MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo Maior
André Luiz
(Parte
18)
Damos prosseguimento ao
estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Por que a assistência
médica prestada a
Fabrício não o levaria à
cura?
R.: A razão disso não é
de difícil compreensão.
O Espírito delinqüente
pode receber os mais
variados gêneros de
colaboração, mas será
sempre o médico de si
mesmo, o que implica
dizer que sua cura
dependeria de uma
transformação interior,
algo que a medicina e os
remédios não podem
fazer, visto que
dependem unicamente da
pessoa. (No Mundo
Maior, cap. 12, pp. 174
a 176.)
B. Que pode ocorrer com
os criminosos que
escapam à justiça dos
homens?
R.: A Justiça Divina se
cumpre sempre, embora os
homens não a
identifiquem no
mecanismo de suas
relações ordinárias. Os
criminosos podem, por
muito tempo, escapar aos
corretivos da justiça do
mundo, mas, cedo ou
tarde, vaguearão perante
seus irmãos em
humanidade, em baixo
terreno espiritual,
representado no quadro
de aflições punitivas.
Para a família, Fabrício
era um esquizofrênico,
mas, para os Espíritos
que o socorriam, era ele
um companheiro
acidentado na ambição
inferior, curtindo
amargos resultados de
seus propósitos de
dominar egoisticamente
na vida. (No Mundo
Maior, cap. 12, pp. 174
a 176.)
C. Quem era o neto que
Fabrício amava tanto?
R.: O menino era o
ex-pai de Fabrício, que
voltara ao convívio do
filho delinqüente pelas
portas benditas da
reencarnação. Único neto
do enfermo, ele
assumiria mais tarde a
direção dos patrimônios
materiais da família,
bens que inicialmente
lhe pertenciam. A Lei de
Deus jamais dorme.
(Obra citada, cap. 12,
pp. 178 e 179.)
Texto
para leitura
94. Morte digna -
A mente falida de
Fabrício, ao
experimentar
insistentes remorsos e
aflitivas preocupações,
intoxicou os centros
vitais que se ligam ao
sistema nervoso, com a
incessante emissão de
energias corruptoras.
Verificou-se então o
que, em psiquiatria, é
designado por "lesão
generalizada do sistema
nervoso". Tal desastre
atingiu, primeiramente,
as sedes das conquistas
mais recentes da
personalidade, ou seja,
as células e os
estímulos mais jovens
localizados nos lobos
frontais e no córtex
motor, inutilizando
temporariamente Fabrício
para a meditação elevada
e o trabalho sadio, e
obrigando-o a regredir,
no terreno espiritual,
para dentro de si mesmo.
O enfermo não se
encontrava
positivamente
desequilibrado, graças à
contínua assistência do
plano espiritual,
informou Calderaro.
Haveria esperança de
reequilíbrio para
breve?, perguntou André.
"Absolutamente não –
respondeu Calderaro –;
no caso dele,
funcionariam em vão as
terapêuticas em uso. O
espírito delinqüente
pode receber os mais
variados gêneros de
colaboração, mas será
imperiosamente o médico
de si mesmo. A Justiça
Divina exerce invariável
ação, embora os homens
não a identifiquem no
mecanismo de suas
relações ordinárias". O
Assistente lembrou que
os criminosos podem, por
muito tempo, escapar aos
corretivos da justiça do
mundo, mas, cedo ou
tarde, vaguearão perante
os seus irmãos em
humanidade, em baixo
terreno espiritual,
representado no quadro
de aflições punitivas.
Para a família, Fabrício
era um esquizofrênico;
todavia, para os
Espíritos que o
socorriam, era ele um
companheiro acidentado
na ambição inferior,
curtindo amargos
resultados de seus
propósitos de dominar
egoisticamente na vida.
Ora (pensava André), se
Fabrício não tinha
perspectivas de melhora,
qual o objetivo da
assistência a ele
prestada? Calderaro
explicou: "Estamos aqui,
a fim de
proporcionar-lhe morte
digna. Não chegará a
enlouquecer em
definitivo. Com o nosso
concurso fraterno,
desencarnará antes do
eclipse total da razão".
