EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Vida e sabedoria
Lutamos para
proteger as
baleias, os
pandas, os
gorilas. Ninguém
negaria a
importância
disso. Desse
modo, toda vida
é recebida, pois
fato é que o
humanismo e a
ecologia são
próprios do
homem que,
gradativamente,
busca
melhorar-se –
não somente
segundo os
critérios da
ciência, mas
também da ética
e da justiça,
virtudes que
reclamam uma
moral
harmonizada a
“um dever geral
de humanidade”,
como sublinhado
por Montaigne.
E se “somente os
humanos podem
ser desumanos”,
nas palavras de
Comte-Sponville,
nos cabe o dever
de fazer do
homem outra
coisa: “fazer
bem o homem”, na
sugestão de
Montaigne, pois
somos (nós
mesmos) a nossa
tarefa.
Ao menos,
suponho, o
milagre da vida
deveria nos
tornar humildes
e gratos.
Ademais, isso
nos tornaria
exigentes para
perceber que não
nos cabe
desperdiçar a
dádiva do
nascimento e, em
conseqüência, um
primeiro dever:
não sermos
indignos em
relação ao viver
e, por isso,
fazer-se para
humanizar-se.
E se nascer não
é uma diversão,
tampouco seria
inteligente
percorrer de
forma
desinteressada,
ou ressentida, o
itinerário da
existência. Com
freqüência, por
causa dos
destemperos e
encargos da
rotina, somos
desvinculados do
bem-querer da
vida que flui ao
nosso redor e,
distraídos,
deixamos de
escutar o
coração,
deixamos de
corresponder aos
lampejos de
nossos
sentimentos mais
profundos –
nesses casos,
perguntaria a
nós o Mestre:
onde está o teu
tesouro?
Muitas pessoas
que atingiram
metas terrenas
expressivas se
esquecem, em
algum ponto do
caminho, do
significado mais
precioso (e
durável) que
reveste as
diversas
encruzilhadas da
existência. No
fundo, nossas
pretensões,
particulares e
sociais, para
nos ajudarem a
progredir,
precisariam ser
irrigadas pelo
espírito de
humildade e por
um desejo
sincero de
servir. E todo o
resto, sem
dúvida, seria
acrescentado.
Sofrimento?
Basta lembrar:
Jó não pecou,
mas sofreu. É o
que a narrativa
nos conta. Isso
implica dizer
que o sofrimento
simplesmente
existe porque
faz parte da
vida. Mas, se
prestarmos
atenção à
história, ela
nos ensinaria
que as provações
pelas quais Jó
passou o
transformaram
num homem
melhor, mais
humanizado, mais
amadurecido.
E se talvez não
tenhamos que
enfrentar as
tragédias
extremas que
afetaram Jó,
deveríamos reter
o motivo
condutor de sua
biografia: uma
confiança
profunda que,
enraizada na fé
e na vida,
certamente lhe
forneceu as
forças para
prosseguir,
ainda que
atingido pela
dor e pelas
perdas...