EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Esse vazio:
falta de poesia?
Fixar-se no
estado prosaico
da vida pode
representar vir
a perdê-la, pois
as necessidades
materiais,
circunscritas ao
domínio da
sobrevivência,
não têm sintonia
com as
espirituais ou,
mais sutilmente,
a satisfação do
bem-estar
exterior pode
depender de um
mal-estar
íntimo, fazendo
brotar um vazio
profundo, que
reivindica a
necessidade de
colocar em
harmonia o
Espírito e o
corpo.
Nosso profundo
vazio não seria,
então, uma falta
de poesia?
Sabemos que as
atividades
racionais da
mente são
acompanhadas por
cargas afetivas,
porquanto o ser
humano comporta
razão e
sentimento.
Seria adequado,
então, não
integrar, em
benefício do
exercício da
razão, a
dimensão poética
da vida?
Para viver bem,
podemos, sim,
avocar a
dialógica
razão-sentimento.
Assumir-se como
pessoa complexa
sugere cuidar da
dimensão da
prosa, que guia
a utilidade dos
bens e do
trabalho, mas
não apenas isso.
Uma vida
comprometida com
a completude, e
não com o vazio,
pede que
incorporemos a
dimensão
poética, que se
alimenta do
entusiasmo nos
encontros (com
nós mesmos, com
o outro e com a
natureza), que,
por si mesma,
abre trilhas
para as
experiências dos
sonhos e do
êxtase, pois
tecida pelas
qualidades
estéticas do bem
e do belo.
O estado poético
contém a
experiência do
inusitado,
aceita o
mistério do
mundo. É
suscetível à
transparência da
regeneração,
colhida após a
travessia de um
sofrimento; é
iluminado pelo
espanto que
nasce diante de
uma nova
instrução
aplicada à
mesmice das
coisas,
modificando-a...
O estado
prosaico é
necessário à
perspectiva da
vida material.
Contudo, evitar
o estado poético
desemboca na
biografia
daquele homem,
extremamente
rígido, que se
mantém fechado
numa casa como
se fosse velho e
decrépito,
esquecido dos
jardins e das
árvores
renovadas pelas
chuvas de
verão.
Talvez a
circunscrição ao
estado prosaico
esteja ainda
dirigida pela
visão
geocêntrica,
pois a
disposição para
a poesia reclama
a visão
heliocêntrica,
que retira o
homem do centro,
pois, sem
dúvida, o centro
está onde está o
olhar... O
estado poético
imuniza o ser
humano das
normoses do dia
e das fugazes
contrariedades
do momento e o
leva para a
dimensão dos
valores eternos,
que dizem
respeito ao
centro de sua
vida.
A dimensão
poética, como a
reencarnação,
sugere que somos
mais do que
pensamos e, por
isso, para viver
sem o risco da
estada longa no
vazio, podemos
integralizar a
prosa e a
poesia, capazes
de nos levar ao
pouso da alma:
“aquele lugar
onde o mundo
interior e o
exterior se
encontram”
(Novalis).