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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 92 - 1º de Fevereiro de 2009

RENATO COSTA
rsncosta@terra.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
 


Somos Espíritas Cristãos


O termo “Cristão” foi inicialmente usado por Paulo, por sugestão de Lucas, para designar os seguidores dos ensinamentos do Mestre Jesus sem discriminação, uma vez que era assim que eles vinham sendo chamados pelo povo nas comunidades onde atuavam. Naquela época, o Cristianismo, com este nome, inexistia, pois os cristãos eram vistos pelos romanos como membros de uma nova seita oriunda do Judaísmo e, portanto, como Judeus. 

Com a secularização da nova religião, a partir do primeiro Concílio Ecumênico, o estado romano não só declarou o Cristianismo como uma nova religião, como tomou a si o direito de decidir, direta ou indiretamente, qual seria a religião pura, religião essa que levou o nome de “Católica Apostólica Romana”. A intenção do império romano, como a de todo império, era manter o estado coeso e unido em torno de ideais comuns. Assim, todas as crenças cristãs discordantes da “pureza” determinada por força de sua autoridade foram consideradas desvios perigosos e, por isso, combatidas até o extermínio. 

Examinemos um pouco os termos usados. “Católica” quer dizer “para todos”, “apostólica” significa “legada pelos apóstolos” e “romana” é o mesmo que “com sede em Roma” (por alegada escolha de Pedro, que teria sido o primeiro Papa). Tendo em vista o próprio significado da designação escolhida, um católico enxergava apenas a sua Igreja como pura, vendo nela um caminho ao qual todos podiam e deveriam aderir e todas as demais como desvios. No entanto, a Igreja dominante não considerava os desvios em relação à pureza por ela determinada como não cristãos, mesmo quando neles via uma ameaça à sua hegemonia e, por isso, os combatia a ferro e fogo. Chamava-os de heresias, isto é “doutrinas contrárias ao que foi definido pela Igreja em matéria de fé”. 

Não só para o católico, como vimos, mas, também, para todos os estudiosos sérios de religião, há inúmeras igrejas cristãs, sendo as mais importantes, pelo número de seus seguidores, a Católica e a Protestante, também chamada de Evangélica, com suas diversas ramificações.  

Se para eles, pois, o Espiritismo não é uma religião cristã, não é porque não aceitem como cristãos aqueles que não são católicos e, sim, porque desconhecem o Espiritismo, confundindo-o com uma miríade de filosofias e crenças espiritualistas que existem no mundo e que, estas sim, nada, ou pouco, têm de Cristianismo. No Brasil, por exemplo, a maioria dos irmãos católicos e evangélicos que criticam o Espiritismo confunde-o com a Umbanda, o Candomblé e até mesmo com a Macumba. Como tudo o mais que existe de errado em nosso orbe, portanto, tal confusão é filha da mãe Ignorância. 

Voltando ao tema escolhido como título de nosso estudo, penso que poderíamos ver a questão “Espiritismo e Umbanda” sob uma ótica semelhante. Tendo em vista que a Umbanda ou bem derivou do Espiritismo nas terras brasileiras ou foi por este fortemente influenciada, poderíamos ver a Umbanda como uma seita Espírita com influência de religiões africanas e indígenas.  

Vista a Umbanda sob esta ótica, nossos irmãos Umbandistas não estarão totalmente errados ao se dizer Espíritas. Se quisermos enfatizar a distinção entre o Espiritismo “puro” e outras crenças que dele derivaram ou que fazem uso de alguns de seus princípios doutrinários, faríamos melhor escolhendo para nós uma designação que nos identifique com precisão e que nos agrade mais que o termo “espírita kardecista”, visto que este não condiz com o que o Espiritismo realmente é, qual seja, a Doutrina dos Espíritos.  

Como, no entanto, a Doutrina dos Espíritos foi-nos trazida pelo Espírito de Verdade, auxiliado por uma falange de Espíritos seus seguidores, a designação mais apropriada, a meu ver, é “Espiritismo Cristão”. Assim sendo, somos “Espíritas Cristãos”. 

Quanto à Umbanda e a outras nobres crenças espiritualistas, apesar de elas seguirem ensinamentos espíritas, também seguem ensinamentos de teologias não-cristãs, tanto de origem africana como indígena. Desse modo, mesmo sendo aceitável, sob a ótica exposta, que nossos irmãos e irmãs de tais crenças se intitulem espíritas, espíritas cristãos, definitivamente, eles não são e não estarão sendo corretos se assim se intitularem. 


Referências:

XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estevão. Ditado pelo Espírito Emmanuel.  Rio de Janeiro: FEB, 2002.

LOPE, Wladisnei. Porque não sou Espírita Kardecista. Revista Internacional de Espiritismo, Jan. 2002.

MONTANHOLE, Ednilsom. Porque sou Espírita Kardecista. Boletim GEAE 430, de 19 de fevereiro de 2002.

 


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