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Estudando a série André Luiz
Ano 2 - N° 82 - 16 de Novembro de 2008

No Mundo Maior

André Luiz

(Parte 20)

Damos prosseguimento ao estudo da obra No Mundo Maior, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, publicada em 1947 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. Dançar constitui uma falta grave?

R.: Esta pergunta foi formulada por André Luiz ao Assistente Calderaro, que estranhou a dúvida e lhe disse que o ato de dançar pode ser tão santificado como o ato de orar, pois a alegria legítima é sublime herança de Deus. (No Mundo Maior, cap. 14, pp. 194 e 195.) 

B. Quando uma pessoa é rebelde ante o auxílio recebido, como agem os protetores?

R.: Eles valem-se, às vezes, de recursos drásticos, como ocorreu com Antídio, alcoólatra inveterado e impermeável à ajuda recebida. O recurso usado nesse caso foi uma enfermidade, porque era indispensável que, aprisionado a um leito de hospital, fosse dado um basta provisório ao consumo do álcool. Antídio seria assim, graças à intervenção do Assistente, portador de uma nevrose cardíaca por dois a três meses, com vistas a que a enfermidade fizesse por ele o que os simples conselhos não conseguiram. (Obra citada, cap. 14, pp. 197 a 199.) 

C. Que significa, em termos espíritas, socorrer e salvar uma pessoa?

R.: Mostrando que os protetores espirituais se empenham, acima de tudo, em uma obra educativa, Calderaro disse a André que salvar alguém, ou socorrê-lo, não significa subtrair o interessado à oportunidade de luta, de alçamento ou de edificação. Constitui amparo fraternal, para que ele desperte e se levante, entrando na posse do equilíbrio que caracteriza aquele que o ajudou. Ele lembrou, em seguida, que Deus es­palha bênçãos e dons, riquezas e facilidades eternas a mancheias, esperando apenas que cada um de nós se disponha a reger com sabedoria o patrimônio próprio. (Obra citada, cap. 15, pp. 200 e 201.)

Texto para leitura

104. Vinho e prazeres - André, surpreso com a cena, perguntou ao Assis­tente o porquê daquilo. Será crime dançar? buscar alegria constituirá falta grave? Calderaro respondeu: "Que perguntas, André! O ato de dançar pode ser tão santificado como o ato de orar, pois a alegria legítima é sublime herança de Deus. Aqui, porém, o quadro é diverso. O bailado e o prazer nesta casa significam declarado retorno aos estados primitivos do ser, com iniludíveis agravantes de viciação dos senti­dos. Observamos, neste recinto, homens e mulheres dotados de alto raciocínio, mas assumindo atitudes de que muitos símios talvez se pejassem". Ele não os queria recriminar; longe disso. Eram trânsfugas sociais que se deveriam lastimar, porquanto muitos deles, profundamente infelizes, buscavam afogar no vinho e no prazer certas noções de res­ponsabilidade que não logravam esquecer. Quanto aos infortunados Espíritos que ali se davam ao vampirismo e ao sarcasmo, tentavam igualmente a fuga impossível de si mesmos. Alucinados, apenas adiavam o ter­rível minuto do auto-reconhecimento, que chega sempre, quando menos se espera, através de mil processos da dor, esgotados os recursos do amor divino que o Pai oferece a todos. A dança não deixava, contudo, de ser para eles, em última análise, um benefício. Encarnados e desencarnados ali presentes chegaram a nível tão desprezível, que, não fora o sapateado, estariam rodando, lá fora, em atos extremamente condenáveis, tal a predisposição que apresentavam para o crime. (Cap. 14, pp. 194 e 195)

105. Cena de vampirismo - O grupo encontrou numa saleta abafada um ho­mem de aproximadamente 45 anos, que jazia a tremer: era Antídio, que não conseguia manter-se de pé. Fazia uma semana que ele voltara a be­ber desbragadamente. Antídio, doente e desventurado, a despeito das condições precárias, reclamava um copinho, sempre mais um copinho, que o garçom trazia. Seus membros tremiam; álgido suor lhe escorria da fronte e, de vez em quando, desferia gritos de terror selvagem. Em torno dele, quatro entidades embrutecidas submetiam-no aos seus dese­jos, ocupando-lhe a organização fisiológica, alternadamente, uma a uma, revezando-se para experimentar a absorção das emanações alcoólicas, no que sentiam singular prazer. Apossavam-se então particular­mente da "estrada gástrica", inalando a bebida a volatilizar-se da cárdia ao piloro (1).  A cena infundia angústia e assombro. Parecia que ali estava uma taça viva, cujo conteúdo era sorvido por gênios satânicos do vício. Antídio trazia o estômago abarrotado de líquido e a cabeça turva de vapores. Semidesligado do corpo denso, pela atuação anestesiante do tóxico, ele passou a identificar-se mais intimamente com as entidades que o perseguiam. Os quatro infelizes tinham, por sua vez, a mente invadida por visão terrificante do sepulcro que haviam atravessado como alcoólatras. Sedentos, aflitos, traziam consigo imagens espectrais de víboras e morcegos dos lugares sombrios onde haviam estacionado. Entrando em sintonia com eles, o ébrio começou a rogar, em alta voz: "Salve-me! salve-me, por amor de Deus!" E, apontando com os dedos, fa­lava que os morcegos o atacavam. Perto, dois senhores também encharcados de vinho, que vieram acudir, comentaram: "Nada de mais. É o Antí­dio, de novo. Os acessos voltaram. Deixemo-lo em paz". (Cap. 14, pp. 195 a 197)

(1) Cárdia é a abertura superior do estômago; pi­loro é o orifício de comunicação entre o estômago e o intestino del­gado.

106. Antídio é hospitalizado - Antídio teve a impressão de que uma cobra também o sufocava e clamou por socorro. As entidades vampirescas gargalharam de maneira sinistra. O ébrio as ouvia e perguntava: "Quem zomba de mim? quem?!" Calderaro esclareceu que o alcoólatra era deplorável pai de família que, incapaz de reagir contra as atrações do vício, se entregou, inerme, à influência de malfeitores desencarnados, afins com a sua posição desequilibrada. Era por atenção às inter­cessões de sua esposa e de dois filhinhos amoráveis que ele o assis­tia; Antídio, contudo, não correspondia aos seus esforços. Emergia de todas as tentativas, mais e mais disposto à perversão dos sentidos; buscava, acima de tudo, a fuga de si mesmo; detestava a responsabili­dade e não se animava a conhecer o valor do trabalho. Atenuando-lhe a ânsia irrefreável de sorver alcoólicos, Calderaro esperava que ele se reeducasse. Era preciso, porém, usar recurso drástico, já que o des­venturado se revelava hostil a todo auxílio. O Assistente então infor­mou: "Antídio, por algum tempo, a partir de hoje, será amparado pela enfermidade. Conhecerá a prisão no leito, durante alguns meses, a fim de que se lhe não apodreça o corpo num hospício, o que se iniciaria dentro de alguns dias, lançando nobre mulher e duas crianças em pun­gente incerteza do porvir". O Assistente encetou, então, complicado serviço de passes, ao longo da espinha dorsal; passou depois a aplicar-lhe eflúvios luminosos sobre o coração, durante vários minutos. Em dado momento o coração acusou parada súbita. Antídio parecia prestes a desencarnar, quando Calderaro lhe restituiu as energias, em movimentação rápida. Premido pelo fenômeno circulatório, que lhe valeu tremendo choque, o desditoso amigo pôs-se a pedir auxílio em altos brados. Mui­tas pessoas se aproximaram, penalizadas com o quadro; um piedoso se­nhor, tomando-lhe o pulso, percebeu a desordem do coração e requisitou uma ambulância. Em pouco tempo, Antídio era recolhido a um hospital. O Assistente explicou, tristonho, que o infortunado amigo seria portador de uma nevrose cardíaca por dois a três meses. No início, ele conheceria intraduzível mal-estar, de modo a restabelecer a harmonia do cosmo psíquico. Experimentaria indizível angústia, submeter-se-ia a regimes e medicações, que lhe acordariam os sentimentos, devagarinho, para a nobreza do ato de viver. Calderaro, notando a estranheza de André, concluiu: "Que fazer, meu amigo? As mesmas Forças Divinas que concedem ao homem a brisa cariciosa, infligem-lhe a tempestade devastadora... Uma e outra, porém, são elementos indispensáveis à glória da vida". (Cap. 14, pp. 197 a 199)

107. O amparo de Deus está em toda parte - O Instrutor Eusébio iria falar a algumas centenas de companheiros católicos-romanos e protestantes, ainda em serviço na esfera carnal. Tratava-se de irmãos menos dogmáticos e mais liberais, esclareceu Calderaro. "Pelas virtudes de que são portadores, tornam-se dignos das diretrizes dos planos mais altos", acrescentou o Assistente. André estranhou a informação e Calderaro explicou dizendo que a Proteção Divina desconhece privilégios. Onde houver colaboração digna do homem, aí se acha o amparo de Deus. Não é a confissão religiosa que interessa em sentido fundamental, mas a revelação da fé viva, a atitude positiva da alma na jornada da evolução. Evidentemente, as escolas da crença variam, situando-se cada uma em um círculo diferente. Quanto mais rudimentar o entendimento, maior é a combatividade inferior, que traça fronteiras infelizes de opinião e acirra hostilidades deploráveis. "Constituindo o Espiritismo evangélico prodigioso núcleo de compreensão sublime, é razoável seja considerado uma escola cristã mais elevada e mais rica", asseverou o Assistente. Possuindo ele tamanhas bênçãos de conhecimento e de amor, cumpre estendê-las a todos os companheiros, ainda quando estes se mostrem rebeldes ou ingratos. Depois, Calderaro acrescentou: "Não nos es­queçamos de que, acima de tudo, nos empenhamos numa obra educativa. Salvar alguém, ou socorrê-lo, não significa subtrair o interessado à oportunidade de luta, de alçamento ou de edificação. Constitui amparo fraternal, para que desperte e se levante, entrando na posse do equi­líbrio que caracteriza aquele que o ajudou". E lembrou que Deus espalha bênçãos e dons, riquezas e facilidades eternas a mancheias, es­perando apenas que cada um de nós se disponha a reger com sabedoria o patrimônio próprio. (Cap. 15, pp. 200 e 201) (Continua no próximo número.)
 
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita