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Estudando a série André Luiz
Ano 2 - N° 80 - 2 de Novembro de 2008

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)  

No Mundo Maior

André Luiz

(Parte 18)

Damos prosseguimento ao estudo da obra No Mundo Maior, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, publicada em 1947 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. Por que a assistência médica prestada a Fabrício não o levaria à cura?

R.: A razão disso não é de difícil compreensão. O Espírito delinqüente pode receber os mais variados gêneros de colaboração, mas será sempre o médico de si mesmo, o que implica dizer que sua cura dependeria de uma transformação interior, algo que a medicina e os remédios não podem fazer, visto que dependem unicamente da pessoa. (No Mundo Maior, cap. 12, pp. 174 a 176.) 

B. Que pode ocorrer com os criminosos que escapam à justiça dos homens?

R.: A Justiça Divina se cumpre sempre, embora os homens não a identifiquem no mecanismo de suas relações ordinárias. Os criminosos podem, por muito tempo, escapar aos corretivos da justiça do mundo, mas, cedo ou tarde, vaguearão perante seus irmãos em humanidade, em baixo terreno espiritual, representado no quadro de aflições punitivas. Para a família, Fabrício era um esquizofrênico, mas, para os Espíritos que o socorriam, era ele um companheiro acidentado na ambição inferior, curtindo amargos resultados de seus propósitos de dominar egoisticamente na vida. (No Mundo Maior, cap. 12, pp. 174 a 176.) 

C. Quem era o neto que Fabrício amava tanto?

R.: O menino era o ex-pai de Fabrício, que voltara ao convívio do filho delinqüente pelas portas benditas da reencarnação. Único neto do enfermo, ele assumiria mais tarde a direção dos patrimônios ma­teriais da família, bens que inicialmente lhe pertenciam. A Lei de Deus jamais dorme. (Obra citada, cap. 12, pp. 178 e 179.) 

Texto para leitura

94. Morte digna - A mente falida de Fabrício, ao experimentar insisten­tes remorsos e aflitivas preocupações, intoxicou os centros vitais que se ligam ao sistema nervoso, com a incessante emissão de energias cor­ruptoras. Verificou-se então o que, em psiquiatria, é designado por "lesão generalizada do sistema nervoso". Tal desastre atingiu, primei­ramente, as sedes das conquistas mais recentes da personalidade, ou seja, as células e os estímulos mais jovens localizados nos lobos frontais e no córtex motor, inutilizando temporariamente Fabrício para a meditação elevada e o trabalho sadio, e obrigando-o a regredir, no terreno espiritual, para dentro de si mesmo. O enfermo não se encon­trava positivamente desequilibrado, graças à contínua assistência do plano espiritual, informou Calderaro. Haveria esperança de reequilí­brio para breve?, perguntou André. "Absolutamente não – respondeu Calderaro –; no caso dele, funcionariam em vão as terapêuticas em uso. O espírito delinqüente pode receber os mais variados gêneros de colaboração, mas será imperiosamente o médico de si mesmo. A Justiça Divina exerce invariável ação, embora os homens não a identifiquem no mecanismo de suas relações ordinárias". O Assistente lembrou que os criminosos podem, por muito tempo, escapar aos corretivos da justiça do mundo, mas, cedo ou tarde, vaguearão perante os seus irmãos em hu­manidade, em baixo terreno espiritual, representado no quadro de aflições punitivas. Para a família, Fabrício era um esquizofrênico; todavia, para os Espíritos que o socorriam, era ele um companheiro acidentado na ambição inferior, curtindo amargos resultados de seus propósitos de dominar egoisticamente na vida. Ora (pensava André), se Fabrício não tinha perspectivas de melhora, qual o objetivo da assis­tência a ele prestada? Calderaro explicou: "Estamos aqui, a fim de proporcionar-lhe morte digna. Não chegará a enlouquecer em definitivo. Com o nosso concurso fraterno, desencarnará antes do eclipse total da razão". (Cap. 12, pp. 174 a 176) 

95. Os frutos de uma família bem conduzida - Calderaro esclareceu que a esposa de Fabrício era uma pessoa credora de todo o amparo espiritual, que se consagrara nobremente aos três filhos do casal, preparando-os para elevado ministério social. Os filhos, dois professores e um mé­dico, eram criaturas dedicadas ao ideal superior de servir ao bem co­letivo. Fabrício não tinha, assim, o direito de perturbar a família organizada à sombra de seu amparo material, embora educada sem o seu personalismo despótico. Pelo serviço que prestou à esposa e aos filhos é que recebia do Alto o socorro espiritual, de modo a transferir resi­dência preparado para o futuro de reajustamento. "As preces da compa­nheira e dos filhos garantem-lhe uma boa morte próxima, para a qual vamos organizando as suas energias e habituando pari passu a família a permanecer em missão ativa no bem sem a presença material dele", es­clareceu Calderaro, que ministrou no enfermo aplicações magnéticas ao redor dos vasos mais importantes do aparelho circulatório e, em se­guida, desenvolveu passes longitudinais, destinados à quietação dos nervos. Preparava-se o acesso à trombose pela calcificação de certas veias e a desencarnação ocorreria em breves dias. Fabrício parecia mais calmo, como se houvesse sorvido milagroso analgésico. O processo de resgate, que já começara com a vinda de Fabricinho, seu único neto, continuaria no plano espiritual. (Cap. 12, pp. 176 e 177) 

96. A Lei de Deus jamais dorme - Fabrício, acordando com um semblante bem melhor, pediu a Inês, sua esposa, que lhe trouxesse o neto Fabri­cinho, um menino de oito anos que lhe votava extremado carinho. Total­mente transfigurado com a presença do menino, Fabrício pediu ao neto que rezasse por ele. O garoto não se fez rogado; ajoelhou-se ali mesmo e disse, respeitosamente, a oração dominical. Terminada a prece, o en­fermo pediu, de olhos úmidos, a Fabricinho não se esquecesse de orar por ele, quando morresse. O menino, abraçando-lhe o busto, exclamou, chorando discretamente: "O senhor não morrerá!..." Avô e neto prosse­guiram em seu diálogo. "Fabricinho, você acredita que Deus perdoa aos pecadores como eu?", indagou-lhe o enfermo. "Eu acho, vovô, que Deus perdoa todos nós". O enfermo, revelando as suas inquietações íntimas, insistiu: "Mesmo a um homem que trai a confiança paterna e rouba aos irmãos?" O menino hesitou e, no desejo de agradar ao avô, respondeu: "Eu penso que Deus perdoa sempre..." A conversação entre ambos prosse­guiu afetuosa e amena. Calderaro então satisfez a curiosidade de An­dré: "Este menino é o ex-pai de Fabrício, que volta ao convívio do filho delinqüente pelas portas benditas da reencarnação. É o único neto do enfermo e, mais tarde, assumirá a direção dos patrimônios ma­teriais da família, bens que inicialmente lhe pertenciam. A Lei jamais dorme". A mente de André fervilhava de dúvidas a respeito da continui­dade do processo de resgate. Calderaro o socorreu dizendo que Fabrí­cio, guardando na mente os resíduos da ação criminosa, logo após a de­sencarnação experimentaria por muito tempo os resultados de sua queda, até que o sofrimento alijasse os elementos malignos que lhe intoxica­vam a alma. Regressaria ao convívio de seus familiares?, indagou An­dré. Calderaro disse que, se o grupo consangüíneo atual tiver elevado o padrão espiritual a luminosas culminâncias, ele seria compelido a esforçar-se intensivamente para o alcançar. Contudo, jamais estaria desamparado. "Todos temos a imensa família, dentro da qual nos inte­gramos desde a origem – a Humanidade", concluiu o Assistente. (Cap. 12, pp. 178 e 179) 