(Cap. 12, pp. 174 a
176)
95. Os frutos de uma
família bem conduzida
- Calderaro esclareceu
que a esposa de Fabrício
era uma pessoa credora
de todo o amparo
espiritual, que se
consagrara nobremente
aos três filhos do
casal, preparando-os
para elevado ministério
social. Os filhos, dois
professores e um
médico, eram criaturas
dedicadas ao ideal
superior de servir ao
bem coletivo. Fabrício
não tinha, assim, o
direito de perturbar a
família organizada à
sombra de seu amparo
material, embora educada
sem o seu personalismo
despótico. Pelo serviço
que prestou à esposa e
aos filhos é que recebia
do Alto o socorro
espiritual, de modo a
transferir residência
preparado para o futuro
de reajustamento. "As
preces da companheira e
dos filhos garantem-lhe
uma boa morte
próxima, para a qual
vamos organizando as
suas energias e
habituando pari passu
a família a permanecer
em missão ativa no bem
sem a presença material
dele", esclareceu
Calderaro, que ministrou
no enfermo aplicações
magnéticas ao redor dos
vasos mais importantes
do aparelho circulatório
e, em seguida,
desenvolveu passes
longitudinais,
destinados à quietação
dos nervos. Preparava-se
o acesso à trombose pela
calcificação de certas
veias e a desencarnação
ocorreria em breves
dias. Fabrício parecia
mais calmo, como se
houvesse sorvido
milagroso analgésico. O
processo de resgate, que
já começara com a vinda
de Fabricinho, seu único
neto, continuaria no
plano espiritual. (Cap.
12, pp. 176 e 177)
96. A
Lei de Deus jamais dorme
- Fabrício, acordando
com um semblante bem
melhor, pediu a Inês,
sua esposa, que lhe
trouxesse o neto
Fabricinho, um menino
de oito anos que lhe
votava extremado
carinho. Totalmente
transfigurado com a
presença do menino,
Fabrício pediu ao neto
que rezasse por ele. O
garoto não se fez
rogado; ajoelhou-se ali
mesmo e disse,
respeitosamente, a
oração dominical.
Terminada a prece, o
enfermo pediu, de olhos
úmidos, a Fabricinho não
se esquecesse de orar
por ele, quando
morresse. O menino,
abraçando-lhe o busto,
exclamou, chorando
discretamente: "O senhor
não morrerá!..." Avô e
neto prosseguiram em
seu diálogo.
"Fabricinho, você
acredita que Deus perdoa
aos pecadores como eu?",
indagou-lhe o enfermo.
"Eu acho, vovô, que Deus
perdoa todos nós". O
enfermo, revelando as
suas inquietações
íntimas, insistiu:
"Mesmo a um homem que
trai a confiança paterna
e rouba aos irmãos?" O
menino hesitou e, no
desejo de agradar ao
avô, respondeu: "Eu
penso que Deus perdoa
sempre..." A conversação
entre ambos prosseguiu
afetuosa e amena.
Calderaro então satisfez
a curiosidade de André:
"Este menino é o ex-pai
de Fabrício, que volta
ao convívio do filho
delinqüente pelas portas
benditas da
reencarnação. É o único
neto do enfermo e, mais
tarde, assumirá a
direção dos patrimônios
materiais da família,
bens que inicialmente
lhe pertenciam. A Lei
jamais dorme". A mente
de André fervilhava de
dúvidas a respeito da
continuidade do
processo de resgate.
Calderaro o socorreu
dizendo que Fabrício,
guardando na mente os
resíduos da ação
criminosa, logo após a
desencarnação
experimentaria por muito
tempo os resultados de
sua queda, até que o
sofrimento alijasse os
elementos malignos que
lhe intoxicavam a alma.
Regressaria ao convívio
de seus familiares?,
indagou André.
Calderaro disse que, se
o grupo consangüíneo
atual tiver elevado o
padrão espiritual a
luminosas culminâncias,
ele seria compelido a
esforçar-se
intensivamente para o
alcançar. Contudo,
jamais estaria
desamparado. "Todos
temos a imensa família,
dentro da qual nos
integramos desde a
origem – a Humanidade",
concluiu o Assistente.
(Cap. 12, pp. 178 e 179)
97. O caso Antonina
- Em plena noite, André
acompanhou Calderaro,
que fora a uma
residência modesta
atender a uma jovem
quase suicida. Era
Antonina, que estava em
seu quarto em convulsivo
pranto, dominada por
desespero incoercível e
com a mente acusando
extremo desequilíbrio.
