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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 77 - 12 de Outubro de 2008

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)


A impressionabilidade

"Além do que podemos imaginar, influem os Espíritos em nossos
pensamentos e atos, a tal ponto que, de ordinário, são eles que nos
dirigem" - "O LIVRO DOS ESPÍRITOS" - q. 459

Segundo ensinamento de Allan Kardec[1], em questão de mediunidade,  “(...) a impressionabilidade é a faculdade rudimentar indispensável ao desenvolvimento de todas as outras.

Todos os médiuns são necessariamente impressionáveis, sendo assim a impressionabilidade mais uma qualidade geral do que propriamente especial...

Difere da impressionabilidade puramente física e nervosa, com a qual é preciso não seja confundida, porquanto, pessoas há que não têm nervos delicados e que sentem mais ou menos o efeito da presença dos Espíritos, do mesmo modo que outras – absolutamente – não os pressentem.

Essa faculdade se desenvolve pelo hábito e pode adquirir tal sutileza, que aquele que a possui reconhece, pela impressão que experimenta, não só a natureza, boa ou má, do Espírito que lhe está ao lado, mas até a sua individualidade, como o cego reconhece, por um certo não sei quê, a aproximação de tal ou qual pessoa.

Assim, são chamados “médiuns sensitivos” ou “impressionáveis” às pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma impressão vaga, por uma espécie de leve roçadura sobre todos os seus membros, sensação que elas não podem explicar”.

A influência dos Espíritos é tão ostensiva que não existe nenhum lugar ou situação onde possamos nos subtrair à essa influenciação.   O que podemos fazer, isto sim, é “selecionar” a qualidade dos Espíritos que nos influenciam.  Aí entra a questão moral, vez que os Espíritos se aproximam por questão de afinidade e sintonia.

Entanto, Kardec também explica[2] não guardar relação o desenvolvimento da mediunidade com o desenvolvimento moral do médium, vez que a faculdade mediúnica se radica no organismo físico, independendo pois, do moral.  Mas o mesmo não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium.

Kardec oferece alguns exemplos[3] de influência ostensiva dos Espíritos, onde a impressionabilidade pôde ser insofismavelmente demonstrada.  Diz ele:

“Assistimos uma noite à representação da ópera Oberon, em companhia de um médium vidente muito bom. Havia na sala grande número de lugares vazios, muitos dos quais, no entanto, estavam ocupados por Espíritos, que pareciam interessar-se pelo espetáculo. Alguns se colocavam junto de certos espectadores, como que a lhes escutar a conversação. Cena diversa se desenrolava no palco: por detrás dos atores muitos Espíritos, de humor jovial, se divertiam em arremedá-los, imitando-lhes os gestos de modo grotesco; outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores e fazer esforços por lhes dar energia. Um deles se conservava sempre junto de uma das principais cantoras.

Julgando-o animado de intenções um tanto levianas e tendo-o evocado após a terminação do ato, ele acudiu ao nosso chamado e nos reprochou, com severidade, o temerário juízo:   “Não sou o que julgas, disse; sou o seu guia e seu Espírito protetor; sou encarregado de dirigi-la.” Depois de alguns minutos de uma palestra muito séria, deixou-nos, dizendo: “Adeus; ela está em seu camarim; é preciso que vá vigiá-la.”

Em seguida, evocamos o Espírito Weber, autor da ópera, e lhe perguntamos o que pensava da execução da sua obra. “Não de todo má; porém, frouxa; os atores cantam, eis tudo. Não há inspiração. Espera, acrescentou, vou tentar dar-lhes um pouco do fogo sagrado.” Foi visto, daí a nada, no palco, pairando acima dos atores. Partindo dele, um como eflúvio se derramava sobre os intérpretes. Houve, então, nestes, visível recrudescência de energia.

Outro fato que prova a influência que os Espíritos exercem sobre os homens, à revelia destes: Assistíamos, como nessa noite, a uma representação teatral, com outro médium vidente. Travando conversação com um Espírito espectador, disse-nos ele: “Vês aquelas duas damas sós, naquele camarote da primeira ordem? Pois bem, estou esforçando-me por fazer que deixem a sala.” Dizendo isso, o médium o viu ir colocar-se no camarote em questão e falar às duas. De súbito, estas, que se mostravam muito atentas ao espetáculo, se entreolharam, parecendo consultar-se mutuamente.  

É assim que muitas vezes fomos testemunha do papel que os Espíritos desempenham entre os vivos. Observamo-los em diversos lugares de reunião, em bailes, concertos, sermões, funerais, casamentos, etc., e por toda parte os encontramos atiçando paixões más, soprando discórdias, provocando rixas e rejubilando-se com suas proezas”.

Destacamos cinco condições para evitarmos as más companhias espirituais:

1 - Colocarmo-nos sempre com fé sincera, sob a proteção de Deus e solicitar a assistência de nosso Espírito Protetor;

2 - Aplicarmo-nos ao estudo perseverante das questões que envolvem o intercâmbio entre os dois planos da Vida: o Espiritual e o carnal;

3 - Evangelizarmo-nos;

4 - Passar no crivo da razão tudo que provenha dos Espíritos, inclusive do Mentor da Casa que freqüentamos. Os Espíritos Superiores não se incomodam com nossos zelos, enquanto que os inferiores se irritam de imediato.  

5 - Fechar as portas abertas ao acesso dos maus Espíritos pelas imperfeições morais que porventura ainda oneram nossa economia espiritual.

Assim procedendo, não há como cair voluntária ou involuntariamente na dependência dos maus Espíritos que pululam à nossa volta, e não teremos o que temer de nossa impressionabilidade.


[1] - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte,  cap. XIV, item 161.

[2] - Idem, ibidem, cap. XX, item 226, § 81º.

[3] - Idem, ibidem, cap. XIV, itens 169 e 170.
 


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