Sem sombras
Lucindo Filho
Junto ao sepulcro onde a
saudade chora
E onde o sonho das
lágrimas termina,
Abre-se a porta da
mansão divina
Entalhada em reflexos de
aurora.
Não mais a noite; vive
em tudo, agora,
A beleza profunda e
peregrina,
Envolvida na luz
esmeraldina
Da esperança que vibra e
resplendora.
Sem as sombras das lutas
desumanas,
A alma vitoriosa entoa
hosanas,
Ébria de paz e de
imortalidade.
Não lamenteis quem parta
ao fim do dia,
Que a sepultura em cinza
escura e fria
É a nova porta para a
eternidade.
Lucindo Filho nasceu em
Minas Gerais em 16 de
agosto de 1847 e faleceu
em Vassouras (RJ) em 10
de junho de 1896.
Médico, jornalista,
compositor musicista e
tradutor renomado, foi
também latinista de
prol. O soneto acima,
que consta do livro
Parnaso de Além-Túmulo,
foi psicografado por
Francisco Cândido Xavier
no curso de uma reunião
familiar em que se não
cogitava de assuntos
espíritas. Ninguém ali o
conhecera nem dele se
lembraria, exceto uma
senhora que, em menina,
lhe assistira aos
funerais em Vassouras,
onde ele tem precioso
jazigo, oferecido pela
população local.