AYLTON
PAIVA
paiva.aylton@terra.com.br
Lins,
São
Paulo
(Brasil)
A
verdadeira
caridade
Anoitecia.
O disco
solar
debruçava-se
no
poente
entre
casas e
prédios.
A
campainha
soou.
Fui
atender
ao
chamado.
Diante
de mim
um homem
ainda
moço,
razoavelmente
vestido.
– Tio
(apesar
dos meus
cabelos
brancos,
ele foi
gentil),
me dá
uma
ajuda
“pra
comprá”
comida.
Reconheci-o.
– O
“meu”, é
você
outra
vez? – o
pedido e
as
justificativas
eram
sempre
as
mesmas.
– Você
aparece...
desaparece...
o que
acontece?
– Sabe,
“dotor”
(já
tinha me
promovido
para
autoridade),
sabe
como é
que é...
de vez
em
quando
eu tenho
uma
internação.
– Em
hospital?
– É, no
hospital.
– Ahn!
– Então,
tio, dá
um
dinheirinho
aí...,
uns
“vinte
real”,
já
quebra o
galho!
– Acho
que
precisamos
cuidar
da
árvore
toda.
Ele
olhou
intrigado.
– Que
árvore?
– Você!
– “Dotor”,
acho que
não tem
mais
jeito
não! É
só
“quebrar
o galho”
com um
dinheirinho.
– Vamos
cuidar
da
árvore.
Vamos
cuidar
de
você.
– Tá
bem,
tio, mas
dá um
vintezinho
aí!
– Vou
ver o
que
tenho no
momento.
Para
atingir
o remoto
é
preciso
chegar
ao
imediato.
Um gesto
de
aproximação
e não
discurso
moralista
e
autoritário.
– Uma
nota de
“vintão”,
no
momento,
não
tenho
não...,
mas,
para
“quebrar”
o
galho...
Olha aí
umas
moedinhas
que dará
para
você
matar a
fome do
momento.
– Tudo
bem, “dotor”,
até que
ajuda...
A frase
dita com
tonalidade
de
desalento.
– Agora,
vamos
cuidar
da
árvore.
– Como?
– No
quarteirão
acima...,
está
vendo
aquela
casa
amarela?
– Tô!
– É a
assistência
social
Meimei.
–
Amanhã,
entre
nove e
onze
horas,
você vá
lá.
Conte a
sua
história.
A pessoa
que o
atender
ouvirá
tudo o
que você
tem a
dizer e
então um
grupo de
pessoas
verá o
que é
possível
fazer
para
cuidar
de você:
do seu
corpo,
da sua
alma,
enfim,
da sua
personalidade.
– “Pode
dexar,
dotor”.
Amanhã
estarei
lá.
Nesse
encaminhamento
lembrei-me
da
questão
nº. 888,
de O
Livro
dos
Espíritos,
de Allan
Kardec:
“Condenando-se
a pedir
esmola,
o homem
se
degrada
física e
moralmente:
embrutece-se.
Uma
sociedade
que se
baseie
na lei
de Deus
e na
justiça
deve
prover à
vida do
fraco,
sem que
haja
para ele
humilhação.
Deve
assegurar
a
existência
dos que
não
podem
trabalhar,
sem lhes
deixar a
vida à
mercê do
acaso e
da boa
vontade
de
alguns”.
Nós
pessoalmente,
as
organizações
religiosas,
organizações
não
governa-mentais,
clubes
de
serviço,
Maçonaria
devemos
procurar
ajudar
aqueles
que
estão no
estado
de
miserabilidade,
porém de
uma
forma
que
respeite
a sua
dignidade
e lhe
sejam
reconhecidos
os seus
direitos
sociais.
Lembrei
que a
Constituição
da
República
Federativa
do
Brasil
diz em
seu
artigo
6º -
“São
direitos
sociais
a
educação,
a saúde,
o
trabalho,
a
moradia,
o lazer,
a
segurança,
a
proteção
à
maternidade
e à
infância,
a
assistência
aos
desamparados,
na forma
desta
Constituição”.
Destarte,
tanto
quanto
possível,
cobremos
dos
órgãos
públicos
através
de seus
representantes:
vereador,
deputado,
senador,
prefeito,
governador
e
presidente
da
República
o
cumprimento
das
normas
legais
que
expressarão
a
justiça
e a
caridade
em seu
mais
amplo
sentido.