VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, São Paulo
(Brasil)
Eram reis ou magos?
Quase todos os contos
revestem-se de
acontecimentos e
desfechos interessantes
e baseados em
sentimentos mágicos,
místicos ou com cunho
moral às vezes profundo,
encerrando grandiosas
lições.
Muitas das passagens
historicamente bíblicas
trazem em seu conteúdo
complementações extras
elaboradas por
personagens religiosos
de alto prestígio, que
introduziram fatos que o
tempo absorveu como
verdadeiros, como se
fizessem, de fato, parte
do ocorrido.
O interessante nesses
casos é que, quando o
episódio narrado não
interessa a determinado
grupo influente de
religiosos, o assunto é
simplesmente deixado de
lado, como nesta
passagem onde o apóstolo
João (1, 21), relata o
diálogo havido com João
Batista, ao ser
questionado por
sacerdotes e levitas se
ele era ou não Elias.
Como ignorar um registro
dessa magnitude, quando
se pergunta sobre um
nome estranho ao do
próprio João? Por que
falar de Elias se a
pessoa perguntada era
João?
E quando o Anjo Gabriel
anuncia o advento da
maternidade a Zacarias,
já que se sabia ser
Isabel, sua esposa,
estéril, acrescido da
informação, por parte do
próprio mensageiro
Divino, que João Batista
viria no Espírito e
poder de Elias (Lucas,
1, 17), ou seja,
prenunciando o retorno
de uma Entidade à Terra
(falando de Elias, este
desencarnara cerca de
700 anos a.C.),
envergando a matéria
física?
Esses fatos, sem dúvida,
são apenas alguns
registros que mereceram
interesse de poucos,
porque a aceitação
estaria implícita em
reconhecer e admitir o
retorno à vida, ou seja,
a reencarnação (uso de
outro corpo), em
substituição à
ressurreição (uso do
mesmo corpo), como até
hoje é entendimento para
muitos. Como é
necessário o emprego da
lógica racional para a
perfeita compreensão,
muitos ainda relutam.
Porém, o enfoque muda
radicalmente quando se
trata de passagem nada
polêmica, mas, muito
pelo contrário,
agradável e ricamente
contada em detalhes,
como é o caso da
presença dos “reis
magos” que visitaram
Jesus recém nascido.
Essa passagem é muito
minuciosa. A
prodigalidade se faz
presente e a riqueza
criativa imposta nesse
caso vai muito além da
informação que se
conhece.
Conforme o texto
evangélico (Mateus, 1, 1
e 11) que cita apenas
“uns magos” e fala que
os presentes eram
“ouro”, “incenso” e
“mirra”, permitindo a
suposição que a
narrativa oferece a
imaginar que poderiam
ser três os reis magos.
Os únicos tópicos do
Evangelho que tratam
desse assunto é em
Mateus (conforme acima)
e em Lucas, 2, 8-9, e em
ambos, não é mencionado
rei, monarca ou
soberano; fala, isso
sim, de “magos”, o que
não é a mesma coisa,
visto que essa categoria
de personagens se
enquadrava à época como
encantadores,
feiticeiros e outras
coisas mais do gênero...
(Daniel, 5, 11).
Como a mente é criativa,
não faltou quem desse
asas à fantasiosa
imaginação e catalogasse
os visitantes não só
como reis, mas
declinando inclusive
seus nomes, como sendo
Balthazar, Belchior e
Gaspar, já que eram três
(!?), chegando a
descrevê-los na idade,
raça, cor, origem e o
que cada um trouxe, além
das regiões que
representavam.
Como história, é
agradável, pois tem
bonito enredo enfocando
a submissão da realeza
perante o Divino – na
pessoa do Cristo -, mas
como fonte informativa,
carece de legitimidade
face à frágil origem.