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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 96 – 1º de Março de 2009

CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 

Tabaré Vasquez e a
lei do aborto

 

 
O presidente uruguaio sacramentou um posicionamento heroico, contra a legalização do aborto no Uruguai. Quando a notícia apareceu nas manchetes de primeira página do Globo Online, o bate-boca que rolou no forum do site foi algo incomum.


Segundo o dicionário Aurélio Século XXI, laico significa: "Que vive no, ou é próprio do mundo, do século; secular (por oposição a eclesiástico)". A menção ao estado laico é o que mais se argumenta na hora de se defender o aborto em contraposição à sua ilegalidade baseada apenas em princípios religiosos. Diz-se do entendimento da criminalização do aborto por temor ao castigo do suposto Deus que criou a Vida. E, a partir disso, envereda-se em mastodôntica discussão acerca do que seja de fato a Vida, o começo da Vida, a origem da Vida, compondo uma polêmica que, pela sua natureza grave quanto insolúvel, nunca conduz a lugar nenhum.


O caso, meus amigos, é que até prova em contrário nenhum argumento será convincente o bastante para se justificar a subtração, no estágio intrauterino, da vida do serzinho em gestação, completamente indefeso e dependente do amor e da responsabilidade de quem o gera. E a isso não adianta contrapor argumentos no sentido de que a viabilização do aborto sanaria o problema das populações desvalidas do mundo, e dos filhos sem pais que, em situação de miséria, passam a depender da boa vontade da adoção e da caridade alheia. Por razões simples: primeiro, porque a legalização do aborto, em larga escala, desencadearia antes efeitos colaterais com o aumento de casos originados da prática sexual irresponsável - ora, se matar o feto é respaldado por lei, como se verificar caso a caso para se saber quais dizem respeito a estupro ou, e provavelmente na sua maior parte, às situações em que a imprevidência na hora do ato sexual gera os tais filhos não programados? Segundo, porque o que desencadeia a miséria no mundo é, em primeira instância, o sistema econômico mundial sedimentado sobre a rapinagem concentradora de riquezas nas mãos de poucos, em detrimento da outra imensa e maior fatia das populações de um mundo que, de resto, e para maior descalabro desta conjuntura, de si é pródigo e rico em recursos naturais.


Muitos filhos desvalidos há em toda parte, e, nada obstante, levam vida digna, e, diga-se, feliz! Para comprovação, não me esqueço nunca o documentário veiculado há muitos anos pela Globo, no qual a apresentadora, Regina Casé, conversa com a negra africana sorridente, e se dizendo alegre e animada de viver, mesmo em meio a todas as agruras enfrentadas na luta pela sobrevivência própria daquele continente! Sem embargo, pois, considerar que abastança e sobejos materiais são a fundamentação prévia da felicidade humana é de uma pobreza de vistas de dar pena!


Amor ao próximo, equanimidade de recursos bastariam a este mundo para que todos os eventuais filhos desvalidos se vissem dentro de um quadro de vida digna, apesar de tudo. Ao ver-se sem condições para criar uma criança, por uma razão ou por outra, que se oferecessem condições de adoção, ou que o Estado contribuísse com meios. Já é mais do que tempo de se compreender definitivamente que o contexto de uma família saudável extrapola o fator único do laço consanguíneo, requerendo, antes, amor! Quantos dramas e tragédias não se desencadeiam em famílias comuns, onde pais e mães trucidam e flagelam filhos de sangue?! Quantos casos também de filhos adotivos que encontraram na família postiça uma referência sublime de amor humano, de segurança, aconchego, superiores em tudo ao que muitos outros filhos legítimos não recebem de seus pais de sangue?! Quantas alternativas, caros, mais viáveis, mais humanas, do que se trucidar brutalmente um serzinho indefeso, esquartejando-lhe os membros ou diluindo-o em ácido, num paroxismo horrendo de violência, antes de qualquer outra coisa, contra a Vida - esta mesma Vida cuja autoria, queiram ou não os materialistas e ateus de plantão, não é de nossa autoria, não nos cabendo, portanto, direito de supressão! Pois vi fotos de tal selvageria e - lhes asseguro - é coisa de fera, não de gente, considerar ainda, depois disso, que o feto não é uma criança em preparação - um ser humano, em silenciosa espera!


E em termos laicos, para os que acenam com argumentos que querem distanciados do que definem como religião e misticismo de terceiro mundo, ao nos referirmos à autoria divina da Vida: a Vida é resguardada e defendida dentro dos termos solenes da Declaração Universal dos Direitos Humanos!


Todavia, defender o direito à vida do feto invocando o começo desta mesma vida na concepção, bem como a sua autoria divina, bem como, e ainda mais longe, as implicações gravíssimas de ordem espiritual para a prática irresponsável do aborto - já que este que hoje o faz em profundo desprezo ao sofrimento indizível da criança assassinada ainda no ventre, amanhã, muito provavelmente, nada poderá contrapor quando, ainda no útero, for barbaramente arrancada das entranhas maternas sob pretextos duvidosos de seres imaturos e em despreparo para a sublime missão da paternidade e maternidade -, não diz respeito a nenhum provincianismo de terceiro mundo, nem a religiosidade fanática e doentia.


Deus, percebi com susto e pesar no forum em questão do noticiário mencionado, é ainda tomado pelas pretensas mentes de primeiro mundo, muito embora ainda profundamente ignorantes das Verdades maiores da existência, como misticismo, ignorância e fanatismo de povos de terceiro mundo. Tais mentalidades atacam duramente o presidente do Uruguai pelo que conceituam como conservadorismo contraproducente em relação aos supostos avanços das leis, neste sentido, em países tidos como de vanguarda nestas iniciativas.


Esquecem-se, com isto, que este mesmo primeiro mundo que hoje zomba de Deus e das Leis de ordem espiritual, dando-os como atraso inqualificável de mentes subdesenvolvidas, é o mesmo "primeiro mundo" outrora responsável pela bomba de hidrogênio que calcinou em segundos toda uma cidade japonesa; pelo nazismo, e pela política sedenta de poder e de controle econômico que desencadeou o onze de setembro, um dos maiores atentados contra a Vida humana já registrados na História; pelas práticas da guerra, da intolerância e do racismo ainda fortemente vigentes em povos cujos avanços tecnológicos andam em completo descompasso para com iniciativas que enfim se dissociem do separativismo entre as nações do planeta, para promover medidas eficientes no combate às desigualdades - estas sim, que geram a fome, a miséria, a violência e o ódio presentes em tantas tragédias diárias a se abaterem sobre a nossa já exaurida raça humana!


Que se pergunte a esses que defendem a Vida como criação de exclusividade humana, originada no nascimento e finda no sepulcro, se, de posse de todo este falso poder assegurado pela comunidade tecnológica e científica, alguém que seja há de, num minuto de ansiedade, e como já nos alertava Jesus Cristo, acrescentar um hálito sequer de vida a si mesmo ou a quem quer que seja, no momento em que descerrarmos, inapelavelmente, mais cedo ou mais tarde, os mistérios para além da nossa transição!


Parabéns a Tabaré Vázquez, pela nobreza e coragem – e esta sim, digna de um primeiro mundo! – a favor da Vida!


Ainda há esperança!...

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita