MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(7a
Parte)
Damos continuidade ao estudo da obra
Libertação,
de André Luiz, psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier e
publicada em 1949 pela Federação Espírita
Brasileira.
Questões
preliminares
A. Quem são os gênios malditos e os chamados
demônios?
R.: Gúbio disse a André que os gênios
malditos, os demônios de todos os tempos
somos nós mesmos, quando nos desviamos,
impenitentes, da Lei. E que eles mesmos,
Gúbio, André e os outros, já perambularam
por aqueles sítios, mas os choques
biológicos do renascimento e da
desencarnação, mais ou menos recentes, não
lhes permitiam o desabrochar de
reminiscências completas do passado,
diversamente do que ocorria com o Instrutor.
(Libertação, cap. IV, pp. 56 e 57.)
B. Que causas impunham a decadência da forma
aos Espíritos que ali estavam?
R.: O Instrutor explicou que milhões de
indivíduos, depois da morte, encontram
perigosos inimigos no medo e na vergonha de
si mesmos. Nada se perde, no círculo de
nossas ações, palavras e pensamentos. O
registro de nossa vida opera-se em duas
fases distintas, perseverando no exterior
através dos efeitos de nossa atuação, e
persistindo em nós mesmos, nos arquivos da
própria consciência, que recolhe
matematicamente todos os resultados de nosso
esforço, no bem ou no mal. Em qualquer
parte, o Espírito move-se no centro das
criações que desenvolveu. Defeitos e
qualidades o envolvem, onde se encontre.
(Obra citada, cap. IV, pp. 58 e 59.)
C. Havia ali indivíduos em estágio evolutivo
inferior ao da humanidade?
R.: Sim. Aquela era uma colônia purgatorial
de vasta expressão. "Quem não cumpre aqui
dolorosa penitência regenerativa, pode ser
considerado inteligência subumana”, disse
Gúbio. “Milhares de criaturas, utilizadas
nos serviços mais rudes da natureza,
movimentam-se nestes sítios em posição
infraterrestre." Em desenvolvimento de
tendências dignas, candidatam-se à
humanidade que conhecemos na Crosta.
Situam-se entre o raciocínio fragmentário do
macacoide e a ideia simples do homem
primitivo na floresta. (Obra citada, cap.
IV, pp. 60 e 61.)
Texto para leitura
26. Os demônios somos nós -
Por que Deus permite semelhante absurdo?
Gúbio respondeu: "Pelas mesmas razões
educativas através das quais não aniquila
uma nação humana quando, desvairada pela
sede de dominação, desencadeia guerras
cruentas e destruidoras, mas a entrega à
expiação dos próprios crimes e ao infortúnio
de si mesma, para que aprenda a integrar-se
na ordem eterna que preside à vida
universal". Disse então que, de período a
período, contado cada um por vários séculos,
a matéria utilizada por semelhantes
inteligências é revolvida e reestruturada,
qual acontece nos círculos terrenos; e, se o
Senhor visita os homens pelos homens que se
santificam, "corrige igualmente as
criaturas por intermédio das criaturas que
se endurecem ou bestializam". Vê-se, assim,
que os gênios malditos, os demônios de todos
os tempos somos nós mesmos, quando nos
desviamos, impenitentes, da Lei. Eles
mesmos, informou Gúbio, já perambularam por
aqueles sítios, mas os choques biológicos
do renascimento e da desencarnação, mais ou
menos recentes, não lhes permitiam o
desabrochar de reminiscências completas do
passado, diversamente do que ocorria com o
Instrutor: a extensão de seu tempo, na vida
livre, lhe conferia recordações mais
dilatadas. Nesse passo, o grupo passou a
ouvir não longe uma música exótica. O
Instrutor enfatizou a necessidade da
prudência e da humildade em favor do êxito
no trabalho, lembrando que, diante de
qualquer constrangimento íntimo, ninguém se
esquecesse da prece. "Qualquer precipitação
pode arrojar-nos", disse ele, "a estados
primitivistas, lançando-nos em nível
inferior, análogo ao dos espíritos infelizes
que desejamos auxiliar". O grupo
reergueu-se e avançou. O passo era tardio e
a movimentação difícil, mas em breves
minutos penetraram vastíssima aglomeração de
vielas, reunindo casario decadente e
sórdido. Rostos horrendos os contemplavam
furtivamente, a princípio, e depois com
atitude agressiva. O quadro era deplorável:
mutilados às centenas, aleijados de todos os
matizes, entidades visceralmente
desequilibradas ofereciam-lhes paisagens de
arrepiar... (Cap. IV, pp. 56 e 57)
27. O perispírito é cápsula delicada
- Por que tão extensa comunidade de
sofredores? Que causas impunham tão
flagrante decadência da forma? O Instrutor
explicou que milhões de indivíduos, depois
da morte, encontram perigosos inimigos no
medo e na vergonha de si mesmos. Nada se
perde, no círculo de nossas ações, palavras
e pensamentos. O registro de nossa vida
opera-se em duas fases distintas,
perseverando no exterior através dos
efeitos de nossa atuação, e persistindo em
nós mesmos, nos arquivos da própria
consciência, que recolhe matematicamente
todos os resultados de nosso esforço, no bem
ou no mal, ao interior dela própria. Em
qualquer parte, o Espírito move-se no centro
das criações que desenvolveu. Defeitos e
qualidades o envolvem, onde se encontre. Ao
perder o veículo carnal e vendo que não se
pode ocultar por mais tempo, sente-se tal
qual é e receia a presença dos filhos da
luz, que identificariam suas mazelas,
porquanto o perispírito é cápsula delicada
que reflete glórias e viciações, em virtude
dos tecidos rarefeitos de que se constitui.
É por isso que as almas decaídas, num
impulso de revolta contra os deveres da
sublimação, aliam-se umas às outras, através
de organizações em que exteriorizam os
lamentáveis pendores que lhes são
peculiares, sob o aguilhão de entidades
vigorosas e cruéis. Como ajudá-los a
soerguer-se? "A mesma lei de esforço próprio
funciona igualmente aqui", disse Gúbio. Não
faltam ali apelos santificantes, mas é
impraticável qualquer iniciativa legítima,
em matéria de reajustamento geral, sem a
íntima adesão dos interessados ao ideal da
própria melhoria. Se o Espírito não mobiliza
o patrimônio que lhe é próprio, no sentido
de elevar o seu campo vibratório, não é
justo seja arrebatado a regiões superiores
que ele mesmo não sabe desejar. E, assim,
até que resolva atirar-se ao trabalho da
própria ascensão, vai sendo aproveitado
pelas leis universais no que possa ser útil
à Obra Divina. A minhoca também trabalha o
solo, lembrou Gúbio. (Cap. IV, pp. 58 e 59)
28. Criaturas subumanas -
Impressionavam a André as roupagens
francamente imundas que aquelas criaturas
vestiam e a diversidade de tipos curiosos
que ali se viam, como os inúmeros exemplares
de pigmeus, cuja natureza ele não podia
precisar, as plantas exóticas e
desagradáveis ao olhar e os animais
monstruosos que, em grande número, se
movimentavam a esmo pelas vielas. Becos e
despenhadeiros escuros multiplicavam-se
também em derredor, acentuando-lhe o
angustioso assombro. Gúbio reiterou que
aquela era uma colônia purgatorial de vasta
expressão. "Quem não cumpre aqui dolorosa
penitência regenerativa, pode ser
considerado inteligência subumana. Milhares
de criaturas, utilizadas nos serviços mais
rudes da natureza, movimentam-se nestes
sítios em posição infraterrestre", explicou
o Instrutor. "A ignorância, por ora, não
lhes confere a glória da responsabilidade.
Em desenvolvimento de tendências dignas,
candidatam-se à humanidade que conhecemos na
Crosta. Situam-se entre o raciocínio
fragmentário do macacoide e a ideia simples
do homem primitivo na floresta. Afeiçoam-se
a personalidades encarnadas ou obedecem,
cegamente, aos espíritos prepotentes que
dominam em paisagens como esta. Guardam,
enfim, a ingenuidade do selvagem e a
fidelidade do cão", esclareceu Gúbio. O
contato com certas pessoas inclina-os ao bem
ou ao mal; e, por isso, os Espíritos são
responsabilizados pelas Forças Superiores,
quanto ao tipo de influência que exercem
sobre a mente infantil de semelhantes
criaturas. Com respeito aos Espíritos que
ali se mostravam exibindo formas quase
animalescas, isso se devia às anormalidades
a que foram conduzidos pela desarmonia
interna. "Nossa atividade mental nos marca o
perispírito", asseverou o Instrutor. "Aqui,
André, o fogo devorador das paixões
aviltantes revela suas vítimas com mais
hedionda crueldade." (Cap. IV, pp. 60 e 61)
29. O melhor médico chama-se tempo
- Ali era impraticável a enfermagem
individual e sistemática, porque o número de
alienados e doentes era extraordinariamente
grande. "Quem cura nestes lugares há de ser
o tempo com a piedade celeste ou a piedade
celeste por intermédio de embaixadores da
renúncia, em serviços de intercessão para os
espíritos arrependidos", esclareceu o
Instrutor. A cidade sombria não acolhia
crianças, exceção feita das raças de anões,
onde não dava para distinguir os pais dos
filhos. Gúbio explicou que, considerando que
se encontravam diante de um plano "quase
infernal", era natural fossem as crianças
dali excluídas, para preservá-las, tal como
na Crosta os filhos infantes são isolados
dos pais criminosos. André também percebeu
que a ociosidade era, ali, a nota dominante.
Por que isso acontecia? Gúbio respondeu que
quase todas as almas humanas situadas
naquelas furnas sugavam as energias dos
encarnados, vampirizando-lhes a vida, qual
se fossem lampreias insaciáveis no oceano do
oxigênio terrestre. "Suspiram pelo retorno
ao corpo físico, de vez que não
aperfeiçoaram a mente para a ascensão, e
perseguem as emoções do campo carnal com o
desvario dos sedentos no deserto", acentuou
Gúbio. Quais fetos adiantados, absorvendo
as energias do seio materno, consomem altas
reservas de força dos seres encarnados que
as acalentam, desprevenidos de conhecimento
superior. É daí que resultam esse desespero
com que defendem no mundo a inércia, e a
aversão a qualquer progresso espiritual ou
qualquer avanço do homem na montanha da
santificação. O "furto psíquico", eis o
processo de seu sustento junto às
comunidades da Terra. Para que, então,
trabalhar? (Cap. IV, pp. 61 e 62)
30. Palácios imponentes - O
grupo subiu com dificuldade uma rua íngreme
e, em pequeno planalto, a paisagem
alterou-se. Palácios estranhos surgiam
imponentes, revestidos de claridade
abraseada, semelhante à auréola do aço
incandescente. Praças bem cuidadas, cheias
de povo, ostentavam carros soberbos,
puxados por escravos e animais. O aspecto
era semelhante ao das grandes cidades do
Oriente, de duzentos anos atrás. Liteiras e
carruagens transportavam personalidades
humanas, trajadas de modo surpreendente, em
que o escarlate exercia domínio, acentuando
a dureza dos rostos que emergiam dos
singulares indumentos. Respeitável edifício
destacava-se diante de uma fortaleza, com
todos os característicos de um templo. De
fato, a casa se destinava a espetaculoso
culto externo. André admirava o suntuoso
casario, em contraste chocante com o vasto
reino de miséria que há pouco haviam
atravessado, quando alguém os interpelou:
"Que fazem?" Era um homem alto, de nariz
adunco e olhos felinos, com todas as
maneiras de um policial desrespeitoso.
"Procuramos o sacerdote Gregório, a quem
estamos recomendados", informou Gúbio,
humilde. O estranho os levou a um casarão de
feio aspecto, onde um homem maduro,
envolvido em longa e complicada túnica, os
recebeu. Era Gregório. A recepção não foi
nada hospitaleira. "Vieram da Crosta, há
muito tempo?", perguntou Gregório. "Sim --
respondeu o Instrutor --, e temos
necessidade de auxílio". Gregório
perguntou-lhes então se haviam sido
examinados e quem lhos enviara. Gúbio disse:
"Certa mensageira de nome Matilde". Gregório
estremeceu, mas observou, implacável: "Não
sei quem seja. Todavia, podem entrar. Tenho
serviços nos mistérios e não posso ouvi-los
agora. Amanhã, porém, ao anoitecer, serão
levados aos setores de seleção, antes de
admitidos ao meu serviço". O grupo foi
entregue, então, a um servidor de fisionomia
desagradável e conduzido a porão escuro.
(Cap. IV, pp. 62 a 64)
(Continua no próximo número.)