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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 78 - 19 de Outubro de 2008

VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, São Paulo (Brasil)

Não há vidas pequenas


De fato, não há vidas pequenas.

Dia desses, uma senhora, de nascimento e vida simples como ela mesma se auto-afirmou, conversando com outras pessoas de sua amizade a respeito da existência, falava que achava interessante quando alguém dizia que estava no mundo para cumprir uma missão.

Dentro da humildade que a caracterizava, não compreendia a extensão desse compromisso, pois achava que somente aqueles que ocupavam cargos de prestígio, fossem públicos, de responsabilidade política ou administrativa, de projeção social, financeira, ou mesmo os que tinham berço de sólida riqueza é que poderiam enquadrar-se naquela linha de pensamento. 

A conversa tomou rumo distante com outros interessados em participar do assunto, cada qual dando seu testemunho e afirmando, também, que não viam com muita importância sua presença neste mundo, pois o que é que poderiam dar aos seus descendentes, senão valores de berço? Dinheiro não possuíam, escolaridade nem pensar, não tinham posse de bem algum, que mais poderiam legar aos descendentes além da simples educação, diziam. 

Findo o compromisso pelo qual essa senhora e as outras pessoas ali estavam, uma vez atendidas, todas foram embora. 

Como me encontrava ali, próximo daquele grupo, e a conversa já estava sendo desenvolvida há algum tempo, não pude deixar de participar, embora involuntariamente, na condição de ouvinte. Aliás, não só eu. 

Fiquei pensando, logo à saída, como reagem as pessoas que estão na Terra. 

Enquanto alguns milhares sonham acordados com conquistas poderosas que os coloquem em destaque, especialmente perante aqueles contra os quais pesa o desejo de acreditar-se e mostrar-se diferente, outros milhares enquadram-se na modéstia. Enquanto uns vivem para o trabalho, outros trabalham para viver. 

E assim, ao mesmo tempo em que se busca a famigerada felicidade que acreditam estar em algum lugar do Globo, o tempo avança, levando consigo parte das cores e dos valores que bem poderiam ser melhor aproveitados ao longo da existência e que formariam o consagrado arco-íris, identificando estar ali o pote de ouro, simbolizando sua rica fortuna, sonhada e pretendida por praticamente toda a Humanidade.  

Exemplos, temos todos os dias. Poucos, porém, têm a coragem de reconhecer essa frustração ao final da vida. Valores materiais são necessários e bem-vindos, mas, quando estes se sobrepõem aos morais, vê-se o prenúncio da inquietação transformar-se em verdugo e afetar o interior da individualidade, chegando até a ruir laços anteriormente considerados sólidos. 

Como curiosidade, conta-se a história de Ali Hafed, que vivia no Irã em propriedade rural e dizia: “Se um homem tem esposa, filhos, camelos, saúde e a paz de Deus, é um homem rico”. Este homem continuou rico e feliz até que, numa visita que recebeu, encheram-lhe a cabeça de sonhos, que resultou em abandono da família para partir na busca incessante do objetivo que reluzia aos seus olhos, um suposto diamante que o manteve fora de casa. Após buscas infrutíferas por várias regiões da Europa, sem recursos e sem condições de comunicar-se com seus amados, profundamente desesperado e deprimido, buscou a morte lançando-se ao mar. 

Para finalizar, completo a frase inicial que dá o título a este trabalho: “Não há vidas pequenas; quando as encaramos de perto, toda vida é grande”, que é do escritor, dramaturgo e ensaísta belga de língua francesa, Maurice Maeterlinck, autor do livro “O Pássaro Azul” (The Blue Bird – 1908) – O Pássaro da Felicidade, que originou o filme do mesmo nome, unindo o simbolismo ao espiritualismo, ao retratar com grande visão a descida do homem à Terra, para cumprir com seus compromissos programados.             

Convém lembrar que por si só a vida na Terra é a suprema felicidade que alguém pode receber como prêmio, podendo refazer e corrigir os caminhos já percorridos. 

É de se lamentar que sejam poucos os que sabem disso.


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita