152. Falando ainda a
respeito da Carta
Pastoral publicada pelo
Bispo de Argel, Kardec
faz as seguintes
considerações: I) O
Espiritismo deve ser
aceito livremente,
atraindo as pessoas para
si pela força de seu
raciocínio, sem jamais
violentar consciências.
II) Em todas as suas
refutações, ele nunca
visou os indivíduos,
porque as questões
pessoais morrem com as
pessoas. III) O
Espiritismo vê as coisas
mais do alto; liga-se às
questões de princípios,
que sobrevivem aos
indivíduos. IV) O clero
não é unânime na
reprovação ao
Espiritismo. A propósito
da posição do clero,
Kardec relata dois fatos
bastante curiosos
envolvendo dois padres
favoráveis às ideias
espíritas. (PP. 360 a
363)
153. Reafirmando que a
pastoral do Bispo de
Argel não conseguira
deter o impulso do
Espiritismo naquela
região, Kardec
transcreve na Revue
duas cartas que
comprovam sua informação
de que os sermões
virulentos concorrem
mais do que se pensa
para a expansão do
movimento espírita e do
número de seus adeptos.
(PP. 364 a 366)
154. Se Elias e João
Batista são o mesmo
Espírito, com qual dos
corpos ele ficará no dia
do juízo final, para se
apresentar, segundo a
Igreja, ante Jesus
Cristo? Kardec responde
a esta questão, que fora
proposta a um confrade
pelo cura de determinada
cidade. Depois de
transcrever e comentar a
passagem evangélica em
que os Saduceus fizeram
curiosa pergunta a
Jesus, a respeito da
mulher que tivera sete
esposos, o Codificador
esclarece que o corpo
utilizado pelos
Espíritos, após sua
desencarnação, é o corpo
espiritual, a que Paulo
se refere em sua 1a
Epístola aos Coríntios,
e não o corpo carnal,
sujeito à decomposição e
ao desaparecimento. (PP.
366 a 369)
155. Paulo de Tarso -- o
São Paulo dos cristãos
católicos -- é
considerado por
François-Nicolas
Madeleine precursor do
Espiritismo. “Como os
espíritas, e antes dos
espíritas -- assevera
Madeleine --, foi
ele o primeiro a
proclamar esta máxima
que vos constitui uma
glória: Fora da
caridade não há
salvação!” Além
disso, Paulo descreve na
carta dirigida aos
Coríntios as principais
faculdades mediúnicas,
que ele chama de dons
abençoados do Espírito
Santo. Kardec acrescenta
à comunicação os
ensinamentos dados pelo
Apóstolo dos gentios a
respeito do corpo
espiritual -- o corpo
fluídico, ou
perispírito, que reveste
a alma, segundo nos
ensina o Espiritismo.
(PP. 370 a 372)
156. Um caso de
possessão -- o da
senhorita Júlia -- é
examinado por Kardec,
que aproveita o ensejo
para retificar assertiva
sua, relativa à
possessão, constante de
suas primeiras obras.
“Temos dito --
assevera o Codificador
-- que não havia
possessos, no sentido
vulgar do vocábulo, mas
subjugados. Voltamos a
esta asserção absoluta,
porque agora nos é
demonstrado que pode
haver verdadeira
possessão, isto é,
substituição, posto que
parcial, de um Espírito
errante a um encarnado.”
(P. 373)
157. Kardec divide as
fases de desenvolvimento
do Espiritismo em seis
períodos, a saber: 1o)
o da curiosidade,
caracterizado pelas
mesas girantes; 2o)
o filosófico,
marcado pelo
aparecimento d’ O
Livro dos Espíritos;
3o) o da
luta, do qual o
auto-de-fé de Barcelona
foi, de certo modo, o
sinal; 4o) o
religioso; 5o)
o intermediário,
consequência natural do
precedente e que
receberá, mais tarde,
sua denominação
característica; e 6o)
o da regeneração
social, que abrirá a
era do século vinte.
(N.R.: Kardec foi
bastante otimista nesta
e noutras previsões,
como aquela em que
previu que o número de
espíritas superaria em
poucos anos o número de
católicos na França.
Talvez por isso ele
tenha modificado mais
tarde a classificação
ora posta e sua ordem.)
(PP. 377 a 379)
158. Na seção
“Instruções dos
Espíritos”, Erasto, que
foi na Terra discípulo
de Paulo de Tarso,
adverte os espíritas a
respeito das
dificuldades que
deveriam enfrentar --
ciladas, embustes,
torturas, calúnias, na
defesa dos ideais
espíritas. “A hora é
grave e solene --
afirma Erasto --;
para trás, então, todas
as mesquinhas
discussões, todas as
perguntas ociosas e
todas as vãs pretensões
de preeminência e de
amor-próprio; ocupai-vos
dos grandes interesses
que estão em vossas mãos
e cujas contas o Senhor
vos pedirá.” (PP. 379 e
380)
159. Erasto assina
também uma mensagem
denominada “Os
Conflitos”, em que
afirma haver naquele
momento uma
recrudescência de
fenômenos obsessivos,
resultado da luta que,
inevitavelmente, devem
sustentar as ideias
novas. “De todos os
lados -- diz Erasto
-- surgem médiuns
com supostas missões,
chamados, ao que dizem,
a tomar em mãos a
bandeira do Espiritismo
e plantá-la sobre as
ruínas do velho mundo,
como se nós viéssemos
destruir, nós que viemos
para construir.” “Quase
todos os médiuns, em seu
início, são submetidos a
essa perigosa tentação”,
assevera Erasto. (PP.
381 a 383)
160. Diante da situação
por ele descrita, Erasto
esclarece que todo
edifício que não se
assenta sobre a base
sólida da verdade cairá,
porque só a verdade pode
desafiar o tempo e
triunfar de todas as
utopias. Os espíritas
deveriam estar atentos,
portanto, não só aos
ataques dos adversários
vivos, mas também às
manobras, ainda mais
perigosas, dos
adversários
desencarnados.
“Fortificai-vos, pois,
em estudos sadios e,
sobretudo, pela prática
do amor e da caridade, e
retemperai-vos na prece.
Deus sempre ilumina os
que se consagram à
propagação da verdade,
quando estão de boa-fé e
desprovidos de toda
ambição pessoal”, disse
o iluminado Instrutor
espiritual, aduzindo:
“Jamais julgueis uma
comunicação mediúnica
pelo nome que a assina,
mas apenas por seu
conteúdo intrínseco”.
(PP. 383 e 386)
161. Encerrando o número
de dezembro e o volume
do ano de 1863, a
Revue transcreve
duas comunicações. Na
primeira, Lázaro fala
sobre o dever, lembrando
que, se o dever é penoso
nos seus sacrifícios, o
mal é amargo nos seus
resultados. Essas dores,
quase iguais, têm, no
entanto, conclusões
muito diferentes: uma é
salutar, como os venenos
que restauram a saúde; a
outra é nociva, como os
festins que arruínam o
corpo. Na segunda
comunicação, Lamennais,
reportando-se à
alimentação do homem,
diz que pode ser-se bom
cristão e bom espírita e
comer a gosto, desde que
seja razoável. Os
grandes sábios
alimentavam-se só de
frutos e raízes. Os
temperamentos
naturalmente muito
fortes para viver como
os anacoretas fazem bem
em adotar esse regime,
porque o esquecimento da
carne leva mais
facilmente à meditação e
à prece; mas, para viver
assim, é necessário
normalmente uma natureza
mais espiritualizada, o
que é impossível com as
condições terrestres.
(PP. 386 a 388)