MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(Parte
23)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Libertação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1949 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Para quem Leôncio
pediu ajuda ao instrutor
Gúbio?
R.: Ele recorreu a Gúbio
com o objetivo de
proteger uma criança,
seu filho, que se
encontrava à mercê de um
enfermeiro que se
envolveu com a mãe do
garoto e decidira
matá-lo, para eliminar
dessa forma um
concorrente aos bens da
família. (Libertação,
cap. XIV, pp. 181 a
183.)
B. A criança corria
realmente risco de
morte?
R.: Sim. O menino
morreria nos próximos
dias se mãos amigas e
devotadas não o
socorressem. Embora
participasse da poderosa
falange dirigida por
Gregório, Leôncio
reconhecia a impotência
desse poderio para
ajudar o próprio filho.
"Já fiz tudo quanto se
achava ao alcance de
nossas possibilidades,
porém sou parte
integrante de uma
falange de seres
malvados e o mal não
salva, nem melhora
ninguém", declarou o
desolado pai. (Obra
citada, cap. XIV, pp.
181 a 183.)
C. Ao falar diretamente
com o enfermeiro, que
argumentos usou Gúbio?
R.: Foram vários os
argumentos, mas o
principal foi lembrar a
Felício, o enfermeiro,
que a experiência
humana, confrontada com
a eternidade em que se
movimentará a
consciência, é simples
sonho ou pesadelo de
alguns minutos. Desse
modo, por que
comprometer o futuro ao
preço do conforto
ilusório de alguns dias?
“Os que plantam espinhos
– disse-lhe Gúbio –
colhem espinhos na
própria alma e
comparecem perante o
Senhor de mãos
convertidas em garras
abomináveis.” “Os que
espalham pedras em
derredor dos pés alheios
serão surpreendidos,
mais tarde, pelo
endurecimento e
paralisia do próprio
coração." (Obra
citada, cap. XIV, pp.
186 e 187.)
Texto
para leitura
94. O caso Leôncio
- O companheiro de
Saldanha lembrou a este
o seu próprio caso. Não
mereceria ele também a
ajuda do mago? Ante o
apelo, Saldanha não
hesitou e sugeriu-lhe
recorresse a Gúbio.
Leôncio não se fez
rogado. Acercando-se de
Gúbio, disse-lhe, sem
rebuços: "Amigo, acabo
de saber com que
devotamento mobilizas
tua força, a benefício
de criaturas desviadas
do bem, como nós, que
nos sentimos
desprezíveis diante de
todos. É por isto que
também venho implorar-te
auxílio imediato".
Gúbio dispôs-se a
servi-lo, e Leôncio
relatou-lhe o seu triste
caso. Ele desencarnara
havia sete anos,
deixando no mundo mulher
e um filho recém-nato.
Voltara ao mundo
espiritual ainda moço,
embora sufocado no
esgotamento pelo
trabalho excessivo em
busca do dinheiro
fácil, meta que
conseguira realmente
atingir, porquanto sua
esposa se mantivera até
então graças aos vastos
recursos que lhe
deixara. Foram o
desespero e a ânsia
inútil por retomar o
corpo, aliados à vaidade
ferida, os motivos que o
levaram a converter-se
em colaborador de
Gregório. Nos últimos
dois anos, porém, sua
ex-mulher, Avelina,
passou a escutar as
propostas de um
enfermeiro que se
aproveitou da
fragilidade orgânica de
seu filho para
insinuar-se sobre a
pobre mãe, viúva e
jovem. Cobiçando a
fortuna da viúva, ele
passou a assediá-la sem
descanso e a envenenar
o menino, pouco a pouco,
à força de
entorpecentes, que ele
mesmo administrava,
seguindo um plano cruel.
Com o passar do tempo,
conseguira de Avelina
quanto queria: dinheiro,
ilusões, prazeres e
promessa de casamento. O
consórcio estava marcado
para breve. O
perseguidor, porém,
sentindo na criança um
concorrente forte aos
bens da família,
procurava aniquilá-lo
sem pressa, roubando-lhe
o ensejo de viver para
um futuro digno e feliz.
Leôncio reconhecia não
merecer o favor que
pedia; entretanto, seu
objetivo era evitar que
seu filhinho viesse a
morrer, o que com
certeza ocorreria nos
próximos dias, se mãos
amigas e devotadas não o
socorressem. E, choroso
e humilde, ele concluiu
assim seu
impressionante relato:
"Já fiz tudo quanto se
achava ao alcance de
nossas possibilidades,
porém sou parte
integrante de uma
falange de seres
malvados e o mal não
salva, nem melhora
ninguém". (Cap. XIV,
pp. 181 a 183)
95. Em casa de
Leôncio - Depois
que Leôncio se calou,
Elói aproximou-se do
companheiro e perguntou
sem cerimônia qual era o
nome do enfermeiro.
Leôncio o declinou e,
para surpresa geral,
Elói, apoiando-se em
André, para não cair,
bradou: "É meu irmão! é
meu irmão..." Forte
emotividade
empalideceu-lhe o rosto
e inquietante
expectativa desabou
sobre todos, mas Gúbio,
abraçando Elói, inquiriu
calmo: "Onde está o
infeliz que não seja
nosso irmão
necessitado?" Em
seguida, o Instrutor
convidou-os a visitar o
menino enfermo, sem
perda de tempo. Só
Gaspar ficou ao lado de
Margarida. Saldanha
comentou, então, que
eles necessitariam de
pelo menos um dia para
fortificar a defensiva,
porquanto a falange de
Gregório não os
perdoaria. A casa da
ex-esposa de Leôncio era
confortável. Em
aposentos diversos, ela
e o enfermeiro dormiam à
solta, enquanto o menino
gemia, quase
imperceptivelmente,
demonstrando angústia e
mal-estar. Notava-se
nele a devastação
operada pelos tóxicos
insistentes. Profunda
melancolia
estampava-se-lhe no
olhar. Os venenos
sutis, que ingeria em
doses diminutas e
sistemáticas,
invadiam-lhe o corpo e a
alma. Fios magnéticos e
invisíveis ligavam, ali,
pai e filho, porque o
menino, num lance
comovedor, apesar da sua
prostração, contemplou,
embevecido, o retrato
grande do pai, suspenso
na parede, e falou,
baixinho: "Papai, onde
está o senhor?... tenho
medo, muito medo..."
Lágrimas ardentes
seguiram-lhe a prece
inesperada e Leôncio,
que até então parecera a
André um gênio horrível,
prorrompeu em pranto
emocionante. (Cap. XIV,
pp. 183 a 185)
96. Gúbio conversa
com o enfermeiro
- Gúbio ausentou-se por
instantes e regressou
trazendo Felício, o
enfermeiro,
provisoriamente
desligado do aparelho
fisiológico. O rapaz,
apesar de
semi-inconsciente, ao
avisar Elói junto ao
doente, procurou recuar,
num impulso de evidente
pavor, mas Gúbio o
conteve, sem aspereza.
Elói tentou dirigir-lhe
a palavra, mas Gúbio,
afagando-o com a destra,
pediu-lhe: "Elói, não
interfiras. Não te
encontras em condições
sentimentais de operar
com êxito. A indignação
afetiva denunciar-te-ia
a inabilidade provisória
para atenderes a este
gênero de serviço".
"Atuarás no fim." Em
seguida, o Instrutor
aplicou passes de
despertamento em
Felício, para que a
mente dele acompanhasse
a lição daquela hora,
dentro do mais alto
estado de consciência
que lhe fosse possível,
notando-se que o
paciente passou a
fixá-los com mais
clareza, envergonhado e
espantadiço. Com medo,
fitou Elói e, vendo
Leôncio a chorar sobre o
filhinho, fez novo
movimento de recuo,
interrogando embora:
"Quê? pois este monstro
chora?" Gúbio aproveitou
a pergunta inconveniente
e interveio, sereno:
"Não concedes a um pai o
direito de emocionar-se
ante o filhinho
perseguido e doente?"
Felício respondeu-lhe
dizendo que o marido de
Avelina era para ele um
inimigo implacável, que
passou a flagelá-lo nas
horas de sono. Gúbio
perguntou-lhe, então,
com inflexão de carinho:
"Escuta! quem terá
assumido a posição de
adversário, em primeiro
lugar? o coração dele,
humilhado e ferido nos
sentimentos mais altos
que possui, ou o teu que
urdiu deplorável projeto
de conquista
sentimental ante uma
viúva indefesa? o dele
que padece nos zelos
inquietantes de pai ou o
teu que comparece neste
lar com o escuro
propósito de
assassinar-lhe o
filhinho?" (Cap. XIV,
pp. 185 e 186)
97. A
existência terrestre é
simples sonho ou
pesadelo de minutos
- Na sequência, como
Felício estivesse
conturbado pelas forças
desintegrantes da
culpa, o Instrutor
prosseguiu: "Felício,
por que insistes no
condenável enredo com
que preparas tão
calculado crime? Não te
compadeces, porventura,
de uma criança enferma e
sem pai visível? Tens
Leôncio na conta dum
monstro, por defender o
frágil rebento do
coração, tal como a ave
que ataca, ainda que
impotente, na ânsia de
preservar o ninho... Que
dizer, porém, de ti, meu
irmão, que não vacilas
em devassar este
santuário, tão somente
com o instinto de gozo e
poder? como
interpretar-te o gesto
lastimável de enfermeiro
que se vale do divino
dom de aliviar e curar
para perturbar e ferir?
Felício, a experiência
humana, confrontada com
a eternidade em que se
movimentará a
consciência, é simples
sonho ou pesadelo de
alguns minutos. Por que
comprometer o futuro ao
preço do conforto
ilusório de alguns dias?
Os que plantam espinhos
colhem espinhos na
própria alma e
comparecem perante o
Senhor de mãos
convertidas em garras
abomináveis. Os que
espalham pedras em
derredor dos pés alheios
serão surpreendidos,
mais tarde, pelo
endurecimento e
paralisia do próprio
coração". E, aliando à
voz todo o carinho que
sabia imprimir às suas
palavras, Gúbio
insistiu: "Guardas,
porventura, suficiente
noção da
responsabilidade que
assumes? Possuis ainda
no coração evidentes
restos de bondade igual
à daqueles que se
acolhem no âmbito de uma
família abençoada e
grande, em cujo seio a
solidariedade é
cultivada, desde os
primórdios da luta. Vejo
que o entusiasmo juvenil
não se extinguiu, de
todo, em tua mente. Por
que ceder às sugestões
do crime? não te comove
a prostração deste
menino a quem procuras
impor a morte vagarosa?"
(Cap. XIV, pp. 186 a
187)
(Continua
no próximo número.)