JANE MARTINS
VILELA
limb@sercomtel.com.br
Cambé, Paraná
(Brasil)
Doloroso remédio
Uma casa
miserável, num
lugar onde quase
todas são assim,
no meio do
sofrimento
econômico-social
intenso, e no
meio destes,
também, o
sofrimento
moral.
Nossa equipe
adentrou aquela
casa para
visitar um bebê
de quatro meses.
Lá, a mãe
encontrava-se
num estado de
desequilíbrio
emocional
intenso,
simplesmente
porque o bebê
havia engasgado.
É pessoa, a mãe,
portadora de
doença
psiquiátrica
grave, e o juiz
da Vara da
Família já lhe
tinha retirado
quatro filhos
anteriores,
ficamos sabendo.
O pai, de
comportamento
difícil,
agressivo,
violento e
usuário de
drogas.
Naquele dia, ao
fazermos a
visita, o pai
estava lúcido e
é ele que está
cuidando do
filho, porque a
mãe realmente
não tem condição
emocional alguma
para isso. O pai
queixou-se de
que não pode se
ausentar de casa
por nenhum
instante desde
que o bebê saiu
da internação
hospitalar,
porque
simplesmente ela
entra em
desespero, não
sabe o que fazer
com a criança.
Ela repetia
mesmo: “Eu não
sei cuidar, não
consigo”,
completamente em
desequilíbrio.
O bebê, com
microcefalia, ou
seja, cabeça
muito pequena,
epiléptico,
usava sonda
nasogástrica,
porque, aos
quatro meses,
ainda não
aprendeu a
sugar.
A despeito de
todas essas
dificuldades,
quando olhamos,
verificamos o
olhar. Que olhos
lindos, cheios
de vida, ainda
não
comprometidos em
sua expressão,
demonstrando
lucidez no
olhar, apesar da
microcefalia e
da epilepsia! Os
cílios,
magníficos,
enormes,
sobressaindo,
mais altos do
que as
sobrancelhas!
Naquela
família...
chances de
sobrevivência
difíceis, chance
de recuperação
mais difícil
ainda. Ouvimos
que o juiz tinha
ficado na dúvida
se punha a
criança numa
Casa Abrigo ou
se a deixaria
com a família.
Optou pela
segunda
situação. Até
quando, não
sabemos.
Um leigo teria
problemas para
entender tais
coisas. Ao
vermos tudo
aquilo,
pensamos, porém,
na justiça da
reencarnação.
Uma escolha do
Espírito? Uma
imposição? Uma
necessidade?,
pois nada ocorre
por acaso.
Na questão 132
de “O Livro dos
Espíritos”,
vemos a resposta
dada por eles a
Kardec, de que a
encarnação é-nos
dada com a
finalidade de
alcançarmos a
perfeição. Para
uns, é expiação,
para outros,
missão. Mas,
para alcançarem
essa perfeição,
têm os
indivíduos de
sofrer todas as
vicissitudes da
existência
corporal.
Na questão
133-a, ensinam
que as aflições
da vida são,
muitas vezes, a
consequência da
imperfeição do
Espírito. Quanto
menos
imperfeições,
tanto menos
tormentos.
Na questão 258,
comentam que é o
próprio Espírito
que escolhe o
gênero de provas
por que há de
passar, e nisso
consiste o seu
livre-arbítrio.
Dando ao
Espírito a
liberdade de
escolha, Deus
lhe deixa a
responsabilidade
de seus atos e
suas
consequências.
Na questão 264,
dizem que o
Espírito
escolhe, de
acordo com a
natureza de suas
faltas, as que o
levem à expiação
destas e a
progredir mais
depressa. Uns
impõem a si
mesmos uma vida
de misérias e
privações,
objetivando
suportá-las com
coragem; outros
preferem
experimentar as
tentações da
riqueza e do
poder, muito
mais perigosas,
pelos abusos e
má aplicação a
que podem dar
lugar, pelas
paixões
inferiores que
uma e outro
desenvolvem;
muitos,
finalmente, se
decidem a
experimentar
suas forças nas
lutas que terão
que sustentar no
contato com o
vício.
Em O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
capítulo V, na
comunicação “O
Mal e o
Remédio”, Santo
Agostinho
comenta: “No
estado de
desencarnados,
quando planáveis
no espaço,
escolhestes
vossa prova
porque vos
acreditastes
bastante fortes
para suportá-la;
por que reclamar
nessa hora? ...
Vós que pedistes
lutar de corpo e
alma contra o
mal moral e
físico, é porque
sabíeis que
quanto mais a
prova seria
dura, tanto mais
a vitória seria
gloriosa, e que
se dela saísseis
triunfantes,
devesse vossa
carne ser
lançada sobre um
monturo, em sua
morte, ela
deixaria escapar
uma alma
brilhante de
brancura e
tornada pura
pelo batismo da
expiação e do
sofrimento...”
Delfine de
Girardin, nesse
mesmo capítulo,
em “A
Infelicidade
Real”, comenta
que “a
infelicidade é a
alegria, é o
prazer, é a
fama, é a
agitação vã, é a
louca satisfação
da vaidade, que
fazem calar a
consciência, que
comprimem a ação
do pensamento,
que atordoam o
homem sobre seu
futuro; a
infelicidade é o
ópio do
esquecimento que
reclamais
ardentemente...
Que o
Espiritismo vos
esclareça, pois,
e recoloque em
sua verdadeira
luz a verdade e
o erro, tão
estranhamente
desfigurados
pela vossa
cegueira!”
O Espiritismo
nos esclarece,
sim, a
entendermos
casos como o
dessa família
que aqui
colocamos.
Tranquilizemos
os nossos
pensamentos ante
as dores e
sofrimentos
inenarráveis do
mundo, deixemos
a compaixão nos
atingir e
olhemos o nosso
próximo com o
sentimento com
que gostaríamos
que nos olhassem
perguntando a
nós mesmos: O
que Deus
gostaria que
fizéssemos para
diminuirmos essa
dor, esse
sofrimento? O
que está em
nosso alcance
fazer para que
sejamos um
bálsamo a
diminuir a
amargura, a dor,
um remédio para
consolar as
aflições?
Tal pensamento
desperta a
generosidade. A
compaixão faz
esse sentimento
vir à tona e a
ação no bem é um
dever para
aquele que tem a
consciência
lúcida. Façamos,
pois, o que
pudermos para
auxiliar com
amor aqueles que
padecem.