LEONARDO MARMO
MOREIRA
leonardomarmo@gmail.com
São José dos
Campos,
São Paulo
(Brasil)
Reflexões sobre
o
tradicionalismo
e o
verdadeiro
patriotismo
O Espiritismo é
uma doutrina
profundamente
associada aos
conceitos mais
elevados de
educação.
Equilibrando a
busca pela
verdade sobre o
“tripé” do bom
senso
constituído por
Filosofia,
Ciência e
Religião, o
Espiritismo não
se restringe à
tarefa de
esclarecer, mas,
igualmente,
conclama seus
adeptos a uma
aplicação
prática de seus
postulados nas
mais variadas
situações da
vida. Essa visão
lúcida e
profunda
constitui
realmente em um
primeiro passo
para o
desenvolvimento
efetivo de um
processo lento e
gradual de
eliminação das
chamadas
“bengalas
psicológicas”,
que as ilusões
materiais geram
no indivíduo
devido à sua
própria
invigilância.
De fato, a busca
sincera pela
Verdade exige
coragem,
desapego,
eliminação de
preconceitos
arraigados,
meditação
constante e um
elevado grau de
capacidade de
crítica e
autocrítica.
Essa busca tende
a minimizar
fixações
atávicas para o
Espírito
imortal, tais
como o
“milagre”, o
“maravilhoso”, o
“mítico”, o
“místico”, o
“mágico”, o
“folclórico”, o
“simbólico” e o
“tradicional”.
Muitos
indivíduos
defendem, nas
diversas áreas
do comportamento
humano, a
continuidade de
certas atitudes
infelizes,
argumentando que
aquela “tradição
deve ser
cultivada e
perpetuada”.
Será? Se a
resposta for
sim, resta-nos
indagar por
segunda vez: Por
que razão?
Jesus afirmou
(Mateus 9:16):
“Ninguém põe
remendo de pano
novo em vestido
velho”. E várias
vezes o Mestre
enfatizava:
“Tendes ouvido o
que vos foi
dito, eu, porém,
vos digo...”.
Portanto, é
evidente que
Jesus não era
propriamente um
“tradicionalista”.
O comportamento
pretérito que
era correto, à
luz do Amor
Maior que Ele
preconizava, era
confirmado e
reforçado pelo
“Governador da
Terra”, mas o
que estava
equivocado em
relação às Leis
Divinas era
firmemente
combatido pelo
“Filho do
Homem”. Vale
acrescentar que
o próprio Jesus
foi duramente
antagonizado
pelos chamados
“Doutores da
Lei”, justamente
por não
respeitar uma
série de hábitos
tradicionais
associados, via
de regra, a um
excessivo apego
às manifestações
exteriores, em
detrimento do
verdadeiro Amor
no coração e de
suas inevitáveis
conseqüências em
matéria de boas
ações para com a
Vida e o
Semelhante. A
título de
ilustração vale
lembrar a
categórica frase
do Mestre: “O
sábado foi
criado para o
homem e não o
homem para o
sábado”.
Um notável
exemplo que
reforça o
entendimento da
inigualável
exemplificação
de Jesus diz
respeito ao
próprio
Codificador do
Espiritismo. De
fato, se Allan
Kardec
analisasse os
fenômenos
mediúnicos de
seu tempo
respeitando
demasiadamente
os paradigmas
científicos,
filosóficos e
religiosos
tradicionais,
não teria
proporcionado ao
mundo a Luz da
Verdade. O mesmo
raciocínio pode
ser estendido a
vários homens
notáveis que
inovaram,
inventaram e
revolucionaram o
conhecimento
humano nas mais
diversas áreas
de atuação da
criatura humana.
Realmente,
exemplos como
Newton, Edison,
Pasteur, Koch,
Einstein, Marie
Curie, Gandhi,
entre outros,
constituem
figuras
indeléveis na
História
Universal, pois
tiveram a
capacidade
intelectual e a
coragem moral
para se
colocarem em
oposição ao
status quo
vigente em suas
respectivas
épocas e áreas
de atuação. Tais
convenções
sociais
limitadas
somente puderam
ser superadas
com estudo,
trabalho,
inteligência e
criatividade
destes
pioneiros, que
verdadeiramente
foram
Missionários da
Humanidade.
Assim sendo, se
o ser humano
sempre
mantivesse um
comportamento
tradicionalista,
a escravidão,
por exemplo,
ainda seria
chancelada pelas
leis civis de
diversos países.
Obviamente, nós
temos a
obrigação de
“separar o joio
do trigo”,
mantendo e
ampliando as
atitudes
positivas e
verdadeiras do
passado bem como
eliminando
aquelas eivadas
pela nossa
ilusão.
Neste contexto,
é interessante
discutir a
complexa questão
do Amor à
Pátria, que em
sua essência, é
um sentimento
extremamente
nobre e em
concordância com
os princípios
evangélicos.
Entretanto, na
história da
humanidade, o
patriotismo,
que, a priori,
é algo muito
positivo, foi
utilizado como
argumento para
as mais diversas
manifestações de
racismo, ódio,
assassinatos
etc. Guerras
terríveis foram
fomentadas
empregando e
deturpando esse
valor moral
denominado
“Patriotismo”, o
que ceifou
milhões e
milhões de
vidas.
Obviamente, o
Amor à própria
Pátria de
maneira nenhuma
significa o
desprezo e muito
menos o ódio
pela Pátria
alheia. Aliás, o
entendimento da
realidade
reencarnacionista
explicita a
infantilidade
espiritual deste
tipo de
comportamento,
uma vez que
podemos nascer
em inumeráveis
países. Logo, em
seu processo
educacional, as
crianças
deveriam ser
instruídas por
pais e
professores a
amarem seu país
através do
trabalho, da
educação e do
respeito ao
semelhante e ao
ambiente, em
todos os níveis.
Esta proposta,
sim, seria o
verdadeiro
Patriotismo, à
luz do Evangelho
de Jesus.
Inclusive, era
essa a opinião
do jovem
professor
Rivail, que, com
pouco mais de 20
anos, elaborou o
seu “Plano
Proposto para
Melhoria da
Educação
Pública”,
enfatizando que
a educação,
tanto do ponto
de vista
intelectual como
do ponto de
vista moral,
seria a melhor
forma de
fortalecer a
nação.
De fato,
memorizar o hino
nacional ou
adquirir
atitudes
tipicamente
militares de
maneira nenhuma
denota o
verdadeiro
Patriotismo.
Essas atitudes
externas, muito
associadas ao
nosso passado
belicoso, em
nada representam
o verdadeiro
amor à nossa
coletividade, o
que, obviamente,
não deve excluir
outros grupos de
irmãos. O
próprio esporte
que deveria ser,
e em essência é,
uma forma de
confraternização
entre indivíduos
e países, muitas
vezes usa do
argumento
patriótico para
acirrar
rivalidades
nacionais e até
mesmo justificar
atitudes de
violência e
profunda
grosseria, que
são oriundas de
nossas paixões
primitivas.
É muito
interessante
notar que muitos
países têm em
seus hinos
nacionais
verdadeiras odes
à guerra e à
destruição “dos
povos inimigos”,
o que nos
remete,
indiretamente,
às
interpretações
religiosas
calcadas no
Velho
Testamento, que
enfatizam os
questionáveis
conceitos de
“Povo
escolhido”,
“Povo de Deus”
etc. Ora, todo
povo é escolhido
e todo povo é de
Deus. Aliás,
somos um só povo
e isso inclui
habitantes de
outros mundos e
de outras
galáxias, as
quais são as
“muitas moradas
da casa do
Pai”.
Mesmo no meio
espírita, é
possível notar
certo ufanismo
exagerado a
respeito do
Brasil,
utilizando de
forma deturpada
a famosa
frase-título de
Humberto de
Campos: “Brasil,
Coração do
Mundo, Pátria do
Evangelho”. É
claro que o
Brasil tem um
papel
importantíssimo
na transformação
moral já vigente
no planeta, mas
isso não
significa
privilégio de
nossa nação ou
demérito das
demais. “A cada
um segundo suas
obras”, disse
Jesus, e isso se
aplica tanto aos
indivíduos como
às
coletividades.
Por outro lado,
“a quem mais foi
dado, mais será
cobrado”, uma
vez que a
consciência, que
é a Lei de Deus
em nós, nos
cobra de acordo
com nosso nível
de lucidez.
Lembremos o
exemplo de
“Mahatma” Gandhi
e não sejamos
escravos de
denominações,
minimizando o
nosso bairrismo
e buscando o
legítimo
sentimento
patriótico, que
não exclui o
amor e o
respeito aos
demais países.
Muito pelo
contrário,
quanto mais
fraternos e
cordiais com os
demais povos,
mais nós
demonstraremos a
grandeza de
nosso país,
pois, conforme
Jesus nos
ensinou, “se
quisermos ser o
maior, que
sejamos o
servidor de
todos”.