Decorrente dos referidos
fatores sociológicos,
das pressões
psicológicas, dos
impositivos econômicos,
o medo assalta o homem,
empurrando-o para a
violência irracional ou
amargurando-o em
profundos abismos de
depressão.
Num contexto social
injusto, a insegurança
engendra muitos
mecanismos de evasão da
realidade, que dilaceram
o comportamento humano,
anulando, por fim, as
aspirações de beleza, de
idealismo, de
afetividade da criatura.
Encarcerando-se, cada
vez mais, nos receios
justificáveis do
relacionamento instável
com as demais pessoas,
surgem as ilhas
individuais e grupais
para onde fogem os
indivíduos, na
expectativa de
equilibrarem-se,
sobrevivendo ao tumulto
e à agressividade,
assumindo, sem darem-se
conta, um comportamento
alienado, que termina
por apresentar-se
igualmente patológico.
As precauções para
resguardar-se, poupar a
família aos dissabores
dos delinquentes,
mantendo os haveres em
lugares quase
inexpugnáveis, fazem o
homem emparedar-se no
lar ou aglomerar-se em
clubes com pessoal
selecionado, perdendo a
identidade em relação a
si mesmo, ao seu próximo
e consumindo-se em
conflitos
individualistas, a
caminho dos
desequilíbrios de grave
porte.
Os valores da nossa
sociedade encontram-se
em xeque, porque são
transitórios.
Há uma momentânea
alteração de conteúdo,
com a consequente perda
de significado. A nova
geração perdeu a
confiança nas afirmações
do passado e deseja
viver novas experiências
ao preço da alucinação,
como forma escapista de
superar as pressões que
sofre, impondo
diferentes experiências.
No âmago das suas
violações e protestos,
do vilipêndio aos
conceitos anteriores
vige o medo que
atormenta e submete às
suas sombras espessas.
A quantidade expressiva
de atemorizados trabalha
a qualidade do receio
de cada um, que cresce
assustadoramente,
comprimindo a
personalidade, até que
esta se libere em
desregramento
agressivo, como forma de
escapar à constrição.
Quem, porém, não consiga
seguir a correnteza da
nova ordem, fica afogado
no rio volumoso, perde o
respeito por si mesmo,
aliena-se e sucumbe.
Na luta furiosa, as
festas ruidosas, as
extravagâncias de
conduta, os desperdícios
de moedas e o
exibicionismo com que
algumas pessoas pensam
vencer os medos íntimos,
apenas se transformam
em lâminas baças de
vidro pelas quais
observam a vida sempre
distorcida, face à
óptica incorreta que se
permitem. São atitudes
patológicas decorrentes
da fragilidade
emocional para enfrentar
os desafios externos e
internos.
A consumação da
sociedade moderna é a
história da desídia do
homem em si mesmo,
enlanguescido pelos
excessos ou esfogueado
pelos desejos absurdos.
Adaptando-se às sombras
dominadoras da
insensatez, neglicencia
o sentido ético gerador
da paz.
A anarquia então impera,
numa volúpia destrutiva,
tentando apagar as
memórias do ontem,
enquanto implanta a
tirania do desconcerto.
Os seus vultos
expressivos são imaturos
e alucinados, em cuja
rebelião pairam o
oportunismo e a avidez.
Procedentes dos guetos
morais, querem reverter
a ordem que os apavora,
revolucionando com
atrevimento, face ao
insólito, o
comportamento vigente.
Os antigos ídolos, que
condenaram a década de
20 e 30 como a da
“geração perdida”,
produziram a atual “era
da insegurança”, na qual
malograram as profecias
exageradamente
otimistas dos
apaniguados do prazer em
exaustão, fabricando os
super-homens da mídia
que, em análise última,
são mais frágeis do que
os seus adoradores, pois
que não passam de heróis
da frustração.
Guindados às posições de
liderança, descambaram,
esses novos condutores,
em lamentáveis desditas,
consumidos pelas
drogas, vencidos pelas
enfermidades ainda não
controladas, pelos
suicídios discretos ou
espetaculares.
A alucinação
generalizada certamente
aumenta o medo nos
temperamentos frágeis,
nas constituições
emocionais de pouca
resistência, de começo,
no indivíduo, depois, na
sociedade.
Esta é uma sociedade
amedrontada.
As gerações anteriores
também cultivaram os
seus medos de origem
atávica e de receios
ocasionais.
O excesso de tecnicismo
com a correspondente
ausência de
solidariedade humana
produziram a avalanche
dos receios.
A superpopulação tomando
os espaços e a
tecnologia reduzindo as
distâncias arrebataram a
fictícia segurança
individual, que os
grupos passaram a
controlar, e as
consequências da insânia
que cresce são
imprevistas.
Urge uma revisão de
conceitos, uma mudança
de conduta, um reestudo
da coragem para a
imediata aplicação no
organismo social e
individual necrosado.
Todavia, é no cerne do
ser — o Espírito — que
se encontram as causas
matrizes desse inimigo
rude da vida, que é o
medo.
Os fenômenos fóbicos
procedem das
experiências passadas —
reencarnações
fracassadas —, nas quais
a culpa não foi
liberada, face ao crime
haver permanecido
oculto, ou dissimulado,
ou não justiçado,
transferindo-se a
consciência faltosa
para posterior
regularização.
Ocorrências de grande
impacto negativo,
pavores, urdiduras
perversas, homicídios
programados com
requintes de crueldade,
traições infames sob
disfarces de sorrisos
produziram a atual
consciência de culpa, de
que padecem muitos
atemorizados de hoje, no
inter-relacionamento
pessoal.
Outrossim, catalépticos
sepultados vivos, que
despertaram na tumba e
vieram a falecer depois,
por falta de oxigênio,
reencarnam-se vitimados
pelas profundas
claustrofobias, vivendo
em precárias condições
de sanidade mental.
O medo é fator
dissolvente na
organização psíquica do
homem, predispondo-o,
por somatização, a
enfermidades diversas
que aguardam correta
diagnose e específica
terapêutica.
À medida que a
consciência se expande e
o indivíduo se abriga na
fé religiosa racional,
na certeza da sua
imortalidade, ele se
liberta, se agiganta,
recupera a identidade e
humaniza-se
definitivamente,
vencendo o medo e os
seus sequazes, sejam de
ontem ou de agora.
Página constante do cap.
4 do livro O Homem
Integral, obra
psicografada pelo médium
Divaldo P. Franco.