Perto e
longe
João Marques Renato da
Cunha
Na câmara olorosa, antes
do réveillon,
Há sedas no alvo leito e
holandas de bordados,
Fitas e rendas sobre os
móveis entalhados,
Loções no toucador,
pentes, rouge e baton...
Na mesma casa, em quarto
pobre e de mau tom,
Ante um catre modesto há
roupas sem plissados,
Forros sem bibelots,
limpos e descuidados,
Um livro de orações e a
paz de um ninho bom...
Duas irmãs no mundo, em
diversos destinos...
Uma, a sofrer, fruindo
ilusões passageiras;
Outra, a penar, gemendo
entre sonhos mofinos...
Cada qual conduzindo um
dever e uma cruz,
Caminham, perto e longe,
embora companheiras,
Buscando o mesmo amor...
sonhando a mesma luz...
Renato da
Cunha, poeta gaúcho,
nasceu em Porto Alegre
em 15/4/1869 e faleceu
em 2 de maio de 1901. O
soneto acima integra o
livro Antologia dos
Imortais, obra
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier.