EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Mágoas e
ressentimentos
– algemas do ser
A maioria das
pessoas, em
nossa sociedade,
examinando-se a
si mesmas,
talvez encontrem
a sombra do
ressentimento. E
certamente o
motivo pelo qual
esta sombra
insista em
permanecer
resida no fato
de que o ódio,
de maneira
geral, foi
recalcado.
Além do mais, se
o ressentimento
não for
enfrentado
abertamente, ele
tenderá a se
transformar numa
atitude que
sempre
prejudica:
autocomiseração.
Logo, para
evitar-se o ódio
sentindo pena de
si mesmo,
deixando de agir
positivamente,
melhor mudar de
postura e buscar
motivação para a
reconquista da
liberdade, pois
quem vive
ressentido vive
algemado e
francamente
vencido pela
projeção do ódio
impotente,
expressado em
mágoa crônica,
um veneno para o
coração.
Primeiro passo:
é preciso saber
a quem é
dirigido o
ressentimento.
Se em termos
psicológicos,
pois alinhado a
um sistema de
compensação, o
ódio tem o
condão de
proteger
provisoriamente
o espaço
interior,
contudo, cedo ou
tarde, será
preciso
liberar-se dessa
emoção nefasta
em benefício da
própria saúde.
Freqüentemente é
dito, com
sabedoria, que
ninguém pode ser
sadio nutrindo
sentimentos
negativos.
Segundo passo: é
preciso perdoar.
Ora, o
ressentimento
significa
fechamento,
disposição para
ser inflexível,
teimosia para
não evoluir.
Agarrar-se a uma
memória iracunda
não demonstra
espírito livre,
nem contribui
para o próprio
crescimento. Não
há, pois, outra
via, a não ser a
prática do
perdão, que
revela
discernimento,
genuína à
inteligência
emocional.
O gosto pela
liberdade
revela-se na
maneira como nos
relacionamos com
as realidades
não-deterministas
e deterministas
da vida. E é
essencial
reconhecer as
limitações
presentes nas
situações
diversas e
também nas
pessoas que nos
cercam para um
agir adequado a
cada
circunstância.
Somos seres em
evolução, mas à
mercê da
Terra-escola, ou
seja, somos
imperfeitos...
Com isso, é
preciso que
entendamos que à
medida que
inflamos
ressentimentos,
antigos e novos,
revelamos uma
incapacidade
para contribuir
para a expansão
das nossas
virtudes e dons
– empacamos na
estrada... Mas a
autoconsciência,
ao contrário,
nos fornece a
aptidão para nos
liberarmos da
rígida cadeia de
estímulos e
reações. No
lugar de um
comportamento
reativo e
combativo,
precisamos fazer
uma pausa e
assim avaliar e
educar,
conscientemente,
velhas forças e
emoções que nos
condicionam a
bloqueios e
memórias
amargas.
Podemos, com
vontade,
escolher liberar
o outro, objeto
de nossa mágoa
ou revolta, e,
com isso,
igualmente
liberados,
seguir nossa
vida com leveza
e sossego.
O passo
fundamental para
viver em
sintonia com a
força interior é
optar pelo
cuidado consigo
mesmo. O que
isso sugere? Não
viver segundo
impulsos cegos,
mas em acordo
com atitudes que
afirmam a
responsabilidade
de cada um pela
própria
existência.
Desse modo, não
servir de
instrumento ao
ódio e não ser
alvo de
conservação de
ódio por
ninguém.
Ter vontade de
viver supõe não
esquecer que as
virtudes são
conquistadas –
diariamente.
Afinal, é
preciso coragem
não somente para
afirmar-se, mas
principalmente
para dar-se e
perdoar a si
mesmo e ao
outro... Não é
sem sentido que
o velho Platão
entendia a
coragem como a
virtude da
“auto-salvação”...
Liberar-se de
mágoas é senha
para viver com
harmonia.