MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo Maior
André Luiz
(Parte
17)
Damos prosseguimento ao
estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. O conhecimento da
reencarnação é
importante para
solucionar as questões
da alma?
R.: Sim. É impossível
resolver tais questões
em caráter definitivo
sem as noções de
evolução,
aperfeiçoamento,
responsabilidade,
reparação e eternidade.
Não vale descobrir
complexos e frustrações,
identificar lesões
psíquicas e deficiências
mentais, sem as
remediar. Em suma, não
satisfaz o simples exame
da casca: é essencial
atingir o cerne e
determinar modificações
nas causas e, para isso,
é imprescindível
admitir a realidade do
reencarnacionismo e da
imortalidade. (No
Mundo Maior, cap. 11,
pp. 167 e 168.)
B. Qual é a principal
característica da
esquizofrenia?
R.: A esquizofrenia,
originando-se de sutis
perturbações do
organismo
perispirítico, traduz-se
no corpo denso por
surpreendente conjunto
de moléstias variáveis e
indeterminadas. Essa
seria a principal
característica da
enfermidade: a
diversidade de
moléstias variadas
e indeterminadas.
(Obra citada, cap.
12, pp. 169 e 170.)
C. Os crimes que
praticamos ficam de
algum modo gravados?
R.: Sim, ficam gravados
na consciência. E é isso
que o caso Fabrício
mostrava: um doente sem
paz, que escapara à
justiça do homens, mas
não pôde eliminar dos
escaninhos da
consciência os
resquícios dos males
praticados. Os
remanescentes do crime
estavam guardados em sua
mente como carvões em
paisagem denegrida, após
incêndio devorador, e
esses carvões
convertiam-se em brasas
vivas, sempre que
excitados pelo sopro das
recordações. (Obra
citada, cap. 12, pp. 173
e 174.)
Texto
para leitura
90. A
chave da reencarnação
- O Instrutor
acrescentou ainda que
muitas vezes as
criaturas instituem o
mal, desviam a corrente
natural das
circunstâncias
benéficas, envenenam as
oportunidades e, por
isso, estacionam
longuíssimo tempo em
tarefas reparadoras ou
expiatórias. Mesmo aí,
porém, é forçoso
observar a manifestação
incessante do poder
criador que nos é
próprio. Em verdade,
caem eles nos
despenhadeiros do crime,
lançam-se aos vales da
sombra, mas, organizando
e reorganizando as
próprias ações, adquirem
o patrimônio bendito da
experiência e, com a
experiência, alcançam a
luz, a paz, a sabedoria
e o amor com que se
aproximam de Deus.
"Concluímos, deste modo,
– finalizou o Instrutor
– que, se a psicologia
analítica de Freud e de
seus colaboradores
avançou muito no campo
da investigação e do
conhecimento,
resolvendo, em parte,
certos enigmas do
psiquismo humano,
falta-lhe, no entanto,
a chave da reencarnação,
para solucionar
integralmente as
questões da alma.
Impossível é resolver o
assunto em caráter
definitivo, sem as
noções de evolução,
aperfeiçoamento,
responsabilidade,
reparação e eternidade.
Não vale descobrir
complexos e frustrações,
identificar lesões
psíquicas e deficiências
mentais, sem as
remediar... Em suma,
não satisfaz o simples
exame da casca: é
essencial atingir o
cerne e determinar
modificações nas causas.
Para isto, é
imprescindível
confessar a realidade do
reencarnacionismo e da
imortalidade. Até lá,
portanto, auxiliemos
nossos amigos do mundo
na conquista da
confiança em si mesmos,
na penetração da
esperança divina e no
contínuo
auto-aprimoramento pelo
trabalho redentor".
(Cap. 11, pp. 167 e 168)
91. Um caso de
esquizofrenia -
André foi com Calderaro
a confortável
residência, onde um
nobre cavalheiro se
encontrava em repouso. O
enfermo chamava-se
Fabrício e engolfava-se,
no momento da visita, em
profunda meditação. A
seu lado, humilde
entidade desencarnada
parecia aguardar a
chegada do Assistente.
