O assunto pode
trazer
desconforto para
alguns. Mas não
será por essa
razão que
deixaremos de
trazer à baila o
debate.
Temos percebido
no meio
espírita,
notadamente em
Juiz de Fora,
cidade onde
realizamos
nossos
trabalhos, o
resgate de um
contato mais
próximo a Deus.
Em verdade,
temos notado a
vontade de se
recuperar a
intimidade com o
Criador. A
extrema
racionalidade
que tem marcado
os estudos,
palestras e
exposições
referentes à
Doutrina
Espírita, vem
cedendo espaço
para o
sentimento, a
sensibilidade, a
emoção, que
também são
conquistas do
espírito humano.
Há muito pouco
tempo,
escutávamos
algumas pessoas
se colocarem
distantes de
Deus, chegando a
dizer, para si e
para os outros,
que não oravam
ao Pai Celeste,
mas aos
Espíritos
Superiores,
porque estes sim
atenderiam à
oração, visto
estarem mais
perto delas.
Cada um pode
pensar o que
quiser,
entretanto cabe
um
esclarecimento
evangélico-doutrinário
sobre a
intimidade do
homem com Deus.
No capítulo II
do livro A
Gênese,
Allan Kardec
discorre sobre
Deus: Sua
natureza, a
Providência e a
Sua visão. Nada
mais natural o
Codificador
iniciar seu
estudo sobre a
origem das
coisas com a
Causa Incausada.
Assim como em
O Livro dos
Espíritos,
Kardec
dedica-se, em
primeiro lugar,
ao conhecimento
da “causa
primária de
todas as
coisas”. Entre
outras belezas
do raciocínio
kardequiano,
encontramos a
seguinte
passagem, que é
útil para a
nossa proposta:
Achamo-nos
então,
constantemente,
em presença da
Divindade;
nenhuma das
nossas ações lhe
podemos subtrair
ao olhar; o
nosso pensamento
está em contacto
ininterrupto com
o seu
pensamento,
havendo, pois,
razão para
dizer-se que
Deus vê os mais
profundos
refolhos do
nosso coração.
(1)
Se estamos
sempre na
presença de
Deus, Ele nos vê
e nos ouve em
todos os
momentos. Nossos
pensamentos
estão em contato
ininterrupto; o
diálogo da
criatura com o
Criador é
constante.
Um membro se
agita: o
Espírito o
sente; uma
criatura pensa:
Deus o sabe.
(...) As
diferentes
criações, as
diferentes
criaturas se
agitam, pensam,
agem
diversamente:
Deus sabe o que
se passa e
assina a cada um
o que lhe diz
respeito. (2)
Podemos ver,
então, que o
contato com Deus
ocorre sem
cessar;
queiramos ou
não, o Pai do
Céu percebe
nossa
existência,
ouve-nos e pode
falar conosco. O
amor de Deus não
é barrado pela
visão turva do
Espírito que se
acha pequeno
demais, nem pelo
mal que a
criatura possa
fazer.
Sendo Deus a
essência divina
por excelência,
unicamente os
Espíritos que
atingiram o mais
alto grau de
desmaterialização
o podem
perceber. Pelo
fato de não o
verem, não se
segue que os
Espíritos
imperfeitos
estejam mais
distantes dele
do que os
outros; esses
Espíritos, como
os demais, como
todos os seres
da Natureza, se
encontram
mergulhados no
fluido divino,
do mesmo modo
que nós o
estamos na luz.
O que há é que
as imperfeições
daqueles
Espíritos são
vapores que os
impedem de
vê-lo. Quando o
nevoeiro se
dissipar,
vê-lo-ão
resplandecer.
Para isso, não
lhes é preciso
subir, nem
procurá-lo nas
profundezas do
infinito.
Desimpedida a
visão espiritual
das belidas que
a obscureciam,
eles o verão de
todo lugar onde
se achem, mesmo
da Terra,
porquanto Deus
está em toda
parte. (3)
Sabemos, agora,
que Deus nos vê
em qualquer
lugar em que
estivermos. Se
como Jesus
disse, e Kardec
lembrou, nós
estamos Nele
como Ele está em
nós, o que
fazer, então,
para termos
intimidade com o
Pai?
Tiago, apóstolo
de Jesus, em sua
única epístola
que a nós
chegou, nos dá a
indicação:
Chegai-vos a
Deus, e ele se
chegará a vós
outros.
Purificai as
mãos, pecadores;
e vós que sois
de ânimo dobre,
limpai o
coração. (4)
Como Tiago é
feliz nessa
orientação!
Chegar a Deus,
purificar as
mãos e limpar o
coração.
Maravilha de
ensinamento!
Entretanto, como
ainda somos
tardios em
aprender os
ensinos divinos
(5), precisamos
reprisar a
lição. Assim, a
Doutrina
Espírita vem nos
indicar a
direção do
encontro com
Deus, da
intimidade do
filho com o
Pai.
O Espiritismo,
como não pode
dizer nada
contrário ao que
o Cristo veio
nos ensinar,
também fornece a
bússola para
irmos ao
encontro de
Deus. Em O
Livro dos
Espíritos,
na Lei de
Adoração, os
Mandatários dos
Céus nos
informam o
seguinte.
Em que consiste
a adoração?
“Na elevação do
pensamento a
Deus. Deste,
pela adoração,
aproxima o homem
sua alma.” (6)
Tem Deus
preferência
pelos que O
adoram desta ou
daquela
maneira?
“Deus prefere os
que O adoram do
fundo do
coração, com
sinceridade,
fazendo o bem e
evitando o mal,
aos que julgam
honrá-Lo com
cerimônias que
os não tornam
melhores para
com os seus
semelhantes.
Todos os homens
são irmãos e
filhos de Deus.
Ele atrai a Si
todos os que lhe
obedecem às
leis, qualquer
que seja a forma
sob que as
exprimam. (...)”
(7)
Qual o caráter
geral da prece?
“A prece é um
ato de adoração.
Orar a Deus é
pensar Nele; é
aproximar-se
Dele; é pôr-se
em comunicação
com Ele. A três
coisas podemos
propor-nos por
meio da prece:
louvar, pedir,
agradecer.” (8)
Como se percebe,
Deus está
disponível para
nós. Cabe,
então, buscarmos
essa intimidade
com Ele.
Procurar, pedir,
bater para que
encontremos,
obtenhamos, se
abra para nós a
porta que nos
faz conhecer o
Pai.
Dessa forma,
concluímos que
neste exato
momento podemos
orar e ouvir
Deus. Devemos,
pois, buscar
essa vida íntima
com o Pai,
através da prece
e das boas
obras, porque
somos filhos
Dele, fruto do
Seu amor.
Tomara que
consigamos, aos
poucos, mediante
a fé, a oração,
as obras e a
pureza de
coração,
conseguidas
dia-a-dia por
meio de nossos
esforços e nossa
transformação
moral, poder
dizer como o
bíblico Jó pôde
dizer ao Senhor:
“Eu te conhecia
só de ouvir, mas
agora os meus
olhos te veem”
(9).
Referências:
(1) A Gênese,
capítulo II,
item 24.
(2) A Gênese,
capítulo II,
item 27.
(3) A Gênese,
capítulo II,
item 35.
(4) Tiago,
capítulo 4,
versículo 8.
(5) “A esse
respeito temos
muitas coisas
que dizer e
difíceis de
explicar,
porquanto vos
tendes tornado
tardios em
ouvir. Pois, com
efeito, quando
devíeis ser
mestres,
atendendo ao
tempo decorrido,
tendes,
novamente,
necessidade de
alguém que vos
ensine, de novo,
quais são os
princípios
elementares dos
oráculos de
Deus; assim, vos
tornastes como
necessitados de
leite e não de
alimento
sólido”.
Hebreus,
capítulo 5,
versículos 11 e
12.
(6) O Livro
dos Espíritos,
questão 649.
(7) O Livro
dos Espíritos,
questão 654.
(8) O Livro
dos Espíritos,
questão 659.
(9) O Livro
dos Espíritos,
questão 659.