Você deseja de nós,
Meu caro Luiz Sarmento,
Alguma fala qualquer,
Em torno do
ressentimento.
Diz você: “Cá neste
mundo
Não sei como me
exprimir,
Se não aprendo, não
sinto,
Se aprendo, devo sentir.
Se recebo alguma ofensa,
Zombaria ou pescoção,
Se nada disso me fere
Como guardar a lição?”
Sua palavra bem feita
Lançando o assunto no ar
Dá muita filosofia,
Muita cousa que
pensar...
Em toda questão de
ofensa,
É necessário se insista:
Pede a vida que se mude
O nosso ponto de vista.
Quem é aquele que
ofende?
Às vezes é um pobre
louco...
De outras vezes, um
doente
Que enlouquece pouco a
pouco.
De que modo condenar
Quando me cabe entender,
Se todos somos no mundo
Capazes de adoecer?
Por isto, ressentimento
Dos enganos que se leva,
Quando embutido no
peito,
Lembra um novelo de
treva.
O ponto grave na ofensa
Está sempre na pessoa,
Que condena e se
lastima,
Que se arrasa e não
perdoa.
Surge a mágoa... Leve
sombra
Numa estranha formação,
Depois recorda serpente
Por dentro do coração.
Faz tristeza, inimizade,
Vida irritada e
insegura,
Discórdia, injúria,
sarcasmo,
Separação, amargura...
Quem guarda
ressentimento,
Note bem, veja você:
Coloca o mal no que
sabe,
Veneno em tudo o que vê.
Ressentimento onde
esteja
Traz sempre, como é
notório,
Muita doença imprevista,
Muita ficha em
sanatório.
Se você sofreu ofensa,
Lembre o perdão de
Jesus,
Quem se ofende ajunta
sombras,
Quem perdoa tem mais
luz.
Contra alguém, seja quem
for,
Que nunca se erga a voz,
A justiça vem de Deus,
O agravo é que vem de
nós.
Mesmo entre pedras e
lutas,
O amor trabalha e
auxilia...
O tempo emenda a nós
todos,
Cada qual tem o seu dia.
Extraído
do cap. 3 do livro
Retratos da Vida, de
Cornélio Pires,
psicografado por
Francisco Cândido
Xavier.