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Clássicos do Espiritismo
Ano 3 - N° 116 – 19 de Julho de 2009

ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

O Porquê da Vida

  Léon Denis

 (8ª Parte)
 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico O Porquê da Vida, focalizando nesta edição a parte III da obra referida, que contém considerações de Léon Denis sobre o tema “A Reencarnação e a Igreja Católica”. A fonte deste estudo é a 14ª edição do livro, publicada pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. O Espiritismo admite a metempsicose?

R.: Não. A doutrina espírita rejeita com energia a hipótese de queda da alma na animalidade. Ela nos ensina a ascensão da alma e não o seu recuo. Nosso perispírito ou corpo fluídico, que é o molde do corpo material, não se presta às formas animais e essa razão por si só bastaria para tornar impossível uma tal regressão. (O Porquê da Vida, pp. 101 e 102.) 

B. Os Evangelhos tratam também da reencarnação?

R.: Sim. A reencarnação está afirmada nos Evangelhos com uma precisão que não deixa lugar a dúvida alguma: “Ele é o Elias que há de vir”, disse o Cristo referindo-se a João Batista (Mateus, 11:14-15). E ressalta também do seguinte diálogo: “Que dizem eles do Filho do homem?” Responderam-lhe os discípulos: “Uns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros que é Jeremias ou um dos profetas” (Mateus, 6:13-14 e Marcos, 8:28). Os judeus e com eles os discípulos de Jesus acreditavam, portanto, na possibilidade que tem a alma de renascer em outros corpos humanos. Esse ponto é posto ainda com clareza no diálogo de Jesus com Nicodemos e no episódio do cego de nascença. (Obra citada, pág. 103.)

C. A reencarnação chegou a ser admitida no seio da Igreja?

R.: Sim. A doutrina das vidas sucessivas impregnava inteiramente o Cristianismo primitivo. Orígenes, Clemente e a maior parte dos padres gregos ensinavam a pluralidade das existências da alma. Ainda no século IV, São Jerônimo reconhecia que a crença nas vidas sucessivas era a da maioria dos cristãos do seu tempo. Em todas as épocas, membros eminentes do clero católico adotaram essa crença e a afirmaram publicamente. Foi assim que no século XV o cardeal Nicolau de Cusa sustentou, em pleno Vaticano, a teoria da reencarnação e a dos mundos habitados, com os aplausos de dois papas: Eugênio IV e Nicolau. (Obra citada, pág. 104.)

Texto para leitura 

96. Os antigos entendiam por metempsicose a volta da alma aos corpos dos animais. A reencarnação é muitas vezes designada pelo nome de “palingenesia”. Na opinião corrente, porém, o termo metempsicose conservou seu sentido restrito e pejorativo, embora se saiba que os espíritas rejeitam com energia toda hipótese de queda da alma na animalidade. (PP. 101 e 102)

97. Acreditamos, sim, na ascensão da alma e não no seu recuo. Nosso perispírito ou corpo fluídico, que é o molde do corpo material, não se presta às formas animais e essa razão por si só bastaria para tornar impossível uma tal regressão. (P. 102)

98. Embora tente denegrir a Doutrina Espírita, o padre Coubé reconhece, em artigo publicado na revista católica “L’ Idéal”, pág. 218: “A reencarnação não é por si mesma uma ideia ímpia e não parece intrinsecamente impossível”. “A reencarnação poderia, a rigor, conciliar-se com o dogma do céu cristão.” (P. 102)

99. Ignora o referido padre que a ideia das vidas sucessivas imperava em toda a cristandade nos três primeiros séculos da era cristã e ainda hoje eminentes prelados a adotam. (P. 103)

100. A reencarnação está afirmada nos Evangelhos com uma precisão que não deixa lugar a dúvida alguma: “Ele é o Elias que há de vir”, disse o Cristo referindo-se a João Batista (Mateus, 11:14-15). E ressalta também do seguinte diálogo: “Que dizem eles do Filho do homem?” Responderam-lhe os discípulos: “Uns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros que é Jeremias ou um dos profetas” (Mateus, 6:13-14 e Marcos, 8:28). Os judeus e com eles os discípulos de Jesus acreditavam, portanto, na possibilidade que tem a alma de renascer  em outros corpos humanos. (P. 103)

101. O Evangelho é de uma notável clareza sobre esse ponto, como se vê ainda no diálogo de Jesus com Nicodemos e no episódio do cego de nascença. (P. 103)

102. A doutrina das vidas sucessivas, admitida por Platão e pela Escola de Alexandria, impregnava inteiramente o Cristianismo primitivo. Orígenes, Clemente e a maior parte dos padres gregos ensinavam a pluralidade das existências da alma. Ainda no século IV, São Jerônimo reconhecia que a crença nas vidas sucessivas era a da maioria dos cristãos do seu tempo. (P. 104)

103. Na realidade, a Igreja nunca se pronunciou sobre a questão das existências sucessivas, que continua aberta às possibilidades do futuro. Em todas as épocas, porém, membros eminentes do clero católico adotaram essa crença e a afirmaram publicamente. Foi assim que no século XV o cardeal Nicolau de Cusa sustentou, em pleno Vaticano, a teoria da reencarnação e a dos mundos habitados, com os aplausos de dois papas: Eugênio IV e Nicolau V. (P. 104)

104. G. Calderone, diretor da “Filosofia della Scienza”, de Palermo, publicou algumas cartas trocadas entre monsenhor L. Passavalli, arcebispo da basílica de S. Pedro, em Roma, e o sr. Tancredi Canonico, presidente da Suprema Corte de Cassação da Itália e católico convicto. Duas passagens de uma dessas cartas mostram que Passavalli admitia claramente a pluralidade das vidas do homem. “Quanto mais penso nessa verdade -- assevera o arcebispo --, mais ela se me mostra grande e fecunda de consequências práticas para a religião e para a sociedade.” (PP. 105 e 106)

105. Da correspondência de Tancredi Canonico, publicada ultimamente em Turim, vê-se que ele mesmo fora iniciado na crença da reencarnação por Towiansky, escritor católico muito conhecido. Em carta datada de 30-12-1884 ele expõe as razões pelas quais acha que essa crença nada tem de contrária à religião católica, apoiando-se em muitas citações das Escrituras. (P. 106)

106. Verifica-se por todas estas citações que relativamente à reencarnação, como em relação aos fenômenos e suas causas, encontramo-nos em face das mesmas contradições, das mesmas incertezas, para não dizer incoerências, da Igreja Romana. (P. 106)

107. Com respeito às demais religiões, notemos  que 600 milhões de asiáticos,  bramanistas e budistas  partilham da mesma crença, de que partilharam  também os egípcios, os gregos e os celtas. O Cristianismo primitivo, como visto, esteve dela impregnado até ao século IV e presentemente a encontramos mesmo no Islamismo, sob a forma de certas suratas do Alcorão. (P. 107)

108. Segue-se, desse modo, que a pluralidade das existências é ou foi admitida em todas as religiões, com exceção do Catolicismo e de outros ramos do moderno Cristianismo, que fizeram silêncio e mergulharam em trevas certas passagens da Escritura que afirmam as vidas anteriores. (P. 107) (Continua no próximo número.)

 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita