VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, São Paulo
(Brasil)
Não há vidas pequenas
De fato, não há vidas
pequenas.
Dia desses, uma senhora,
de nascimento e vida
simples como ela mesma
se auto-afirmou,
conversando com outras
pessoas de sua amizade a
respeito da existência,
falava que achava
interessante quando
alguém dizia que estava
no mundo para cumprir
uma missão.
Dentro da humildade que
a caracterizava, não
compreendia a extensão
desse compromisso, pois
achava que somente
aqueles que ocupavam
cargos de prestígio,
fossem públicos, de
responsabilidade
política ou
administrativa, de
projeção social,
financeira, ou mesmo os
que tinham berço de
sólida riqueza é que
poderiam enquadrar-se
naquela linha de
pensamento.
A conversa tomou rumo
distante com outros
interessados em
participar do assunto,
cada qual dando seu
testemunho e afirmando,
também, que não viam com
muita importância sua
presença neste mundo,
pois o que é que
poderiam dar aos seus
descendentes, senão
valores de berço?
Dinheiro não possuíam,
escolaridade nem pensar,
não tinham posse de bem
algum, que mais poderiam
legar aos descendentes
além da simples
educação, diziam.
Findo o compromisso pelo
qual essa senhora e as
outras pessoas ali
estavam, uma vez
atendidas, todas foram
embora.
Como me encontrava ali,
próximo daquele grupo, e
a conversa já estava
sendo desenvolvida há
algum tempo, não pude
deixar de participar,
embora
involuntariamente, na
condição de ouvinte.
Aliás, não só eu.
Fiquei pensando, logo à
saída, como reagem as
pessoas que estão na
Terra.
Enquanto alguns milhares
sonham acordados com
conquistas poderosas que
os coloquem em destaque,
especialmente perante
aqueles contra os quais
pesa o desejo de
acreditar-se e
mostrar-se diferente,
outros milhares
enquadram-se na
modéstia. Enquanto uns
vivem para o trabalho,
outros trabalham para
viver.
E assim, ao mesmo tempo
em que se busca a
famigerada felicidade
que acreditam estar em
algum lugar do Globo, o
tempo avança, levando
consigo parte das cores
e dos valores que bem
poderiam ser melhor
aproveitados ao longo da
existência e que
formariam o consagrado
arco-íris, identificando
estar ali o pote de
ouro, simbolizando sua
rica fortuna, sonhada e
pretendida por
praticamente toda a
Humanidade.
Exemplos, temos todos os
dias. Poucos, porém, têm
a coragem de reconhecer
essa frustração ao final
da vida. Valores
materiais são
necessários e
bem-vindos, mas, quando
estes se sobrepõem aos
morais, vê-se o
prenúncio da inquietação
transformar-se em
verdugo e afetar o
interior da
individualidade,
chegando até a ruir
laços anteriormente
considerados sólidos.
Como curiosidade,
conta-se a história de
Ali Hafed, que vivia no
Irã em propriedade rural
e dizia: “Se um homem
tem esposa, filhos,
camelos, saúde e a paz
de Deus, é um homem
rico”. Este homem
continuou rico e feliz
até que, numa visita que
recebeu, encheram-lhe a
cabeça de sonhos, que
resultou em abandono da
família para partir na
busca incessante do
objetivo que reluzia aos
seus olhos, um suposto
diamante que o manteve
fora de casa. Após
buscas infrutíferas por
várias regiões da
Europa, sem recursos e
sem condições de
comunicar-se com seus
amados, profundamente
desesperado e deprimido,
buscou a morte
lançando-se ao mar.
Para finalizar, completo
a frase inicial que dá o
título a este trabalho:
“Não há vidas
pequenas; quando as
encaramos de perto, toda
vida é grande”, que
é do escritor,
dramaturgo e ensaísta
belga de língua
francesa, Maurice
Maeterlinck, autor do
livro “O Pássaro Azul” (The
Blue Bird – 1908) –
O Pássaro da Felicidade,
que originou o filme do
mesmo nome, unindo o
simbolismo ao
espiritualismo, ao
retratar com grande
visão a descida do homem
à Terra, para cumprir
com seus compromissos
programados.
Convém lembrar que por
si só a vida na Terra é
a suprema felicidade que
alguém pode receber como
prêmio, podendo refazer
e corrigir os caminhos
já percorridos.
É de se lamentar que
sejam poucos os que
sabem disso.