Parentesco e
reencarnação
Cornélio Pires
Você nos pede por carta,
Meu prezado amigo João,
Que a gente escreva no
tema:
Família e reencarnação.
Assunto vasto, meu caro,
Tão vasto que já nem sei
Andar nesse labirinto
Mesmo andando à luz de
lei.
O lar parece uma
empresa
De lucro certo e
bem-vindo,
Surge na Terra em dois
sócios,
Depois a casa vai
indo...
O casal primeiramente
Celebra doces afetos,
Em seguida, ganha filhos
E os filhos arranjam
netos.
Logo após é um grupo
grande
Ao qual, de forma
concisa,
A gente volta em criança
Procurando o que
precisa.
A luta chega...
Entretanto,
O progresso vale a pena.
É isso aí... Cada berço
Põe a vida em nova cena.
O mundo lembra um
teatro,
Cuja função nunca cessa,
Toda casa lembra um
palco,
Cada família é uma peça.
O espetáculo é de todos,
A prova é parte comum,
Mas proveito e
aprendizado
São coisas de cada um...
Antes do berço rogamos
A luta que nos apraz,
Depois, muito comumente,
Buscamos voltar atrás.
Requisitamos em prece
Inimigos por parentes
E ao revê-los, ombro a
ombro,
Reclamamos descontentes.
Às vezes, a filha
ingrata
É aquela jovem sofrida
Que abandonamos à rua
Nos prazeres de outra
vida.
Filho criando problema,
Tristeza, mágoa, perigo:
Adversário de outrora
Cobrando débito antigo.
Noras cruéis, genros
brutos,
Pai tirânico e violento
São contas do crediário
Resgatado a
sofrimento...
Rusgas, brigas e
desgostos
Espinheirais do passado,
Pagamento a prestações
De culpas por atacado...
Nossos erros de outras
eras,
Ódio, inveja, tentação,
Retornam pela família
Na lei da reencarnação.
Quem amou, quem deu de
si,
Sobe de altura e lugar,
Quem fez sofrer vem
sofrer,
Quem bateu vem apanhar.
Quem dos outros fez
capacho,
Cria resgate severo,
Quem foge ao próprio
dever
Vem de novo à estaca
zero.
Parentela é escola santa
Sempre que a vemos
daqui,
Cada qual encontra em
casa
Aquilo que fez de si.
Ame, perdoe, sirva e
ajude
Quanto ao mais, meu caro
irmão,
Se você sofre em
família,
Não reclame, aguente,
João.