CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Tabaré Vasquez e
a
lei do aborto
O presidente
uruguaio
sacramentou um
posicionamento
heroico, contra
a legalização do
aborto no
Uruguai. Quando
a notícia
apareceu nas
manchetes de
primeira página
do Globo Online,
o bate-boca que
rolou no forum
do site foi algo
incomum.
Segundo o
dicionário
Aurélio Século
XXI, laico
significa: "Que
vive no, ou é
próprio do
mundo, do
século; secular
(por oposição a
eclesiástico)".
A menção ao
estado laico é o
que mais se
argumenta na
hora de se
defender o
aborto em
contraposição à
sua ilegalidade
baseada apenas
em princípios
religiosos.
Diz-se do
entendimento da
criminalização
do aborto por
temor ao castigo
do suposto Deus
que criou a
Vida. E, a
partir disso,
envereda-se em
mastodôntica
discussão acerca
do que seja de
fato a Vida, o
começo da Vida,
a origem da
Vida, compondo
uma polêmica
que, pela sua
natureza grave
quanto
insolúvel, nunca
conduz a lugar
nenhum.
O caso, meus
amigos, é que
até prova em
contrário nenhum
argumento será
convincente o
bastante para se
justificar a
subtração, no
estágio
intrauterino, da
vida do serzinho
em gestação,
completamente
indefeso e
dependente do
amor e da
responsabilidade
de quem o gera.
E a isso não
adianta
contrapor
argumentos no
sentido de que a
viabilização do
aborto sanaria o
problema das
populações
desvalidas do
mundo, e dos
filhos sem pais
que, em situação
de miséria,
passam a
depender da boa
vontade da
adoção e da
caridade alheia.
Por razões
simples:
primeiro, porque
a legalização do
aborto, em larga
escala,
desencadearia
antes efeitos
colaterais com o
aumento de casos
originados da
prática sexual
irresponsável -
ora, se matar o
feto é
respaldado por
lei, como se
verificar caso a
caso para se
saber quais
dizem respeito a
estupro ou, e
provavelmente na
sua maior parte,
às situações em
que a
imprevidência na
hora do ato
sexual gera os
tais filhos não
programados?
Segundo, porque
o que
desencadeia a
miséria no mundo
é, em primeira
instância, o
sistema
econômico
mundial
sedimentado
sobre a
rapinagem
concentradora de
riquezas nas
mãos de poucos,
em detrimento da
outra imensa e
maior fatia das
populações de um
mundo que, de
resto, e para
maior descalabro
desta
conjuntura, de
si é pródigo e
rico em recursos
naturais.
Muitos filhos
desvalidos há em
toda parte, e,
nada obstante,
levam vida
digna, e,
diga-se, feliz!
Para
comprovação, não
me esqueço nunca
o documentário
veiculado há
muitos anos pela
Globo, no qual a
apresentadora,
Regina Casé,
conversa com a
negra africana
sorridente, e se
dizendo alegre e
animada de
viver, mesmo em
meio a todas as
agruras
enfrentadas na
luta pela
sobrevivência
própria daquele
continente! Sem
embargo, pois,
considerar que
abastança e
sobejos
materiais são a
fundamentação
prévia da
felicidade
humana é de uma
pobreza de
vistas de dar
pena!
Amor ao próximo,
equanimidade de
recursos
bastariam a este
mundo para que
todos os
eventuais filhos
desvalidos se
vissem dentro de
um quadro de
vida digna,
apesar de tudo.
Ao ver-se sem
condições para
criar uma
criança, por uma
razão ou por
outra, que se
oferecessem
condições de
adoção, ou que o
Estado
contribuísse com
meios. Já é mais
do que tempo de
se compreender
definitivamente
que o contexto
de uma família
saudável
extrapola o
fator único do
laço
consanguíneo,
requerendo,
antes, amor!
Quantos dramas e
tragédias não se
desencadeiam em
famílias comuns,
onde pais e mães
trucidam e
flagelam filhos
de sangue?!
Quantos casos
também de filhos
adotivos que
encontraram na
família postiça
uma referência
sublime de amor
humano, de
segurança,
aconchego,
superiores em
tudo ao que
muitos outros
filhos legítimos
não recebem de
seus pais de
sangue?! Quantas
alternativas,
caros, mais
viáveis, mais
humanas, do que
se trucidar
brutalmente um
serzinho
indefeso,
esquartejando-lhe
os membros ou
diluindo-o em
ácido, num
paroxismo
horrendo de
violência, antes
de qualquer
outra coisa,
contra a Vida -
esta mesma Vida
cuja autoria,
queiram ou não
os materialistas
e ateus de
plantão, não é
de nossa
autoria, não nos
cabendo,
portanto,
direito de
supressão! Pois
vi fotos de tal
selvageria e -
lhes asseguro -
é coisa de fera,
não de gente,
considerar
ainda, depois
disso, que o
feto não é uma
criança em
preparação - um
ser humano, em
silenciosa
espera!
E em termos
laicos, para os
que acenam com
argumentos que
querem
distanciados do
que definem como
religião e
misticismo de
terceiro mundo,
ao nos
referirmos à
autoria divina
da Vida: a Vida
é resguardada e
defendida dentro
dos termos
solenes da
Declaração
Universal dos
Direitos
Humanos!
Todavia,
defender o
direito à vida
do feto
invocando o
começo desta
mesma vida na
concepção, bem
como a sua
autoria divina,
bem como, e
ainda mais
longe, as
implicações
gravíssimas de
ordem espiritual
para a prática
irresponsável do
aborto - já que
este que hoje o
faz em profundo
desprezo ao
sofrimento
indizível da
criança
assassinada
ainda no ventre,
amanhã, muito
provavelmente,
nada poderá
contrapor
quando, ainda no
útero, for
barbaramente
arrancada das
entranhas
maternas sob
pretextos
duvidosos de
seres imaturos e
em despreparo
para a sublime
missão da
paternidade e
maternidade -,
não diz respeito
a nenhum
provincianismo
de terceiro
mundo, nem a
religiosidade
fanática e
doentia.
Deus, percebi
com susto e
pesar no forum
em questão do
noticiário
mencionado, é
ainda tomado
pelas pretensas
mentes de
primeiro mundo,
muito embora
ainda
profundamente
ignorantes das
Verdades maiores
da existência,
como misticismo,
ignorância e
fanatismo de
povos de
terceiro mundo.
Tais
mentalidades
atacam duramente
o presidente do
Uruguai pelo que
conceituam como
conservadorismo
contraproducente
em relação aos
supostos avanços
das leis, neste
sentido, em
países tidos
como de
vanguarda nestas
iniciativas.
Esquecem-se, com
isto, que este
mesmo primeiro
mundo que hoje
zomba de Deus e
das Leis de
ordem
espiritual,
dando-os como
atraso
inqualificável
de mentes
subdesenvolvidas,
é o mesmo
"primeiro mundo"
outrora
responsável pela
bomba de
hidrogênio que
calcinou em
segundos toda
uma cidade
japonesa; pelo
nazismo, e pela
política sedenta
de poder e de
controle
econômico que
desencadeou o
onze de
setembro, um dos
maiores
atentados contra
a Vida humana já
registrados na
História; pelas
práticas da
guerra, da
intolerância e
do racismo ainda
fortemente
vigentes em
povos cujos
avanços
tecnológicos
andam em
completo
descompasso para
com iniciativas
que enfim se
dissociem do
separativismo
entre as nações
do planeta, para
promover medidas
eficientes no
combate às
desigualdades -
estas sim, que
geram a fome, a
miséria, a
violência e o
ódio presentes
em tantas
tragédias
diárias a se
abaterem sobre a
nossa já
exaurida raça
humana!
Que se pergunte
a esses que
defendem a Vida
como criação de
exclusividade
humana,
originada no
nascimento e
finda no
sepulcro, se, de
posse de todo
este falso poder
assegurado pela
comunidade
tecnológica e
científica,
alguém que seja
há de, num
minuto de
ansiedade, e
como já nos
alertava Jesus
Cristo,
acrescentar um
hálito sequer de
vida a si mesmo
ou a quem quer
que seja, no
momento em que
descerrarmos,
inapelavelmente,
mais cedo ou
mais tarde, os
mistérios para
além da nossa
transição!
Parabéns a
Tabaré Vázquez,
pela nobreza e
coragem – e esta
sim, digna de um
primeiro mundo!
– a favor da
Vida!
Ainda há
esperança!...