À morte
Antero de Quental
Ó Morte, eu te adorei,
como se foras
O fim da sinuosa e negra
estrada,
Onde habitasse a eterna
paz do Nada
As agonias
desconsoladoras.
Eras tu a visão
idolatrada
Que sorria na dor das
minhas horas,
Visão de tristes faces
cismadoras,
Nos crepes do Silêncio
amortalhada.
Busquei-te, eu que
trazia a alma já morta,
Escorraçada no
padecimento,
Batendo alucinado à tua
porta;
E escancaraste a porta
escura e fria,
Por onde penetrei no
Sofrimento,
Numa senda mais triste e
mais sombria.
Nascido na ilha de São
Miguel, nos Açores, em
1842, e desencarnado por
suicídio, em 1891,
Antero de Quenal foi
poeta eminente e
destacado nas letras
portuguesas. O soneto
acima, psicografado por
Francisco Cândido
Xavier, integra o
Parnaso de Além-Túmulo.