"Fabrício vai
melhorando; no entanto,
continuam os fenômenos
de angústia. Tem estado
inquieto, aflito...",
narrou a protetora
espiritual. O
desequilíbrio integral,
por enquanto, não
erigira seu império,
acrescentou a entidade.
Calderaro indagou,
então, a André se ele já
examinara casos de
esquizofrenia (1).
André pouco sabia, além
de que tal enfermidade
constitui uma das mais
inquietantes questões da
psiquiatria moderna. O
Assistente explicou-lhe,
então, que a psiquiatria
tem sido, há muito
tempo, campo de batalha
entre fisiologistas e
psicologistas, que
apresentam razões
substanciais nos
argumentos com que se
digladiam. Para
Calderaro, a psicologia
trataria melhor o
problema, por
escalpelá-lo nas
adjacências das causas
profundas, ao passo que
a fisiologia analisa os
efeitos e procura
remediá-los na
superfície. Dito isto,
ele pediu que André
examinasse o cérebro de
Fabrício. O autor de
"Nosso Lar" ficou
aterrado com as
inquietudes que povoavam
a mente do enfermo. O
cérebro deste
apresentava anomalias
estranhas; toda
a face inferior mostrava
manchas sombrias; os
distúrbios da
circulação, do movimento
e dos sentidos eram
visíveis. Fabrício fora
classificado pelo
Assistente como
esquizofrênico,
acrescentando que tal
enfermidade,
originando-se de sutis
perturbações do
organismo
perispirítico, traduz-se
no corpo denso por
surpreendente conjunto
de moléstias variáveis e
indeterminadas. Naquele
momento, por exemplo, o
enfermo apresentava um
quadro de neurastenia
cérebro-cardíaca
(2). Essa seria a
principal característica
da esquizofrenia: a
diversidade de
moléstias "variadas" e
"indeterminadas". (Cap.
12, pp. 169 e 170)
92. O caso Fabrício
- André observou
detidamente Fabrício e
percebeu-lhe imagens
torturantes na tela da
memória. Ensimesmado, o
enfermo não se dava
conta do que ocorria
externamente. Os braços
estavam imóveis, os
olhos parados, mas a
zona mental semelhava-se
a fornalha ardente. Ele
ouvia o passado.
Recordava a figura de um
velhinho agonizante;
escutava-lhe as palavras
da última hora do corpo,
recomendando a seus
cuidados três jovens
presentes também ali, na
paisagem de suas
reminiscências. Parecia
que o moribundo era seu
pai, e os jovens,
irmãos. De repente, as
lembranças mudavam. O
ancião e os jovens
pareciam revoltados
contra ele; acusavam-no;
dirigiam-lhe palavras
descaridosas. Fabrício
tentava desfazer-se do
passado, mas em vão: as
mesmas recordações
atrozes vergastavam-lhe
a consciência. No
organismo eram visíveis
os estragos causados
pelo uso intensivo de
analgésicos. Sem dúvida,
aquele homem deveria
estar duelando consigo
mesmo, havia muitos
anos. Daí a pouco, uma
senhora idosa penetrou o
recinto convidando-o a
alimentar-se; ele não se
moveu. A matrona
insistiu, afável, mas em
vão. E porque
prosseguisse, com
atenção, buscando
ministrar-lhe um caldo,
Fabrício levantou-se, de
súbito, como se houvera
de repente
enlouquecido.
Esbravejou expressões
inconvenientes e
ingratas e, rubro de
cólera, repeliu o
alimento, surpreendendo
a todos pela crise de
nervos destrambelhados.
A esposa saiu do quarto
enxugando os olhos e
Calderaro esclareceu:
"Está no limiar da
loucura, e ainda não
enveredou francamente
pelo terreno da
alienação mental, graças
à dedicação de velha
parenta desencarnada que
o assiste, vigilante".