Órfã de pai, desde muito
cedo, ela iniciou-se no
trabalho remunerado aos
oito anos, para
sustentar a genitora e
uma irmãzinha. Passou a
infância e a primeira
juventude em sacrifícios
enormes, ignorando as
alegrias da fase risonha
de menina e moça. Aos
vinte anos perdeu a mãe
e, não obstante seus
formosos ideais
femininos, foi obrigada
a sacrificar-se pela
irmã em vésperas de
casamento. Consumado
este, Antonina procurou
afastar-se, para tratar
da própria vida; muito
cedo, porém, verificou
que o cunhado era dado
ao hábito da bebida,
diariamente, retornando
ao lar, em hora tardia,
a distribuir pancadas e
vomitar insultos.
Sensibilizada ante o
destino da irmã,
Antonina permaneceu em
casa, a serviço da
renúncia silenciosa,
aliviando-lhe os pesares
e auxiliando-a a criar
os sobrinhos e
assisti-los. Anos
depois, ela veio a
conhecer certo rapaz
necessitado de arrimo, a
sustentar pesado
esforço por manter-se
nos estudos. O par
identificava-se pela
idade e pela comunhão de
idéias e de sentimentos.
Devotada e nobre,
Antonina converteu-se em
abnegada irmã do jovem,
cuja companhia
projetava, de algum
modo, abençoada luz em
sua noite de solidão e
sacrifício
ininterruptos. Ela
também sonhava obter, um
dia, a coroa da
maternidade, num lar
singelo e pobre, mas
suficiente para caber a
felicidade de dois
corações unidos diante
de Deus. Entretanto,
Gustavo, o rapaz que se
valeu de sua amorosa
colaboração durante sete
anos consecutivos, após
concluir os estudos
universitários sentiu-se
demasiado importante
para ligar seu destino
ao da modesta moça.
(Cap. 13, pp. 180 e
181)
98. O porquê do
suicídio - Titulado
e independente, exibindo
um diploma de médico,
Gustavo passou a notar
que Antonina não era,
fisicamente, a
companheira que seus
propósitos reclamavam.
Era-lhe preciso (pensava
ele) constituir um lar
com grandioso programa
na vida social e, assim,
desposou jovem
possuidora de vultosa
fortuna, menosprezando o
coração leal que o
ajudara nos momentos
incertos. Fundamente
humilhada, Antonina o
procurou, mas Gustavo a
recebeu com
escarnecedora frieza,
dizendo-lhe,
asperamente, que
necessitava pôr em ordem
os negócios materiais
que lhe diziam respeito
e, por isto, escolhera
melhor partido. Além
disso, informou, sua
posição requeria uma
esposa que não
procedesse de um meio
de atividades
humilhantes: ele
pretendia alguém que não
fosse operária de
laboratório, que não
tivesse mãos calejadas,
nem fios prateados na
cabeça. Antonina ouviu a
tudo debulhada em
lágrimas, sem reagir, e
voltou a casa, no dia
anterior, minada pelo
anseio de morrer. Sentia
que as esperanças se lhe
esvaneceram e adquirira
certa dose de substância
mortífera, que pretendia
ingerir naquela noite.
André examinou-a
detidamente. Antonina
chorava convulsivamente;
da câmara cerebral
partiam raios purpúreos
que invadiam o tórax e
envolviam
particularmente o
coração; torturantes
pensamentos
baralhavam-lhe a mente.
"Seria crime – pensava –
amar alguém com tal
excesso de ternura?
onde jazia a Justiça do
Céu, que lhe não
premiava os sacrifícios
de mulher dedicada à paz
doméstica? aspirava a
ser alegre e feliz, como
as venturosas
companheiras de sua
meninice; anelava a
tranqüilidade do
matrimônio digno, com a
expectativa de receber
alguns filhinhos..."
As indagações íntimas de
Antonina lembravam,
ainda, a sua dedicação
pelos outros, os calos
das mãos, os sinais do
rosto, a sua fé. Ela
sentia-se realmente
desajustada, sem rumo,
quase louca... Eis aí a
causa do planejado
suicídio. (Cap. 13, pp.
181 a 183)
(Continua no próximo
número.)