A sepultura
Cruz
e Souza
Como a orquídea de
arminho quando nasce,
Sobre a lama ascorosa
refulgindo,
A brancura das pétalas
abrindo,
Como se a neve alvíssima
a orvalhasse;
Qual essa flor
fragrante, como a face
Dum querubim angélico
sorrindo,
Do monturo pestífero
emergindo,
Luz que sobre negrumes
se avistasse;
Assim também do túmulo
asqueroso,
Evola-se a essência
luminosa
Da alma que busca o céu
maravilhoso;
E como o lodo é o berço
vil de flores,
A sepultura fria e
tenebrosa
É o berço de almas —
senda de esplendores.
Catarinense, funcionário
público, Cruz e Souza
nasceu em 1861 e
desencarnou em 1898, em
Minas Gerais. Poeta de
emotividade delicada,
soube, mercê de um
simbolismo
inconfundível, marcar
sua individualidade
literária. O soneto
acima faz parte do livro
Parnaso de Além-Túmulo,
obra psicografada por
Francisco Cândido
Xavier.