MARCOS PAULO DE OLIVEIRA SANTOS
mpoliv@bol.com.br
Taguatinga, Distrito Federal (Brasil)
Crise
Global?
O mundo agoniza! Não nos
referimos às estrondosas
quedas das bolsas de
valores dos diversos
países, que deixam como
conseqüências aos mais
pobres (únicos que
realmente sofrem com
especulações e
interesses oligárquicos)
desempregos, misérias,
fome...
A gênese do caos
planetário reside em
dois problemas velhos do
comportamento humano:
egoísmo e orgulho. Essas
duas chagas da
humanidade já eram
advertidas pelo mestre
de Nazaré e,
posteriormente, pela
Doutrina espírita. São
as duas barreiras que
obstam a nossa evolução.
Se não houvesse orgulho
e egoísmo, não haveria
crise global. Estaríamos
em um mundo,
indubitavelmente,
melhor. Quando se fala
em “humor do mercado”,
“o receio do mercado”,
“o mercado acordou
tenso”, dá a impressão
de algo impessoal que
acaba por normatizar as
nossas vidas de forma
autoritária. Mas é
preciso compreender que
o “mercado” é composto
de pessoas comuns
(carne, osso, espírito,
sentimentos etc.).
Deste modo, é necessário
que compreendamos que o
modelo vigente no mundo
fomenta ainda mais a
estupidez humana. O
despertar de sentimentos
escabrosos que vêm à
tona com mais força. O
acumular riquezas
incessantemente e sob
quaisquer meios
constitui a norma
vigente.
Vivemos em uma sociedade
que, devido aos
sentimentos que emana e
as ações que pratica,
acaba por tornar o homem
“coisificado”. Perdemos
a noção de ser humano
e passamos a ser
“coisas”. Isso ocorre em
todas as relações
sociais.
Para que tenhamos uma
noção da grave questão,
vejamos a poesia
(atualíssima!) de
Fernando Correia Pina,
poeta português:
Saldo Negativo
Dói muito mais arrancar
um cabelo de um europeu
que amputar uma perna, a
frio, de um africano.
Passa mais fome um
francês com três
refeições por dia
que um sudanês com um
rato por semana.
É muito mais doente um
alemão com gripe
que um indiano com
lepra.
Sofre muito mais uma
americana com caspa
que uma iraquiana sem
leite para os filhos.
É mais perverso cancelar
o cartão de crédito de
um belga
que roubar o pão da boca
de um tailandês.
É muito mais grave jogar
um papel ao chão na
Suíça
que queimar uma floresta
inteira no Brasil.
É muito mais intolerável
o xador de uma muçulmana
que o drama de mil
desempregados em
Espanha.
É mais obscena a falta
de papel higiênico num
lar sueco
que a de água potável em
dez aldeias do Sudão.
É mais inconcebível a
escassez de gasolina na
Holanda
que a de insulina nas
Honduras.
É mais revoltante um
português sem celular
que um moçambicano sem
livros para estudar.
É mais triste uma
laranjeira seca num
kibutz hebreu
que a demolição de um
lar na Palestina.
Traumatiza mais a falta
de uma Barbie de uma
menina inglesa
que a visão do
assassínio dos pais de
um menino ugandês
e isto não são versos;
isto são débitos
numa conta sem provisão
do Ocidente.
O poema fala por si
mesmo. E é espantoso
encararmos as nossas
ilusões, as nossas
superficialidades
grafadas em versos que
ganham vida e ecoam ao
mundo tentando
despertar-nos das nossas
questiúnculas. Trata-se,
certamente, de um poema
que espanta! A ironia
presente na obra
demonstra as nossas
fraquezas.
A nossa cegueira ante os
mais necessitados é
tamanha que não nos
damos conta dos graves
contrastes planetários.
É certo que não queremos
e não temos a pretensão
de salvar o mundo. Mas,
na condição de espíritas
e com a certeza de que
essa Doutrina
eminentemente cristã nos
traz benefícios
inefáveis, não podemos
olvidar o chamamento da
prática caridosa que ela
nos enseja desde o seu
surgimento a 18 de abril
de 1857.
O preclaro codificador
da Doutrina espírita,
conhecedor das
problemáticas humanas,
estabeleceu que somente
por meio da caridade
conquistaremos a nossa
salvação. O ato caridoso
transcende a religião e
outras questões humanas.
A caridade é um gesto
espontâneo, que parte do
coração. E tem como
força primeira a fé. A
fé é a força motriz da
caridade. É a certeza de
que é possível passar
pela Terra e dar algum
contributo em favor de
um mundo melhor, por
mais singela que seja a
nossa contribuição.
A caridade, como
entendida pelo
Espiritismo, divide-se
em duas formas: material
e moral. A primeira
caracteriza-se pela
diminuição do sofrimento
alheio por meio de
recursos materiais,
donativos etc., que são
importantes para uma
vida digna e exeqüível.
A segunda recai sobre as
nossas enfermidades
seculares (egoísmo,
orgulho, avareza etc.).
É uma luta constante
contra nós mesmos. A
caridade moral consiste
em calar ante a ofensa,
em saber ouvir uma
crítica, em auxiliar por
meio de palavras e ações
aqueles que necessitam.
Enfim, é uma gama de
ações que têm por
objetivo a nossa
lapidação moral para que
transformemos a pedra
bruta que jaz em nossos
corações no diamante
formoso que Deus criou.
Por fim, a caridade deve
ser praticada
incessantemente por nós
que abraçamos a causa
espírita. A crise não
pode ser escusa para nós
espíritas de não
auxiliarmos aqueles que
nos cercam e que carecem
da nossa ajuda e
atenção. Ao contrário,
devemos trabalhar mais e
mais para que a crise
global acabe o mais
rápido possível.