CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Crônicas da vida
invisível 2
A personagem
desta segunda
crônica sou eu,
de forma que
este segundo
caso pode e
deve, sim, ser
tomado como um
testemunho.
Vivi, pouco
tempo atrás, dez
dias de um
pesadelo que
passei com meu
filho mais
velho, vitimado
pela forma mais
branda (graças a
Deus!) da infame
epidemia de
dengue que
continua
aterrorizando os
cariocas.
Dez dias de
terror. De
noites mal
dormidas. De
dias, manhãs e
noites durante
as quais se
contaram, no
mínimo, por
dia, cinco horas
de pé em
plantões de
pronto-socorro
infantil,
debaixo da
pressão
esmagadora da
aflição, do
indizível
martírio físico
e emocional, e
não apenas pelo
meu filho, mas
pelo próprio
fato de
presenciar tanto
– mas tanto! –
sofrimento de
mães e pais e de
suas crianças.
Pequenos
prostrados por
febres
escaldantes,
surtos de
náusea,
submetidos a
hemogramas
diários – e, a
cada um deles, a
torturante
expectativa
pelos seus
resultados. Mães
em desespero
mergulhadas em
lágrimas; pais
nervosos;
crianças em
cujos rostinhos
se retratam
tristeza
indescritível,
desconsolo,
mal-estar,
perplexidade
pela
compreensível
ausência de
entendimento das
razões pelas
quais estão
flageladas por
tanta agonia,
como se
participando de
horrendo
reality show
ou filme de
terror!
Em meio a tanta
agonia,
fragilizada como
todos os demais,
e por
conseguinte
solidária em
toda a imensa
carga de
aflição; e em
sendo espírita
convicta desde
os idos da
adolescência,
bem como
habituada a
manter com a
assistência do
invisível
contato
constante em
razão do
trabalho
literário
desenvolvido sob
as suas
diretrizes, me
pus, muito
naturalmente, a
atormentar a
Espiritualidade
em busca de
socorro. Afinal,
também sou mãe.
Humana. E também
me contorci de
angústia e de
desamparo, em
meio às lágrimas
amargas, a cada
resultado de
exame, a cada
vez que via no
meu filho,
sempre tão
alegre e bem
disposto, o
maltrato
impiedoso dos
sintomas da
virose.
Depois do sétimo
ou oitavo
hemograma, tive
as cordas
emocionais
afrouxadas, e
fraquejei.
Imersa em
lágrimas
incontidas, como
em bem-vinda
explosão de uma
válvula de
escape,
mentalizei funda
quanto sentida
prece ao enfim
baquear na cama
para o
desassossegado
repouso noturno.
Cobrei
(praticamente
exigi!) do meu
mentor
espiritual que
me presenteasse
com um sinal
qualquer da sua
presença e do
seu amparo, como
em tantas vezes
já fez no
passado. Um
alento que
fosse! Que se
fosse fato o
processo de
convalescença do
menino, que me
sinalizasse de
alguma forma
positiva que
oferecesse algum
reconforto após
tantos dias de
flagelação
emocional.
Pedia, destarte,
por mim e
também, de
entremeio, por
todas as
crianças –
lembrando-me do
intenso
sofrimento
coletivo
presenciado
naquela unidade
de atendimento
pediátrico do
bairro onde
moro. Esgotada
de forças
físicas e
emocionais,
adormeci, melhor
dizendo,
desmaiei, neste
estado de
profunda
mentalização
dirigida aos
mentores e aos
médicos do
espaço. E só fui
despertar na
manhã seguinte,
ainda
interiormente
exaurida, para
mais um dia de
maratona às
voltas com
hemogramas e com
filas de
atendimento
intermináveis.
Antes de sair
com meu filho,
resolvi de
repente que
deveria levar um
livro para
amenizar o
cansaço do tempo
de espera que se
faria extenso
quanto
exasperante,
como o fora
nestes muitos
dias, não
haveria nem
dúvidas. Afobada
com a hora, e já
totalmente
esquecida do
ardente apelo
espiritual
dirigido ao
mentor na noite
passada, passei
a mão a esmo num
volume qualquer
da minha
biblioteca
espírita
particular, cuja
quantidade de
livros já se
torna incontável
depois de todos
estes anos de
labor na área
espiritualista;
tomei da bolsa,
e saímos.
Chegamos ao
pronto-socorro,
abarrotado, como
era de se
esperar. Peguei
uma senha cuja
numeração já
ultrapassava de
muito os
setecentos
números, busquei
assento para o
meu filho. Eu
mesma me mantive
em pé após as
primeiras
providências, e
enfim me dispus
a esperar lendo
o livro que
trouxera, obra
da autoria de
Herculano Pires,
de conteúdo
interessantíssimo
sobre o tema da
reencarnação.
Abri a esmo. E
me tomei de
grato espanto!
Nem me lembraria
mais depois de
tanto tempo
daquele esboço
mediúnico, justo
o retrato em
miniatura do meu
mentor
espiritual,
recebido há pelo
menos três anos
atrás, e que
guardara no meio
das páginas
daquele livro!
Talvez custasse
a encontrá-lo de
novo, se não
escolhesse
aleatoriamente
aquela obra
específica para
ocupar o meu
tempo durante o
período de
espera por
atendimento. E,
de pronto,
compreendi a
resposta amorosa
deste Amigo
querido do mundo
maior que nunca,
nunca!,
em momentos de
grande aflição,
me deixou
desprovida deste
tipo de sinal
fraterno e
zeloso de sua
presença!
Com efeito,
aquele pequeno
retrato dizia:
Aí está! O
sinal que pediu,
mas não apenas
da minha
presença: da de
todos que,
daqui, do mundo
maior, estão não
apenas ao seu
lado, mas
amparando cada
mãe, pai ou
pequeno aflito
nesta fase de
intenso
sofrimento para
os habitantes
desta cidade!
Algum tempo
depois, com o
novo hemograma
em mãos, o
médico
plantonista
confirmava o
restabelecimento
do meu menino e
sua alta para a
próxima
quinta-feira.
É esta, pois, a
crônica da vida
invisível de
hoje, cujo
especial
conteúdo é
compartilhado
fraternalmente
com todos vocês,
por intermédio
deste
testemunho, na
intenção de se
confirmar que,
de fato, não nos
achamos sozinhos
nos nossos
momentos mais
difíceis! Há,
indubitavelmente,
um universo
repleto de vida
insuspeitada, e
muito maior, no
qual habitam
todos estes
incansáveis
seres amigos que
nos amam, nos
amparam e nos
encorajam,
zelando com
profunda ternura
e compaixão para
que não
esmoreçamos, e
para que não se
extinga nunca a
chama da
esperança nos
nossos corações!
Amor a todos!