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Estudando a série André Luiz
Ano 3 - N° 110 – 7 de Junho de 2009

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)  
 

Libertação

André Luiz

(Parte 21)

Damos continuidade ao estudo da obra Libertação, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1949 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. Em que consiste o lar segundo o ponto de vista espírita?

R.: De acordo com o que Gúbio disse ao pai de Margarida, o lar do mundo não é tão-somente um asilo de corpos que o tempo transformará. “É igualmente o ninho das almas, onde o espírito pode entender-se com o espírito, quando o sono sela os lábios de carne, suscetíveis de mentir.” Na sequência, o Instrutor acrescentou: "O homem encarnado na Terra é uma alma eterna usando um corpo perecível, alma que procede de milenários caminhos para a integração com a verdade divina, à maneira do seixo que desce, rolando nos séculos, do cimo do monte para o seio recôndito do mar".  "Somos, to­dos, atores do drama sublime da evolução universal, através do amor e da dor...” (Libertação, cap. XIII, pp. 169 e 170.) 

B. Que é que Gúbio disse ao magistrado e o fez ficar preocupado?

R.: Primeiro, ele informou-o de que, se não fosse a compaixão di­vina que lhe concedeu diversos auxiliares invisíveis, am­parando suas ações, por amor à Justiça, as vítimas dos seus erros involuntários não lhe permitiriam a permanência no cargo. “Teu palácio residen­cial mostra-se repleto de sombras”, acrescentou Gúbio. “Muitos homens e mulheres, dos que já sentenciaste em mais de vinte anos, nas lides do direito, arrebata­dos pela morte, não conseguiram seguir adiante, colados que se acham aos efeitos de tuas decisões e demoram-se em tua própria casa, aguar­dando-te explicações oportunas." (Obra citada, cap. XIII, pp. 170 a 172.) 

C. Que é que Gúbio lhe pediu a benefício de Jorge?

R.: Ele pediu ao juiz que facilitasse a revisão do processo para restituir Jorge à liberdade. Mas não apenas isso. "Não te circunscreverás à mencionada medida”, afirmou Gúbio. “Amparar-lhe-ás a filha, hoje internada por favor em tua casa, em estabelecimento condigno, onde possa receber a necessária educação." O magistrado alegou que ela não era sua filha. Gúbio replicou: "Não serias, entretanto, convocado por nós a semelhante encargo, se não pudesses recebê-lo. Crês, porém, que o dinheiro em disponibilidade deva satisfazer tão somente as exigências daqueles que se reuniram a nós, dentro dos laços consanguíneos? Liberta o coração, meu amigo! respira em mais alto clima. Aprende a semear amor no chão em que pi­sas. Quanto mais eminentemente colocada na experiência humana, mais intensivo pode tornar-se o esforço da criatura, na própria elevação". (Obra citada, cap. XIII, pp. 172 e 173.) 

Texto para leitura

86. Jorge vai ao encontro com o juiz - As dúvidas do juiz acerca do ob­jetivo da vida eram inúmeras e profundas. Ele não entendia por que lhe vinham as rugas do rosto, o branco dos cabelos, o enfraquecimento da visão, se a mocidade lhe vibrava na mente ansiosa por renovação. "Seria a morte simplesmente a noite sem alvorada? que misterioso poder dispunha, assim, da vida humana, conduzindo-a a objetivos inesperados e ocultos?"   – eis os pensamentos do pai de Margarida. André retirou a destra e notou que o magistrado tinha os olhos úmidos. Gúbio aproxi­mou-se e colocou-lhe as mãos sobre a fronte, para prepará-lo espiri­tualmente com vistas a uma conversação próxima, dirigindo-lhe a intuição para as reminiscências do processo em que Jorge fora implicado. Daí a instantes, os olhos do juiz exibiam modificada expressão. Pare­ciam contemplar cenas distanciadas, com indizível tortura. Mostravam-se angustiados, doridos... Ele, com efeito, pensava no processo de Jorge, mas não compreendia por que assim o fazia. Afinal, muitos anos haviam transcorrido desde o crime obscuro. Via Jorge, mentalmente, es­quecido no abismo da inconsciência e ouvia suas palavras veementes, afirmando inocência. Lembrou que o sentenciado perdera a assistência dos melhores amigos e que a própria esposa suicidara-se em pleno de­sespero. Nesse comenos, Gúbio pediu a Elói e André trouxessem até ali o Espírito de Jorge, desprendido do corpo físico, enquanto prepa­raria o magistrado para o desligamento parcial do seu corpo, através do sono. Em seu quarto no hospício, Jorge estava semidesligado do corpo físico, mas em grande prostração. André ministrou-lhe recursos fluídicos reparadores e, com o auxílio de Elói, levou-o até a residên­cia do juiz, onde, a essa altura, o dono da casa e a neta de Saldanha já se encontravam ao lado de Gúbio. (Cap. XIII, pp. 167 e 168) 

