LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Ricos e pobres
É errôneo imaginar ou
afirmar que o Reino dos
Céus não receberá os
ricos. É pretender
colocar riqueza e
felicidade em situação
de antagonismo.
Quem assim pensa e diz
cita o próprio Mestre
para justificar essa
atitude, fazendo crer
que só os pobres em bens
materiais terão direito
a felicidade plena.
Baseiam-se no
ensinamento evangélico
de que “é mais fácil
um camelo passar pelo
buraco de uma agulha do
que um rico entrar no
Reino de Deus”.
Maior engano é
impossível se
observarmos que:
1. existem ricos de
dinheiro e tão ricos de
usura que se fazem mais
pobres que os mendigos
famintos da rua.
2. existem ricos de
tempo e tão ricos de
preguiça que se fazem
mais pobres que os
escravizados às tarefas
de sacrifício.
3. existem ricos de
afeto e tão ricos em
ciúme, que se fazem mais
pobres que os
companheiros abandonados
à solidão.
Jesus nunca condenou a
riqueza, a posse de bens
materiais, sobretudo
porque é ela que promove
o progresso sobre o
planeta.
Fica claro que é dada,
somente, uma
interpretação do que está
escrito como tal e não
da essência das palavras
benditas. Referia-se o
Mestre aos sentimentos
do orgulho, do egoísmo,
da sensualidade e de
tantos outros que nos
tornam ricos em
imperfeições e vícios
dos mais diferentes
quilates.
Os pobres, aos quais se
refere, são os pobres em
orgulho, em egoísmo, ou
seja, em tudo aquilo que
excita os sentimentos
desenfreados do ser
humano.
Expressões como “eu
tenho”, “isto é meu”
povoam nossas palavras e
de tal maneira que não
conseguimos pensar
diferente. Acreditamos,
realmente, que tudo o
que está ao nosso redor,
pessoas ou bens, são de
nossa propriedade.
Vamos refletir um pouco
sobre isso: se isto ou
aquilo me pertence,
significa que posso
levar para onde for. No
meu pensamento, tudo que
amealhamos nos pertence.
Será que temos razão em
pensar assim? Vejamos:
Ao nascer, nada trazemos
de material e
encontramos algumas
coisas. Ao partir deste
mundo, deixamos outras.
Durante o tempo em que
aqui permanecemos,
usufruímos desses bens.
Então, se nada trazemos
e nada levamos, podemos
dizer que,
verdadeiramente, nada
temos, pois não podemos
carregar conosco ao
deixarmos o corpo
físico.
Vamos nos imaginar
precisando viajar para
outro país com um clima
diferente do nosso. Na
bagagem levaremos, sem
dúvida, aquilo que for
útil nesse lugar. Assim,
também, quando
ingressamos no mundo
espiritual só podemos
levar o que nos for útil
lá.
Então, pensando na vida
futura, na vida do
Espírito, podemos nos
perguntar: O que devo
levar? A resposta
virá imediatamente:
“nada que seja material,
nada que se destine ao
uso do corpo, mas, sim,
o que se refere à alma”.
E o que se refere à
alma?
Podemos dizer que é a
inteligência, a
aquisição de
conhecimento – que
ajudam o homem a
promover mais riqueza e
mais progresso para si e
para os que o cercam –, o
desenvolvimento das
qualidades morais. Tudo
isso representa a nossa
verdadeira propriedade,
pois mesmo durante a
experiência planetária,
podemos perder os bens
materiais que
amealhamos.
Quantos de nós conhecem
casos em que famílias
tiveram seus bens
escorregando-lhes pelos
dedos, julgando que os
possuíam e
vangloriando-se disso.
Esses desastres
financeiros só vêm
reforçar uma verdade:
nada possuímos de nosso,
pois os bens que
julgamos ter são-nos
dados para serem
gerenciados por nós.
Sempre que essa verdade
é colocada, alguém
pergunta: E o homem
que trabalhou dura e
honestamente para
conquistar seus bens,
eles não lhes pertence?
Certamente que sim.
Deus quis recompensá-lo,
ainda durante a
existência, pelo
esforço, coragem e
perseverança. Mas, se
ele não a empregou bem,
pensando apenas em si,
satisfazendo seu orgulho
e seu egoísmo, o que
ganhou de um lado,
perdeu de outro,
anulando, assim, seu
mérito.
Quando chegarmos ao
Mundo dos Espíritos,
ninguém quererá saber
qual posição ocupávamos,
que nome ilustre
usávamos, quais eram
nossas posses.
Perguntar-nos-ão o que
trazemos em virtudes, em
trabalho no bem e em
qualidades do coração.
Porque essas são as
verdadeiras riquezas.
Aquelas às quais Jesus
nos conclama a possuir;
aquelas que a ferrugem
não corrói e ninguém nos
rouba. A verdadeira
propriedade.
Lembremo-nos que todos
somos ricos em alguma
coisa, e que usando
esses talentos que a
vida nos confiou na
tarefa de fazermos mais
felizes aqueles que nos
rodeiam, chegará o
momento – nas palavras
de Emmanuel – em que nos
surpreenderemos mais
ricos que todos os ricos
da Terra, porque teremos
entesourado no próprio
coração, a eterna
felicidade que verte do
amor de Deus.
Referências:
(1)
Emmanuel (Espírito) –
O Espírito da Verdade
– [psicografado por]
F.C.Xavier e Waldo
Vieira – FEB Editora –
Rio de Janeiro-RJ, 10.
ed., Lição 39, 1997.
(2) Kardec, Allan – O
Evangelho segundo o
Espiritismo – Cap.
XVI, itens 9 e 10.