Dito isto, fez
aplicações magnéticas de
reconforto no paciente
e, com Fabrício mais
calmo, narrou que aquele
homem, em passado
recente, apropriou-se de
grande herança, depois
de haver prometido ao
pai velar pelos irmãos
mais novos. Mais tarde,
sentindo-se senhor da
situação, desamparou os
irmãos e expulsou-os do
lar, arrojando-os à
penúria e a dificuldades
de toda sorte. Dois
morreram num sanatório,
em catres da indigência,
minados pela tuberculose
que os surpreendeu em
excessivas tarefas
noturnas, e o outro
desencarnou relegado à
miséria e ao infortúnio,
antes dos trinta anos,
presa de profunda
avitaminose, resultante
da subalimentação a que
fora compelido. (Cap.
12, pp. 171 a 173)
93. Um doente sem paz
- Fabrício fizera tudo
aquilo, escapando com a
ajuda de rábulas bem
remunerados à justiça
dos homens; entretanto,
não pôde eliminar dos
escaninhos da
consciência os
resquícios dos males
praticados. Os
remanescentes do crime
são guardados em sua
mente como carvões em
paisagem denegrida, após
incêndio devorador, e
esses carvões
convertem-se em brasas
vivas, sempre que
excitados pelo sopro das
recordações. Enquanto
senhor dos patrimônios
da resistência física,
ele lograra fugir de si
mesmo, sem dificuldades.
"O dinheiro fácil, a
saúde sólida, os
divertimentos e os
prazeres desempenhavam
para ele a função de
pesadas cortinas entre o
personalismo arrogante e
a realidade viva",
explicou Calderaro. O
tempo cansou-lhe,
contudo, o aparelho
fisiológico e
consumiu-lhe a maioria
das ilusões. Pouco a
pouco, encontrou-se a si
mesmo. Na viagem de
volta ao próprio eu,
viu-se a sós com as
lembranças de que não
conseguira escoimar-se.
A mente atormentada não
encontrava refúgio
consolador. Se
rememorava o passado,
este lhe exigia
reparação; se buscava o
presente, não obtinha
tranqüilidade para se
manter no trabalho
sadio; e quando tentava
erguer-se a plano
superior, desejoso de
orar ao Altíssimo, era
surpreendido, aí, por
dolorosas advertências,
no sentido de inadiável
correção da falta
cometida. Assim,
interessou-se
tardiamente pelo destino
dos irmãos. Todos haviam
partido para o
além-túmulo. Vendo a
impraticabilidade de
rápida retificação do
tortuoso destino,
fixou-se então nas zonas
mais baixas do ser;
perdeu as ambições
nobres e os ideais
sadios; passou a
ignorar os recursos da
esperança. As vantagens
materiais, longe de
confortá-lo,
infundiam-lhe agora
pavoroso tédio e
indizível desgosto.
Sentindo-se incriminado
no tribunal da própria
consciência, passou a
ver perseguidores em
toda a parte,
adquirindo, assim,
fobias lamentáveis. Para
ele, todos os pratos
estavam envenenados;
desconfiava de quase
todos os familiares e
não tolerava as antigas
relações. O excesso de
recursos materiais fê-lo
descrente da amizade
sincera, conferiu-lhe
noções de privilégio que
nunca mereceu,
acentuou-lhe a
independência
destrutiva,
extinguiu-lhe no coração
a bendita luz do verbo
"servir"... (Cap. 12,
pp. 173 e 174)
(Continua no próximo
número.)
_______________________
(1)
Esquizofrenia
– termo que engloba
várias formas clínicas
de psicopatia e
distúrbios mentais
próximos a ela, cuja
característica
fundamental é a
dissociação e a
assintonia das funções
psíquicas, disto
decorrendo fragmentação
da personalidade e perda
de contato com a
realidade.
(2)
Neurastenia
– perda geral do
interesse, estado de
inatividade ou fadiga
extrema que atinge tanto
a área física quanto a
intelectual, associado
especialmente a quadros
hipocondríacos e
histéricos.