No Mundo Maior
André Luiz
(Parte
20)
Damos prosseguimento ao
estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Dançar constitui uma
falta grave?
R.: Esta pergunta foi
formulada por André Luiz
ao Assistente Calderaro,
que estranhou a dúvida e
lhe disse que o
ato de dançar pode ser
tão santificado como o
ato de orar, pois a
alegria legítima é
sublime herança de Deus.
(No Mundo Maior, cap.
14, pp. 194 e 195.)
B. Quando uma pessoa é
rebelde ante o auxílio
recebido, como agem os
protetores?
R.: Eles valem-se, às
vezes, de recursos
drásticos, como ocorreu
com Antídio, alcoólatra
inveterado e impermeável
à ajuda recebida. O
recurso usado nesse caso
foi uma enfermidade,
porque era indispensável
que, aprisionado a um
leito de hospital, fosse
dado um basta provisório
ao consumo do álcool.
Antídio seria assim,
graças à intervenção do
Assistente, portador de
uma nevrose cardíaca por
dois a três meses, com
vistas a que a
enfermidade fizesse por
ele o que os simples
conselhos não
conseguiram.
(Obra citada, cap. 14,
pp. 197 a 199.)
C. Que significa, em
termos espíritas,
socorrer e salvar uma
pessoa?
R.: Mostrando que os
protetores espirituais
se empenham, acima de
tudo, em uma obra
educativa, Calderaro
disse a André que salvar
alguém, ou socorrê-lo,
não significa subtrair o
interessado à
oportunidade de luta, de
alçamento ou de
edificação. Constitui
amparo fraternal, para
que ele desperte e se
levante, entrando na
posse do equilíbrio que
caracteriza aquele que o
ajudou. Ele lembrou, em
seguida, que Deus
espalha bênçãos e dons,
riquezas e facilidades
eternas a mancheias,
esperando apenas que
cada um de nós se
disponha a reger com
sabedoria o patrimônio
próprio. (Obra
citada, cap. 15, pp. 200
e 201.)
Texto
para leitura
104. Vinho e prazeres
- André, surpreso com a
cena, perguntou ao
Assistente o porquê
daquilo. Será crime
dançar? buscar alegria
constituirá falta grave?
Calderaro respondeu:
"Que perguntas, André! O
ato de dançar pode ser
tão santificado como o
ato de orar, pois a
alegria legítima é
sublime herança de Deus.
Aqui, porém, o quadro é
diverso. O bailado e o
prazer nesta casa
significam declarado
retorno aos estados
primitivos do ser, com
iniludíveis agravantes
de viciação dos
sentidos. Observamos,
neste recinto, homens e
mulheres dotados de alto
raciocínio, mas
assumindo atitudes de
que muitos símios talvez
se pejassem". Ele não
os queria recriminar;
longe disso. Eram
trânsfugas sociais que
se deveriam lastimar,
porquanto muitos deles,
profundamente infelizes,
buscavam afogar no vinho
e no prazer certas
noções de
responsabilidade que
não logravam esquecer.
Quanto aos infortunados
Espíritos que ali se
davam ao vampirismo e ao
sarcasmo, tentavam
igualmente a fuga
impossível de si mesmos.
Alucinados, apenas
adiavam o terrível
minuto do
auto-reconhecimento, que
chega sempre, quando
menos se espera, através
de mil processos da dor,
esgotados os recursos do
amor divino que o Pai
oferece a todos. A dança
não deixava, contudo, de
ser para eles, em última
análise, um benefício.
Encarnados e
desencarnados ali
presentes chegaram a
nível tão desprezível,
que, não fora o
sapateado, estariam
rodando, lá fora, em
atos extremamente
condenáveis, tal a
predisposição que
apresentavam para o
crime. (Cap. 14, pp. 194
e 195)
105. Cena de
vampirismo - O grupo
encontrou numa saleta
abafada um homem de
aproximadamente 45 anos,
que jazia a tremer: era
Antídio, que não
conseguia manter-se de
pé. Fazia uma semana que
ele voltara a beber
desbragadamente.
Antídio, doente e
desventurado, a despeito
das condições precárias,
reclamava um copinho,
sempre mais um copinho,
que o garçom trazia.
Seus membros tremiam;
álgido suor lhe escorria
da fronte e, de vez em
quando, desferia gritos
de terror selvagem. Em
torno dele, quatro
entidades embrutecidas
submetiam-no aos seus
desejos, ocupando-lhe a
organização fisiológica,
alternadamente, uma a
uma, revezando-se para
experimentar a absorção
das emanações
alcoólicas, no que
sentiam singular prazer.
Apossavam-se então
particularmente da
"estrada gástrica",
inalando a bebida a
volatilizar-se da cárdia
ao piloro (1).
A cena infundia angústia
e assombro. Parecia que
ali estava uma taça
viva, cujo conteúdo era
sorvido por gênios
satânicos do vício.
Antídio trazia o
estômago abarrotado de
líquido e a cabeça turva
de vapores.
Semidesligado do corpo
denso, pela atuação
anestesiante do tóxico,
ele passou a
identificar-se mais
intimamente com as
entidades que o
perseguiam. Os quatro
infelizes tinham, por
sua vez, a mente
invadida por visão
terrificante do sepulcro
que haviam atravessado
como alcoólatras.
Sedentos, aflitos,
traziam consigo imagens
espectrais de víboras e
morcegos dos lugares
sombrios onde haviam
estacionado. Entrando
em sintonia com eles, o
ébrio começou a rogar,
em alta voz: "Salve-me!
salve-me, por amor de
Deus!" E, apontando com
os dedos, falava que os
morcegos o atacavam.