97. O caso Antonina - Em plena noite, André acompanhou Calderaro, que fora a uma residência modesta atender a uma jovem quase suicida. Era Antonina, que estava em seu quarto em convulsivo pranto, dominada por desespero incoercível e com a mente acusando extremo desequilíbrio. Órfã de pai, desde muito cedo, ela iniciou-se no trabalho remunerado aos oito anos, para sustentar a genitora e uma irmãzinha. Passou a in­fância e a primeira juventude em sacrifícios enormes, ignorando as alegrias da fase risonha de menina e moça. Aos vinte anos perdeu a mãe e, não obstante seus formosos ideais femininos, foi obrigada a sacri­ficar-se pela irmã em vésperas de casamento. Consumado este, Antonina procurou afastar-se, para tratar da própria vida; muito cedo, porém, verificou que o cunhado era dado ao hábito da bebida, diariamente, re­tornando ao lar, em hora tardia, a distribuir pancadas e vomitar in­sultos. Sensibilizada ante o destino da irmã, Antonina permaneceu em casa, a serviço da renúncia silenciosa, aliviando-lhe os pesares e auxiliando-a a criar os sobrinhos e assisti-los. Anos depois, ela veio a conhecer certo rapaz necessitado de arrimo, a sustentar pesado es­forço por manter-se nos estudos. O par identificava-se pela idade e pela comunhão de idéias e de sentimentos. Devotada e nobre, Antonina converteu-se em abnegada irmã do jovem, cuja companhia projetava, de algum modo, abençoada luz em sua noite de solidão e sacrifício ininter­ruptos. Ela também sonhava obter, um dia, a coroa da materni­dade, num lar singelo e pobre, mas suficiente para caber a felicidade de dois corações unidos diante de Deus. Entretanto, Gustavo, o rapaz que se valeu de sua amorosa colaboração durante sete anos consecuti­vos, após concluir os estudos universitários sentiu-se demasiado im­portante para ligar seu destino ao da modesta moça. (Cap. 13, pp. 180 e 181) 

98. O porquê do suicídio - Titulado e independente, exibindo um diploma de médico, Gustavo passou a notar que Antonina não era, fisicamente, a companheira que seus propósitos reclamavam. Era-lhe preciso (pensava ele) constituir um lar com grandioso programa na vida social e, assim, desposou jovem possuidora de vultosa fortuna, menosprezando o coração leal que o ajudara nos momentos incertos. Fundamente humilhada, Anto­nina o procurou, mas Gustavo a recebeu com escarnecedora frieza, di­zendo-lhe, asperamente, que necessitava pôr em ordem os negócios mate­riais que lhe diziam respeito e, por isto, escolhera melhor partido. Além disso, informou, sua posição requeria uma esposa que não proce­desse de um meio de atividades humilhantes: ele pretendia alguém que não fosse operária de laboratório, que não tivesse mãos calejadas, nem fios prateados na cabeça. Antonina ouviu a tudo debulhada em lágrimas, sem reagir, e voltou a casa, no dia anterior, minada pelo anseio de morrer. Sentia que as esperanças se lhe esvaneceram e adquirira certa dose de substância mortífera, que pretendia ingerir naquela noite. An­dré examinou-a detidamente. Antonina chorava convulsivamente; da câ­mara cerebral partiam raios purpúreos que invadiam o tórax e envolviam particularmente o coração; torturantes pensamentos baralhavam-lhe a mente. "Seria crime – pensava – amar alguém com tal excesso de ter­nura? onde jazia a Justiça do Céu, que lhe não premiava os sacrifícios de mulher dedicada à paz doméstica? aspirava a ser alegre e feliz, como as venturosas companheiras de sua meninice; anelava a tranqüili­dade do matrimônio digno, com a expectativa de receber alguns filhi­nhos..."  As indagações íntimas de Antonina lembravam, ainda, a sua dedicação pelos outros, os calos das mãos, os sinais do rosto, a sua fé. Ela sentia-se realmente desajustada, sem rumo, quase louca... Eis aí a causa do planejado suicídio. (Cap. 13, pp. 181 a 183) (Continua no próximo número.)
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita