EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Como açúcar na
vida
“Uma pessoa não
se torna
iluminada ao
imaginar formas
luminosas,
mas
sim ao tornar
consciente a
escuridão”.
(Jung)
Todos nós já
vivenciamos
situações em que
nos sentimos
desorientados e
perdidos. Uma
razão opõe-se
outra, e quando
mais procuramos
compreender,
mais a realidade
escapa da nossa
visão do mundo,
no geral fundada
em posturas
dicotomizadas,
que opõem o bom
ao mau, o certo
ao errado.
O sofrimento
nunca é bom,
quem diria o
contrário?
Porém, ele exige
ser atravessado,
como explica
Jean-Yves Leloup.
Entretanto,
conseguir passar
lucidamente
através dos
acontecimentos
sombrios de
nossa vida não é
uma tarefa
fácil.
E aqui me refiro
também à
situação da
solidão da
incompreensão.
Aquela
circunstância em
que não somos
entendidos e
estamos
proibidos (por
razões diversas)
de exercitar, em
boas condições,
o direito de
fazer-se
compreender para
poupar-se da
sensação de
vacuidade.
Aprendi, no
entanto, que a
pessoa que se
conhece evitará
a todo o custo
qualquer
julgamento em
relação aos
outros, pois
reconhece que um
dos medos mais
incisivos diz
respeito às
práticas que nos
fazem menos
tolerantes e,
por isso, não
libertos
justamente das
nossas crenças e
preconceitos.
Quanto maior for
a recusa em
relação ao
diferente, maior
será a
dificuldade em
reencontrar a
capacidade que
nos abre para a
vida
intersubjetiva
e, com isso, as
realidades que
nos aproximam,
não do
julgamento, mas
sim do
entendimento,
mesmo que haja
dissensos e
ideias
divergentes.
Como o ego não é
algo a ser
esmagado, mas a
ser ajustado
para dar espaço
à vida de
relação, ou
seja, às trocas
e às amizades,
muitas vezes, de
forma
irracional, no
lugar da
partilha
honesta, usamos
o interlocutor
para censurar
nele as nossas
próprias
fraquezas e
defeitos.
Assim, nas
situações de
intolerância, se
formos capazes
de dizem “sim” à
diversidade, ao
diferente,
haverá brecha
para a superação
da prática do
espelhamento/julgamento,
porque, no cerne
da própria
sombra, pode
haver uma
semente que
permita, ao
invés da atitude
preconceituosa,
o mergulho
luminoso na
diversidade,
apto a gestar
ricos
aprendizados.
Uma boa maneira
de averiguar a
qualidade dos
sentimentos, sem
dúvida, reside
nas relações
interpessoais.
Ora, pode ser
difícil ser
amistoso com
aquele que nos
maltrata ou nos
rejeita como
somos. E o que
isso gera em
nós: raiva,
insegurança,
mágoa,
indiferença,
compaixão?
Uma hora,
certamente,
cansamos de
querer aprovação
e decidimos
viver em acordo
com o que somos.
A metanoia pode
ter início
quando decidimos
ser tudo aquilo
que realmente
somos, ou seja,
essa mistura de
sombra e luz,
tentando nos
melhorar, porém
sem nos
massacrar pelos
nossos defeitos
e erros. Além
disso, essa
mudança de
mentalidade
exige que essa
mesma liberdade
seja estendida
aos outros.
Desse modo,
mesmo que
lentamente,
abrimos mão da
ilusão de que a
possibilidade de
florescimento é
projetada em
apenas algumas
pessoas, pois
essa visão,
distorcida,
fundada na
síndrome de
Jonas, é
resultado de um
preconceito que
ainda,
infelizmente, se
perpetua no
espaço-tempo.
Na verdade,
todos nós somos
convocados a
realizar uma
tarefa
intransferível.
E para que o
nosso trabalho
seja feito de
forma mais
serena, basta
que nossa ação
esteja, em todas
as áreas da
nossa vida,
integrada ao
afeto, ou, ao
menos, a mais
tolerância.