LEONARDO MACHADO
leo@leonardomachado.com.br e www.leonardomachado.com.br
Recife, Pernambuco (Brasil)
Filosofar é
preciso
O ser humano,
sempre, buscou
conhecer a
verdade. Os
benfeitores nos
dizem que “os
Espíritos são os
seres
inteligentes do
Universo”
(1). Nesse
sentido, a
grande diferença
entre nós e as
outras criaturas
inferiores da
criação que, por
hora, não
chegaram à
categoria de
Espíritos, como
os animais, é a
capacidade de
pensar. E foi,
justamente,
pensando, que o
ser conseguiu
fazer todo esse
progresso que
hoje é visível.
Por natureza,
então, o homem é
um observador,
um indagador e
um pesquisador.
Essas são as
nossas
características
mais básicas,
sem as quais
pouco nos
diferenciaríamos
dos irracionais.
Por outro lado,
etimologicamente,
“a palavra
filosofia
(do
grego
φιλοσοφία)
resulta
da união de
outras duas
palavras: philia
(φιλία), que
significa
amizade, amor
fraterno e
sophia (σοφία),
que significa
sabedoria,
conhecimento.
Filosofia
significa,
portanto,
amizade pela
sabedoria, amor
e respeito pelo
saber”
(2).
Ora, desse modo,
a característica
fundamental do
ser humano o
levou,
inevitavelmente,
a filosofar. De
tal modo que a
filosofia é a
mãe de todas as
outras ciências.
Foi a partir
dela que
surgiram todos
os outros ramos
do conhecimento
humano. Sendo
ela, portanto, o
primeiro passo
que o homem deu
na busca pelas
verdades
universais.
Dentro dessa
visão, é
interessante
observar, ainda,
que “de
sophia decorre a
palavra sophos (σοφός),
que significa
sábio,
instruído.
Assim, o
filósofo seria
aquele que ama e
busca a
sabedoria, tem
amizade pelo
saber, deseja
saber” (3. O
ser humano,
dessa forma, por
isso mesmo, e
pela sua própria
natureza
espiritual, é,
também, um
filósofo, pois
vive imerso na
filosofia.
Filosofar é,
pois, preciso!
E parece que os
antigos sabiam
disso.
Eis por que
vemos essa
“busca pelo
saber” nascer em
todos os cantos
do globo
terrestre, desde
as épocas mais
remotas.
No Oriente, por
exemplo, figuras
notáveis como
Confúcio,
Siddharta
Gautama, Lao-Tse,
Krishna e
Zoroastro
surgiram
divulgando, cada
qual com suas
peculiaridades,
conhecimentos
invulgares,
através do
Confucionismo,
do Budismo, do
Taoísmo, do
Hinduísmo e do
Zoroastrismo,
respectivamente,
por meio de seus
ensinos e de
seus escritos
belíssimos.
Ficando,
contudo, mais
detidos no
Ocidente,
veremos que foi
com Tales de
Mileto (em
grego
Θαλής ο Μιλήσιος)
que nasceu a
tradição
filosófica neste
hemisfério da
Terra. Ele
nasceu em
Mileto, na Ásia
menor, antiga
colônia Grega, e
atual Turquia,
por volta do ano
625 a.C.,
desencarnando em
558 a.C.
Atualmente, é
provável que
muitos ao verem
este nome logo
se lembrem de
suas antigas
aulas de
matemática da
escola, quando,
aprendendo
geometria,
descobriam as
propriedades de
um teorema
conhecido como o
teorema de
Tales.
Engana-se, no
entanto, quem
pensa ser esta a
única
contribuição do
filósofo. Foi
ele, além de pai
da filosofia
ocidental,
fundador da
escola Jônica.
Afora isso,
certamente, era
ele um dos sete
sábios antigos
que recomendavam
o famoso “Conhece-te
a ti mesmo”,
inscrito em um
famoso templo de
Delfos e
divulgado por
Sócrates. Dessa
maneira, vê-se
que a sua era a
filosofia
grandiosa, e que
a visão que ele
tinha da mesma
era profunda.
É a
Pitágoras (do
grego
Πυθαγόρας),
porém,
que se deve a
origem da
palavra
filosofia.
Filósofo
matemático
grego, nasceu em
Samos, por volta
do ano 571 a.C.,
e veio a
desencarnar em
496 a.C. A sua
importância para
o pensamento
grego e a
humanidade foi
enorme. Conta a
tradição
histórica que a
sua mãe, ao se
consultar com
uma pitonisa,
que nada mais
era do que uma
médium
psicofônica,
ficou sabendo
que o seu filho
seria um ser
extraordinário.
Assim, fundador
da escola
pitagórica, que
teve enorme
influência no
pensamento
posterior e
contemporâneo da
época, ensinava,
dentre outras
coisas, a
palingenesia
(outro nome,
mais antigo,
para a
reencarnação).
Tendo uma visão
da filosofia
muito similar à
de Tales,
originou um nome
que pudesse, por
certo, conter em
sua etimologia a
essência mesma
desta ciência
das ciências.
É,
fundamentalmente,
esse conceito
que Sócrates
dava à
filosofia. Como
se vê em seus
diálogos e em
sua vida,
especialmente
nos livros “Fedro”,
“Fédon” e “Apologia”,
escritos pelo
seu famoso
discípulo
Platão, o sábio
grego, indo ao
encontro de
Tales e de
Pitágoras, não
concebia uma
filosofia sem o
auto-conhecimento.
Para ele, o
verdadeiro
filósofo era
aquele que
colocava em
prática os
conhecimentos
que adquiria.
Vejamos, de
forma adaptada,
o que o próprio
sábio diz acerca
da função da
filosofia: “a
filosofia
transmite à alma
com doçura as
suas raízes,
esforça-se para
libertá-la,
mostrando-lhe de
que ilusões está
cheia,
recomendando-lhe,
enfim,
que se recolha e
se volte para si
mesma”. (4)
A filosofia,
nesse contexto,
deixa de ter uma
função
especulativa da
natureza. Mas, à
medida que
mostra ao ser os
conhecimentos
eternos, faz com
que este se
volte para si
mesmo e se
melhore
constantemente,
apropriando-se,
desse modo,
realmente, do
saber, através
da vivência.
Filosofar é,
mais do que
nunca, preciso!
É certo,
entretanto, que,
nesta visão
metafilosófica,
nesta análise do
sentido e da
função da
filosofia, nesta
filosofia da
filosofia,
atualmente,
tem-se diversas
correntes. De
tal forma, que é
comum, talvez
pela
superficialidade
de pretensos
detentores do
título de
filósofos, ou
mesmo pelo
desconhecimento
geral, associar
esta palavra às
falácias
vaidosas.
Isso porque,
alguns, não
conhecendo a
essência, pensam
que filosofar é
sinônimo de
questionar por
questionar e de
acumular
conhecimentos
estéreis.
Eram os
conhecidos
Sofistas do
passado que
transformaram a
filosofia “em
exibição da
sabedoria”
(4), e os quais
ainda geram
sofistas no
presente.
Vendo-se
Sócrates, porém,
aprende-se que
os seus
questionamentos,
através da
maiêutica,
tinham uma
finalidade. E
esta não era a
de concitar
dúvidas
eternamente,
mas, ao
contrário, era a
de, gerando num
primeiro momento
dúvidas, levar o
ser à descoberta
da verdade e da
modificação
interior. Era a
de fazer com que
o ser,
saboreando os
conhecimentos no
dia-dia,
chegasse,
verdadeiramente,
a saber.
O Espiritismo, a
seu turno, dá
uma dimensão à
filosofia muito
similar à dada
por Sócrates.
Emmanuel, por
exemplo, diz-nos
que “a
filosofia
constitui, de
fato, a súmula
das atividades
evolutivas do
Espírito
encarnado, na
Terra. Suas
equações são as
energias que
fecundam a
Ciência,
espiritualizando-lhe
os princípios,
até que unidas,
uma à outra,
indissoluvelmente,
penetrem o átrio
divino das
verdades eternas”.
(5)
E, neste
ínterim, a
Doutrina
Espírita,
através dos
livros do senhor
Allan Kardec,
traz para a
humanidade uma
filosofia
grandiosa, a
qual é um
desdobramento
moderno das
verdades
entrevistas por
esses sábios do
passado. E é,
primordialmente,
na força desta
filosofia que
reside a força
desta Doutrina.
“Falsíssima
idéia formaria
do Espiritismo
quem julgasse
que a sua força
lhe vem da
prática das
manifestações
materiais e que,
portanto,
obstando-se a
tais
manifestações,
se lhe terá
minado a base.
Sua força está
na sua
filosofia, no
apelo que dirige
à razão, ao bom
senso” (6).
Isso porque a
filosofia
ensinada pela
Doutrina dos
Espíritos se
baseia,
essencialmente,
nos princípios
éticos ensinados
por Jesus, o
Cristo. E, dessa
maneira, as
práticas morais
que incentiva o
homem a fazer
são as mesmas
ensinadas pelo
Mestre de todos
os mestres.
Diante disso,
pois, nós outros
preferimos ficar
com os ensinos
de Jesus, com a
filosofia de
Tales, de
Pitágoras e de
Sócrates, e com
o resgate e
desdobramento
feitos pelo
Espiritismo.
Eis por que não
hesitamos em
dizer:
– “Filosofar
é, ainda, e
sempre será
preciso!”
Referências:
(1) KARDEC,
Allan. O
Livro dos
Espíritos.
76 ed., Rio de
Janeiro: FEB,
questão 76, p.
80.
(2) CHAUÍ,
Marilena.
Convite à
Filosofia. 7
ed., 2. reimp.,
São Paulo:
Ática, 2000, p.
19.
(3) PLATÃO.
Fédon.
Tradução: Miguel
Ruas. São Paulo:
Editora Martin
Claret, 2004,
p.55.
(4) PIRES,
Herculano. Os
filósofos.
2. ed., São
Paulo: Edições
FEESP, 2001,
p.62.
(5) XAVIER,
Francisco
Cândido. O
Consolador.
16 ed., Rio de
Janeiro: FEB,
questão 115,
p.77.
(6) KARDEC,
Allan. O
Livro dos
Espíritos.
76 ed., Rio de
Janeiro: FEB,
conclusão, ponto
V, p.484.