EDUARDO AUGUSTO
LOURENÇO
eduardoalourenco@hotmail.com
Americana, São
Paulo (Brasil)
A
inveja que mata
“Donde vêm as
guerras e
contendas entre
vós? Porventura
não vêm disto,
dos vossos
deleites, que
nos vossos
membros
guerreiam?
Cobiçais e nada
tendes; logo
matais.
Invejais, e não
podeis alcançar;
logo combateis e
fazeis guerras.
Nada tendes,
porque não
pedis.” (Tiago
4:1-2).
A inveja é um
sentimento que
leva ao invejoso
a idéia de que o
bem alheio é
considerado um
mal próprio. A
inveja provém de
olharmos o bem
do outro e ver
que não
possuímos,
formando um
sentimento de
inferioridade,
incapacidade,
deixando-nos
menores perante
o sucesso
alheio.
O coração que se
contamina com a
inveja vai se
tornando amargo,
inconformado,
revoltado com o
que não possui,
o que leva à
frustração,
travando uma
competição
paranóica com o
outro, a ponto
de chegar a
odiar e até
desejar o mal ao
invejado. O ser
invejoso não se
convence da
própria mazela,
a satisfação
dele é ver o
outro triste,
aniquilado,
arrasado e
amargurado com
as derrotas.
Infelizmente,
este estado de
consciência leva
o indivíduo à
depressão, ao
desânimo, a
perder o sentido
da vida, que
passa a ser
vista somente
pelo ângulo
daquilo que não
se tem, de modo
que o invejoso é
um eterno
descontente com
tudo e com
todos.
A inveja tem por
características
o desejo por
atributos,
posses, status,
habilidades de
outra pessoa.
Não é
necessariamente
associada a um
objeto: sua
característica
mais típica é a
comparação
desfavorável do
status de uma
pessoa em
relação à outra.
O ser em posse
da inveja vive
desconfiado,
como se
estivesse numa
espécie de
estimulante ou
droga que
penetra a
consciência,
mesmo que
venhamos a
imitar o
desenvolvimento
ou a capacidade
do outro, porque
achamos
positivo, caímos
na essência da
mesma que é a
comparação, e a
cada ato de
comparação nos
afastamos ou
aniquilamos a
nossa própria
realidade,
destruindo tudo
aquilo que
tínhamos formado
a nosso
respeito.
A inveja é como
uma árvore que
tem raízes e
frutos. A raiz
da inveja é a
vanglória, e
seus frutos são
a maledicência,
que consiste em
falar mal dos
outros e difamar
a vida alheia, e
a insatisfação
constante, pois
o invejoso acha
que a felicidade
está sempre “na
casa do vizinho”
e é, assim,
incapaz de se
satisfazer com
aquilo que tem.
Conforme São
Tomás de Aquino,
a inveja tem a
sua raiz no
orgulho. A
vanglória é o
desejo de se
destacar em
função do brilho
e não do bem em
si mesmo, do
sucesso ou o bem
alcançado, de
modo que o
sucesso passa a
ser a meta de
vida, a ponto de
se fazer
qualquer coisa
para alcançá-lo.
Não que o
sucesso seja
ruim, ele é bom,
mas não se pode
viver em função
dele, ou seja,
nossa felicidade
não está em
função do
sucesso ou dos
bens e, sim, em
função de nossa
comunhão com
Deus.
O grande Santo
Agostinho dizia
que “a inveja é
o pecado
diabólico por
excelência”. E
se referia a ela
como “o caruncho
da alma, que
tudo rói e reduz
a pó”. A inveja
é amiga daquele
que não suporta
a felicidade dos
outros, e que
não se conforma
em ver alguém
realizado,
melhor do que
ele mesmo. Fica
torcendo pelo
mal do outro e,
quando este
fracassa, diz no
seu interior:
“bem feito!”.
Vemos
acontecimentos
que ocorrem na
humanidade sobre
a inveja, a
história dos
irmãos Caim e
Abel, no qual
Caim matou o seu
irmão Abel por
inveja (Cf. Gen.