Perto, dois senhores
também encharcados de
vinho, que vieram
acudir, comentaram:
"Nada de mais. É o Antídio, de novo. Os
acessos voltaram.
Deixemo-lo em paz".
(Cap. 14, pp. 195 a 197)
(1)
Cárdia é a abertura
superior do estômago;
piloro é o orifício de
comunicação entre o
estômago e o intestino
delgado.
106. Antídio é
hospitalizado -
Antídio teve a impressão
de que uma cobra também
o sufocava e clamou por
socorro. As entidades
vampirescas gargalharam
de maneira sinistra. O
ébrio as ouvia e
perguntava: "Quem zomba
de mim? quem?!" Calderaro esclareceu que
o alcoólatra era
deplorável pai de
família que, incapaz de
reagir contra as
atrações do vício, se
entregou, inerme, à
influência de
malfeitores
desencarnados, afins com
a sua posição
desequilibrada. Era por
atenção às intercessões
de sua esposa e de dois
filhinhos amoráveis que
ele o assistia; Antídio, contudo, não
correspondia aos seus
esforços. Emergia de
todas as tentativas,
mais e mais disposto à
perversão dos sentidos;
buscava, acima de tudo,
a fuga de si mesmo;
detestava a
responsabilidade e não
se animava a conhecer o
valor do trabalho.
Atenuando-lhe a ânsia
irrefreável de sorver
alcoólicos, Calderaro
esperava que ele se
reeducasse. Era preciso,
porém, usar recurso
drástico, já que o
desventurado se
revelava hostil a todo
auxílio. O Assistente
então informou:
"Antídio, por algum
tempo, a partir de hoje,
será amparado pela
enfermidade. Conhecerá a
prisão no leito, durante
alguns meses, a fim de
que se lhe não apodreça
o corpo num hospício, o
que se iniciaria dentro
de alguns dias, lançando
nobre mulher e duas
crianças em pungente
incerteza do porvir". O
Assistente encetou,
então, complicado
serviço de passes, ao
longo da espinha dorsal;
passou depois a
aplicar-lhe eflúvios
luminosos sobre o
coração, durante vários
minutos. Em dado momento
o coração acusou parada
súbita. Antídio parecia
prestes a desencarnar,
quando Calderaro lhe
restituiu as energias,
em movimentação rápida.
Premido pelo fenômeno
circulatório, que lhe
valeu tremendo choque, o
desditoso amigo pôs-se a
pedir auxílio em altos
brados. Muitas pessoas
se aproximaram,
penalizadas com o
quadro; um piedoso
senhor, tomando-lhe o
pulso, percebeu a
desordem do coração e
requisitou uma
ambulância. Em pouco
tempo, Antídio era
recolhido a um hospital.
O Assistente explicou,
tristonho, que o
infortunado amigo seria
portador de uma nevrose
cardíaca por dois a três
meses. No início, ele
conheceria intraduzível
mal-estar, de modo a
restabelecer a harmonia
do cosmo psíquico.
Experimentaria indizível
angústia, submeter-se-ia
a regimes e medicações,
que lhe acordariam os
sentimentos, devagarinho, para a
nobreza do ato de viver.
Calderaro, notando a
estranheza de André,
concluiu: "Que fazer,
meu amigo? As mesmas
Forças Divinas que
concedem ao homem a
brisa cariciosa,
infligem-lhe a
tempestade
devastadora... Uma e
outra, porém, são
elementos indispensáveis
à glória da vida". (Cap.
14, pp. 197 a 199)
107. O amparo de Deus
está em toda parte -
O Instrutor Eusébio iria
falar a algumas
centenas de companheiros católicos-romanos e
protestantes, ainda em
serviço na esfera
carnal. Tratava-se de
irmãos menos dogmáticos
e mais liberais,
esclareceu Calderaro.
"Pelas virtudes de que
são portadores,
tornam-se dignos das
diretrizes dos planos
mais altos", acrescentou
o Assistente. André
estranhou a informação e
Calderaro explicou
dizendo que a Proteção
Divina desconhece
privilégios. Onde houver
colaboração digna do
homem, aí se acha o
amparo de Deus. Não é a
confissão religiosa que
interessa em sentido
fundamental, mas a
revelação da fé viva, a
atitude positiva da alma
na jornada da evolução.
Evidentemente, as
escolas da crença
variam, situando-se cada
uma em um círculo
diferente. Quanto mais
rudimentar o
entendimento, maior é a
combatividade inferior,
que traça fronteiras
infelizes de opinião e
acirra hostilidades
deploráveis.
"Constituindo o
Espiritismo evangélico
prodigioso núcleo de
compreensão sublime, é
razoável seja
considerado uma escola
cristã mais elevada e
mais rica", asseverou o
Assistente. Possuindo
ele tamanhas bênçãos de
conhecimento e de amor,
cumpre estendê-las a
todos os companheiros,
ainda quando estes se
mostrem rebeldes ou
ingratos. Depois, Calderaro acrescentou:
"Não nos esqueçamos de
que, acima de tudo, nos
empenhamos numa obra
educativa. Salvar
alguém, ou socorrê-lo,
não significa subtrair o
interessado à
oportunidade de luta, de
alçamento ou de
edificação. Constitui
amparo fraternal, para
que desperte e se
levante, entrando na
posse do equilíbrio que
caracteriza aquele que o
ajudou". E lembrou que
Deus espalha bênçãos e
dons, riquezas e
facilidades eternas a
mancheias, esperando
apenas que cada um de
nós se disponha a reger
com sabedoria o
patrimônio próprio.
(Cap. 15, pp. 200 e 201)
(Continua no próximo
número.)