MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(Parte
21)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Libertação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1949 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Em que consiste o lar
segundo o ponto de vista
espírita?
R.: De acordo com o que
Gúbio disse ao pai de
Margarida, o lar do
mundo não é tão-somente
um asilo de corpos que o
tempo transformará. “É
igualmente o ninho das
almas, onde o espírito
pode entender-se com o
espírito, quando o sono
sela os lábios de carne,
suscetíveis de mentir.”
Na sequência, o
Instrutor acrescentou:
"O homem encarnado na
Terra é uma alma eterna
usando um corpo
perecível, alma que
procede de milenários
caminhos para a
integração com a verdade
divina, à maneira do
seixo que desce, rolando
nos séculos, do cimo do
monte para o seio
recôndito do mar".
"Somos, todos, atores
do drama sublime da
evolução universal,
através do amor e da
dor...” (Libertação,
cap. XIII, pp. 169 e
170.)
B. Que é que Gúbio disse
ao magistrado e o fez
ficar preocupado?
R.: Primeiro, ele
informou-o de que, se
não fosse a compaixão
divina que lhe concedeu
diversos auxiliares
invisíveis, amparando
suas ações, por amor à
Justiça, as vítimas dos
seus erros involuntários
não lhe permitiriam a
permanência no cargo.
“Teu palácio
residencial mostra-se
repleto de sombras”,
acrescentou Gúbio.
“Muitos homens e
mulheres, dos que já
sentenciaste em mais de
vinte anos, nas lides do
direito, arrebatados
pela morte, não
conseguiram seguir
adiante, colados que se
acham aos efeitos de
tuas decisões e
demoram-se em tua
própria casa,
aguardando-te
explicações oportunas."
(Obra citada, cap.
XIII, pp. 170 a 172.)
C. Que é que Gúbio lhe
pediu a benefício de
Jorge?
R.: Ele pediu ao juiz
que facilitasse a
revisão do processo para
restituir Jorge à
liberdade. Mas não
apenas isso. "Não te
circunscreverás à
mencionada medida”,
afirmou Gúbio.
“Amparar-lhe-ás a filha,
hoje internada por favor
em tua casa, em
estabelecimento
condigno, onde possa
receber a necessária
educação." O magistrado
alegou que ela não era
sua filha. Gúbio
replicou: "Não serias,
entretanto, convocado
por nós a semelhante
encargo, se não pudesses
recebê-lo. Crês, porém,
que o dinheiro em
disponibilidade deva
satisfazer tão somente
as exigências daqueles
que se reuniram a nós,
dentro dos laços
consanguíneos? Liberta o
coração, meu amigo!
respira em mais alto
clima. Aprende a semear
amor no chão em que
pisas. Quanto mais
eminentemente colocada
na experiência humana,
mais intensivo pode
tornar-se o esforço da
criatura, na própria
elevação". (Obra
citada, cap. XIII, pp.
172 e 173.)
Texto
para leitura
86. Jorge vai ao
encontro com o juiz
- As dúvidas do juiz
acerca do objetivo da
vida eram inúmeras e
profundas. Ele não
entendia por que lhe
vinham as rugas do
rosto, o branco dos
cabelos, o
enfraquecimento da
visão, se a mocidade lhe
vibrava na mente ansiosa
por renovação. "Seria a
morte simplesmente a
noite sem alvorada? que
misterioso poder
dispunha, assim, da vida
humana, conduzindo-a a
objetivos inesperados e
ocultos?" – eis os
pensamentos do pai de
Margarida. André retirou
a destra e notou que o
magistrado tinha os
olhos úmidos. Gúbio
aproximou-se e
colocou-lhe as mãos
sobre a fronte, para
prepará-lo
espiritualmente com
vistas a uma conversação
próxima, dirigindo-lhe a
intuição para as
reminiscências do
processo em que Jorge
fora implicado. Daí a
instantes, os olhos do
juiz exibiam modificada
expressão. Pareciam
contemplar cenas
distanciadas, com
indizível tortura.
Mostravam-se
angustiados, doridos...
Ele, com efeito, pensava
no processo de Jorge,
mas não compreendia por
que assim o fazia.
Afinal, muitos anos
haviam transcorrido
desde o crime obscuro.
Via Jorge, mentalmente,
esquecido no abismo da
inconsciência e ouvia
suas palavras veementes,
afirmando inocência.
Lembrou que o
sentenciado perdera a
assistência dos melhores
amigos e que a própria
esposa suicidara-se em
pleno desespero. Nesse
comenos, Gúbio pediu a
Elói e André trouxessem
até ali o Espírito de
Jorge, desprendido do
corpo físico, enquanto
prepararia o magistrado
para o desligamento
parcial do seu corpo,
através do sono. Em seu
quarto no hospício,
Jorge estava
semidesligado do corpo
físico, mas em grande
prostração. André
ministrou-lhe recursos
fluídicos reparadores e,
com o auxílio de Elói,
levou-o até a
residência do juiz,
onde, a essa altura, o
dono da casa e a neta de
Saldanha já se
encontravam ao lado de
Gúbio. (Cap. XIII, pp.
167 e 168)
87. O encontro
- O Instrutor recebeu
Jorge com desvelado
carinho e, unindo os
três, como se os
identificasse a uma
corrente magnética de
forte expressão,
emprestou-lhes forças à
mente, por intermédio de
operações fluídicas,
para que o ouvissem
acordados, em espírito,
tanto quanto possível. O
despertamento não foi
análogo para os três. O
juiz era mais lúcido
devido à agilidade dos
raciocínios; a jovem Lia
colocava-se em segundo
lugar pelas singulares
qualidades de
inteligência; Jorge
situava-se em posição
inferior, em face do
esgotamento em que se
encontrava. Vendo-se à
frente do antigo réu e
da filha, o juiz
perguntou a esmo,
dominado por grande
espanto: "Onde estamos?
onde estamos?" Ninguém
lhe respondeu, mas Gúbio
orava em silêncio.
Quando, então, formosa
luz se lhe irradiou do
tórax e do cérebro,
dando a entender que o
sentimento e a razão se
achavam nele irmanados
em claridade celeste,
exclamou para o
assombrado interlocutor,
tocando-lhe os ombros:
"Juiz, o lar do mundo
não é tão somente um
asilo de corpos que o
tempo transformará. É
igualmente o ninho das
almas, onde o espírito
pode entender-se com o
espírito, quando o sono
sela os lábios de carne,
suscetíveis de mentir.
Congregamo-nos em teu
próprio abrigo para uma
audiência com a
realidade". O magistrado
escutava, perplexo, e
Gúbio continuou: "O
homem encarnado na Terra
é uma alma eterna usando
um corpo perecível, alma
que procede de
milenários caminhos para
a integração com a
verdade divina, à
maneira do seixo que
desce, rolando nos
séculos, do cimo do
monte para o seio
recôndito do mar".
"Somos, todos, atores
do drama sublime da
evolução universal,
através do amor e da
dor... Indébita é a
nossa interferência nos
destinos uns dos
outros, quando nossos
pés trilham retos
caminhos. Todavia, se
nos desviamos da rota
adequada, é razoável o
apelo do amor para que a
dor diminua." O
magistrado, associando
as palavras de Gúbio à
presença de Jorge,
inquiriu, aflito:
"Apelam, porventura, em
favor deste condenado?"
"Sim", respondeu Gúbio.
"Não acreditas que esta
vítima aparente de
inconfessável erro
judiciário já tenha
esgotado o cálice do
martírio oculto?" O
magistrado alegou,
porém, que o caso de
Jorge já estava
liquidado e que o
julgamento fora
realizado com base nos
laudos periciais e no
depoimento de
testemunhas. Não seria
possível, agora,
aceitar intromissões,
sem argumentação
ponderosa e cabível.
(Cap. XIII, pp. 169 e
170)
88. As
advertências ao
magistrado -
Gúbio disse ao juiz que
compreendia sua
negativa. Os fluidos
carnais tecem um véu
pesado demais para ser
rompido facilmente pelos
que não se afeiçoaram,
ainda, ao contacto da
espiritualidade
superior. O Instrutor
reportou-se a Jorge, que
perdera tudo quanto
possuíra, para resgatar
os erros de um passado
distante, mas mostrou ao
magistrado que os
títulos conferidos pela
convenção humana são
precários e
transitórios. Teria ele
sempre agido com
imparcialidade, no
desempenho de suas
funções de juiz?
Lembrou-lhe então que
todos nós muita vez
colocamos o desejo acima
do dever e o capricho a
cavaleiro dos princípios
redentores que nos
compete observar. Em
quantas ocasiões ele,
como juiz, se curvara
aos interesses da
política dominante? Em
quantos processos ele
permitira que os seus
sentimentos se turvassem
no personalismo
delinquente? O
magistrado ficou
infinitamente
confundido com as
palavras de Gúbio.
Palidez cadavérica lhe
cobriu o semblante,
sobre o qual grossas
lágrimas principiaram a
correr. "Juiz --
continuou Gúbio, em voz
firme --, não fosse a
compaixão divina que te
concede ao ministério
diversos auxiliares
invisíveis,
amparando-te as ações,
por amor à Justiça que
representas, e as
vítimas dos teus erros
involuntários e das
paixões obcecantes
daqueles que te cercam
não te permitiriam a
permanência no cargo.
Teu palácio residencial
mostra-se repleto de
sombras. Muitos homens e
mulheres, dos que já
sentenciaste em mais de
vinte anos, nas lides do
direito, arrebatados
pela morte, não
conseguiram seguir
adiante, colados que se
acham aos efeitos de
tuas decisões e
demoram-se em tua
própria casa,
aguardando-te
explicações oportunas".
"Missionário da lei, sem
hábitos de prece e
meditação, únicos
recursos através dos
quais poderias abreviar
o trabalho de
esclarecimento que te
assiste, grandes
surpresas te reserva o
transe final do corpo."
(Cap. XIII, pp. 170 a
172)
89. O Céu
aprecia-nos a bondade e
a virtude -
Verificando-se pausa
mais longa, o juiz
exteriorizou nos olhos
indefinível terror, caiu
de joelhos e rogou:
"Benfeitor ou vingador,
ensina-me o caminho! que
devo fazer a benefício
do condenado?" Gúbio
respondeu-lhe:
"Facilitarás a revisão
do processo e
restituí-lo-ás à
liberdade". "Ele é,
então, inocente?",
indagou o magistrado.
"Ninguém sofre sem
necessidade à frente da
Justiça Celeste e tão
grande harmonia rege o
Universo que os nossos
próprios males se
transubstanciam em
bênçãos. Explicaremos
tudo", esclareceu
Gúbio, que acrescentou:
"Não te circunscreverás
à mencionada medida.
Amparar-lhe-ás a filha,
hoje internada por favor
em tua casa, em
estabelecimento
condigno, onde possa
receber a necessária
educação". O magistrado
alegou que ela não era
sua filha. Gúbio
replicou: "Não serias,
entretanto, convocado
por nós a semelhante
encargo, se não pudesses
recebê-lo. Crês, porém,
que o dinheiro em
disponibilidade deva
satisfazer tão somente
as exigências daqueles
que se reuniram a nós,
dentro dos laços
consanguíneos? Liberta o
coração, meu amigo!
respira em mais alto
clima. Aprende a semear
amor no chão em que
pisas. Quanto mais
eminentemente colocada
na experiência humana,
mais intensivo pode
tornar-se o esforço da
criatura, na própria
elevação". Gúbio
disse-lhe, então, que,
se na Terra a justiça
abre tribunais para
examinar o crime em
seus variados aspectos,
no Céu a Harmonia
descerra santuários,
apreciando-nos a bondade
e a virtude,
consagrando-se à
exaltação do bem, na
totalidade dos seus
ângulos divinos. Por
fim, recomendou:
"Enquanto é tempo, faze
de Jorge um amigo e da
filha dele uma
companheira de luta que
te afague, um dia, os
cabelos brancos e te
ofereça, mais tarde, a
luz da prece, quando teu
espírito for compelido a
transpor o escuro portal
do túmulo". (Cap. XIII,
pp. 172 e 173)(Continua
no próximo número.)