4). Também por
causa da inveja
os filhos do
patriarca Jacó
venderam o seu
filho caçula,
José, para os
mercadores do
Egito. Também
por causa da
inveja, vimos o
rei Saul odiar a
Davi e caçá-lo
como se fosse um
animal a ser
morto. (Cf. 1Sm
18,8;19,1.)
As escrituras
sagradas nos
relatam, por
causa da inveja,
a morte de
Jesus. O
evangelista São
Mateus deixa
claro: “Pilatos
dirigiu-se ao
povo reunido:
“Qual quereis
que eu vos
solte: Barrabás
ou Jesus, que se
chama Cristo?”
Ele sabia que
tinham entregado
Jesus por
inveja” (Mateus
27, 18).
Santo Agostinho
fala sobre a
gravidade da
inveja:
“Terrível mal da
alma, vírus da
mente e
fulminante
corrosivo do
coração, é
invejar os dons
de Deus que o
irmão possui,
sentir-se
desafortunado
por causa da
fortuna dos
outros,
atormentar-se
com o êxito dos
demais, cometer
um crime no
segredo do
coração,
entregando o
espírito e os
sentidos à
tortura da
ansiedade;
destroçar-se com
a própria
fúria!”
O apóstolo Paulo
de Tarso, em sua
carta a Tito,
dizia: “Porque
também nós
outrora éramos
insensatos,
rebeldes,
vivendo na
malícia e na
inveja”. Essa
embriaguez da
inveja consiste
justamente na
incapacidade de
perceber que
este sentimento
nos leva a uma
vida infeliz,
solitária e
amarga, por mais
que tenhamos
nunca teremos
tudo, ou seja,
sempre haverá
algo a que
invejar.
O psicólogo
Alfred Adler diz
que “A mais
grave
contradição é
que a pessoa que
mais sente a
inveja é
justamente
aquele tipo de
personalidade
que mais poderia
desfrutar o
prazer ou
sucesso pessoal,
deslocando sua
fonte de
satisfação e
crescimento para
o inferno de ter
de observar ou
medir o que o
outro obteve
primeiro. Neste
ponto podemos
afirmar que o
amor sempre
invejou qualquer
tipo de vício,
pois este último
possui uma
capacidade de
impregnação na
alma humana além
de qualquer
outro sentimento
positivo. É só
refletirmos para
o problema das
drogas ou da
violência, que
não demoraremos
a perceber a
veracidade de
tal conceito. Há
muito que não
sabemos o que
fazer com nosso
lado íntimo e
pessoal, sendo
inevitáveis os
desastres na
história de
nossa
afetividade.
Podemos até ser
treinados para a
convivência de
determinada
limitação
causada por
doença física;
mas as sequelas
psicológicas de
infelicidades
passadas são
tabus na
compreensão
total sobre o
que nos tornamos
após todas as
experiências
vividas”.
Segundo o
psiquiatra
suíço, Carl
Gustav Jung
(1875-1961),
todas as faces
escuras,
ameaçadoras e
indesejáveis da
personalidade
são chamadas de
sombra:
“Reconhecer e
aceitar seu lado
sombrio é o
primeiro passo
para ter
equilíbrio
emocional e
melhorar a
qualidade de
todas as
relações. A
sombra faz parte
de nosso
inconsciente e,
se não for
encarada,
dominará todas
as ações, nos
rouba a
tranquilidade
para aceitar os
ciclos da vida,
nos tira a
beleza, o ânimo
e, o pior de
tudo, a
capacidade de
amar, que é
justamente o
mais iluminado
dos
sentimentos”.
Sigmund Freud
diz que “A
inveja jamais
nos dará trégua
ou férias acerca
de uma
autoestima
precária que
conquistamos;
sendo uma
“espada
dilacerante” que
corta nossa alma
quando lembramos
dos grandes
desejos
irrealizados,
mas que nosso
“vizinho” talvez
os tenha obtido.
Temos um vício
quase que
perpétuo de
achar que o
fracasso apenas
é reservado para
nossa pessoa.
Isto se agrava
pela hipocrisia
social e pelo
fato das pessoas
a cada dia
estarem mais
treinadas na
arte da
dissimulação ou
disfarce de sua
real condição”.
Ninguém no mundo
filosófico
analisou sobre a
inveja melhor do
que o filósofo
Nietzsche,
colocando a
inveja como
categoria
descritiva.
Quando ele
comenta sobre o
“fraco”,
“escravo” ou
“doente”, antes
de estes
indivíduos serem
só ressentidos,
são invejosos,
corroídos com um
tacão no peito,
que o sangra dia
após noite: a
inveja.
Ele dizia que o
invejoso não
aparece. Ele se
esconde, é
sorrateiro,
resguardado pelo
seu nome que é
uma capa, pois
ninguém sabe
quem é ele. O
nome de alguém
que nada fez é
um nome que vale
como uma máscara
de ladrão. Pode
usar o nome, mas
o nome não diz
nada. É assim
que o invejoso,
o “fraco” de
Nietzsche, age
rotineiramente:
ele é como o
inseto, também
um exemplo
nietzschiano,
que muda de cor
para se parecer
com a paisagem.
A covardia e a
inveja são
irmãs.
Uma equipe de
cientistas
japoneses
conseguiu
identificar a
região do
cérebro que
controla o
sentimento de
inveja. A
descoberta
poderá ajudar os
profissionais da
área de saúde a
lidar melhor com
pessoas que
sofrem do
problema.
“A inveja pode
levar uma pessoa
a praticar um
ato destrutivo e
até criminoso,
para conseguir o
que deseja”,
disse Hidehiko
Takahashi, 37
anos,
pesquisador-chefe
do Departamento
de Neuroimagem
Molecular do
Instituto
Nacional de
Ciência
Radiológica. A
pesquisa, que
durou um ano e
meio, estudou o
comportamento de
19 pessoas em
boas condições
de saúde.
Durante os
experimentos,
eles tiveram os
cérebros
monitorados por
aparelhos de
ressonância
magnética.
Explicou
Takahashi:
“Antes de
monitorarmos as
atividades
cerebrais,
pedíamos aos
participantes
para se
imaginarem
integralmente
nas situações
descritas, como
se fossem reais
e estivessem
acontecendo com
eles”. Disse
Takahashi que as
pessoas eram
induzidas a
imaginar um
cenário que
envolvia outras
três
personagens,
duas delas
seriam
hipoteticamente
mais capazes e
inteligentes do
que os
voluntários da
pesquisa. Quando
os voluntários
sentiam inveja,
a parte do
córtex dorsal
anterior do
cérebro era
ativada.
“Pessoas muito
invejosas tendem
a ter uma grande
atividade nessa
região do
cérebro, que é
responsável pela
dor física e
também é
associada à dor
mental”, contou
o pesquisador.
Segundo os
especialistas,
isto indica que
as pessoas
invejosas sentem
mais prazer com
a desgraça
alheia. O
resultado da
pesquisa foi
publicado na
última edição do
American Journal
of Science.
Por isso, diz o
iluminado Buda:
Se julgarmos os
outros, isso
cria em nós
emoções
negativas como a
cólera, o ódio,
a inveja, e isso
entrava nossa
saúde física e
psíquica. A
agitação mental
causada por
nossos
julgamentos pode
mesmo nos fazer
perder o sono e
nos fazer viver,
sem cessar, sob
tensão.
Respeitar os
outros como eles
são é o que
existe de mais
salutar para
nosso corpo e
para nosso
espírito. É a
própria essência
do Mahayana:
“Considero todos
os seres vivos
mais preciosos
que as mais
preciosas
pérolas. Possa
eu por todo o
tempo cuidar
deles, e isso me
levará ao
objetivo”.