87. O encontro - O Instrutor recebeu Jorge com desvelado carinho e, unindo os três, como se os identificasse a uma corrente magnética de forte expressão, emprestou-lhes forças à mente, por intermédio de operações fluídicas, para que o ouvissem acordados, em espírito, tanto quanto possível. O despertamento não foi análogo para os três. O juiz era mais lúcido devido à agilidade dos raciocínios; a jovem Lia colo­cava-se em segundo lugar pelas singulares qualidades de inteligência; Jorge situava-se em posição inferior, em face do esgotamento em que se encontrava. Vendo-se à frente do antigo réu e da filha, o juiz pergun­tou a esmo, dominado por grande espanto: "Onde estamos? onde estamos?" Ninguém lhe respondeu, mas Gúbio orava em silêncio. Quando, então, formosa luz se lhe irradiou do tórax e do cérebro, dando a entender que o sentimento e a razão se achavam nele irmanados em claridade ce­leste, exclamou para o assombrado interlocutor, tocando-lhe os ombros: "Juiz, o lar do mundo não é tão somente um asilo de corpos que o tempo transformará. É igualmente o ninho das almas, onde o espírito pode entender-se com o espírito, quando o sono sela os lábios de carne, suscetíveis de mentir. Congregamo-nos em teu próprio abrigo para uma audiência com a realidade". O magistrado escutava, perplexo, e Gúbio continuou: "O homem encarnado na Terra é uma alma eterna usando um corpo perecível, alma que procede de milenários caminhos para a integração com a verdade divina, à maneira do seixo que desce, rolando nos séculos, do cimo do monte para o seio recôndito do mar".  "Somos, to­dos, atores do drama sublime da evolução universal, através do amor e da dor... Indébita é a nossa interferência nos destinos uns dos ou­tros, quando nossos pés trilham retos caminhos. Todavia, se nos des­viamos da rota adequada, é razoável o apelo do amor para que a dor di­minua." O magistrado, associando as palavras de Gúbio à presença de Jorge, inquiriu, aflito: "Apelam, porventura, em favor deste conde­nado?" "Sim", respondeu Gúbio. "Não acreditas que esta vítima aparente de inconfessável erro judiciário já tenha esgotado o cálice do martí­rio oculto?" O magistrado alegou, porém, que o caso de Jorge já estava liquidado e que o julgamento fora realizado com base nos laudos peri­ciais e no depoimento de testemunhas. Não seria possível, agora, acei­tar intromissões, sem argumentação ponderosa e cabível. (Cap. XIII, pp. 169 e 170) 

88. As advertências ao magistrado - Gúbio disse ao juiz que compreendia sua negativa. Os fluidos carnais tecem um véu pesado demais para ser rompido facilmente pelos que não se afeiçoaram, ainda, ao contacto da espiritualidade superior. O Instrutor reportou-se a Jorge, que perdera tudo quanto possuíra, para resgatar os erros de um passado distante, mas mostrou ao magistrado que os títulos conferidos pela convenção hu­mana são precários e transitórios. Teria ele sempre agido com impar­cialidade, no desempenho de suas funções de juiz? Lembrou-lhe então que todos nós muita vez colocamos o desejo acima do dever e o capricho a cavaleiro dos princípios redentores que nos compete observar. Em quantas ocasiões ele, como juiz, se curvara aos interesses da política dominante? Em quantos processos ele permitira que os seus sentimentos se turvassem no personalismo delinquente? O magistrado ficou infinita­mente confundido com as palavras de Gúbio. Palidez cadavérica lhe co­briu o semblante, sobre o qual grossas lágrimas principiaram a correr. "Juiz -- continuou Gúbio, em voz firme --, não fosse a compaixão di­vina que te concede ao ministério diversos auxiliares invisíveis, am­parando-te as ações, por amor à Justiça que representas, e as vítimas dos teus erros involuntários e das paixões obcecantes daqueles que te cercam não te permitiriam a permanência no cargo. Teu palácio residen­cial mostra-se repleto de sombras. Muitos homens e mulheres, dos que já sentenciaste em mais de vinte anos, nas lides do direito, arrebata­dos pela morte, não conseguiram seguir adiante, colados que se acham aos efeitos de tuas decisões e demoram-se em tua própria casa, aguar­dando-te explicações oportunas". "Missionário da lei, sem hábitos de prece e meditação, únicos recursos através dos quais poderias abreviar o trabalho de esclarecimento que te assiste, grandes surpresas te re­serva o transe final do corpo." (Cap. XIII,  pp. 170 a 172) 

89. O Céu aprecia-nos a bondade e a virtude - Verificando-se pausa mais longa, o juiz exteriorizou nos olhos indefinível terror, caiu de joe­lhos e rogou: "Benfeitor ou vingador, ensina-me o caminho! que devo fazer a benefício do condenado?" Gúbio respondeu-lhe: "Facilitarás a revisão do processo e restituí-lo-ás à liberdade". "Ele é, então, ino­cente?", indagou o magistrado. "Ninguém sofre sem necessidade à frente da Justiça Celeste e tão grande harmonia rege o Universo que os nossos próprios males se transubstanciam em bênçãos. Explicaremos tudo", es­clareceu Gúbio, que acrescentou: "Não te circunscreverás à mencionada medida. Amparar-lhe-ás a filha, hoje internada por favor em tua casa, em estabelecimento condigno, onde possa receber a necessária educação". O magistrado alegou que ela não era sua filha. Gúbio replicou: "Não serias, entretanto, convocado por nós a semelhante encargo, se não pudesses recebê-lo. Crês, porém, que o dinheiro em disponibilidade deva satisfazer tão somente as exigências daqueles que se reuniram a nós, dentro dos laços consanguíneos? Liberta o coração, meu amigo! respira em mais alto clima. Aprende a semear amor no chão em que pi­sas. Quanto mais eminentemente colocada na experiência humana, mais intensivo pode tornar-se o esforço da criatura, na própria elevação". Gúbio disse-lhe, então, que, se na Terra a justiça abre tribunais para exa­minar o crime em seus variados aspectos, no Céu a Harmonia descerra santuários, apreciando-nos a bondade e a virtude, consagrando-se à exaltação do bem, na totalidade dos seus ângulos divinos. Por fim, re­comendou: "Enquanto é tempo, faze de Jorge um amigo e da filha dele uma companheira de luta que te afague, um dia, os cabelos brancos e te ofereça, mais tarde, a luz da prece, quando teu espírito for compelido a transpor o escuro portal do túmulo". (Cap. XIII, pp. 172 e 173)(Continua no próximo número.)   



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita