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Estudando as obras de Kardec
Ano 3 - N° 111 – 14 de Junho de 2009

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1863

Allan Kardec 

(Parte 16 e final)

Concluímos nesta edição o estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1863. O texto condensado do volume citado foi aqui apresentado em 16 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Se Elias e João Batista são o mesmo Espírito, com qual dos corpos ele ficará no dia do juízo final?

Kardec respondeu a esta questão, proposta a um confrade pelo cura de determinada cidade, dizendo que o corpo utilizado pelos Espíritos, após sua desencarnação, é o corpo espiritual, a que Paulo se refere em sua 1a Epístola aos Coríntios, e não o corpo carnal, sujeito à decomposição e ao desaparecimento. (Revue Spirite de 1863, pp. 366 a 369.)

B. Por que Kardec, que rejeitava o fenômeno da possessão, mudou de opinião?

O que o levou à mudança de pensamento a respeito do assunto foi o caso de possessão da senhorita Júlia, por ele examinado na Revue. “Temos dito -- assevera o Codificador -- que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.” (Obra citada, pág. 373.)

C. Que fazer diante dos ataques dos adversários desencarnados?

Segundo Erasto, os espíritas devem estar atentos não só aos ataques dos adversários vivos, mas também às manobras, ainda mais perigosas, dos adversários desencarnados. “Fortificai-vos, pois, em estudos sadios e, sobretudo, pela prática do amor e da caridade, e retemperai-vos na prece. Deus sempre ilumina os que se consagram à propagação da verdade, quando estão de boa-fé e desprovidos de toda ambição pessoal”, recomendou o iluminado Instrutor. “Jamais julgueis uma comunicação mediúnica pelo nome que a assina, mas apenas por seu conteúdo intrínseco.” (Obra citada, págs. 383 a 386.)

Texto para leitura

152. Falando ainda a respeito da Carta Pastoral publicada pelo Bispo de Argel, Kardec faz as seguintes considerações: I) O Espiritismo deve ser aceito livremente, atraindo as pessoas para si pela força de seu raciocínio, sem jamais violentar consciências. II) Em todas as suas refutações, ele nunca visou os indivíduos, porque as questões pessoais morrem com as pessoas. III) O Espiritismo vê as coisas mais do alto; liga-se às questões de princípios, que sobrevivem aos indivíduos. IV) O clero não é unânime na reprovação ao Espiritismo. A propósito da posição do clero, Kardec relata dois fatos bastante curiosos envolvendo dois padres favoráveis às ideias espíritas. (PP. 360 a 363)

153. Reafirmando que a pastoral do Bispo de Argel não conseguira deter o impulso do Espiritismo naquela região, Kardec transcreve na Revue duas cartas que comprovam sua informação de que os sermões virulentos concorrem mais do que se pensa para a expansão do movimento espírita e do número de seus adeptos. (PP. 364 a 366)

154. Se Elias e João Batista são o mesmo Espírito, com qual dos corpos ele ficará no dia do juízo final, para se apresentar, segundo a Igreja, ante Jesus Cristo? Kardec responde a esta questão, que fora proposta a um confrade pelo cura de determinada cidade. Depois de transcrever e comentar a passagem evangélica em que os Saduceus fizeram curiosa pergunta a Jesus, a respeito da mulher que tivera sete esposos, o Codificador esclarece que o corpo utilizado pelos Espíritos, após sua desencarnação, é o corpo espiritual, a que Paulo se refere em sua 1a Epístola aos Coríntios, e não o corpo carnal, sujeito à decomposição e ao desaparecimento. (PP. 366 a 369)

155. Paulo de Tarso -- o São Paulo dos cristãos católicos -- é considerado por François-Nicolas Madeleine precursor do Espiritismo. “Como os espíritas, e antes dos espíritas -- assevera Madeleine --, foi ele o primeiro a proclamar esta máxima que vos constitui uma glória: Fora da caridade não há salvação!” Além disso, Paulo descreve na carta dirigida aos Coríntios as principais faculdades mediúnicas, que ele chama de dons abençoados do Espírito Santo. Kardec acrescenta à comunicação os ensinamentos dados pelo Apóstolo dos gentios a respeito do corpo espiritual -- o corpo fluídico, ou perispírito, que reveste a alma, segundo nos ensina o Espiritismo. (PP. 370 a 372)

156. Um caso de possessão -- o da senhorita Júlia -- é examinado por Kardec, que aproveita o ensejo para retificar assertiva sua, relativa à possessão, constante de suas primeiras obras. “Temos dito -- assevera o Codificador -- que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.” (P. 373)

157. Kardec divide as fases de desenvolvimento do Espiritismo em seis períodos, a saber: 1o) o da curiosidade, caracterizado pelas mesas girantes;  2o) o filosófico, marcado pelo aparecimento d’ O Livro dos Espíritos; 3o) o da luta, do qual o auto-de-fé de Barcelona foi, de certo modo, o sinal; 4o) o religioso; 5o) o intermediário, consequência natural do precedente e que receberá, mais tarde, sua denominação característica; e 6o) o da regeneração social, que abrirá a era do século vinte. (N.R.: Kardec foi bastante otimista nesta e noutras previsões, como aquela em que previu que o número de espíritas superaria em poucos anos o número de católicos na França. Talvez por isso ele tenha modificado mais tarde a classificação ora posta e sua ordem.) (PP. 377 a 379)

158. Na seção “Instruções dos Espíritos”, Erasto, que foi na Terra discípulo de Paulo de Tarso, adverte os espíritas a respeito das dificuldades que deveriam enfrentar -- ciladas, embustes, torturas, calúnias, na defesa dos ideais espíritas. “A hora é grave e solene -- afirma Erasto --; para trás, então, todas as mesquinhas discussões, todas as perguntas ociosas e todas as vãs pretensões de preeminência e de amor-próprio; ocupai-vos dos grandes interesses que estão em vossas mãos e cujas contas o Senhor vos pedirá.” (PP. 379 e 380)

159. Erasto assina também uma mensagem denominada “Os Conflitos”, em que afirma haver naquele momento uma recrudescência de fenômenos obsessivos, resultado da luta que, inevitavelmente, devem sustentar as ideias novas. “De todos os lados -- diz Erasto -- surgem médiuns com supostas missões, chamados, ao que dizem, a tomar em mãos a bandeira do Espiritismo e plantá-la sobre as ruínas do velho mundo, como se nós viéssemos destruir, nós que viemos para construir.”  “Quase todos os médiuns, em seu início, são submetidos a essa perigosa tentação”, assevera Erasto. (PP. 381 a 383)

160. Diante da situação por ele descrita, Erasto esclarece que todo edifício que não se assenta sobre a base sólida da verdade cairá, porque só a verdade pode desafiar o tempo e triunfar de todas as utopias. Os espíritas deveriam estar atentos, portanto, não só aos ataques dos adversários vivos, mas também às manobras, ainda mais perigosas, dos adversários desencarnados. “Fortificai-vos, pois, em estudos sadios e, sobretudo, pela prática do amor e da caridade, e retemperai-vos na prece. Deus sempre ilumina os que se consagram à propagação da verdade, quando estão de boa-fé e desprovidos de toda ambição pessoal”, disse o iluminado Instrutor espiritual, aduzindo: “Jamais julgueis uma comunicação mediúnica pelo nome que a assina, mas apenas por seu conteúdo intrínseco”.  (PP. 383 e 386)

161. Encerrando o número de dezembro e o volume do ano de 1863, a Revue  transcreve duas comunicações. Na primeira, Lázaro fala sobre o dever, lembrando que, se o dever é penoso nos seus sacrifícios, o mal é amargo nos seus resultados. Essas dores, quase iguais, têm, no entanto, conclusões muito diferentes: uma é salutar, como os venenos que restauram a saúde; a outra é nociva, como os festins que arruínam o corpo. Na segunda comunicação, Lamennais, reportando-se à alimentação do homem, diz que pode ser-se bom cristão e bom espírita e comer a gosto, desde que seja razoável. Os grandes sábios alimentavam-se só de frutos e raízes. Os temperamentos naturalmente muito fortes para viver como os anacoretas fazem bem em adotar esse regime, porque o esquecimento da carne leva mais facilmente à meditação e à prece; mas, para viver assim, é necessário normalmente uma natureza mais espiritualizada, o que é impossível com as condições terrestres. (PP. 386 a 388)

 


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