RENATO COSTA
rsncosta@terra.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Somos
Espíritas Cristãos
O termo “Cristão” foi
inicialmente usado por
Paulo, por sugestão de
Lucas, para designar os
seguidores dos
ensinamentos do Mestre
Jesus sem discriminação,
uma vez que era assim
que eles vinham sendo
chamados pelo povo nas
comunidades onde
atuavam. Naquela época,
o Cristianismo, com este
nome, inexistia, pois os
cristãos eram vistos
pelos romanos como
membros de uma nova
seita oriunda do
Judaísmo e, portanto,
como Judeus.
Com a secularização da
nova religião, a partir
do primeiro Concílio
Ecumênico, o estado
romano não só declarou o
Cristianismo como uma
nova religião, como
tomou a si o direito de
decidir, direta ou
indiretamente, qual
seria a religião pura,
religião essa que levou
o nome de “Católica
Apostólica Romana”. A
intenção do império
romano, como a de todo
império, era manter o
estado coeso e unido em
torno de ideais comuns.
Assim, todas as crenças
cristãs discordantes da
“pureza” determinada por
força de sua autoridade
foram consideradas
desvios perigosos e, por
isso, combatidas até o
extermínio.
Examinemos um pouco os
termos usados.
“Católica” quer dizer
“para todos”,
“apostólica” significa
“legada pelos apóstolos”
e “romana” é o mesmo que
“com sede em Roma” (por
alegada escolha de
Pedro, que teria sido o
primeiro Papa). Tendo em
vista o próprio
significado da
designação escolhida, um
católico enxergava
apenas a sua Igreja como
pura, vendo nela um
caminho ao qual todos
podiam e deveriam aderir
e todas as demais como
desvios. No entanto, a
Igreja dominante não
considerava os desvios
em relação à pureza por
ela determinada como não
cristãos, mesmo quando
neles via uma ameaça à
sua hegemonia e, por
isso, os combatia a
ferro e fogo. Chamava-os
de heresias, isto é
“doutrinas contrárias ao
que foi definido pela
Igreja em matéria de
fé”.
Não só para o católico,
como vimos, mas, também,
para todos os estudiosos
sérios de religião, há
inúmeras igrejas
cristãs, sendo as mais
importantes, pelo número
de seus seguidores, a
Católica e a
Protestante, também
chamada de Evangélica,
com suas diversas
ramificações.
Se para eles, pois, o
Espiritismo não é uma
religião cristã, não é
porque não aceitem como
cristãos aqueles que não
são católicos e, sim,
porque desconhecem o
Espiritismo,
confundindo-o com uma
miríade de filosofias e
crenças espiritualistas
que existem no mundo e
que, estas sim, nada, ou
pouco, têm de
Cristianismo. No Brasil,
por exemplo, a maioria
dos irmãos católicos e
evangélicos que criticam
o Espiritismo confunde-o
com a Umbanda, o
Candomblé e até mesmo
com a Macumba. Como tudo
o mais que existe de
errado em nosso orbe,
portanto, tal confusão é
filha da mãe
Ignorância.
Voltando ao tema
escolhido como título de
nosso estudo, penso que
poderíamos ver a questão
“Espiritismo e Umbanda”
sob uma ótica
semelhante. Tendo em
vista que a Umbanda ou
bem derivou do
Espiritismo nas terras
brasileiras ou foi por
este fortemente
influenciada, poderíamos
ver a Umbanda como uma
seita Espírita com
influência de religiões
africanas e indígenas.
Vista a Umbanda sob esta
ótica, nossos irmãos
Umbandistas não estarão
totalmente errados ao se
dizer Espíritas. Se
quisermos enfatizar a
distinção entre o
Espiritismo “puro” e
outras crenças que dele
derivaram ou que fazem
uso de alguns de seus
princípios doutrinários,
faríamos melhor
escolhendo para nós uma
designação que nos
identifique com precisão
e que nos agrade mais
que o termo “espírita
kardecista”, visto que
este não condiz com o
que o Espiritismo
realmente é, qual seja,
a Doutrina dos
Espíritos.
Como, no entanto, a
Doutrina dos Espíritos
foi-nos trazida pelo
Espírito de Verdade,
auxiliado por uma
falange de Espíritos
seus seguidores, a
designação mais
apropriada, a meu ver, é
“Espiritismo Cristão”.
Assim sendo, somos
“Espíritas Cristãos”.
Quanto à Umbanda e a
outras nobres crenças
espiritualistas, apesar
de elas seguirem
ensinamentos espíritas,
também seguem
ensinamentos de
teologias não-cristãs,
tanto de origem africana
como indígena. Desse
modo, mesmo sendo
aceitável, sob a ótica
exposta, que nossos
irmãos e irmãs de tais
crenças se intitulem
espíritas, espíritas
cristãos,
definitivamente, eles
não são e não estarão
sendo corretos se assim
se intitularem.
Referências:
XAVIER,
Francisco Cândido.
Paulo e Estevão.
Ditado pelo Espírito
Emmanuel. Rio de
Janeiro: FEB, 2002.
LOPE,
Wladisnei. Porque não
sou Espírita Kardecista.
Revista Internacional de
Espiritismo, Jan. 2002.
MONTANHOLE, Ednilsom.
Porque sou Espírita
Kardecista. Boletim
GEAE 430, de
19 de fevereiro de 2002.