingindo
simultaneamente cerca de
15 delas em diversas
cidades. Era preciso
investir em segurança
pública e na construção
de novos presídios,
verdadeiros barris de
pólvora por motivos de
todos já conhecidos.
Das causas mais comuns
listadas pelos
especialistas –
autoridades policiais,
juízes, políticos,
sociólogos –, temos:
pobreza e desigualdades
sociais, corrupção na
polícia, causada por
impunidade e má
remuneração, falta de
verbas e recursos
tecnológicos no trabalho
repressivo, descompassos
metodológicos e
burocráticos entre as
atuações da polícia
civil e militar e dentro
do próprio judiciário,
leis excessivamente
brandas ou mal aplicadas
etc.
Entrevistado em
fevereiro por uma
revista de grande
circulação nacional, o
sociólogo americano John
Laub vai mais longe e,
sem subestimar os
fatores citados, afirma,
por exemplo, que muitos
abandonam a
criminalidade motivados
por uma ligação afetiva,
o casamento, ou pela
identificação com o
trabalho. Relaciona
ainda a educação e a
religião. A seu ver, o
casamento é o mais forte
de todos, enquanto as
pesquisas no terreno da
influência da religião
não seriam conclusivas.
À primeira vista
– diz –, as pessoas
religiosas são menos
propensas ao crime, mas
como as crianças ligadas
à religião são as mesmas
que têm uma relação mais
próxima com a família,
já não se sabe qual dos
dois fatores é o
determinante.
O raciocínio está
correto. Na verdade, o
papel religioso, se
considerarmos somente a
atuação das religiões
tradicionais ocidentais,
é secundário e
conseqüente à boa
estruturação familiar.
Em geral, um bom
ambiente familiar é
criado em parte pela
prática religiosa e esta
ajuda a disciplinar a
vida das pessoas porque
ministrada em lares de
boa formação. É um ciclo
virtuoso. Sozinha, isto
é, fora do lar ou em
condições econômicas
miseráveis ou ambiente
de contato com os
vícios, nos moldes como
ela, a religião, é
ensinada e vivenciada,
raramente logra êxito.
Diferente caso se
analisarmos o valor de
um conjunto de
conhecimentos de ordem
filosófica e moral, com
respaldo científico como
o Espiritismo. Uma vez
que o indivíduo fosse
informado adequadamente
a respeito,
principalmente, da
reencarnação e da lei de
causa e efeito – Deus e
a sobrevivência da alma,
embora mal explicadas,
são princípios comuns a
todas as religiões –,
certamente se
preocupariam mais com o
seu futuro. Longe a
ingenuidade de crer que
ser espírita resolveria
todos os problemas. É
claro que a violência é
o reflexo de uma
situação conjuntural. A
questão é que, no
Brasil, até bandido
acredita e pede ajuda a
Deus.
Resumindo as respostas
das questões 629 e 630
de O Livro dos
Espíritos, vemos que
moral é a regra da boa
conduta, com distinção
entre o bem e o mal, e
tal é possível, pois que
o bem é tudo o que está
de acordo com a lei de
Deus e o mal tudo o que
dela se afasta. O bem e
o mal, conforme a
questão 636,
sempre o são, mas
há diferença quanto ao
grau de responsabilidade
que é proporcional ao
conhecimento. Na questão
644, Allan Kardec indaga
se o meio em que certos
homens vivem não é o
motivo principal de
muitos de seus vícios e
crimes. Sim – respondem
os benfeitores –, mas
tal é a conseqüência de
uma prova escolhida pelo
próprio Espírito antes
de reencarnar; desejou
expor-se à tentação para
ter o mérito da
resistência. Há
arrastamento, mas não
irresistível.
A questão 784 trata da
perversidade humana
intensa que, já à época,
poderia afigurar-se como
um recuo moral, mas ao
que os Espíritos
reclamam atenção para
uma visão de conjunto. O
progresso se dá pela
melhor compreensão do
que é o mal e pela
correção de seus abusos.
É preciso que haja
excesso do mal para
tornar compreensível a
necessidade do bem e das
reformas. Sábias
palavras!
Parece-nos que é onde
estamos no caso da
violência. Há
necessidade de uma
mobilização geral da
sociedade em prol da
paz, porque a “guerra”,
como a escuridão que só
existe pela falta de
luz, também se
estabelece pela ausência
daquela. Então a
violência deve ser
combatida de diversas
formas, coercitiva e
preventivamente, pelas
autoridades e pelo
cidadão comum, pela
eliminação dos fatores
citados e mais presentes
nos discursos dos
especialistas, mas,
principalmente, banida
dos corações dos homens.
A questão 785 da obra
citada é clara: o
orgulho e o egoísmo são
os maiores obstáculos ao
progresso e, sem dúvida,
que o medo, a aflição,
as agressões,
seqüestros, estupros e
mortes são indícios de
atraso moral e
distanciamento da
felicidade humana.
Particularmente diríamos
que, talvez, mal maior
que estes é a ignorância
espiritual, fruto da
falta da educação no
sentido amplo. Assim,
retornamos ao ponto de
que os princípios
espíritas, bem
conhecidos e assimilados
por um grande número de
indivíduos,
estabelecendo, se ou
quando possível, larga
maioria, e desencadeando
um processo de
conscientização sobre o
nosso ser, estar e agir
no mundo, traduzido na
prática diária, por si
só, transformariam a
sociedade para melhor e
resolveriam
satisfatoriamente este
como tantos outros
problemas que nos
afligem.
Somos egoístas e
orgulhosos, tolos e
arrogantes, corruptos e
cruéis porque
simplesmente ignoramos
de fato quem somos
(Espíritos imortais), de
onde viemos (de Deus
primeiramente,
destinados à perfeição e
felicidade; de outra
dimensão e de vidas
pretéritas). Por que
estamos aqui (para
promover o nosso
reajuste de equívocos
cometidos no passado e
buscar o desenvolvimento
espiritual) e para onde
vamos (prosseguir no
ciclo reencarnatório até
que, pelo aprendizado
sempre crescente,
possamos dispensar tais
experiências, quando
então seremos
praticamente Espíritos
puros e dedicados
auxiliares diretos do
Pai).
Esta é a causa de tudo,
a falta de
espiritualização do
homem. O resto, miséria,
crueldade, egoísmo,
injustiças, leis
imperfeitas, fanatismo,
desagregação familiar,
ódios, corrupção e tudo
o mais não passam de
efeitos,
mediatos ou
imediatos.